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50 anos do bicampeinato - 2º Capítulo: O GP da Bélgica PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 04 April 2014 00:38

A Fórmula 1 chegava à Bélgica, segunda corrida da fase europeia da temporada de 1974 com a disputa do campeonato apontando para uma briga dura entre Ferrari e McLaren. Na verdade, mais dura para a McLaren, uma vez que as Ferrari começaram a ter menos problemas no decorrer das corridas e era uma briga de dois contra um, uma vez que os veteranos Denny Hulme e Mike Hailwood não estavam mais conseguindo andar perto do ritmo do nosso  campeão.

 

Depois de deixar a America do Sul, o circo cruzou o Atlântico, desembarcando em Kayalami, na África do Sul, que mesmo com a política do Apartheid, não incomodava os interesses financeiros da categoria. Na pista, a disputa continuava dura entre os protagonistas, mas os líderes do campeonato ficaram pelo caminho ao longo da prova por problemas em seus carros.

 

Carlos Reutemann e a Brabham se recuperaram dos problemas das provas anteriores e chegaram à vitória em Kayalami.

 

Dentre eles, quem melhor ficou no final foi Emerson Fittipaldi, com um sétimo lugar, depois de ter andado boa parte da corrida em quarto, perseguindo as Ferraris, que acabaram abandonando antes do final. Fato que não tirou o mérito da vitória de Carlos Reutemann, com a Brabham, redimindo-se do prosaico problema que tirou-lhe o triunfo diante de sua torcida.

 

Já na abertura da fase europeia, no GP da Espanha, quem foi ao circuito de Jarama saiu de lá com a impressão de que a disputa pelo campeonato seria entre os pilotos da ‘Casa di Maranello', tamanha a supremacia imposta pelos carros vermelhos diante dos concorrentes. Nos treinos e no início da prova, Ronnie Peterson ainda conseguiu se manter na briga, mas daquele jeito (andando mais que o carro), e a Lotus não resistiu ao ritmo de prova. Jacky Ickx ainda veio a tomar a ponta, usando de sua habilidade para pilotar no piso molhado, mas também abandonou.

 

Em Jarama, Niki Lauda conquistava a primeira das suas 25 vitórias na carreira em sua 4ª corrida pela Ferrari.

 

Niki Lauda venceu, assumindo a liderança do campeonato e na corrida, colocando uma volta de vantagem sobre a McLaren de Emerson Fittipaldi, além dos 35.6 segundos sobre Clay Regazzoni, andando do jeito que impressionou aos que acompanharam os treinos de inverno.

 

Nivelles era um circuito novo, que levou a Fórmula 1 de volta à Bélgica em 1972, depois de não ter recebido a categoria em 1971. Antes disso, o palco das corridas era o fantástico e desafiador circuito de Spa-Francorchamps, até 1970, com seus pouco mais de 14 Km, mas que começou a ter seus aspectos de segurança questionados.

 

Já o novo circuito – Nivelles – era considerado pelos pilotos como pouco desafiador, pois tinha grandes áreas de escape em suas curvas, permitindo o piloto “poder errar”... e de uma forma geral, foi criticado em 1972.

 

 

Apesar de ser um circuito curto (3.724 metros), possuía uma reta de quase 1000 metros, o que para as Ferrari e seus motores V12 eram uma grande vantagem., mas as curvas de raio variado e o bom asfalto do circuito iriam privilegiar aquele piloto que soubesse usar as boas condições oferecidas a seu favor e ninguém no grid sabia tanto usar as coisas a seu favor como Emerson Fittipaldi.

 

Durante os treinos livres, a disputa se mostrou acirrada entre A McLaren de Emerson Fittipaldi e as Ferraris de Clay Regazzoni e Niki Lauda. Quem surpreendeu, entrando na disputa, foi a Tyrrell, com Jody Scheckter, colocando o carro azul entre os mais rápidos – ao menos em qualificação – desde a reestruturação do time com o final da temporada anterior tento passado longe da felicidade.

 

Nivelles não tinha tanto uso quanto deveria ter, tanto que ainda naquele ano passou a enfrentar dificuldades econômicas para se manter em atividade. Por isso, o asfalto estava sempre muito “cru”, cabendo aos pilotos “emborrachá-lo” durante as sessões de treinos. Tanto foi assim que os carros começaram os treinos na quinta-feira virando na casa de 1m13s e a pole position... bem a pole position é uma estória à parte e que falaremos mais adiante.

 

 

Com o asfalto ficando menos abrasivo (já não era muito) com o emborrachamento, os pilotos tinham três opções de pneus para utilizar (duros, médios e macios). Emerson,depois de alguns testes buscando um bom equilíbrio entre o ângulo de ataque dos aerofólios – para ter o máximo de velocidade de reta possível e assim não ser ‘vítima’ da cavalaria ferrarista – e o melhor composto de pneus – para conseguir ter uma boa aderência nas curvas e durabilidade até o final da prova – acabou por chegar a um consenso com Ted Meyer e a equipe pelos pneus médios e uma asa que lhe permitia uma boa velocidade no final de reta. O resto era com ele e sua habilidade nata.

 

No último treino classificatório, na tarde do sábado, todos foram para a pista na última chance de conseguir um bom tempo e, surpreendendo a todos, o sul africano Jody Scheckter foi o único a virar uma volta abaixo de de 1m11s, fazendo o que seria a pole position com 1m10,82s. contudo, um erro de cronometragem daqueles impossíveis de acontecer nos dias de hoje deu – no caso abateu – 1,5 segundos no tempo de Clay Regazzoni, fato confirmado pela própria equipe italiana e o Suiço ficou com 1m09,82s.

 

Graças a este erro esdrúxulo, Emerson ficou – oficialmente – com o quarto tempo, com 1m11,07s e ainda na segunda fila. Melhor que isso, na realidade do cronômetro, ele ficara a apenas 30 milésimos do tempo marcado por Niki Lauda, que vinha sendo o piloto mais rápido da Ferrari em treinos, mas que oscilava durante a corrida.

 

 

Quem “andara para trás” foi a Lotus. O modelo 76, sucessor do vitorioso modelo 72 não parecia ser tão “bem nascido” e precisava de um trabalho maior de seus pilotos (Ronnie Peterson e Jacky Ickx). Colin Chapman, depois do problema de superaquecimento que tirou Peterson e do vazamento de óleo que tirou Ickx da corrida na Espanha já pensava em por o último trabalho de evolução dos 72 (o E) de volta, mesmo sendo os mesmos mais lentos que o 76. Contudo, eles resistiam até o final!

 

O domingo amanheceu com o sol entre nuvens, mas as possibilidades de chuva eram pequenas, nada que preocupasse os chefes de equipe. No “warm up”, ninguém “tentou bater o recorde da pista”, com os primeiros colocados no grid virando na casa de 1m11s. Assim, depois do almoço foram todos os 31carros classificados para a largada.

 

Do ponto da bandeirada até a primeira curva havia uma distância considerável, quase 500 metros e uma subida antes de se chegar na tomada à direita da curva, uma curva suave e rápida, mas que seria complicada de ser feita de pé no fundo com todo o grid colado e carros lado a lado.

 

 

Fugindo ao que vinha acontecendo nas corridas anteriores, Emerson largou bem. Quem largou mal foi Niki Lauda, que ainda tinha “babando” atrás de si o indomável Ronnie Peterson, que não pensou duas vezes antes de meter as rodas do lado direito do carro na grama para ultrapassar a Ferrari número #12.

 

Enquanto isso, Clay Regazzoni e Jody Scheckter seguiam, lado a lado, rumo a primeira curva,com Emerson Fitipaldi colado neles, vendo o que poderia acontecer daquele embate uma vez que nenhum dos dois pilotos ali na frente prezavam muito pela razão na hora de tomar decisões.

 

Quem titubeou foi o piloto da Tyrrell, que apenas na última hora aliviou o pé direito para fazer o contorno da curva 1. Com isso, deixou um espaço pequeno, mas suficiente para que Emerson Fittipaldi fizesse a curva por dentro e tomasse a segunda posição. Não houve nenhuma confusão na largada, apesar de Hans Stuck – que largava na 5ª fila, em 10º – ter tido um problema na embreagem e ter ficado parado no grid, todos conseguiram se desviar.

 

 

Na passagem pela linha de chegada na primeira volta tínhamos a liderança de Clay Regazzoni, seguido de perto por Emerson Fittipaldi e logo em seguida Jody Scheckter. Um pouco mais atrás, Ronnie Peterson vinha com Niki Lauda embutido na traseira da Lotus negra, seguido de James Hunt e José Carlos Pace, que ganhara a posição de Jean-Pierre Beltoise. Moco fazia milagres com aquele carro da Surtees!

 

A resistência de Ronnie Peterson aos ataques de Niki Lauda não durou sequer três voltas – diferente do que foi a batalha em Jarama – com o austríaco deixando a Lotus para trás e partindo em busca dos três carros que lideravam a corrida e que, com a pilotagem defensiva do sueco, tinham conseguido abrir quase dois segundos de vantagem. Quem também vinha virando voltas rápidas era Patrick Depailler, com a outra Tyrrell, depois de largar em 11º, logo chegaria na Surtees de Moco.

 

Devagar, Clay Regazzoni vai abrindo vantagem para Emerson Fittipaldi, chegando a 1 segundo de diferença. Jody Scheckter estava mais perto, 8 décimos atrás, mas quem se aproximava era Niki Lauda, enconstando na Tyrrell do sul africano. Ronnie Peterson já ia ficando mais distante, assim como James Hunt enquanto Pace não resistiu ao ataque de Depailler. Logo os quatro primeiros estavam andando juntos.

 

 

A vantagem que Regazzoni tentava estabelecer para Emerson Fittipaldi logo para de aumentar e, eventualmente, baixa de 1 segundo. O Ritmo da Ferrari número #11 já não é tão forte e Niki Lauda não só chegou em Jody Scheckter como o ultrapassou, e assim, veio pressionar a McLaren. O ritmo mais lento do líder permitiu a aproximação de Ronnie Peterson e James Hunt. O pelotão seguinte estava distante. Com Depailler um pouco afastado e em seguida uma outra “fila”, com Pace, Beltoise, Reutemann, Hailwood, Merzario, Ickx, Hulme e Jarrier.

