Quem assiste telejornal na televisão e vê notícias sobre acidentes, especialmente os aéreos, onde quase todo mundo morre, não comumente é dito que o acidente foi causado por “falha humana”, no caso, do piloto, que costuma morrer no acidente e – claro – não tem como se defender. Depois do acidente que mantém até hoje o piloto francês Jules Bianchi em estado de coma, agora em um hospital na França, depois de passar quase dois meses em “estado crítico, mas estável” e que agora está “apenas no coma profundo”, a FIA decidiu estabelecer um comitê de investigação e avaliação para apurar as causas do acidente e encontrar responsáveis pelo ocorrido. Em menos de um mês o tal comitê – presidido por Peter Wright e formado por figuras notáveis como Stefano Domenicali, Ross Brawn e até o nosso Emerson Fittipaldi – chegou à conclusão de que a culpa pelo acidente em que a Marussia #17 tirou do chão um trator de algumas toneladas de peso foi do piloto! No relatório, o texto afirma que o piloto francês não reduziu a velocidade o suficiente no trecho indicado com bandeira amarela e que, por isso, perdeu o controle do carro devido a pista molhada e saiu do traçado, colidindo com o “veículo de resgate” (um singelo 'tratorzinho'). Tudo nesta vida tem hora para mudar e parece que já passou da hora de aposentar, com o devido agradecimento por tudo de bom que fizeram – porque é preciso reconhecer que eles muito fizeram de bom – o “Bom Velhinho” e seus coleguinhas dos tempos de Brabham que ocupam alguns dos principais cargos de chefia na estrutura da FOM. Não apenas pela talvez não mais acurada visão – e razão – das coisas que acontecem na pista, mas pela necessidade de se “renovar o novo” para ele não ficar caquético. Se eu, após ler as tais “conclusões” da investigação chamei a comissão de tudo no mundo, imaginem os familiares do piloto? A mãe de Jules Bianchi já havia dito que a Fórmula 1 é um negócio e não um esporte. Bem, nós que assistimos Ayrton Senna morrer na pista 20 anos atrás e tivemos que “espetar o anúncio oficial” do hospital de Bologna. Chamou-me atenção este trecho em particular do relatório de conclusão: O relatório aponta que Bianchi deixou a pista ainda antes do que Sutil e que acertaria um ponto seguro da barreira de pneus. “Infelizmente, o guincho estava na frente, e ele bateu passando por baixo de sua traseira em alta velocidade”, cita. Então, é indicada a falha no MR-03. Durante os dois segundos em que o carro de Bianchi passou pela área de escape, o francês chegou a pisar nos pedais do freio e do acelerador ao mesmo tempo, usando os dois pés. “O sistema FailSafe é desenhado para cortar potência do motor, mas foi inibido pelo Coordenador de Torque, que controla o brake-by-wire (freio eletrônico). A Marussia de Bianchi tem um sistema único de BBW, que provou ser incompatível com as configurações do FailSafe”, adverte-se. Isso pode ter afetado a velocidade do acidente, “mas não foi possível quantificar isso de forma confiável”, a comissão alerta. “Contudo, pode ter sido que Bianchi se distraiu pelo o que estava acontecendo e o fato de que suas rodas dianteiras travaram, e ele não conseguiu desviar do guincho”. A seção das causas é concluída elogiando o trabalho da equipe de resgate, que “contribuiu significativamente para salvar a vida de Bianchi”, e ressaltando que a implantação de cockpits fechados ou saias de proteção nos guinchos não teria sido suficiente para evitar as lesões sofridas pelo piloto. É informado que o impacto do carro de 700 kg com o trator de 6500 kg a 126 km/h não tem como ser absorvido pelas estruturas de segurança que podem ser montadas no F1. Sendo assim, o que é que a porcaria do trator tinha que estar ali? O obstáculo sólido, imóvel e totalmente inadequado numa área de escape é algo inadmissível! Além disso, a Fórmula 1 está acostumada a trabalhar com gruas de construção de longo alcance, como em Mônaco, que bem posicionadas, dependendo do circuito, 8 destas gruas alcançariam praticamente fotos os pontos, evitando assim a entrada dos tais tratores. O que o relatório de conclusão não explica é o fato de, logo – e quando digo logo é cerca de 10 metros depois de onde estava o carro de Adrian Sutil – o fiscal de pista do posto 12 agitava a bandeira verde como mostra a foto em detalhe. O senhor Charlie Whiting, que conhece cabeça de piloto há pelo menos quatro ou cinco décadas jamais poderia ter liberado a disputa a partir do posto 12, mas sim do posto 13. Este, inclusive, não foi o primeiro erro do Senhor Whiting este ano em relação à segurança. Ele deixou o carro do próprio Sutil atravessado na reta no GP da Alemanha no final da prova colocando em risco todos os pilotos, com uma bandeira amarela localizada numa clara condição de entrada do Safety Car. Desse jeito, é muito fácil ser membro do Conselho Mundial de Esporte a Motor da FIA ou fazer parte de uma Comissão de Notáveis para defender os interesses corporativos da entidade e se refestelar em banquetes suntuosos em palácios no oriente médio de países que tentam “comprar” seu ingresso no mundo da Fórmula 1 e outros esportes. Abraços, Mauricio Paiva
|