“De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada”... Estes são os primeiros versos de “Geni e o Zeppelin”, escrita por Chico Buarque de Holanda. Quando ele fala “nego”, é uma contração da nossa língua para se referir a “qualquer um”, como antes da hipocrisia do “politicamente correto” onde falar “negro” ou “preto” é quase um palavrão se você não é um deles. Quem tem acompanhado o site dos Nobres do Grid já deve ter se acostumado com a maioria de nós, participantes do site, nos referirmos a uma certa equipe da Fórmula 1 como ‘Nega Genii’. Sei que muita gente não gosta, mas eu decidi que iria falar os motivos, pelo menos os meus, que me levam a ter uma relação “pouco amistosa” com a equipe que se veste de negro. Primeiro, vou fazer uma pergunta: você conhece a Genii? Provavelmente não. Poucos conhecem e é por aqui que começarei o assunto: apresentando a Genii a quem a chama de Lotus. Fundada em 2008, a Genii Capital é a ideia dos fundadores do grupo Genii, dois empresários proeminentes com sede em Luxemburgo, uma espécie de paraíso fiscal no meio da Europa onde gente com dinheiro (lícito ou não). Seus criadores, Gerard Lopez, um capitalista de riscos estabelecidos e Eric Lux um bem sucedido promotor imobiliário. Criaram uma empresa com o objetivo de capitalizar com a sua vasta experiência empresarial para criar um fórum capaz de reunir líderes financeiros, investidores privados e institucionais e figuras políticas seniores nas principais regiões de crescimento em todo o mundo. Uma empresa de gestão de investimentos e consultoria financeira que usa de seus serviços para multiplicar o dinheiro de seus parceiros. Segundo o site da empresa, ela “optou” por manter o meio termo entre investidor e do investimento... sabendo-se lá o que isso realmente significa. Eric Lux e Gerard Lopez. De investidores no mercado financeiro a donos de equipe de Fórmula 1. Inicialmente, Genii Capital operado como uma empresa de capital privado a construção de uma sólida carteira de empresas que continua a gerir e desenvolver. Uma mudança na estratégia de negócios ocorreu em 2010 com a aquisição da Lotus F1 Team, uma oferta em dinheiro para manufacturerSaab carro sueco, e um lance 'pretexto' para Polaroid. No mesmo ano, tornou-se um Genii Capital membro fundador da Capital Association Luxemburgo Private Equity & Venture (LPEA), um Estado-Membro da Private Equity e Venture Capital Europeia Association (EVCA), que visa a promover e proteger os interesses da indústria. É justamente nessa “mudança de estratégia” ocorrida em 2010 que faremos a ligação com o que este grupo de pessoas que nada tinha a ver – e que continuam não tendo – com automobilismo. Em 2010, depois de três anos passados da primeira saída de Fernando Alonso, o ‘Príncipe das Lamúrias’, e que voltou com o rabo entre as pernas em 2008 para duas temporadas difíceis, confusas e polêmicas, a montadora francesa, na época presidida por um cidadão insosso e acidentalmente nascido no Brasil, estava incomodada com todo ambiente em torno dela, especialmente depois do ocorrido em Singapura. Aquele ano foi o ano da entrada das três equipes que logo foram chamadas de “nanicas”: a Virgin, hoje Marussia; a falecida Hispania; e a Lotus, hoje Caterham e foi quando a Renault vendeu a equipe para a Genii, que no ano seguinte, apareceu com o carro pintado de preto, com o nome “Lotus” pintado na carroceria e disposta a uma briga com a então “Lotus verde” de Tony Fernandes. Em 2011, uma briga pelo nome Lotus marcou a existência do primeiro ano da "nova" equipe. Uma briga judicial que envolveu nomes, heranças, tradições e dinheiro acabou por tirar do Malaio, que negociara o direito de uso do mítico nome com as cores dos anos 60 com um dos herdeiros da equipe de Colin Chapman, mas que tinha na fabricante dos carros esporte da Inglaterra, de propriedade da malaia Proton – pelo visto inimiga de Tony Fernandes – como adversária e que negociou com a Genii o uso do nome. Em 2012 tudo parecia estar tomando o caminho correto, o caminho da glória. A equipe resgatou das capotadas ribanceiras abaixo do mundial de Rally o Kimi ‘Tomotodas’ e deu a entender que poderia se tornar realmente uma equipe vencedora, conseguindo diversos pódios e no final da temporada, conquistando a tão ambicionada vitória. Só que, antes de resultados e vitórias, a Fórmula 1 é feita de dinheiro. Esse é o verdadeiro combustível da categoria e das equipes e a Genii começou, já no final de 2012 a ver que ter uma equipe de Fórmula 1 não é nada barato e andar na frente é menos ainda. A Lotus, do grupo Proton, apenas cedeu o nome para o time, sem colocar um centavo na conta da Genii. A Renault, que era a antiga proprietária, passou a cobrar pelos motores e ter um piloto como o Kimi não seria nada barato. Em 2012, com as coisas - na pista - caminhando bem, o time parecia honrar as cores preta e dourada do nome Lotus. Para o ano de 2013 a equipe já veio com mais perguntas do que respostas no campo financeiro e correndo desesperadamente atrás de dinheiro, até mesmo enrolando-se em negociações nebulosas com grupos de reputação – no mínimo – suspeitas como o Quantum. Uma pena, pois o carro novo era bom, Kimi começou o ano com vitória e o título era algo possível. O problema é que a falta de dinheiro para a equipe foi ficando crítica... ao ponto de atrasar salários dos membros do corpo técnico, mecânicos e até pilotos. Kimi tirou a boca do gargalo e meteu aboca no trombone, revelando o tamanho da crise interna. A coisa estava preta! Em 2013 a carruagem começou a virar abóbora. O carro era bom, Kimi era candidato ao título, mas faltou dinheiro... Por conta de tudo o que estava acontecendo, o desenvolvimento do carro simplesmente “emperrou” e o cenário da equipe parecia aquela estória do navio que está naufragando e até os ratos se jogam ao mar para se salvar. Kimi foi um deles, assinando com a Ferrari e largando o carro nas últimas duas provas do campeonato. Contudo, pior foi a debandada do corpo técnico. Mais da metade dos engenheiros da equipe foram para a concorrência, Eric Boullier inclusive, que foi para a McLaren. O carro de 2014 demorou a ficar pronto. Perdeu a primeira sessão de treinos pré-temporada e quando foi para a pista, empurrado pelo pior dos motores da temporada anunciou o fracasso que temos assistido. Para piorar tudo, tendo que apostar num piloto de pouca rodagem e pouca estabilidade (Romain Grosjean) e uma toupeira endinheirada (Pastor ‘Desastrado’), dar errado era o mínimo que se esperava. No fim, os investidores da Genii estão aprendendo que não se trata só de dinheiro fazer funcionar uma equipe de Fórmula 1, mas que sem ele é simplesmente impossível fazer um carro andar. Hoje, a ‘Nega Genii’ está mais perto das ‘nanicas’ do que do círculo dos vencedores, onde chegou a se mostrar. A equipe é uma piada este ano. Por vezes os carros nemconseguem treinar... é uma tragédia! Depois da debandada geral dos engenheiros e da saída de Kimi, a equipe ficou sem comando. Na pista e fora dela.
Sendo assim, diante de tudo o que este grupo de investidores que tirou o nome Lotus de um apaixonado por automobilismo como Tony Fernandes, escorraçado da categoria pelo ‘bom velhinho’ e com um futuro tão nebuloso quanto parecem ser seus negócios pela frente, só posso dizer o seguinte: Joga pedra na Genii! Joga pedra na Genii! É fácil de ultrapassar, seus pilotos são pra rir. Fica atrás de qualquer um, maldita Genii! Abraços, Mauricio Paiva |