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O terceiro carro e a decadência da Fórmula 1 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 31 October 2014 13:17

Se você estiver a ler este artigo após o GP dos Estados Unidos, no circuito de Austin, então deve ter reparado na ausência da Caterham e consequentemente, numa grelha de Formula 1 reduzida a vinte carros. No passado dia 22 de outubro, a empresa suíço-árabe que tomava conta da Caterham decidiu abandonar a gestão da equipa, comprada a Tony Fernandes em julho deste ano, alegando que este nunca fez a transferência das ações para a sua posse. Fernandes respondeu dizendo que a outra parte nunca cumpriu com o combinado, e enquanto que as acusações eram atiradas um contra o outro, os administradores de insolvência entravam na sede da equipa e tomavam conta do assunto, deixando os funcionários sem lugar para trabalhar e no final, sem emprego.

 

Este desfecho era inevitável, depois de semanas de noticias sobre a real situação da empresa, de apreensão de bens por parte dos oficias de justiça britânicos, para pagar dívidas. E a falta de peças fez com que, em Sochi, o japonês Kamui Kobayashi ter tido dúvidas sobre se poderia entrar no seu carro quando um dos seus componentes se quebrou, e foi reparado com uma tira de carbono, porque não havia peças de substituição. O piloto japonês chegou a pensar em não correr no seu carro devido às duvidas sobre se tinha um carro seguro, especialmente quando tinha passado apenas uma semana depois do acidente grave de Jules Bianchi.

 

O fim inglório da Caterham, antes do final desta temporada, colocou mais à vista o que se passa em relação às equipas do fim do pelotão. Enquanto se falava profusamente deles, circulavam outras noticias preocupantes sobre as outras equipas do fim do pelotão, como a Marussia e a Sauber.

 

Dificuldades constantes, orçamento apertado, venda no meio da temporada... o ano foi duro pra Caterham.

 

Sobre a Marussia, esta é sustentada por um os oligarcas russos, Viktor Cheglakov. Ele injetou dinheiro para fazer funcionar a equipa, recorrendo à sua enorme fortuna, mas em meados de setembro surgiram as noticias de que ele já estava farto de injetar sem ter algo em troca, apesar dos dois pontos conquistados por Jules Bianchi no Mónaco. É que caso fiquem nos dez primeiros lugares, conquistarão um prémio de aproximadamente 35 milhões de dólares, que daria para compensar o dinheiro gasto até agora.

 

Mas para além disso, os problemas políticos poderão fazer com que o dinheiro russo seja agora algo incómodo, e aí, passo para a Sauber. Desde meados de 2013 que a equipa procura dinheiro para pagar as suas contas, e está se a tornar cada vez mais complicado de arranjar, depois de que as conversações para um acordo com um consórcio russo liderado pelo pai de Serguei Sirotkin colapsaram devido às sanções internacionais. E isso se está a ver este ano, quando a Sabuer atravessa o pior campeonato de sempre, arriscando a acabar sem pontos.

 

Há algumas semanas, um amigo meu revelou na sua página do Facebook que as coisas nos lados de Hinwill estavam mesmo más. A equipa estava a mandar menos engenheiros do que o normal nas suas viagens fora da Europa e estava a pedir aos seus funcionários para que procurassem outras paragens, pois o dinheiro era cada vez menor e as dúvidas sobre se eles continuariam na categoria máxima do automobilismo eram cada vez maiores.

 

E apesar de ter fechado contrato com o holandês Giedo Van der Garde, a equipa não tem muitas chances: ou pede mais dinheiro aos mexicanos, através de Esteban Gutierrez (ou outro piloto), ou então fecha as portas de vez. E isso seria horrível para Peter Sauber, que fundou a equipa há quase 45 anos e sempre a geriu com sageza nos 21 anos que já leva de Formula 1, sendo um dos últimos moicanos, a par de Frank Williams. Nem mesmo quando a BMW saiu da marca, em 2008, as coisas foram tão complicadas como agora.

  

Mesmo tendo feito história neste ano, marcando seus primeiros pontos, a Marussia também sucumbiu financeiramente.

 

E caso Marussia ou Sauber não apareçam em 2015 ou até os dois, isso faria com que a Formula 1 ficasse com 18 ou 16 carros na grelha. Ora, isso poderá causar uma perturbação, pois os contratos entre a FOM, a FIA e os circuitos indicam que têm de haver um mínimo de 20 carros na grelha de partida. Apesar da opacidade deste tipo de acordos – os contratos da Formula 1 são dos mais opacos do desporto – aparentemente existem clausulas que referem se a organização de Bernie Ecclestone não providenciar os 20 carros existentes à FIA, isto será considerado como uma quebra de contrato e todos os acordos existentes serão terminados.

