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Frente a Frente com Paulo Scaglione (1ª Parte) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 11 October 2014 15:43

Carioca do Rio de Janeiro, Paulo Scaglione formou-se como técnico de contabilidade no final da adolescência e logo começou a trabalhar no ramo na capital do estado. Mudou-se para São Paulo pouco tempo depois, apostando em fazer carreira na capital paulista. Acabou passando cinco anos e meio na Amazônia, cuidando da contabilidade de propriedades rurais, onde tinha direito a três meses de férias e em um destes períodos, retornando à São Paulo, coincidiu com o processo de consolidação da Confederação Brasileira de Automobilismo O então técnico de contabilidade passou a acompanhar de perto todo o processo de construção da situação que se mostrou e onde veio parar o nosso automobilismo.

 

Neste interin, estudou administração de empresas, formando-se e depois bacharel em direito. Com o passar dos anos, aprovado pela OAB, consolidou-se na carreira jurídica e tornou-se um dos proeminentes advogados da capital paulista. O trabalho junto à CBA, como advogado, acabou levando-o ao convite para assumir a frente de uma chapa candidata à presidência, que exerceu durante dois mandatos. Hoje, de seu escritório de advocacia, encontra-se um tanto afastado do meio, mas pode falar mais do que a grande maioria das pessoas sobre como se deu este processo cinquentenário de gestão do nosso automobilismo. É com Paulo Scaglione, que o site dos Nobres do Grid esteve frente à frente.

 

NdG: De Paulo, o senhor teve uma oportunidade única e riquíssima de presenciar o início de tudo. Por favor, podemos começar do início?

 

P. Scaglione: O início de tudo foi uma briga entre o Automóvel Clube do Brasil e o grupo que era liderado pelo Ramon (sobrenome complicado), que tinha o apoio do Wilson Fittipaldi, do Eloi Gogliano, do pessoal que “fazia automobilismo”. O Automóvel Clube do Brasil tinha uma história e uma ligação estreita com a FIA, que poucos tem noção, mas a FIA não tem como forte o automobilismo de competição, mas o que eles chamam de mobilidade. Tanto é que os países ligados à FIA devido à mobilidade são mais numerosos do que os ligados à competição. Isso conferia um crédito muito grande ao Automóvel Clube do Brasil, que fazia muita mobilidade e “brincava de fazer automobilismo”. Aqueles que faziam automobilismo à sério foram se desgastando ao ponto de ter que se criar uma confederação. O meu pai, que estava em Portugal e veio para o Brasil, juntou-se a os que aqui já estavam e partiu-se para a criação de um clube para se consolidar a federação paulista. Nasceu então o Automóvel Clube da Lapa. Ele ficou no clube até 1971, quando faleceu.

 

NdG: Mas o senhor deu um grande “salto” aí. Durante a segunda metade dos anos 60 a CBA precisou se afirmar perante à FIA. Como foi este processo?

 

P. Scaglione: Nesta época, os clubes de São Paulo faziam exatamente aquilo que a FIA queria: fazer mobilidade e esporte, competição. Durante os anos 60 a CBA foi criada, num trabalho que teve à frente o Mauro Sales e junto com o grupo que começou este trabalho aqui em São Paulo, conseguiram junto à FIA a representatividade como o órgão esportivo do automobilismo. Só que a CBA nasceu no sentido oposto. A CBA deveria ser formadas por federações e estas por clubes?

 

NdG: Desculpe, Dr. Paulo, mas não é assim que é?

 

P. Scaglione: O grupo que formou a CBA aqui em São Paulo, para poder oficializar a Confederação, saiu pelo país formando federações. Conseguiram formar quatro ou cinco federações para legitimar algo que, na prática, já existia. Conseguindo ter a Confederação estruturada, a CBA foi à FIA, e conseguiu o reconhecimento e um acordo foi negociado para que a CBA passasse a ser a representante da parte esportiva e o ACB continuaria com a parte de mobilidade.

 

NdG: Esta transição precisava ter sido explicada, por isso o interrompi. Por favor, continue.

 

A CBA nasceu da forma errada. Ela foi criada e daí seus criadores saíram pelo país criando federações para legitimá-la.

 

P. Scaglione: Voltando à década de 70, já depois do meu pai falecido, em 1975 a disputa interna entre os dois maiores automóveis clube que davam suporte à Federação Paulista estava acirrada. Eram o Automóvel Clube Paulista e o Automóvel Clube do Estado. O primeiro era um braço do Automóvel Clube do Brasil dentro de São Paulo. Além desses, haviam os clubes menores, que funcionavam mais como prestadores de serviço. Deu muito trabalho, foram muitas reuniões, mas conseguimos fazer com que todos trabalhassem juntos e nós conseguimos eleger o presidente da federação. Reinaldo Gianatazzo da Mota era Fiscal do Imposto de Renda e sua eleição se deu graças a uma procuração que fui buscar em Sorocaba, de avião, com ajuda do Comandante Rolim, fundador da TAM. O ACP entrou com um mandato para tentar anular a eleição... e conseguiu, pois estava legalmente certa: o clube de Sorocaba não estava no edital de convocação. Restou à CBA nomear um interventor: Ângelo Iannes Mendes Correia. A forma que encontramos para resolver mais esta briga foi um acordo que permitiu a eleição do Wadi Helou, que foi presidente do Corinthians,.

 

NdG: Ele era ligado à alguma coisa de automobilismo?

 

P. Scaglione: Não, bem pelo contrário. O mais importante foi a mudança que ele gerou. Ele era uma pessoa muito ponderada, de bom trato e bem relacionado. Ele trouxe para próximo do automobilismo o pessoal do tribunal esportivo. Ele dizia o seguinte: “Eu não sei dirigir. Tenho motorista. Também não entendo nada de automobilismo , mas sou um bom administrador”. E foi isso o que ele fez. Ele não se envolvia nas brigas que havia entre os clubes. Ele era alheio a isso. Outra coisa que mudou também foi a perda que os clubes tiveram no seguimento de mobilidade. Hoje a seguradora do carro fornece guincho, chaves extras, despachantes, carro reserva e o governo ainda criou o “poupa tempo”... tudo que os clubes faziam, mais fácil e mais rápido. Deixou de haver uma “disputa de status”. Por isso é que há 30 anos a eleição da federação tem chapa única. Todo este processo no qual estive envolvido diretamente ao longo dos anos 70 me colocou numa posição de liderança, mesmo seu eu ser político ou ter aspirações políticas dentro da FASP. Seu estou longe de ser um político. Eu sou, me considero, um organizador de eventos. Um administrador. Esta liderança que temos em São Paulo, que divido com o Elcio e com o Bastos (atual presidente em exercício da FASP), somos uma parceria, uma sociedade desde 1973, quando criamos a “Interlagos Promoções e Eventos” e passamos a organizar os eventos para todos os clubes.

 

NdG: Esta empresa ainda existe?

 

P. Scaglione: Não. Hoje os clubes organizam seus eventos em sistema de “pool” ou de terceirização. Mas nestes anos todos, vocês podem pesquisar, nunca verão meu nome como um dos vice-presidentes da FASP. Neste meio tempo, surgiu um atrito muito forte entre a federação e a CBA, que era presidida pelo Reginaldo Bufaiçal, que quando a F1 retornou para São Paulo em 1990, quando ele assumiu em 1991, ficou enrolando para pagar uma taxa técnica para a FASP. Acabei eu sendo o escolhido para tentar resolver o problema.

 

NdG: E o senhor conseguiu receber o que a FASP tinha direito?

 

P. Scaglione: Isso ia mais além. Era uma questão de maioria. Na época, e mesmo hoje, tem um grupo de umas 5 federações que realmente “fazem automobilismo”. As outras federações viviam e até hoje vivem do “status” do cargo que o presidente de federação tem. Se o cara vive do “status”, ele está preocupado em mantê-lo.  Como no caso destas federações que não tem automobilismo, ele não se preocupa com o automobilismo. A preocupação é com o “status”.

 

NdG:Mas tem muitas federações que não tem autódromos ou campeonatos regionais e metropolitanos de velocidade que promovem “Raids” e Rallies de regularidade. O senhor não considera isso automobilismo?

 

P. Scaglione: Eu vou responder mostrando a legislação, que tenho comigo tudo aqui para que não fiquem dúvidas. A legislação é clara. No artigo 8 do código desportivo da CBA, nenhuma federação poderá ser filiada ou manter-se filiada se não preencher os seguintes requisitos: Ser pessoa jurídica; possuir estatuto compatível com as leis públicas e com a regulamentação da CBA; apresentrar-se com poderes constituídos; existir no estado solicitante, um mínimo de três clubes de competição legalmente constituídos e o mínimo de 50 pilotos inscritos no total destes três clubes, na forma disposta do parágrafo segundo deste artigo. Comprovar que no estado há prática de pelo menos três diferentes modalidades de automobilismo.

 

NdG: Então um estado que tenha competição de kart, velocidade na terra e Rally de regularidade pode ser homologada, caso atenda o que o senhor falou...

 

A maioria das federações de automobilismo do país funcionam de forma irregular. Clubes poderiam fazer o que elas fazem.

 

P. Scaglione: O que é que se entende pela prática?  Não são três corridas no ano, uma de cada modalidade. São três campeonatos! Pra fazer uma prova de uma modalidade por ano não precisa de ter uma federação. Se tiver um clube este pode organizar sua prova, ou duas, três corridas. Um outro, outra. Uma federação tem como finalidade gerir o processo, organizar o processo. O que faz uma federação na Paraíba, no Sergipe, no Pará? Tudo isso que eles fazem lá pode ser feito por um clube. Um exemplo de que pode ser feito é ir aqui perto, em Piracicaba e ver o que ECPA faz. Eles tem arrancada, velocidade, velocidade na terra, kart... e é um clube!

 

NdG: Mas se o senhor não era político do esporte e não tinha aspirações políticas, como se tornou o presidente da CBA?

 

P. Scaglione: Acompanhando o presidente da FASP, o Rubens Carpinelli, eu comecei a dar assessoria jurídica aos presidentes das outras federações... por interesse deles e sem receber nada por conta das mudanças na legislação! Depois, a própria CBA, começou a me procurar para criar padrões de gestão quando foi implantada a “lei Pelé”, que foi um desastre, uma vez que jogou tudo o que o Conselho Nacional de Desportos tinha feito e fez uma lei onde 90% era voltada para o futebol, como se o país só tivesse futebol. E eu fui indicado para presidir uma comissão para criar um estatuto-padrão para as federações. No passar dos anos do mandato do Reginaldo Bufaiçal, diante de diversas posições e atitudes tomadas, ele criou para ele uma situação insustentável, o que o levou a antecipar as eleições. Ficou até o último dia do mandato, mas antecipou as eleições. Só que não havia interessados em assumir a CBA na condição que ela se encontrava.

 

NdG: Não havia candidatos? Porque não havia interessados?

 

P. Scaglione:Era uma questão de credibilidade. A CBA tinha algum dinheiro em caixa, mas a credibilidade estava abalada e ninguém se apresentava para assumir a frente. Foi o próprio Reginaldo que sugeriu meu nome e fez a campanha para que eu fosse eleito, o que acabou acontecendo e eu assumi a CBA em 2001. Foi o primeiro cargo que eu assumi no automobilismo como autoridade eleita e digo a todos que me perguntam: eu não fui candidato. Fui indicado! Não abri a boca pra nada. O único compromisso que me pediram para assumir foi, tocar o automobilismo dali em diante, esquecer o que ficava para trás.

 

NdG: Sim, mas havia uma chapa. O presidente não se elege sozinho. Como foi composta a chapa?

 

P. Scaglione: O Reginaldo Bufaiçal convidou as pessoas para compor a chapa. Para fazer os acertos que ele achava ter que fazer, convidou o Cleyton, de Pernambuco, o Vitor, de Santa Catarina, e a Juíta, do Espírito Santo. A situação estava tão ruim que em 2000 nós não tivemos calendário desportivo. Em 2001 nós fizemos a publicação do calendário, do anuário e de todo o regulamento, do estatuto, da CBA, que era algo que não queriam que fosse publicado uma vez que evidenciaria todas as falhas na forma como foi montada a Confederação.

 

NdG: Depois disso, o estatuto mudou?

 

P. Scaglione: Mudou, mas só para adequação, diversas vezes. Mas a base não mudou. Durante a minha gestão, eu consegui mudar o sistema de votação para um sistema qualitativo, onde as federações que tivessem um colegiado, uma presença maior no cenário nacional tivesse um voto de qualidade, diferente do que é praticado atualmente e como era antes, de que uma federação tinha um voto e todos tinham o mesmo peso. Como eu disse antes, me pediram para gerir o automobilismo dali pra frente, só que seis meses depois de eu ter assumido a presidência, eu recebi uma cobrança do Banco do Brasil com referência a diferença de taxação da importação dos veículos da F.Jr. Durante o mandato do Reginaldo, ele adquiriu junto ao Sr. Álvaro Fiocco, por 600 mil dólares, todos os equipamentos da categoria. Só que estes equipamentos estavam pagos na Argentina e estavam no Brasil como importação temporária, com nota fiscal para desenvolvimento tecnológico dos carros. Essa conta, esta fatura não foi encontrada e eu teria pago sem problemas se a achasse. Como não foi achada, foi montada uma comissão, presidida pelo Sr. Cleyton Pinteiro, para apurar de onde tinha saído este dinheiro, como tinha sido feita a transação, todos os pormenores. E eles chegaram a conclusão  de que seria muito difícil encontrar a documentação e sugeriu o pagamento da taxa cobrada pelo banco, de 5 mil reais, que era a diferença do somatório das notas que foram apresentadas. Acontece que dois dias depois bateu à minha porta o Reginaldo Bufaiçal, reclamando porque eu não entrei em contato com ele porque ele pagaria esta conta. Eu respondi que ele tinha pedido para eu não mexer no passado.

 

NdG: Bom, mas e os carros, eles estavam aonde?

 

Eu não "fui" presidente da CBA, eu "estive" presidente da CBA. Nunca fui político e fui chamado para assumir a presidência. 

 

P. Scaglione: A CBA comprou os carros... em duplicata! Havia dinheiro em caixa. O problema é que não havia automobilismo. A CBA não é banco, não tem poupança, tem que fazer automobilismo. Se vai se fazer uma corrida de Kart, um campeonato, e este vai custar 200 mil, de onde vem sete dinheiro? Não vem só do kart, até vem uma parte. Mas a maior parte vem da Stock, da Porsche, da GT3... então o que eu via era que precisava haver o investimento no piloto. Nós criamos uma revista, que por um tempo chegou a ir às bancas, que não se vendia porque todo o piloto recebia esta revista e ela circulou pelo mundo inteiro, porque todas as entidades filiadas à FIA recebiam 5 exemplares desta revista, que no começo era apenas em português, mas que passou a ter artigos em inglês também. Nós expusemos o automobilismo do Brasil no mundo inteiro, falando de tudo! Do kart à velocidade na terra. De todos os regionais. O Américo Teixeira era o responsável pela revista e na primeira edição meu nome apareceu 19 vezes. Eu falei para ele que não era para aparecer meu nome, mas sim a CBA. Era algo para os pilotos e para a divulgação daquilo que eles estavam fazendo. Era caro, mas era um investimento que daria um retorno aos pilotos e a quem os patrocinava. Como eu disse, havia dinheiro. Onde ele era usado antes eu não sei. Eu estava ali para cuidar do “pra frente”, não do passado.

 

NdG: Mas como o senhor foi uma indicação do Reginaldo Bufaiçal, certamente acabou “colhendo” parte do que ele plantou, de bom ou de ruim, não?

 

P. Scaglione: Eu nem sabia e nem sei onde ele mora! Sei que Ele mora em Goiânia, mas o endereço eu não faço ideia. Apurar as coisas eu nunca apurei e de “eu ouvi falar” vocês nunca vão ouvir um advogado falando. Na época a Quatro Rodas fez uma sobre o assunto, muito superficial, que no fim das contas não prova nem comprova nada. Eu não fui atrás de apurar nada. Agora, se você não é nenhum retardado, vendo as coisas consegue chegar a uma conclusão sobre o que deve ter acontecido ou não para determinada coisa está num determinado estado ou ponto. O falecido Aurélio Batista Felix dizia que, prometeram homologar a categoria dele se ele pagasse 30 mil dólares! Ele dizia isso pra quem quisesse ouvir, não foi para mim. Qualquer piloto antigo da F. Truck vai confirmar isso. Ele falava em briefing. Eu não estava lá, mas sei quem estava. Presume-se que a situação estava muito feia, por isso ele saiu.

 

NdG: E mesmo sabendo disto tudo o senhor aceitou sair candidato a presidente?

 

P. Scaglione:Algo precisava ser feito e é difícil fazer algo numa organização com 18 federações como era a CBA onde, em muitas delas, nem um Rally passava no estado. Isso foi a o que eu passei ao longo de praticamente dois mandatos. Em 2007, em uma assembleia, eu avisei: no ano que vem teremos eleições. É interessante que vocês legalizem a documentação das suas federações para poder votar. Quem não estiver com a documentação da federação em ordem, não vai votar. Não terão os alvarás renovados. Ou seja, foi dado um ano inteiro para que eles regularizassem a situação de suas federações. Porque esta assembleia foi tão importante e fiz questão de citar o que nela se passou? Pelo estatuto da CBA, as federações, no seu artigo 8, era claro que não poderiam manter-se filiadas ou postular filiação se não cumprissem os requisitos lá escritos. E, além disso, possuir o alvará de funcionamento expedido pela CBA. Quando foi em julho de 2008, quase um ano passado, um dos meus vices, o Dione Rodrigues, de Brasília, foi comemorar seu aniversário e convidou os presidentes das federações. O Odilon, presidente da federação paraibana (eu falei da Paraíba lá no começo, mas foi uma referência apenas, nunca tive nada contra eles) me ligou e falou que tinha recebido um convite para uma reunião em Brasília e eu não sei se devo ir... eu disse pra ele: se você foi convidado e achar que deve ir, vá! Ele disse que iria e que me ligaria depois. Tudo bem. Ele não ligou... e eu também nunca liguei pra ele. Uma coisa que eu sempre frisei é que eu “estava” presidente e não “era” o presidente.

 

NdG: Era esta a famosa reunião da montagem da chapa do Cleyton? “Por uma CBA de verdade”?

 

Foi o Reginaldo Bufaiçal que me convidou para gerir a CBA "dali para diante" e foi o que fiz. O que ficou pra trás lá ficou.

 

P. Scaglione: Uns 20 dias depois eu fiquei sabendo que esta tinha sido uma reunião arquitetada pelo Reginaldo Bufaiçal, que desde 2001 ficou sem o poder de mando, de controle de tudo e todos que teve em seus três mandatos e que teve o apoio de alguns promotores, um deles o Sr. Carlos Col, que estavam insatisfeitos e começaram a financiar a campanha que foi mobilizada em Brasília.

 

NdG: Mas o senhor tinha algum problema com a Stock Car?

 

P. Scaglione: Uma coisa que eu sempre fui contra foi corrida de rua. Corrida de rua é para você destruir o carro e as equipes já estavam quase todas “com o pires na mão”... e ainda estão. Então você fazer uma corrida de rua onde coloca em risco o piloto e a credibilidade da categoria, é um troço imbecil e aonde tem corrida de rua não nasce autódromo. Além dos compromissos, do envolvimento financeiro. Olha o rolo que está aí a questão de Ribeirão Preto. Este ano a responsabilidade de fazer a corrida é da CBA e eu pergunto: vai ter a corrida? Estava fora do calendário, depois colocaram, depois tiraram...  Bom, eles sabiam que comigo não haveria espaço para se partir para haver corrida de rua. As pessoas perguntam se eu sou brigado com o Cleyton [Pinteiro]. Eu respondo que não... eu apenas não falo com ele. Pra mim ele é carente de personalidade. Foi meu vice por 8 anos e em setembro de 2008, num evento, ele conversou comigo por 40 minutos e não teve coragem de dizer que ele tinha sido o escolhido para ser o candidato das federações à presidência da CBA. Isso pra mim é carência de personalidade e falta de respeito. Eu fiquei sabendo pelo Haroldo Scipião, da federação do cearense, que ficou indignado. Numa reunião em outubro de 2008, eu chamei-o para uma conversa, disse que sabia de tudo e que a nossa relação acabava ali.

 

NdG: Mas e a questão dos alvarás? Se eles estavam irregulares não iam poder votar...

