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Alex Barros - com 2 ou 4 rodas PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 25 October 2013 12:56

Ninguém explica certas coisas que vemos na vida, não é mesmo? Certa vez um jogador de futebol disse que Deus apontou o dedo para ele e falou: "você é o cara!" Se um dia fez algo assim com um motociclista, o eleito foi Alexandre Barros

 

Nascido em um país sem nenhuma tradição ou escola no motociclismo de competição, Alexandre Barros foi mais longe do que qualquer piloto brasileiro conseguiu sequer sonhar, tendo se mantido por mais de uma década como uma das estrelas do campeonato mundial de motovelocidade em sua categoria principal.

 

Este Goiano da capital, nascido no final dos anos 60 comanda hoje a mais organizada equipe de motociclismo, que é uma verdadeira academia de pilotagem sonhando alto e trabalhando para formar futuros campeões no cenário internacional.

 

Fruto de um acaso? Talvez. Mas Alex Barros conseguiu sair do Brasil e destacar-se no motociclismo internacional.

 

Foi durante sua última estada em Curitiba que Alex conversou com o site dos Nobres do Grid..

 

NdG: Conta pra gente umas coisas daquelas que nunca te perguntaram. Fala do Alex gente, não o esportista de sucesso.

 

Alex Barros: Alex tá velho, gordinho (risos), é um cara muito caseiro, preza muito pela família, um exemplo que veio de casal do meu pai, eu era um atleta, ciclista, que se cuidava muito e cuidava muito de todos nós, procurando orientar bem a todos para que seguíssemos sempre o caminho certo. Sou uma pessoa apaixonada pelo que faço, motociclismo é minha vida e eu não me vejo fazendo algo longe disso.

 

NdG: Então o segredo do seu sucesso veio do berço?

 

Alex Barros: O sucesso sem sacrifício não existe e meu pai fazia um esporte que exigia muito do físico então ter uma alimentação correta, uma preparação correta, o repouso adequado, tudo veio dele. Eu devo muito ao meu pai a preparação que tive e o atleta que fui nos tempos em que corri profissionalmente.

 

NdG: Mas o seu pai era ciclista... e como foi que um motor entrou no meio destas duas rodas? Você não pedalou como ele?

 

Alex Barros: Quando eu era garoto meu pai comprou uma moto, uma Ducati 350 que era para ele e para a minha mãe. Ele comprou uma Italjet pra mim quando eu tinha 3 anos de idade. Ele tirou da mala do carro, eu montei e acelerei, com as pernas pra cima e gritando “ÊÊÊÊÊ”!  Ele saiu correndo atrás (risos). Era começo de 1974 e eu brincava com essa moto e era o meu brinquedo. Eu ia andar em lugares fechados, imagina. Eu era muito pequeno, mas meu pai viu que eu levava jeito e com 7 anos eu participei da minha primeira competição, meio por acaso, com uma Mobilette Puc, na categoria ciclomotor, e eu ganhei a corrida e aí começou tudo.

 

NdG: nos anos 70/80 foi o auge do Brasil nas pistas, na Fórmula 1, você não teve um “desvio” nesse caminho?

 

Alex Barros: Tive! Eu fiz quatro corridas de kart e ganhei as quatro! Daí teve muita confusão, quiseram me desclassificar, meu pai ficou nervoso e eu me irritei com aquilo e “quer saber, chega. Melhor correr de moto”, mas eu adoro carro, tanto que participei um tempo da Porsche Cup aqui no Brasil.

 

NdG: para quem morava fora de São Paulo, ver corrida de moto era raro nos anos 70. Não passava na TV. Aqui, você vinha a Interlagos acompanhar e depois, começou a correr. Quanto tempo de Brasil antes de ir para o exterior?

 

Meu pai comprou uma moto para mim quando eu tinha 3 anos. Eu nem sabia o que era aquilo, só montei e acelerei...

 

Alex Barros: Foram oito anos correndo aqui no Brasil, dos 7 aos 15 anos eu corri aqui no Brasil e com 15 anos eu fui disputar o mundial da categoria 80cc, que era a das motos menos potentes do mundial e que podia correr com 15 anos. Daí eu fiz dois anos na categoria 80cc, um ano na 250cc e no ano seguinte, com 19 anos, eu estava na 500cc, que era a principal categoria da época. Em todas as categorias que entrei eu fui o mais novo da categoria.

 

NdG: E como foi a reação da mídia, tanto lá fora como aqui no Brasil, com a sua chegada, sua ascensão no cenário mundial?

 

Alex Barros: Hoje as coisas são mais fáceis, né? Tudo é rápido, tem a internet, logo todo mundo fica sabendo de tudo. Naquele tempo, a gente corria para as bancas de revista e comprava edições com um mês de atraso para ver o que os caras estavam usando lá fora. Tudo era muito mais difícil. Quando saí do Brasil para correr fora, não tinha imprensa brasileira acompanhando. Saia um noticia aqui, outra ali, mas nada como se passou a ter depois e como é hoje em dia, então, não tinha mesmo.

 

NdG: Quando as TVs por assinatura começaram a transmitir suas corridas aqui, nós tivemos a oportunidade de assistir várias grandes corridas suas, com disputas fantásticas, vitórias brilhantes... mas ficou faltando o título. Pra você, o que foi que faltou?

 

Alex Barros: Quase nunca estas coisas no esporte de alto nível ficam limitadas apenas ao esporte, tem muita política envolvida sempre e, na época em que eu corri, qual era a projeção política do Brasil no cenário econômico mundial? O Brasil passou a ter uma visibilidade grande e positiva de quatro anos para cá. O Brasil nunca teve tradição no motociclismo, era um país de vendagem baixa, daí conseguir um lugar bom numa equipe de ponta, numa equipe espanhola, italiana... era preciso fazer muito mais do que os outros pilotos para conseguir que olhassem pra você.

 

NdG: E como você vê o cenário atual?

 

Fui o mais novo corredor de todas as categorias que disputei. Tirando o apoio de casa, não tive apoio de ninguém.

 

Alex Barros: Eu falo isso com os pilotos aqui na equipe que eu gostaria que este momento que o país vive hoje tivesse acontecido há 15 anos atrás, mas eu não posso me queixar das chances que tive. Andei em equipes grandes, algumas chances eu aproveitei mais do que as outras, mas o título ficou faltando. Em parte por aspectos em que eu precisava melhorar, em parte por aspectos que não me favoreceram. Eu acho que hoje nós temos, aqui no Brasil, condições de preparar um piloto para ser campeão mundial e aqui na equipe temos trabalhado para isso e não estamos longe. Eu acho que não estamos longe, projeto para em dois anos nós podemos ter cenário muito favorável aqui no Brasil para o motociclismo. Tem gente trabalhando sério nisso e é preciso que mais gente trabalhe sério nisso. Não bastam 3 equipes trabalharem sério para desenvolver a categoria e o restante só encher grid, é preciso que todos trabalhem sério. Para crescermos precisamos atrair patrocinadores e só conseguimos fazer isso fazendo um campeonato de qualidade para que o evento cresça como um todo.

 

NdG: Você fala em dois anos e em comprometimento, quais os referenciais para isso? Qual seria o ponto a ser atingido?

 

Alex Barros: Quando falo em comprometimento, falo em todos os níveis. Dentro das equipes, indo dos mecânicos, dos preparadores, dos pilotos, dos chefes de equipe, dos patrocinadores destas equipes. Dentro do evento, da organização do evento, dos patrocinadores do evento. Temos condições de no final de 2014 estarmos com um dos campeonatos de maior nível técnico do mundo a nível de campeonatos nacionais e começarmos 2015 com um padrão de ter como atrair ainda mais competidores de alto nível para vir correr aqui no Brasil. Nós temos pilotos de seis países correndo aqui. Talvez somente a Espanha tenha mais estrangeiros correndo o seu campeonato nacional. Eles tem, talvez, o melhor campeonato nacional do mundo em termos de nível de competidores. Se fizermos um trabalho sério, podemos atrair ainda mais pilotos, inclusive da Europa, para vir correr aqui. Se um estrangeiro vem aqui e faz um bom resultado, vai sair na mídia do país dele. Com isso o campeonato começa a ter uma visibilidade internacional e tendo-se um bom campeonato, vai atrair mais e mais interesse.

 

NdG: Falando em visibilidade e voltando para a tua vida dos tempos de pista, quando mudou o regulamento para as motos 1000cc, você correu as quatro últimas corridas com uma moto 1000cc e ganhou duas, com disputas fantásticas contra o Valentino Rossi... será que ninguém viu isso? Que tinha um campeão ali, capaz de enfrentar o fenômeno Valentino Rossi de igual para igual?

 

A Moto 1000GP no Brasil está se consolidando com um dos melhores campeonatos do mundo. Talvez só o espanhol seja maior.

 

Alex Barros: naquele ano tinham as duas motos, as 500cc e as 1000cc correndo juntas. Eu só recebi uma moto 1000cc para as quatro provas finais e consegui vencer duas, um segundo lugar e um terceiro. Aquilo teve uma visibilidade muito grande, tanto que eu ganhei prêmios aqui de revistas de automóvel como melhor desportista de esporte a motor. Aqui dentro do Brasil, claro, teve uma repercussão muito maior do que lá fora. Mesmo com aquele final de temporada, não foi suficiente para conseguir um lugar melhor.