 

Com Lauda atacando forte, Regazzoni conseguiu respirar um pouco e aumentar a vantagem para o Brasileiro, que passava a ter a Ferrari número #12 como uma preocupação maior do que a liderança da corrida. Só que quem ataca demais pode acabar se descuidando e a partir da chegada nos retardatários, na 25ª volta, um novo componente entrava no efervescente caldeirão e quem primeiro “queimou-se na fervura” foi Niki Lauda, que se enrolou tentando passar Arturo Merzario e perdeu o terceiro lugar para Jody Scheckter. Peterson e Hunt também foram se enrolando e ficando um pouco mais distantes dos quatro primeiros.

 

 

Com Scheckter novamente em terceiro, e um pouco mais lento do que Lauda vinha virando, Emerson Fittipaldi consegue encostar novamente enquanto o austríaco é obrigado a voltar a atacar o carro da Tyrrell. Foram seis voltas de ataque duro até que ele recuperasse o terceiro posto, mas a briga já estava ficando restrita aos quatro primeiros. Peterson começou a perder terreno, até ir par os boxes na 38ª volta e sua queda de ritmo também atrapalhou Hunt, que também ficou mais longe. Pace teve um pneu furado voltas antes, saindo da briga e Depailler assumiu o 6º lugar.

 

Mas foi na volta seguinte, a 39ª, que as coisas tomaram outro rumo. Não eram apenas os líderes que estavam andando em grupo. Alguns pelotões se formaram e nesta volta os líderes chegaram no grupo que era puxado por Carlos Reutemann, Tom Pryce e pelo estreante Gerard Larrousse.

 

 

Regazzoni hesitou na hora do ataque, tentou de um lado, de outro, foi no lado sujo da pista, destracionou, colocou uma roda na grama e não se comete erros na frente de Emerson Fittipaldi, como bem dizia Jackie Stewart. O brasileiro tomava a ponta, mas junto com ele Niki Lauda também deixou seu companheiro de equipe para trás... e quase que o Jody Scheckter passava também. Prejuízo duplo para Regazzoni e o Brasil na liderança da corrida.

 

Durante as 46 voltas seguintes a corrida virou um xadrez, um jogo de gato e rato entre Emerson Fittipaldi e Niki Lauda. Mesmo em um duelo ferrenho, eles foram abrindo distância para o atordoado Clay Regazzoni e o pobre Jody Scheckter, que não conseguia passar a Ferrari do suíço.

 

 

Correndo com a pista livre e negociando bem as ultrapassagens sobre os retardatários, Emerson Fittipaldi ia abrindo uma pequena distância a cada volta, chegando a ter um segundo e meio de vantagem na volta 60. A disputa entre Regazzoni e Scheckter continuava e, no pelotão de trás, Primeiro Hunt, depois Hailwood e por fim Depailler tiveram problemas e com isso Jean-Pierre Beltoise e Denny Hulme – que marcou avolta mais rápida da corrida – chegaram as posições dos pontos.

 

Faltando 10 voltas para o final da corrida, Emerson Fittipaldi tinha 2 segundos entre ele e Niki Lauda, sendo esta a maior diferença entre o líder e o segundo colocado em toda a prova. Contudo, Niki Lauda pareceu ter dado um “respiro” para seu carro, para ajustar as temperaturas e tentar um ataque final nas voltas finais.

 

 

A Ferrari voltou a se aproximar, andando muito próximo, a menos de 1 segundo de diferença, mas ao contrário de Regazzoni, Emerson Fittipaldi não é o tipo de piloto que comete erros sob pressão e assim o piloto brasileiro conquistava a sua segunda vitória do ano, com uma ínfima vantagem sobre o austríaco (35 centésimos de segundo).

 

Na briga pelo terceiro lugar, Clay Regazzoni teve problemas de combustível, com seu carro perdendo rendimento na última volta e com isso, ele perdeu a disputa com Jody Scheckter. Nos Boxes, o suíço disse ter achado que nem chegaria na linha de chegada. Completando os pilotos que fizeram pontos, vieram Jean-Pierre Beltoise e Denny Hulme.

 

 

Com a vitória, Emerson Fittipaldi assumia a liderança na pontuação do campeonato com 22 pontos,seguido por Niki Lauda, com 21 e Clay Regazzoni com 19. Denny Hulme começava a ficar para trás, com 11. Apesar da liderança, tanto Emerson quanto a equipe McLaren sabia que dias difíceis viriam pela frente e que derrotar as Ferrari não seria uma questão de velocidade, mas de estratégia e inteligência. 

 

 

Fontes e Fotos: Revista Autoesporte; Revista Fatos e Fotos; Agência Estado; Jornal Folha de São Paulo.

 

Last Updated ( Wednesday, 24 January 2024 11:01 )