 

P. Scaglione: As federações, numa assembleia extraordinária, decidiram antecipar as eleições de março para janeiro, antes do vencimento dos alvarás, que era no final de janeiro de 2009. Fizeram a eleição, o Cleyton foi eleito. Eu cumpri meu mandato até o último dia, em março, até a festa de homenagem aos pilotos, que era uma tradição. Outro dia li uma reportagem que foi postada no facebook onde o Luiz Tedesco mostrava o troféu recebido pelo correio numa caixa de papelão. Naquele mês quando foi eleito, o Cleyton queria cancelar a cerimônia dizendo que o caixa da CBA não comportava aquilo e que a entidade entraria numa crise financeira. Eu respondi que o dinheiro em caixa da CBA era dos pilotos e não da CBA e que a festa já estava paga com o que foi recebido do WTCC, que pagava 80 mil dólares pela etapa no Brasil. A festa foi no dia 15 de março, ele tomou posse no dia 16. Eu não fui, porque aquilo foi um golpe e eu não compactuo com golpes.

 

NdG: Tendo se afastado da política esportiva,como o senhor vê a gestão do automobilismo hoje?

 

P. Scaglione: Eu vejo a CBA hoje numa situação muito pior do que quando o Reginaldo Bufaiçal era presidente. Ela tem uma carência de credibilidade. Até os financiadores da campanha deles se afastaram. Eu não lembro para quem eu dei entrevista, mas eu disse que o Cleyton era o mais antigo frequentador das assembleias da CBA, desde antes da eleição do Reginaldo. O Cleyton sempre disse que correu de kart em Pernambuco. Vocês já viram alguma foto dele de kart? Eu perguntei por lá e ninguém viu. É uma pessoa que nunca viu um regulamento. Eu destituí o Sr. Nestor Valduga da CBA no dia em que ele faltou ao respeito comigo.

 

NdG: Este é um capítulo que nós tratamos como um capítulo à parte. Quem é Nestor Valduga? Ele foi uma “herança” do Reginaldo Bufaiçal para a sua gestão?

 

Sou contra as corridas de rua. Onde se faz corrida de rua não nasce autódromo, além do que, é corrida pra se destruir carro.

 

P. Scaglione: Eu honro muito aquilo que assumo, por isso digo que não sou político. Nestor Valduga foi um “acerto” que era errado. Ele,como presidente da federação gaúcha de automobilismo não poderia ser diretor da confederação. Mas foi um acerto Reginaldo na composição da chapa. E o Nestor tem bons conhecimentos técnicos. Conhecimentos técnicos... e só. E a convivência, o funcionamento do processo foi positivo até um certo ponto, devido à “rédea curta”. Se de um lado ele tem o conhecimento como ponto positivo, na outra ponta ele tem um comportamento muito atípico.

 

NdG: Atípico em que sentido?

 

P. Scaglione: É algo fora da normalidade. Por exemplo, se ele não gosta de você, ele mistura as coisas e procura te atrapalhar. Quando eu não gosto de uma pessoa eu “to fora, sigo minha vida em outra direção. Ele não só prejudica como ele persegue... e tem pessoas que ele abraça, beija, chama de irmão e no que ela vira as costas toma uma punhalada. Um exemplo disso foi o Toninho de Souza. Na minha ótica ele ama automobilismo, mesmo sendo meio enrolado nas coisas que faz, ele sempre investiu e reinvestiu aquilo que ganhava no automobilismo e, alguns anos atrás, a CBA taxou absurdamente uma prova de endurance que o Toninho estava organizando, prova que ela não tinha e não tem capacidade de fazer, que ela não tá aí pra organizar evento, e com uma taxa de 180 mil reais pra fazer o evento o Toninho acabou desistindo. Aí, 4 ou 5 meses depois ele liga para o Toninho chamando-o de “irmão de sangue”.

 

NdG: Mas o senhor o manteve por praticamente seus dois mandatos inteiros, mesmo com todo este “quadro psicótico”?

 

P. Scaglione: Ele continuou como membro da CBA até algum tempo depois de eu ficar sabendo da formação da tal chapa encabeçada pelo Cleyton. Ele fazia parte dos que apoiavam o Cleyton. Era um direito dele... mas ele não se assumiu, e continuou a frequentar as reuniões da diretoria da CBA. O pessoal me perguntava: Paulo, você não vai tirar ele daqui? E eu dizia: não, quero ver até onde ele vai. Até que chegou um dia, durante a F1 de 2008 e foi algo que me deixou momentaneamente estático. Eu conheço o Bernie [Ecclestone] desde os tempos da Brabham. Não era nada íntimo, mas era muito próximo. Ele fez uma reunião onde estávamos presidentes das federações e disse: “no ano que vem sei que haverá a eleição para a CBA e o Paulo Scaglione é uma pessoa que merece todo o nosso respeito. Tanto FIA quanto FOM”.

 

NdG: Mas o desenrolar dos fatos mostra que esta “pressão” feita pelo Bernie não surtiu efeito sobre os “insurgentes”...

 

P. Scaglione: Depois veio o ministro Orlando Silva, declarando que ele tinha comigo um trabalho sério e que gostaria de dar continuidade. Mas como já estava tudo marcado, eu cerquei o Valduga fora da sala e perguntei onde ele ficava nessa estória. Ele disse que não, que estava comigo... aí eu abri o jogo e disse que sabia que ele estava lá nas reuniões para levar o que era falado para o grupo deles. Só que você não consegue levar nada porque eu não tenho nenhuma pretensão futura. Mas eu vou te substituir. Aí ele veio todo de bonzinho, me chamando de chefinho, dizendo que não era nada daquilo... e eu respondi que pelo menos uma coisa eu não ia me arrepender de não ter feito!

 

NdG: Antes tarde do que nunca?

 

P. Scaglione: Foi depois deste episódio que eu passei a analisar os meus erros. Eu tinha do meu lado uma pessoa ultra centrada e que tinha mais conhecimentos do que o Nestor Valduga: o Haroldo Scipião, da federação cearense. Só que ele é uma pessoa tão quieta, acaba deixando de chamar atenção.

 

NdG: Mais ou menos, Dr. Paulo. Há não muito tempo ele “chamou atenção” com aquele caso do envio de dinheiro para o exterior que acabou com sua prisão pela Polícia Federal...

 

Eu avisei a todos os presidentes de federação, um ano antes, para regularizar as mesmas. Foi mais fácil "trocar o presidente".

 

P. Scaglione: Tem pontos aí que precisam ser esclarecidos. Qual é o envolvimento dele naquilo? Zero! Podia ter acontecido com qualquer federação. Porque? As federações podem mandar dinheiro para pilotos correndo no exterior. Elas podem receber verbas de patrocínio. Só que a verba de patrocínio de pilotos ela recebe e repassa para o piloto. Ela tem a sua “taxa de administração”, que cada projeto fixa sua taxa e foi isso o que ela fez.

 

NdG: Mas Dr. Paulo, o que chamou a atenção foi o montante das movimentações... muito maior do que a da FASP, por exemplo, que tem muito mais pilotos filiados...

 

P. Scaglione: Ela, a federação, não tem um resultado financeiro. Infelizmente ela fez com um cara que é problemático, o Hybernon [Cisne]. A entidade em si ela fez o que tinha direito de fazer. A Polícia  chegou lá, prendeu quem achou que deveria prender, levaram todos os computadores da federação e isso pode acontecer com qualquer federação e é a mesma coisa que está acontecendo com a confederação com relação à Ribeirão Preto. Vai “sobrar pra ela”. O Min. Público não aprovou as contas de 2010 da prefeitura de R. Preto. Ainda faltam 2011 e 2012. E o que tem lá? Recibos da CBA! Que recibos? Se ela não assinar o contrato, não tem a corrida. Mas faltou o cuidado devido. Ela tirou a taxa de administração dos sete milhões e repassou o restante para a VICAR.  Ou seja, repassou em 2 anos o que deveria ser diluído em cinco. Caso não haja corrida, tem a devolução e uma muita de 50%! Não estou me colocando aqui como um defensor do Haroldo, estou apenas dizendo que o que ele fez não foi errado. Ele inclusive poderia ter se beneficiado por não fazer mais parte da CBA. Na época da prisão houve uma entrevista comigo onde eu disse que já sabia da existência deste assunto sobre os patrocínios e eu considero o Haroldo um cara sério e um dos poucos que chamo de sérios no automobilismo. O Ceará é o único lugar onde a federação conta com o apoio e a participação dos pilotos. Eles lá tem uma espécie de cooperativa para fazer o campeonato e a federação tem um galpão com um dinamômetro onde ficam todos os carros e os motores são sorteados. Os carros não podem ser mexidos e a parte de pintura, reparo e adesivagem  é feita num anexo ao lado. Nem São Paulo tem isso.

 

 

CLIQUE AQUI PARA LER A 2ª PARTE. 

Last Updated ( Friday, 31 October 2014 19:38 )