 

NdG: Após muitos anos na Moto GP você correu um ano na Superbike. Não interessou ficar por lá?

 

Alex Barros: Depois de sair da Moto GP, a Superbike é sempre uma opção a se considerar. Mais de um piloto tomou este caminho e eu fiz um primeiro ano lá para me adaptar, conhecer, eles me conhecerem e daí a gente procurar se estabelecer, conquistar um espaço em uma equipe que desse condições de se vencer, de disputar campeonato, mas isso não aconteceu. Estive perto de fechar com uma boa equipe, um esquema dos mais profissionais, mas não fechei e aí eu decidi sair da categoria. Não precisava ser um equipamento top, o melhor. Bastava ser um equipamento bom, competitivo. Tendo isso, o resto eu faço. Não deu, paciência.

 

NdG: Pois é, aí você ganha um prêmio em cima dos pilotos que andam com quatro rodas e depois vai você andar com quatro rodas, na Porsche e andou muito bem. Como foi esta transição e como você se adaptou tão rápido?

 

Alex Barros: Mesmo andando de moto todos estes anos, eu sempre gostei de brincar de kart e tenho muitos amigos pilotos, alguns na Fórmula 1 e a gente sempre se reúne para brincar. Depois que eu parei de correr surgiu um convite do Dener [Pires] e do Max Wilson, que é meu amigo, para correr na Porsche. Eu achei muito legal, corri, quase fui campeão e voltar a correr de carro não é uma coisa que eu descarto para o futuro. Não posso dizer quando, como ou onde, mas posso dizer que tenho vontade.

 

NdG: Nós temos uma série no site que é o “Raio X dos Autódromos Brasileiros” em que um dos aspectos abordados é segurança. Para você que andou de duas e quatro rodas, para cada uma das perspectivas, que são diferentes, como estão os nossos autódromos em termos de segurança?

 

No esporte há muita questão política. O Brasil nunca teve uma grande vendagem no tempo em que corri e isso restringiu possibilidades.

 

Alex Barros: Nós não temos no Brasil nenhum autódromo com condições de segurança para corridas de motociclismo. Não são apenas questões pontuais, envolve tudo. Asfalto, zebras, áreas de escape, drenagem...

 

NdG: Em todo lugar que ouvimos falar sobre locais onde correm motos ouvimos falar em autódromo. Existe algum “motódromo”, um local que tenha sido projetado para corridas de moto ou pensando em corridas não apenas de carros, mas de motos também?

 

Alex Barros: Goiânia foi um projeto que foi feito em cima de uma ideia para corridas de motocicletas. Goiânia, que está passando por reformas, ou vai passar, não sei, é chamado de autódromo, tem até o nome do Ayrton Senna é, na verdade um ‘motódromo’, como você falou. A Moto GP já correu lá e todos gostavam muito de correr lá. É importante uma coisa ser dita: sempre que um autódromo ou uma pista é reformada, preparada para receber corridas de motocicletas, estas são úteis e utilizáveis para corridas de carro e nem sempre as reformas em circuitos que são feitas para corridas de carro são boas para as motos.

 

NdG: Já há algum tempo o caminho dos pilotos que tentam carreira no exterior no automobilismo anda complicado, principalmente pela questão financeira. Qual é a realidade no motociclismo?

 

Alex Barros: Não é fácil, mas é o que estamos fazendo aqui na equipe. Fazendo um trabalho para preparar um piloto brasileiro para chegar em condições de ser campeão do mundo... e isso pode implicar em a equipe continuar crescendo e ir para a Europa junto com o piloto, mas sem deixar o nascedouro do projeto para trás, é preciso continuar o trabalho de base, de formação para que haja continuidade.

 

NdG: Você falou em uma formação desde a base, passo a passo. Nós temos hoje o Eric Granado na Moto 3, depois de uma passagem pela Moto 2. Como você vê o trabalho de desenvolvimento da carreira dele?

 

Não é só asfalto ou áreas de escape: no Brasil não temos nenhum circuito em condições de ter corridas de motociclismo seguras.

 

Alex Barros: O Eric está tendo este ano a melhor oportunidade que ele poderia ter na vida, ele está na melhor equipe de Moto 3 que ele poderia estar. É uma oportunidade que eu, quando comecei, não tive e eu espero que ele aproveite. Os resultados não estão sendo muito bons, mas espero que o aprendizado esteja, mas eu acho que ele foi prematuro para o mundial. Ele poderia ter ficado mais um tempo no campeonato espanhol e ele está pagando por esta decisão. O ano passado foi muito ruim, ele não estava em uma equipe boa e faltou quilometragem, certamente. Este ano é diferente. Ele está numa equipe que tem absolutamente tudo para um piloto. Preparador físico, um piloto para fazer coaching, tem uma excelente estrutura, é uma equipe 8 vezes campeã do mundo, tem mais de 200 vitórias entre Moto 2 e Moto 3, o melhor motor da categoria, que é o KTM... ele só tem que se preocupar em acelerar. Se vai dar certo ou não, isso vai depender dele.

 

NdG: Seu filho está com 17 anos, a gente lembra dele correndo de kart, ainda menino. Hoje ele está aqui contigo. Como é como é que vocês estão trabalhando a carreira dele? Como separar a função chefe do sentimento de pai?

 

Alex Barros: Essa separação é a parte mais difícil... a gente tem que sofrer calado e vou dizer uma coisa: pai normalmente atrapalha! O sentimento não pode falar mais alto, é preciso ser frio, agir com lógica. Existe um projeto com o Lucas e ele tem consciência disso. Ele sabe o que tem que fazer, o quanto tem que treinar, que aprender e eu preciso também saber separar as coisas sobre a vida de atleta e a vida pessoal. Ele é um adolescente como todos da sua idade e também deve ter a chance de fazer certas coisas da idade, são experiências de vida e que precisam ser vividas, mas ele está indo bem e ele sabe que tem uma meta e eu o vejo muito focado nisso. Da minha parte, eu faço o que acho que tem que ser feito, como chefe de equipe, na equipe, como pai fora da equipe e não é porque sou pai que vou fazer mais ou menos. Ele está tendo uma chance que eu não tive. Tanto ele quanto os outros. Eu nunca tive um piloto de vitórias na Moto GP numa faze dessas da carreira fazendo o que eu faço com eles. É importante que, por mais oportunidade ou dinheiro que o piloto tenha para levar a carreira adiante, ele precisa atingir metas na pista como piloto e para isso, tem que se preparar muito bem. Física e psicologicamente. Atingindo estas metas, as oportunidades aparecem e isso depende dele. É o piloto que tem a faca e o queijo na mão. É ele que tem a oportunidade como está tendo aqui e isso vale tanto para o Lucas quanto para os garotos da equipe das motos de 250cc, que terão mais possibilidades ainda, uma vez que ficarão mais tempo comigo.

 

NdG: É muito difícil “pular a mureta”, sair da pista, como piloto e vir para a bancada colada no muro, como chefe de equipe? É muito alta?

 

Os pilotos que estão na minha equipe hoje estão tendo uma chance que eu nunca tive. Espero que eles aproveitem isso.

 

Alex Barros: (risos) Demorei para entender... não é tão alta, não, pelo contrário. Na moto, os melhores chefes de equipe são ex-pilotos. Quando um piloto fala o que está sentindo na pista, quem já foi piloto sabe exatamente o que ele está falando. Eu ainda ando na pista e ando junto com eles. Sei o que eles estão falando quando eles passam as informações sobre a moto e a pista. Isso ajuda demais ao aprendizado deles, a eles encontrarem a linha ideal para seguir, a fazer o melhor traçado. Agora, tem outros aspectos como organização do time, bugget, busca de patrocínios, cuidar da mecânica, do material, estoque, pessoal... todo dia surge uma coisa nova pra resolver, pra melhorar, aí é uma coisa bem diferente, mas a gente aprende.

 

NdG: O pessoal do automobilismo critica muito a entidade máxima da categoria aqui no Brasil, no caso, a CBA. Como é a relação de vocês, promotores de categoria, chefes de equipe e pilotos com a CBM? Há queixas?

 

Alex Barros: A CBM “morreu” em 2008. Ela está retornando agora, devagar, e no caso da Moto 1000 GP aqui no Brasil, é um campeonato é um campeonato feito pelo promotor, não pela CBM. A gente não vê a CBM aqui dentro. A gente não vê o presidente... eu não quero criar intriga, longe disso, tenho um bom relacionamento com o Firmo [Henrique Alves], mas eu não vejo um trabalho como o que deveria ser feito que é criar categorias de base para que o esporte se desenvolva. Isso deveria ser uma obrigação deles! E isso não é só a CBM. Nenhuma federação estadual faz. E aí fica tudo na dependência de promotores, ex-pilotos, pais de pilotos que se dispõem a bancar os filhos. Esporte a motor é caro. Virou o motor tá gastando gasolina. Hoje quem faz as categorias de moto são motociclistas, é uma transformação que está acontecendo há alguns anos e que eu digo: mais importante do que a federação ou a confederação, é a organização do campeonato ser eficiente. Se isso acontecer, a federação passa a ter um papel meramente regulador: de estabelecer e fazer cumprir as regras do campeonato. Se ela fizer isso, deixa que o resto a gente faz!