 

É verdade que com a inclusão do terceiro carro, esse problema seria resolvido. E já aconteceu no passado. Nos anos 70, por exemplo, equipas como a Ferrari ou a BRM correram com três carros, e a última vez que tal aconteceu foi quando a Renault alinhou no GP da Alemanha de 1985 com um terceiro carro para o francês Francois Hesnault experimentar a “câmara onboard”. Só em 1992 é que se tornou obrigatório que todas as equipas alinhassem com dois carros, não só cortando a ideia de ter três carros por equipa, como acabou com a chance de ter equipas com um só carro.

 

A hipótese do terceiro carro foi levantada em Monza, quando o ex-diretor da Williams, Adam Parr, escreveu no seu Twitter oficial, disse que isso iria acontecer logo em 2015. Como sabem, Bernie Ecclestone decidiu dar às equipas poder para defender os seus interesses e afrontar a FIA, em caso de necessidade: o Grupo de Estratégia. Esse Grupo alberga sete das onze equipas (ainda incluo a Caterham nisto) que estão neste momento na Formula 1: Mercedes, Red Bull, Lotus, Ferrari, Williams e McLaren. A Toro Rosso pode ser incluída nesse grupo, por ser a equipa B da Red Bull. São 14 carros ao todo.

 

Das que ficam de fora, temos o caso especial da Force India. Apesar de ser sustentada por um dos homens mais ricos da India, Vijay Mallya, e ser uma boa equipa do meio do pelotão, graças ao motor Mercedes, os sarilhos que ele teve no seu país nos últimos tempos - a falência da Kingfisher Airlines é a maior de todas - fazem com que esteja vulnerável, e esses sarilhos se contaminem à sua equipa. Mas por agora, parece manter-se saudável, graças a bons pilotos e um excelente grupo de engenheiros.

 

Uma verdade precisa ser dita: a disputa do fundo do pelotão não fará falta aos olhos dos fãs da Fórmula 1. 

 

Contudo, há vários contras, e um deles é o “esmagamento” do meio do pelotão. Haverá casos onde a coisa mais perversa pode acontecer. Imaginem três Red Bull e três Toro Rosso alinharem numa corrida de Formula 1 e recolherem os pontos. Seis carros da mesma marca a recolher 60 por cento dos pontos disponíveis, não mataria a Formula 1? Não reduziria a categoria a uma insignificância? Muito provavelmente, sim.

 

Para não falar de outro contra, com a manipulação dos resultados por parte dos terceiros carros. Um dos seus pilotos poderia ser usado para prejudicar a concorrência, por exemplo, prejudicar ou até eliminar em acidentes. Porque em teoria, e de acordo com as regras, os terceiros carros não pontuariam para o Mundial de Construtores.

 

Uma alternativa para evitar a entrada do terceiro carro e ajudar as equipas mais vulneráveis seria a implementação de um teto orçamental nas equipas, que limitaria os gastos em 100 milhões de dólares. É a ideia de Jean Todt, dando assim uma chance às equipas mais pequenas de sobreviver, e alargar o pelotão para mais equipas. Contudo, o Grupo de Estratégia vetou a ideia, que chegou a ser discutida no inicio do ano, mas do qual Bernie Ecclestone instigou as equipas em recusar. Ecclestone e Todt não se dão muito bem nos últimos tempos e as suas ideias têm vindo a encontrar obstáculos. Com a FIA sem grande poder para impor as regras às equipas, apenas pode assistir à sua grandeza autofágica, típica de uma visão imediatista de demasiado centrada em si mesma.

 

Enquanto as coisas não tomarem um rumo claro, há riscos de termos mais boxes fechados. 

 

O que é pena, pois falamos de uma industria que move 1700 milhões de euros por ano. É verdade que o comportamento das equipas umas com as outras é uma das razões pelos quais isto é chamado de “Clube Piranha”, pela capacidade de se devorarem uns aos outros. E gastar cem milhões, em vez dos 300 milhões gastos anualmente por pessoal como a Ferrari, Red Bull e a Mercedes, poderia não só assegurar um pelotão numeroso e variado, como garantiria um futuro mais risonho para a Formula 1. De outra maneira, só aceleraria a sua decadência e daria uma chance a outras categorias para se prosperassem. E o ressurgimento da Endurance começa a impressionar…

 

Saudações D’Além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira