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Os dilemas de Fernando PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 13 June 2015 15:44

Olá Fãs do automobilismo,

 

O fato de termos uma corrida no continente americano como foi o caso do GP do Canadá diminuiu o meu problema de fuso horário aqui da Califórnia em relação ao local da prova. Pude até fazer um café da manhã caprichado e tomá-lo junto com meu amado. Já o horário do almoço foi um pouco conturbado.

 

Da mesma forma que era uma vantagem para mim não acordar tão cedo,  a diferença de apenas três horas entre Montreal e San Diego colocou a corrida exatamente na hora do almoço e o churrasco do domingo não foi devidamente desfrutado... e muito menos a tarde!

 

O telefone tocou algumas vezes depois do final da corrida. O primeiro a ligar foi o Lewis, eufórico! Como eu esperava, ele não iria se abalar com o ocorrido em Mônaco, assim como acho que o Nico também encarou o resultado com naturalidade, se bem que ele também telefonou.

 

Mas das ligações recebidas a que mais me preocupou foi a do Fernando... ele estava muito contrariado... como há tempos eu não via... nem nos mais conturbados momentos dos anos de Ferrari ele falou com um timbre de voz como aquele e perguntou se seria possível dentro do que seria o seu horário da quarta-feira, normalmente o último do dia, para, dependendo da minha disponibilidade, estendê-lo.

 

A ida de Fernando para a McLaren foi uma solicitação da Honda... e uma tábua de salvação para ele, que estava sem opções.

 

Ia ser uma tarde pesada... Kurt Busch, Will Power e Fernando Alonso numa tacada só iria merecer uma garrafa de vinho no final do dia para aliviar as minhas próprias tensões. Ledo engano que acha que um terapeuta também não sofre com as tensões do seu trabalho. Não somos de pedra!

 

Fernando chegou pouco antes das quatro da tarde e ficou na sala de espera até Will ir embora. Consegui fazer com o proprietário do prédio onde está meu consultório uma reforma, colocando uma outra porta por onde os pacientes saem sem passar pela sala de espera. Vi isso num filme e achei a ideia genial.

 

Pedi para Fernando entrar e na porta a expressão do seu rosto já mostrava qu teríamos uma sessão difícil. Apesar de que, quando algo está incomodando Fernando, ele não espera por perguntas, já coloca pra fora tudo o que tem para dizer. Basta lembrarmos do rádio que colocaram na transmissão da corrida onde ele respondeu para os boxes que não iria diminuir o ritmo de corrida.

 

Que o trabalho seria difícil ele sabia, mas certamente não esperava voltar a pé tantas vezes para os boxes como tem feito.

 

Ele sabia muito bem que este ano seria um ano complicado, com um carro novo, unidade de potência nova e com uma “distância em terreno” para os outros construtores de motor, apesar de toda a conhecida competência dos japoneses da Honda. O que ele não esperava é que chegaria nesta altura do campeonato ainda tão atrás... e não apenas em termos de performance do equipamento, mas da resistência do mesmo!

 

Quando a nossa fonte de decepção está ligada à perspectiva de um determinado resultado e este resultado não se manifesta do jeito que foi imaginado, é perfeitamente normal se ficar decepcionado. No entanto, entender que as nossas expectativas no resultado, ou objetivos, são um reflexo ou projeção externa de um desejo subjacente que temos e que isso pode ter um certo “desvio da realidade”, sendo este o cerne da questão. As expectativas podem ou não ser projeções precisas, porque são interpretações meramente subjetivas do que pensamos ser necessário para viver de acordo com o nosso desejo subjacente.

 

Fernando e Jenson tem trabalhado duro, mas os resultados continuam decepcionantes... e isso está começando a irritá-lo.

 

Fernando tem enorme uma autoconfiança no seu trabalho, na sua capacidade como piloto que não atribui nenhum tipo de descrédito às suas habilidades e capacidade de pilotar em alta performance. Contudo, nem sempre é fácil encarar a realidade dos fatos como o conjunto de problemas que a Honda em particular e a equipe como um todo vem passando e o que não pode acontecer com ele é uma “quebra” desta autoconfiança.

 

O trabalho hoje com o Fernando é no campo da adaptação às circunstâncias da vida e à mudança, desenvolvendo a sua flexibilidade de pensamento.  Muitas pessoas permanecem num estado de desapontamento porque ficam enraizadas nas suas expectativas acerca de como a realidade deve ser. Se estamos decepcionados com alguma coisa, muito provavelmente podemos estar a alimentar certas percepções sobre como as coisas deveriam ser.

 

Entrevistas após entrevistas, Fernando vê-se quase que forçado a explicar sobre os problemas do carro. Algo muito incômodo.

 

Estas percepções não são a realidade, elas são invenções criadas por nós mesmos em nossas mentes, não propriamente falsas, mas elaboradas nas crenças e formas de olhar o mundo. Nem verdadeiras, nem falsas. Mas se estão contribuindo para este quadro de decepção, merecem ser revistas, merecem um outro olhar.

 

As decepções fazem parte da vida de qualquer pessoa e, de certa forma, podem e precisam ser encaradas de forma positiva, caso sejam tomadas como uma oportunidade de crescimento. Muitas pessoas decepcionam-se com algumas situações ou resultados, porque interpretam isso como uma derrota ou um fracasso comparativamente ao que querem atingir. Sentem-se como se tivessem dado um passo para trás relativamente às suas expectativas.

 

No Canadá, após uma discussão pelo rádio, mais um abandono. São sete etapas e nenhum ponto, com quatro abandonos.

 

O que mais tem atormentado Fernando nestes anos de terapia comigo é que o tempo está passando e, por mais que muitas pessoas que acompanham a Fórmula 1 de perto há muito tempo dizem que ele é o melhor piloto, o que reúne mais virtudes técnicas no grid da categoria. Contudo, desde 2006, ano após ano, a busca pelo terceiro título acaba em derrota, pelos mais variados motivos.

 

Lidar com a decepção não é definitivamente uma tarefa fácil, mas conseguimos trabalhar objetivamente em não se deixar abater pelos desvios, não criar expectativas demasiadamente altas e considerar que sempre pode haver fatores que fogem ao controle, ao planejamento, isso pode acabar por ajudar a sair de um “estado vazio e confuso” que provavelmente podemos nos encontrar.

 

Fernando assistiu o restante da corrida em Montreal com uma expressão extremamente contrariada. Ele está "no limite"?

 

Ainda que alguns dos nossos objetivos do passado possam ter culminado em decepção, isso pertence ao passado. É preciso trabalhar sempre com a possibilidade de lidar com as frustrações de uma forma mais funcional e vantajosa. É preciso manter-se focado nos nossos desejos e nos nosso propósitos de vida. Não olhar os resultados como fracassos usando a decepção como uma paralisia da ação. Com os nossos desejos em mente, é preciso continuar em frente.

 

Fernando tem um temperamento difícil. Nasceu, cresceu e formou-se psicologicamente para ser um vencedor e ainda tem muito a dar para a Fórmula 1 e para o automobilismo. Ainda é muito cedo para dizer adeus e é isso que a equipe precisa entender e trabalhar neste fortalecimento do seu bicampeão do mundo.

 

Apesar de controverso para muitas pessoas, seria uma perda muito grande para a F1 se Fernando decidisse parar de correr.

 

O caminho da McLaren para a volta aos anos de glória passa por Fernando Alonso e tenho certeza que Ron Dennis, Eric Boullier e Jonathan Neale tem total consciência disso.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares