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50 Anos Depois, o Uirapuru - A história do nome. PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 07 February 2015 03:25

Um dia desses, meu relógio de parede parou de funcionar e fiquei muito triste, pois  o tenho há muitos anos, é objeto  de estimação.

 

Eu o comprei numa loja, e ao passar diante dela ouvi o canto do Uirapuru que me chamou atenção, entrei e comprei na mesma hora, era o relógio com o Canto das 12 Aves de autoria do Dr. Johan Dalgas Frisch.

 

Não me conformei de ficar sem ele e o meu Uirapuru que cantava diariamente durante o almoço e sai a busca da solução. Consegui localizar o Dr.Dalgas e lá fui eu a São Paulo com meu relógio para encontrá-lo. Fui recebido amavelmente em sua casa no Morumbi, lugar tranquilo na Praça Uirapuru onde ele mora a muitos anos.

 

A historia desse homem é fantástica, uma pessoa incrível e o que realizou na sua vida, só mesmo lendo o seu  livro “Para que as primaveras não se calem para sempre“ e o CD intitulado “Ave Dalgas” com os cantos de varias aves raras brasileiras e que me presenteou gentilmente.

 

As lendas sobre o Uirapuru são muitas, mas uma delas, eu a guardo muito bem, pois foi o que levou meu amigo, ex-sócio e projetista do Brasinca a mudar enfim o nome do carro para Uirapuru, o saudoso Rigoberto Soler.

 

Meu relógio sempre trazia a lembrança do carro ao ouvir o canto do Uirapuru... não podia ficar sem ele.

 

Eu era jovem, e a nossa história juntos,e a ideia de nos associarmos foi incrível e ate hoje me pergunto se foi coincidência ou destino.

 

Foi um encontro incrível que marcou a minha vida e a historia de um automóvel que surpreendeu a todos os amantes do automobilismo e do carro até os dias de hoje.

 

No decorrer da conversa com o Dr. Dalgas, num certo momento não me contive, pedi licença e contei a ele minha historia e que eu tinha sido juntamente com o Soler o fabricante do Uirapuru.

 

O Dr. Dalgas revelou-me uma estória surpreendente... e mostrou-se um fã do carro que produzimos.

 

Ele me ouviu surpreso, meio assustado, mas depois de me ouvir atentamente disse :“há muito tempo eu queria conhecer a historia desse carro, eu sabia que existiu e me lembro de um homem baixinho que falava muito... um espanhol que me consultou sobre aves raras da fauna brasileira“.

 

Ele queria algo muito forte para simbolizar a marca do seu carro depois deconhecer melhor a história inteira do Uirapuru, me agradeceu e foi embora, nunca mais o vi!

 

Soler nunca me dissera isso antes, nem como tinha conhecido a historia desse pequeno pássaro, mas que tinha sido a sua escolha, aliás merecida e inédita, pois BRASINCA era o nome da empresa que fabricava cabines de caminhões feitas para a GM e Scania, e algumas versões de caminhonetes enormes (cabine dupla) nada a ver com o carro tão arrojado e com linhas lindas e futuristas.

 

Na minha vida.

Eu corria nesse momento ajudado pela Simca do Brasil após vitórias e conquistas para a marca, e fui convidado pelo chefe do depto de corridas, o querido Chico Landi para  fazer parte da equipe de corridas, mas o destino (ou o Uirapuru) me chamavam para  outro lado. Pouco tempo depois e eu ter somente ter feito 1 corrida como piloto da equipe Simca, ela foi comprada pela Chrysler, o depto de corridas foi fechado e os pilotos licenciados (Jaime Silva, o Toco e o Ciro Caires).

 

Logo que foi para a pista, o carro mostrou que seria páreo para competir contra os melhores da época.

 

Meu parceiro de corridas era o Expedito Marazzi, que fazia os testes para a revista 4 Rodas e era repórter esportivo da Editora Abril. Um belo dia me levou conhecer o carro na Brasinca e ali conheci o Soler.

 

Porém nossa visita não era somente para isso e sim para fazer uma proposta à direção da empresa, após colocarmos nossa intenção,a direção se recusou a me vender 2 carros com um preço reduzido e nos dar apoio técnico para montarmos uma equipe e através das corridas divulgaríamos a marca,alavancando as vendas como já faziam as montadoras da época.(Vemag , Simca, Willys, Alfa Romeo e Puma).

 

O Uirapuru foi um sucesso no Salão do Automóvel em São Paulo.

 

Levamos o carro a Interlagos para um teste completo  que foi  publicado pela revista Auto Esporte.Vi que  o carro andava muito, mas precisava de acertos , mas virei em 4 minutos e 4 segundos , um tempo ótimo na época para um carro de série.

 

Como a proposta não deu certo, acabei por comprar um carro que já saiu das fabrica na cor amarela. Pintamos uma faixa azul e coloquei meu numero ( 88 ) que me acompanhou sempre. Um carro totalmente de série, sem nenhum preparo.

 

Resumo da outra parte da história do Uirapuru:

A STV (Sociedade Tecnica De Veiculos).

Em seguida acabamos por nos associar, eu, o Soler e um tio da minha esposa SR Pedro dos Reis Andrade  pessoa da minha família, comprando da Brasinca todo o ferramental para produzir o carro, estoque de peças, 23 carros em fase final de construção, a marca existente e nos instalamos no Itaim onde terminamos essas unidades.

 

A Fábrica dos nossos carros tinha um excelente equipamento para a produção das unidades.

 

Soler pode desenvolver 2 conversíveis considerados os carros mais visitados do Salão do Automóvel de 1967, alem de uma versão que foi entregue a Polícia Rodoviária, adaptado e desenvolvido para perseguições, grande autonomia, e com partes blindadas.

 

 Nas Corridas.

Rapidamente transformamos o meu carro para poder competir, suspensão modificada, câmbio de 4 marchas, e um motor melhorado com comando de válvulas especial trazido da Argentina, elevamos a potencia a 175 HP.

 

Em corrida, o Uirapuru levou-me a conquista do título paulista em 1966.

 

Testamos os freios a disco que eram trazidos pelo Chico Landi da Itália e que equipava o Corvette, mas não deu certo na suspensão que tínhamos, era o ponto fraco do carro, sabíamos disso, pois o carro mesmo aliviado ainda era pesado em relação aos Malzonis e as Alfas que disputariam na mesma categoria.

 

Como corridas e sorte andam juntas, o Uirapuru me deu essa sorte e mesmo com problema ainda a resolver e o sério problema de freios, disputava  com carros como as Alfas Giulia, Zagato, Malzonis, muito mais leves e com freios a disco, câmbios de 5 marchas e guiados por grandes  pilotos da nossa geração (o Emerson, Piero Gancia, Emilio Zambello e Chico Lameirão).

 

A Revista Autoesporte teve o Uirapuru como matéria em destaque devido ao seu sucesso nas pistas e nas ruas.

 

Consegui vencer o Campeonato Paulista de 1966, nas Categorias GT, Esporte e Protótipos do Anexo J da FIA. Uma vitoria e tanto, pois foram apenas 6 corridas,porem super curtas eraum verdadeiro ”pé em baixo” do começo ao fim.

 

A Lenda que eu guardo e que o Soler repetia sempre.

“O Uirapuru é um pássaro raro, raríssimo de ser visto. Vive na Floresta Amazônica e quando canta todos os outros pássaros param de cantar para ouvi-lo, a floresta fica muda. Quem consegue vê-lo terá sorte, amor eterno e felicidade para sempre e quem o ouvir cantar e tenha uma simples pena dele em suas mãos  terá filhos varões e com muito sucesso na vida“.

 

O Uirapuru: Quando ele canta, todas as aves da floresta se calam para ouvi-lo.

 

O nosso Uirapuru, por onde passava  fazia todos pararem  para vê-lo, quem o teve nas mãos  vivia rindo e feliz, seu motor “cantava” diferente de todos os outros carros.

 

Meu relógio.

O Dr. Dalgas me presenteou com um novo relógio, com 12 novos cantos, concertou o meu onde tenho ainda, o canto do Uirapuru todos os dias me fazendo recordardesses dias que foram de muita gloria e saudades.

 

50 anos de História e Vida.

Dedico essa pequena e verdadeira  historia do Uirapuru que completa esse ano 50 anos de existência , aos amantes e colecionadores desse carro até hoje, ao meu neto Gabriel Hahn, a família Soler, ao Roberto Camarota,nosso chefe de produção,que esteve ao meu lado sempre na nossa fabrica e nas pistas e ao Dr. Ângelo Gonçalves, que muito contribuiu desde o início na criação desse automóvel, nunca igualado.

 

 

A passagem do Uirapuru  no Automobilismo Brasileiro  foi como a lenda: Único, Raro, um lindo carro, impossível de ser imitado e traz sorte, amor eterno e felicidade a quem o teve, foi o meu caso.

 

Abraços,

 

Walter Hahn Junior