Muito bem, temos mais uma corrida de Fórmula 1 completa, fechada nas estatísticas e pronta para ser comentada. Mas, antes, devido à semana passada ter sido marcada pela euforia originada pelo filme RUSH, devemos comentar as novidades nos bastidores da categoria-mor, provocadas pela frenética movimentação no silly season. Não é mais segredo para ninguém que Kimi Raikkonen virá para a Ferrari no ano que vem. Por consequência, Felipe Massa será dispensado de Maranello. Aí é que embolou-se a luta pela permanência na categoria.

Mas, antes, falemos da volta de Raikkonen à Ferrari. Recentemente, o finlandês confirmou para a imprensa que estava com salários atrasados na Lotus, e que este foi um dos motivos contribuintes para sua saída da equipe inglesa no ano que vem. A Lotus, por sua vez, lucrou muito nas mídias sociais com a imagem do finlandês, com aquelas divertidas brincadeiras, principalmente no twitter, e as criativas e certeiras tiradas com as outras equipes. Raikkonen saindo, a equipe não terá mais o peso, que geralmente é grande, do salário de Kimi para pagar. Mas ainda deve dinheiro a ele. Terá que se desdobrar para isso.

Por outro lado, na Ferrari, a chegada de Kimi trará consequências que deixarão a temporada de 2014 ainda mais interessante. Não bastassem as muitas mudanças que tornarão os carros totalmente diferentes, a Ferrari chegará com uma dupla incrivelmente forte, formada por dois pilotos da mesma linha, a de vanguarda. É a primeira vez que a equipe italiana alinhará no grid com dois campeões mundiais, algo que não acontecia desde 1953, quando colocou Nino Farina e Alberto Ascari lado a lado. Se, com Massa a seu lado, Alonso era dominante na equipe e provavelmente achava que tinha o rei na barriga, agora as coisas mudarão bastante de figura. Vou explicar.

Kimi Raikkonen nunca fez o tipo retaguarda de piloto algum. Nunca. E acho muito remotas as chances de ele sê-lo, com a idade que tem hoje, sua fama de Iceman e seu currículo, com um título mundial na "mesma" Ferrari que defendeu em 2007. Raikkonen saiu da Lotus, principalmente, para encontrar uma equipe que lhe desse condições de vencer regularmente. A Ferrari foi seu destino. Será ela essa solução para voltar a vencer? Não se sabe. Só saberemos no ano que vem, com a revolução no regulamento. Interessante lembrar de como Raikkonen saiu de Maranello em 2009: às turras com Luca di Montezemolo. Sabem por que é interessante lembrar disso? Porque dizem as más línguas que Raikkonen teria exigido um pedido de desculpas do dirigente italiano para voltar ao time - e teria conseguido.

Alonso terá de fazer das tripas coração para enfrentar Raikkonen. Pode ser que o Banco Santander tente fazer dele o primeiro piloto de bate-pronto, mas acho que todos esperaremos por um diálogo mais ou menos assim pelo rádio no ano que vem:

"Kimi, Fernando is faster than you. Can you confirm you understood that message?"

"Leave me alone, I know what I'm doing!"

"This is ridiculous!"

Vai ser divertido.

 E o espanhol sabe que o jogo psicológico que adora jogar nos bastidores não funcionará, uma vez que Kimi está sempre desinclinado a dizer mais do que quatro ou cinco palavras. Por dia.

Agora, algo ainda mais interessante é a incógnita Felipe Massa. Para onde irá? Especulações davam conta de que o brasileiro tem tido contatos com Lotus e McLaren. Massa é um negócio interessante para ambas? Para a Lotus, sim, mas não sei se a McLaren realmente estaria interessada nos serviços do atual piloto número dois da Ferrari. Ela tem Jenson Button, que já confirmou sua permanência no time, e Sergio Pérez, que ainda não tem contrato assinado para o ano que vem, mas que tem feito um bom trabalho nas últimas corridas, andando muito perto do experiente colega inglês.

Portanto, resta a Lotus. E Massa é interessante para a equipe inglesa. Dado o iminente perigo de não alinharem pilotos brasileiros no certame do ano que vem, há o interesse de gente poderosa em fazer um esforço para manter Felipe por ali, ou então promover o outro brasileiro, Felipe Nasr, que atualmente está na GP2 e que tem construído muito bem a sua imagem. Deverá conseguir vaga em alguma equipe no ano que vem, uma vez que é bem patrocinado. Mas Massa tem mais um trunfo a seu favor: seu empresário, o francês Nicolas Todt (filho do presidente da FIA, Jean Todt). Mas sempre há os obstáculos, como, por exemplo, Nico Hulkenberg. O alemão é um desempregado em potencial para 2014, uma vez que a Sauber deverá efetivar Sergey Sirotkin e que Esteban Gutierrez deverá ficar, já que traz o apoio da toda-poderosa Telmex. Hulk é um ótimo piloto, com um potencial gigantesco, mas muito pouco explorado. A Lotus, porém, deve pensar na grana que Massa pode trazer ao alavancar patrocínios, coisa que ele poderá fazer com mais perícia que Nico, que não é lá muito famoso por esse quesito. É uma das vítimas da febre dos pilotos pagantes que se abate com força sobre a categoria.

Enfim, essas são as opções que vejo para Massa. Só mais uma coisinha para comentar, antes de irmos à corrida: A McLaren (leia-se Martin Whitmarsh) chegou a dizer que gostaria de ter Alonso pilotando um de seus cockpits para o ano que vem. É apenas mais um rumor, certamente.

Vamos à corrida. O GP de Cingapura foi fraco, como fora o de Monza. Eu não serei muito abrangente, porque pouco aconteceu durante as longas 61 voltas do circuito de rua de Marina Bay. O pole-position não mudou, e nem o vencedor. Sebastian Vettel dominou o final de semana praticamente completo, como fizera duas semanas atrás, e venceu a corrida de ponta a ponta. Conquistou mais um Grand Chelem na carreira (pole-position, vitória, liderança de todos os giros e volta mais veloz). O desempenho do alemão foi humilhante. Para os outros, claro. Não houve disputa. Largou bem, como sempre faz. Mas Nico Rosberg chegou a ensaiar uma tomada da liderança. Espalhou na primeira curva, dando espaço para o compatriota reagir e sumir na frente. Boatos de que o alemão só foi visto no podium.

Vettel virava em torno de dois a três segundos mais rápido por passagem em relação a seus adversários. Numa das passagens (na quadragésima quinta, para ser mais exato), "SuperSeb" massacrou Fernando Alonso, seu rival mais próximo, por uma diferença de 2s9. Isso mesmo. Praticamente TRÊS SEGUNDOS separaram Vettel de Alonso nessa volta. E isso foi só um exemplo morno. Após a primeira relargada, ocasionada pelo safety car que Ricardão provocou na volta 24, o alemão abriu nada menos que 20 segundos em pouco mais de dez voltas! Uma média de dois segundos por volta, barbaridade em se tratando de Fórmula 1. Assombroso. Completando a análise sobre a corrida da Red Bull, Mark Webber abandonou com problemas de câmbio no finalzinho.

Fernando Alonso, o segundo, se esgoelou para conseguir esse resultado. Dejavu? O desempenho do carro da Ferrari mais uma vez estagnou, como no ano passado, e a Mercedes sofre do mesmo trauma, uma vez que nem mesmo faz mais as pole-positions. Mas o que parece mesmo estar escancarado é que as outras equipes estão concentrando seus esforços em 2014. Largando de sétimo, fez uma largada excepcional, passando meio mundo e pulando para terceiro. Avançou mais uma posição durante a prova e ficou em segundo.

Kimi Raikkonen, da Lotus, fez uma corrida fantástica. Num fim de semana que parecia ser inóspito para o finlandês (que largou em décimo terceiro), ele escalou o grid de maneira espetacular e, com uma bela ultrapassagem por fora em Jenson Button na volta 53, assumiu a terceira colocação e alavancou o podium. Button, aliás, ficou sem pneus nas voltas finais e foi engolido por meio mundo (Webber, Rosberg, Hamilton e Massa, para ser mais preciso). Terminou em sétimo, à frente de Sergio Pérez, seu companheiro de equipe, que também foi ultrapassado por esse meio mundo.

A dupla da Mercedes, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, nessa ordem, completou o GP na quarta e quinta colocações. Massa foi o sexto, se aproximando ainda mais do título mundial na categoria "sexto lugar". Sim, a zoeira é válida. Nico Hulkenberg, em mais uma ótima corrida, terminou na nona colocação. Adrian Sutil, em razoável apresentação, foi o décimo e conseguiu o último tento do dia.

Em tempo: Mark Webber pegou "carona" com Fernando Alonso em circunstância perigosa durante a volta de desaceleração do espanhol. Os dois tomaram reprimenda da FIA. Foi a terceira de Webber, por isso, o australiano perderá 10 posições no GP da Coréia do Sul. Muito foi pensado, refletido e falado por mim desde ontem a respeito disso. Houve vídeos (amadores e da FOM) mostrando a coisa. E minha opinião final é a seguinte: Tanto o espanhol quanto o australiano foram punidos de forma extremamente justa. Webber parecia eu quando pego a topic 05 nas paradas de busão. Fez sinal e Alonso parou, como se fosse busão. Mas isso não foi o pior. Mark entrou na pista quando tinha outro carro, além de Alonso (acho que foi uma Lotus, não vi direito) e ainda vinha uma Mercedes em velocidade razoável (acho que foi a de Hamilton). Passou bem do lado de Mark. Gente, por muito pouco Hamilton não atropelou o australiano da Red Bull. Depois, vocês viram a forma como Webber colocou o pé dentro do cockpit da Ferrari? Parecia que Alonso havia ficado quase sem visão. Punição muito bem aplicada.

Vettel vai a incríveis 247 pontos, deixando Alonso 60 tentos atrás, em segundo. O alemão já pode ser campeão na Índia (ok, ok, ele já é tetra) e não precisa mais vencer para levar o título. Mas chegou à sua sétima vitória na temporada (terceira consecutiva) e à 33ª na carreira (passando Alonso na estatística e se tornando o quarto maior vencedor da história, atrás apenas de Michael Schumacher, Alain Prost e Ayrton Senna). Um gênio, cada vez mais intrínseco junto à história da Fórmula 1. E que ainda tem a melhorar, segundo as palavras do próprio.

Faltam seis corridas. A próxima é no dia seis de outubro, o GP do Japão. Intervalo de duas semanas. O campeonato já é de Vettel e da Red Bull. Acho que isso já pode ser dito sem muito medo de errar. O jeito é esperar por 2014.

Abraços!

Antônio de Pádua