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Christine: Esperança, angústia e revolta! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 05 January 2015 19:43

Olá fãs do automobilismo,

 

Enquanto vocês estiverem lendo esta coluna eu já estarei nos Estados Unidos, arrumando a minha nova casa junto com o meu amado marido. Essas coisas da vida moderna (e corrida) dos nossos dias nos obrigam a ter que optar entre dormir e fazer as coisas que precisam ser feitas... e eu tenho feito a segunda!

 

Foi no dia 12 ou 13 do mês passado, na reta final dos preparativos para meu casamento que recebi uma ligação do Jean-Eric [Vergne]. Além dos parabéns e da sua sempre gentileza, ele perguntou se eu poderia conversar com uma pessoa... segundo ele, que precisava muito de conversar com alguém como eu e que ele, como meu paciente, recomendara.

 

De início eu fiquei, claro, lisonjeada, mas tentei evitar o encontro. Estava deixando Cuiabá em dois ou três dias, indo para minha terra, no interior do Paraná, onde seria o casamento e as horas estavam poucas e preciosas. Contudo, quando ele explicou do que se tratava e de quem se tratava, meu coração falou mais alto e eu concordei.

 

Em dois dias acertamos tudo e combinamos nosso encontro em Curitiba, onde eu esperava também poder estar na companhia do meu amado chefinho editor, o Flavio, mas ele estava em uma de suas intermináveis viagens... e faria falta no meu casamento. Cheguei um pouco antes da Christine, que veio num voo de Paris para São Paulo e depois voou para Curitiba.

 

 

Consegui, no dia anterior, reservar uma sala – com o pedido especial de instalarem um confortável divã – em um hotel ali próximo ao aeroporto. A fisionomia do rosto de Christine era de cansaço... mas não apenas da viagem, certamente de tudo o que vinha vivendo nas últimas semanas.

 

Quebrando o protocolo, dei-lhe um longo e caloroso abraço assim que ela deixou a área de retirada de bagagem. No meu entender, há momento em que o terapeuta precisa “flexibilizar” as regras e passar para o paciente que ele também é um ser humano e que, como ser humano, tendo sentimentos, é capaz de entender os sentimentos da pessoa que o busca. Ela agradeceu o fato de eu recebê-la daquela forma.

 

Seguimos para o hotel, cerca de 5 minutos do aeroporto, nem isso, talvez. Enquanto não entrei na sala perguntei como foi a viagem, se foi tranquila, se ela havia conseguido dormir um pouco no voo. Falei para ela que viagens longas para mim eram momentos para ler e que eu conseguia ler um livro de 300/400 páginas em uma travessia, sem o menor problema. Ela sorriu, timidamente, como se estivesse ansiosa para estarmos a sós. Achei estranho o fato dela ter vindo sozinha.

 

 

Fomos para a sala que reservei. Estava bem de acordo com o que pedi e solicitei que ela se recostasse e relaxasse. Que teríamos todo o tempo que ela precisasse. Christine respirou fundo, fechou os olhos e uma lágrima escorreu pelo canto do olho.

 

Ela perguntou se eu estava assistindo a corrida quando aconteceu o acidente... eu respondi que sim e que tinha ficado muito assustada com o movimento em torno do acidente, uma vez que, inicialmente, não aparecia nenhuma imagem do carro da Marussia e nossa transmissão, no Brasil, demorou a perceber o que estava acontecendo.

 

Christine disse que não demorou para eles ficarem sabendo do acidente. Avisada pelo empresário do piloto, Nicolas Todt, que logo telefonou para casa da família e informou que algo ruim parecia ter acontecido com ele. Quando mais notícias chegaram, com a descrição e a gravidade do problema, ela, o marido, Philippe, voaram logo para o Japão e alguns dias depois, os irmãos – Tom e Melaine foram também.

 

 

Inicialmente, a atenção dispensada pelas pessoas da FOM e da FIA pareceu ser algo realmente preocupado e reconfortante, mas não demorou muito para perceber que aquilo era algo “mecanizado”, como se seguisse uma cartilha. Pior que isso, com mais informações chegando sobre as circunstâncias em torno do acidente e a clara tentativa de “eximir-se de culpa”  por parte dos diretores da F1, aquilo foi dando nojo... e raiva!

 

Este sentimento foi perfeitamente traduzido por ela quando declarou que a F1 era um negócio, um grande negócio... e apenas isso à emissora de televisão francesa RTL. Apesar de todo o trabalho e da atenção dada ao seu filho por parte da equipe médica do Hospital Geral de Mie, no Japão, a postura “esquiva” das autoridades da categoria era inaceitável para ela e para a família.

 

A indignação só aumentou depois que a conclusão do grupo de “notáveis”, presidido por Peter Wright e que contava com mais nove pessoas, dentre elas o bicampeão Emerson Fittipaldi e os ex-dirigentes da Ferrari Ross Brawn e Stefano Domenicali, declarou que “se Jules Bianchi tivesse tirado o pé e reduzido a velocidade, não teria perdido o controle do carro”.

 

 

Contudo, o mesmo grupo foi incapaz de criticar a atitude da direção de prova de orientar um fiscal de pista estar sinalizando bandeira verde poucos metros após o acidente. Com Jules disputando posição, ao ver a bandeira verde logo à frente, tendo um carro colado na sua traseira, qual piloto não aceleraria?

 

Ela falou de como a velocidade e a competição faz parte da família. O avô, Mauro Bianchi foi tricampeão correndo em categorias de Gran Turismo e seu tio-avô, irmão de Mauro – Lucien – conquistou as 24 horas de Le Mans e correu na Fórmula 1 entre 1960 e 1968, com um pódio neste último ano, em Mônaco. Era algo tão natural, mas a morte já tinha feito a família sofrer, com o acidente em Le Mans, em 1969. Jules querer ser piloto era algo natural... 

 

 

Haviam se passado cerca de 70 dias do acidente quando Christine Bianchi veio me ver. Quando você, querido leitor, estiver lendo esta coluna, outros 30 dias terão se passado. Toda a família Bianchi tem sido de uma bravura e uma fé sem tamanho e continua acreditando na recuperação de Jules.

 

No final do mês de novembro, depois de ter o quadro estabilizado e não mais precisar de ajuda de aparelhos para a respiração, Jules foi transferido para o Hospital Universitário de Nice, onde permanece internado, inconsciente e, até o momento sem reações a estímulos.

 

 

Christine sabe que o quadro clínico não é algo que os médicos tem alimentado esperanças, mas como mãe, qual mãe perderia a esperança? Ela tem a consciência tranquila de que o filho, volte a recobrar a consciência ou não, estava fazendo o que sempre amou fazer e que ela, o marido e os filhos sempre estiveram e sempre estarão com ele.

 

Eu disse a ela que o vi de perto quando ele veio correr aqui no Brasil, no Desafio Internacional das Estrelas, em janeiro de 2013, e ganhou a competição. Foi um dos que mais distribuiu sorrisos e simpatia entre os presentes. Christine disse que ele sempre foi assim, um sorriso no rosto e sempre muita atenção para com todos.

 

 

Uma das esperanças, que ela me confidenciou, é que agora em janeiro Jules passaria a ser submetido a trabalhos de fisioterapia, que além de trabalhar a sua musculatura poderá agir como estimulador de seu sistema nervoso. Como Christine bem enfatizou: há que se manter a esperança!

 

Allez Jules!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares