Encerrando a minha série de entrevistas dos “Marvados do Grid”, segue abaixo o bate papo que tive com o Rubinho Carrapatoso, Campeão Mundial de Kart de 1998 na Categoria Fórmula A em Ugento, Itália, onde venceu ninguém menos que o bicampeão mundial de Fórmula 1 Fernando Alonso. Conheço o Carrapa desde 1993, quando comecei a competir no Campeonato Paulista de Kart. Ele era um menino bem baixinho, sempre acompanhado dos pais e do irmão, e corria na equipe do Maurão. Seu apelido era “Climadim”, por conta do 'paitrocínio' da clínica de seu pai. Sua evolução como piloto foi visível, e no ano de 1994 ele já era um dos ponteiros de uma categoria Junior extremamente competitiva, que tinha pilotos como Antônio Pizzônia, André Nicastro, Fábio Carbone e Thiago Medeiros, entre outros. Sua tocada sempre foi bem redonda, limpa e ele um piloto inteligente, que sabia arriscar na hora certa. Quando foi pra Europa, despontou de vez. Leiam a entrevista abaixo e conheçam melhor mais este “Marvado do Grid”: NdG: Como você começou no kart? Ruben Carrapatoso: Comecei a treinar em 1992, puramente por uma coincidência foi no mesmo ano que me mudei para outro prédio, e nesse prédio novo, meu vizinho era o Bruno Van Enk, que corria no Maurão, foi por isso que fui parar lá. O resto é historia, risos. NdG: Você e o Gastão Fraguas começaram com o Maurão e ambos foram campeões mundiais. Qual o segredo dele? Ruben Carrapatoso liderando no mundial de kart de 1998. O terceiro brasileiro a conquistar o campeonato. Rubens Carrapatoso: Enquanto a maioria dos preparadores eram preocupados com o kart ou o motor, o Maurão sempre se preocupou com o piloto, acho que esta é a grande diferença dele. Não sei se tivesse começado com outro conseguiria atingir o nível que atingi tão rápido. NdG: Fale sobre o Mundial de 98... Existe alguma história interessante sobre este campeonato que seja inédita? Ruben Carrapatoso: Depois de 17 anos, acho meio difícil. Mas vou contar uma de bastidores: No sábado, depois de ter feito a pole e ganhado as 4 classificatórias do dia, o Roberto Robazzi (dono da TONYKART) entra na tenda, vai até meu kart e diz que tenho que colocar um par de mangas de um modelo novo ( ainda sem cromo) no meu kart, pois o Spinozzi, Forè, Cesetti e cia estavam usando, e até então eu estava usando a original. Ruben Carrapatoso e a festa brasileira no pódio do campeonato mundial de kart de 1998. Eu e o Geof (meu meca) achamos estranho, mas montamos a tal da manga no kart, até porque ele ficou vendo se iríamos colocá-las mesmo. No domingo de manhã fizemos o warm up com a tal das mangas e viramos bem. Mas logo antes da ultima classificatória, eu e ele resolvemos tirar sem falar nada para ninguém e voltei às originais, e foi só alegria, risos! Você precisava ver a cara de espanto, quando depois da final ele viu que eu estava com as originais de volta, risos. Vídeo da final do Mundial de 1998: https://www.youtube.com/watch?v=Qe4xbB8hXi0 NdG: Quais foram os seus principais adversários no kart? E quais foram os pilotos que mais te impressionaram? Ruben Carrapatoso: Acho que na Europa é muito difícil você ter somente um principal. Mas alguns muito bons, posso citar: James Courtney, Tonio Liuzzi, Fernando Alonso, Spinozzi, Forè, Cesetti, Quintarelli, Pantano, Thonon, etc... A lista é grande. Mais me impressionaram: Danilo Rossi, Gianniberti, Beggio, Mislievic. NdG: Fale sobre a aventura com a Mini em 2000, quando vocês inclusive venceram etapas do Europeu juntos? Ruben Carrapatoso liderando uma das etapas do campeonato europeu de 2000. Foto: Miguel Costa Jr. Ruben Carrapatoso: Nossa, pra essa história precisaríamos de um gravador. Impossível eu escrever tudo, risos! Foi um ano inteiro incrível. NdG: Pouca gente sabe, mas em 2003 você foi pole no Mundial de 2003 em Sarno, quando já havia ido para o automobilismo. Fale um pouco sobre isto. Ruben Carrapatoso: Pena que ainda não existia Facebook naquela época, risos. Bom, 2003 era para eu correr somente de F-Renault Italiana, só que no começo desse ano fui assistir o Trofeo Andrea Margutti em Parma, e um mecânico amigo meu estava trabalhando para o Mirko Sguerzoni na Intrepid, que tinha acabado de nascer. Carreira nos Fórmula: Acima, F. Renault ITA em 2003. No meio, Europeu de F3 em 2004. Abaixo na A1GP. Conheci o Mirko naquele dia e ele me convidou para fazer parte da equipe naquele mesmo dia! Na outra semana, já estava treinando em Parma para o Europeu, e fizemos um belo ano de estréia da marca, com uma pole no Mundial e o quase Bi-Campeonato: ganhei 4 das 5 baterias classificatórias. Na pré-final, largando em 11º, me mandaram longe na largada, tive que largar em 34º na Final e acabei em 14º, o que para uma Final de Mundial é uma remonta bem boa. NdG: O que o impediu de prosseguir carreira no automobilismo até as categorias maiores? Falta de apoio financeiro? Estar no lugar errado e na hora errada? Ruben Carrapatoso: Bom, consegui andar de F3 Européia e de A1GP, mas nunca em uma equipe que me desse condições de brigar por vitórias, pois nunca tive todo o dinheiro necessário para andar em uma equipe de ponta. Acho que o principal, além do dinheiro, era uma pessoa que me orientasse, tipo o Nicolas Todt. Hoje ele é meu chefe na Birel ART, mas estou 10 anos atrasado nesse relacionamento, risos! NdG: Como é hoje trabalhar como engenheiro de pista na Stock Car, organizador de provas no Super Kart Brasil e representante da Birel ART no Brasil? De piloto na categoria em 2007, a engenheiro de pista nos dias de hoje, o envolvimento com a Stock Car. Ruben Carrapatoso: Uma coisa tem de em comum em todas: eu faço o que amo. Então, mesmo com todas as viagens e todos os finais de semana consumidos, me sinto bem. E gosto disso e me motiva como se tivesse correndo, isso que é o mais legal. Currículo com as suas principais conquistas: Kart - Campeão Mundial de Kart (1998) - Vice Campeão Copa do Mundo de Kart ( Japão) - Duas vezes Pole Position no Mundial de Kart (1998 e 1999) - Vencedor Europeu Super A - France GP - Vice-Campeão Pan-Americano - Bi- Campeão Brasileiro - Tri- Campeão Paulista Carro - Rockie Of The Year F-Ford Inglesa ( uma pole e 3 vitórias ) - Campeão da Winter Cup da F-Renault Inglesa - F-3 Europeia 2004 - Equipe Brasileira A1 GP 2006 - StockCar Brasileira 2006 e 2007 - Equipe Oficial Porsche na American LeMans em 2008 - Brasileiro e Paulista de Rally de Velocidade 2011 e 2012 com a Peugeot: Rookie Of The Year com duas vitórias. Os resultados nas pistas deste colunista. Na minha primeira coluna do ano, eu falei pra vocês dos meus planos nas pistas para 2015 nas duas categorias em que iria competir, a Fast 90’s e a Rotax Max Masters, mas não os atualizei sobre os resultados. Agora, vou contar um pouquinho de como está sendo este ano para mim... O meu maior desafio está sendo a Copa São Paulo de Kart na categoria Rotax Max Masters, onde estou estreando junto com a minha equipe. O Vicente e o André, os donos da equipe, são engenheiros cujo sonho sempre foi o de ter uma equipe de corridas, e decidiram começar pelo kart me convidando para correr para eles. A energia e o entusiasmo deles são fantásticos, e eles investiram muito para que tivéssemos uma estrutura mínima para competir. Na primeira etapa, tivemos diversos problemas, desde a montagem do kart até o conjunto motor/ carburador que nos foi emprestado pela organização, já que o conjunto que compramos não estava pronto para a corrida. Além disso, pegamos um jogo de pneus no sorteio que era horrível... Resultado: Arrastei-me na última posição nas duas baterias, em um grid de mais de 30 karts. Na segunda etapa, vínhamos muito bem na corrida, disputada sob chuva, mas um piloto bateu nos pneus logo na primeira volta e seu kart ricocheteou pra cima do meu; não tive como desviar e passei por cima dele, entortando o meu eixo e ficando por lá mesmo. Na terceira etapa, melhoramos bastante o acerto do chassis e do carburador e conseguimos terminar o final de semana numa decente quarta colocação na Masters. Nosso grande salto em performance aconteceu na última etapa, que foi disputada em Interlagos: Estivemos sempre entre os 8 primeiros da “geral” nos treinos e entre os 3 da Masters, com tempos entre 2 a 3 décimos de segundo mais lentos que o do primeiro colocado. Para quem praticamente não treina, tendo que se dedicar aos negócios, com uma equipe cuja experiência não chega a 6 meses, é algo muito especial, principalmente levando-se em conta o nível dos pilotos do grid. Infelizmente, fui vítima de acidentes em duas das três baterias, e o nosso quinto lugar no pódio não refletiu tudo aquilo que fizemos na pista. Mas estamos chegando lá! Na Fast 90’s, fui o vencedor da etapa de abertura do nosso campeonato em Limeira. Pilotar um kart com motor a ar, dupla carburação à álcool e mais de 35 cavalos, é algo único, especial. Estes motores chegam a mais de 18.000 rpm nos finais de reta, com um urro que arrepia os pelos da nuca de quem ouve! O meu preparador, o Thiago Ventriglio, é um apaixonado pelo que faz, por isso faz muito bem. Nossos motores eram certamente os mais fortes e não tivemos uma única quebra. Minha dupla carburação ficou a cargo do meu primeiro preparador, o lendário Catroque, e ela permitiu que o motor andasse afinado do começo ao fim das baterias, sem que eu precisasse mexer nas agulhas. Pude também ter a honra de dividir os boxes e a pista com o grande Guga Ribas e essa convivência que tivemos no final de semana é algo que levarei comigo para sempre. Pra terminar, assistam a este onboard que fiz no Kartódromo Aldeia da Serra, para terem um pouco da sensação de guiar estes brinquedos maravilhosos. Coloquem em HD, aumentem o volume e aproveitem! https://www.youtube.com/watch?v=XN_27V2PLOM Até o mês que vem! Abraços a todos, Rodrigo Bernardes
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