Ronco insosso, visual sem-graça, custos altíssimos, desinteresse de público e pilotos. Esta descrição talvez lhe pareça ser a do atual cenário da Fórmula 1 e poderia se encaixar com perfeição no que temos acompanhado... Mas eu estou falando de kart! Sim, isso mesmo: kart! Por quase cinqüenta anos, o conceito das categorias internacionais de kart era o de motores 100 cc, refrigerados a ar, com admissão por válvula rotativa ou palhetas. No final de seu ciclo, por volta do ano 2000, estes motores giravam a mais de insanos 20.000 rpm. O peso de kart e piloto era de 140 kg. O resultado era o de karts velocíssimos, difíceis de levar ao limite e com custos extratosféricos, pois cada pistão tinha que ser trocado com no máximo duas horas de uso e qualquer variação de carburação levava à quebra de motor. Kart restaurado na Austrália, réplica do modelo que levou James Courtney ao título mundial na categoria FA Assistam a este fantástico vídeo, que mostra a final do Campeonato Mundial de Kart de 1999, na categoria Super A, em Mariembourg, Bélgica: https://www.youtube.com/watch?v=8ibC8NSUnZU Já no ano 2000, a categoria “Super A”, onde competia a nata do kartismo mundial, passou a utilizar motores refrigerados à água, o que a princípio prolongou um pouco a vida útil dos motores, que passaram a trabalhar mais frios. Porém, com o passar dos anos, os preparadores e as fábricas começaram a encontrar ainda mais potência nesses motores, e no ano de 2006, último dos motores 100cc, os melhores exemplares do mercado geravam mais de 32 hp e atingiam 22.000 rpm. A partir do ano de 2007, a CIK (Comission Internationale de Karting), órgão da FIA regulador do kart no mundo todo, aboliu as categorias 100cc e instituiu a KF, com motores 125cc refrigerados à água, partida elétrica, embreagem centrífuga e ignição com limitador de giros em 16.000 rpm na categoria principal (KF1). O objetivo principal com a mudança de equipamentos era proporcionar um kartismo mais barato, com motores limitados em sua performance máxima. Além disso, com uma mão-de-obra cada vez mais cara e escassa na Europa, a partida elétrica eliminava a figura do “empurrador de kart”. Por último, segundo a CIK, eles estariam criando um kart mais “ambientalmente amigável”, com menor poluição sonora e menos monóxidos de carbono emitidos. Motor Parilla KF1. Pois bem, o saldo de 7 anos deste novo regulamento internacional é aquele mencionado no primeiro parágrafo desta coluna: Ronco insosso, visual sem-graça, custos altíssimos, desinteresse de público e pilotos. A complexidade dos novos motores encareceu bastante o preço dos equipamentos, esvaziando os campeonatos nacionais em vários países da Europa. Uma alternativa foi criada pela Rotax com o seu Max Challenge, que engloba categorias para todas as faixas etárias, tem um regulamento mundial único, inclusive com a utilização dos mesmos pneus e que proporciona aos vencedores dos campeonatos nacionais a participação em um “tira-teima” mundial. Na atualidade, estes são os campeonatos com grids mais cheios, porém, do ponto de vista dos pilotos, não são karts nem desafiadores nem excitantes. São somente uma decisão racional para competir. Uma descrição detalhada de um motor KF, junto com as críticas da Karting 1. Diante deste cenário não muito auspicioso, a CIK já está agindo: Estão sendo testados na Europa motores 125cc sem embreagem nem partida elétrica ou limitador de giros, iguais aos utilizados pelos pilotos brasileiros, visando a mudança do regulamento já para o próximo ano. Ao mesmo tempo, pilotos nostálgicos da época de ouro do kartismo mundial estão criando campeonatos amadores que utilizam aqueles karts barulhentos, velozes e apaixonantes, com um número cada vez maior de participantes. Vejam esta matéria do Karting 1, um dos principais portais de kart da Europa, e entendam do que eu estou falando: http://www.karting1.co.uk/the-best-kart-class-on-the-planet-f100-90s-raced-by-karting1/ Esperemos que esse olhar da CIK para conceitos do passado possa proporcionar um futuro melhor ao kart mundial... Max Verstappen – Do kart à Fórmula 1 em menos de 1 ano Eu já havia falado deste garoto que completa 17 anos no dia 30 de setembro pra vocês... E eis que recebemos o anúncio do Dr. Helmut Marko, diretor do programa de jovens pilotos da Red Bull, de que o Max será o substituto de Jean Eric Vergne na Toro Rosso na próxima temporada da Fórmula 1! Max Verstappen, multicampeão no kart e novo contratado da equipe Toro Rosso. Esta notícia chocou a muitos, e trouxe na verdade mais comentários negativos do que positivos, especialmente do ex-campeão mundial Jacques Villeneuve, curiosamente o vencedor do campeonato no ano em que Max Verstappen nascia. Verstappen não era nem mesmo um dos participantes do programa de jovens pilotos da Red Bull até o começo de agosto, estando ligado até então à Mercedes. O passo mais lógico para a Red Bull seria promover, por exemplo, Carlos Sainz Jr., piloto da Red Bull na World Series by Renault. Tudo aconteceu em menos de um mês e muitos enxergaram na decisão um golpe de marketing da fabricante de energéticos. Sob o meu ponto de vista, o que aconteceu foi diferente: O Dr. Helmut Marko ficou impressionado com o talento do garoto, da mesma forma que Peter Sauber impressionou-se com Kimi Raikkonen na primeira vez que o viu pilotar um F1 em Mugello, no final de 2000. Até então, Kimi era um garoto imberbe em sua primeira temporada da F-Renault inglesa, nada mais do que isto. Ao pensar sobre isto, me lembro de uma declaração de Wilsinho Fittipaldi, ao descrever a razão pela qual seu irmão Emerson parecia ser tão “sortudo”, estando sempre no lugar certo e na hora certa: “O Emerson é como aquele jogador de futebol que não precisa olhar para a bola para chutar, tudo para ele é natural”. Filho de Jos Verstappen, contratado do programa de jovens pilotos da Red Bull e nova aposta da marca. Apesar da pouca idade de Max, não se enganem: Ele está preparado para pilotar um F1. Suas temporadas no kart, onde venceu diversos campeonatos europeus e mundiais, o capacitaram para isto. Mesmo chegando à F3 Européia em uma equipe que não está entre as duas dominantes (Carlin e Prema), já venceu 8 corridas e ocupa a segunda posição no campeonato. Venceu também o Masters de F3 em Zandvoort, uma das mais importantes e tradicionais provas de F3 do mundo. A questão que será respondida no próximo ano é se o garoto holandês terá maturidade e equilíbrio psicológico suficientes para suportar as enormes pressões da F1. Espero que sim! Campeonato Brasileiro de Kart – Segunda Fase Foi disputada na Brasil Kirin Arena, em Itu, a segunda fase do 49º Campeonato Brasileiro de Kart, entre nos dias 29/07 e 02/08, com as categorias Novatos, Graduados, Super F4, Sênior B, Sênior A e Super Sênior. Os campeões foram: Caio Parizzoto (Novatos), Luca Travaglini (Graduados), Leandro Possenti (Sênior B), Alain Sisdeli (Sênior A), Rodrigo Piquet (Super Sênior) e André Salmoria (Super F4). Danilo Rossi liderando o mundial de Super A de 1997, título que venceu 5 vezes. Uma referência mundial. Eu estive em Itu acompanhando o penúltimo dia de atividades e não gostei do que vi, não pelo nível técnico das disputas, que foi sensacional, mas pelos fatores extra-pista, que são o que mais contamina o nosso kartismo. Decisões de comissários despreparados e arrogantes mudadas na base do grito, trapaças, regras mal explicadas, tudo isso cria um campeonato injusto, vencido na base do “quem pode mais chora menos”. Para que se tenha uma idéia do ponto em que se chega a insanidade das decisões, o vencedor da categoria Graduados na pista, Olin Galli, foi desclassificado por não ter o suporte das carenagens de acordo com a homologação. Luca Travaglini, Campeão Brasileiro de kart na categoria Graduados no último Brasileiro, realizado em Itu.
O piloto que o protestou, Johilton Pavlak, que havia sido o terceiro colocado, também foi desclassificado, desta vez por não ter a placa de identificação do chassis colocada no lugar correto. Ver um trabalho de uma semana toda, com gastos de milhares de reais, ser arruinado por conta de suportes de carenagem ou posicionamento de placas de identificação de chassis é de doer! Apesar de tudo isso, tivemos um merecido campeão na categoria Graduados, a principal do kartismo brasileiro, em Luca Travaglini. Filho da lenda Waltinho Travaglini, Luca tem muito talento e era certamente um dos pilotos com menos recursos financeiros no grid. Parabéns, Luca! Abraços, Rodrigo Bernardes |