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Tazio Nuvolari PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 07 May 2009 02:04

 

TAZIO NUVOLARI - PRIMEIRA PARTE

                                                                                                                                                                              By Toni Vasconcelos

 

Velocidade era uma questão de DNA. 

 

 

 

Ele era franzino. Nada havia de mais impressionante em sua figura do que um rosto comprido e um jeito que só os italianos de Mantova são capazes. Mas algo o diferenciava de seus colegas. Talvez o mesmo que diferencia os gênios da arte ou da Ciência dos demais mortais. Algo que se assemelha a um vulcão prestes a explodir, com a força e energia brutas que geram as grandes modificações na face da Terra. Ali, em um lugar onde o ciclismo, o motociclismo e a aventura do automóvel do início do século XX, misturavam-se para resultar em um amálgama de pessoas e sentimentos, rumo a descoberta de um esporte fascinante, nasceu Tazio Nuvolari. Nivola, como era carinhosamente chamado, veio ao mundo no frio 16 de novembro de 1892,em Castel d’Ario, região de Mantova, Itália. Não foi por acaso que o automóvel dava seus primeiros passos quando um daqueles que viria a levar esta invenção ao topo, também iniciava sua caminhada. Quando Nuvolari caminhava para o seu segundo aniversário, o automobilismo esportivo nascia em 22 de julho de 1894, com a corrida Paris - Rouen. O começo de Tazio foi sobre duas rodas, pois não só nas motos, mas também no ciclismo, a família Nuvolari tinha tradição. O pai, Arturo Nuvolari, e o tio de Tazio, Giuseppe, eram ciclistas vencedores e reconhecidos, em um esporte que até hoje é um dos favoritos dos Italianos. Quando Tazio disse que queria ser piloto, pela força esportiva da família,  ninguém o impediu. Pelo contrário, teve apoio de todos e até mesmo da mulher – Carolina – que sempre lhe deu apoio para conquistar as suas inúmeras vitórias. O que é curioso é que a carreira de Nuvolari começou tarde. Em termos profissionais, Tazio começou a correr de moto no dia 19 de junho de 1920, no circuito de Cremona, primeira corrida oficial do piloto italiano, já com 28 anos de idade. Inscreveu-se antes de todos com uma moto Triumph de fabricação inglesa, mas depois acabou correndo com uma moto italiana Della Ferrera de 600 cilindradas, com a qual abandonou a prova. Nuvolari já possuia a licença de piloto desde 1915, mas só estreou 5 anos depois. No motociclismo, Tazio foi revolucionário. Não talvez pelos seus resultados, mas pela sua técnica e maneira de pilotar. Já tomava as curvas com a moto deitada, pelo menos o quanto os modelos da época permitiam, Isso já antecipava o que faria nos carros, com a sua técnica apurada de derrapagem controlada, que o diferenciava dos demais pilotos da época. 

Em 1921, Nuvolari começou a se dedicar as 4 rodas. Primeiramente em um carro menos potente, o Ansaldo tipo 4, que pertencia a seu tio Giuseppe, e depois passou para o Ansaldo tipo 6AS, carro mais  esportivo que com seus 1.8 cc e 4 cilindros em linha, debitava 35 cv de potência a uma velocidade de 90 km/h, apenas razoável para a época. Com o tipo 4, Nuvolari chegou em segundo no circuito de Garda em 22 de maio,em dupla com o seu primo Gottardo, e em 1922 com o 6AS foi segundo de novo no mesmo circuito. Tazio não deixou o motociclismo inteiramente, mesmo tendo começado a correr de automóvel.A sua carreira em duas rodas foi até 1930 e, em 1922, foi campeão Mantovano e Italiano de motociclismo pilotando uma Harley Davidson.

  

 

No ano de 1923 Nuvolari já era um nome conhecido. Participou de 28 corridas,sendo 24 em motos e 4 em carros. Em duas rodas entre outras vitórias, o destaque do ano foi para a corrida de Parma, na qual obteve uma vitória espetacular com a moto Garelli 350cc. Neste ano de 1923,ainda nas duas rodas,duelou várias vezes com Achile Varzi, que seria um de seus grandes adversários nas 4 rodas no futuro.No automóvel, Tazio correu com a equipe Chiribiri, carro esportivo italiano que desde 1910 aparecia no cenário do esporte a motor. Confiantes em Tazio, os dirigentes da Chiribiri viram o Mantovano vencer 2 das 6 corridas disputadas em 1923. Em uma destas corridas, no já conhecido circuito de Garda, registrou a imprensa esportiva da época, com relação a Nivola:"O seu recorde da volta com 86 km/h de média tem algo de fantástico devido a natureza desta corrida, e indica de quais proezas é capaz o astuto Mantovano..." 

Em 1924, Nuvolari continuou com sua alternância entre as 2 e 4 rodas,com maior número de provas para o motociclismo: 19 corridas em moto contra 5 em carro. Nas motos, 3 vitórias foram históricas para o Mantovano, no circuitos de Belfiori, Cremona e Tortona, pilotando uma Norton, moto inglesa consagrada em competições. Foi neste ano de 1924 que a carreira de Nivola teve importante incentivo para correr em automóvel. A fábrica Milanesa Bianchi se interessou pelo Mantovano, e  cedeu um de seus carros para que Tazio disputasse a corrida no circuito de Tigullio. Resultado: larga em primeiro, lidera de ponta a ponta e vence a prova. A Bianchi então dá a Nuvolari uma moto. Tazio perde o giro da Itália em Motocicleta por muito pouco. Os dirigentes da Bianchi, cientes do talento de Nivola, começam a estudar o seu contrato para o ano de 1925.

  

 

Um dos fatos mais importantes da história do esporte a motor aconteceu em 1924: Nuvolari conheceu Enzo Ferrari! Foi um primeiro encontro de uma relação profissional e de amizade, que teria bons frutos e dissabores ao longo do tempo, mas que marcou as competições automobilísticas para sempre. Em 25 de maio, Nuvolari enfrentou Enzo Ferrari no circuito del Savio. Nivola corria de Chiribiri, e Ferrari com a mais potente Alfa Romeo. O futuro Comendador Enzo ainda acalentava o sonho de ser piloto campeão e reconhecido. Mais tarde, após alguns sucessos esporádicos, Ferrari viria a se dedicar aquilo que mais sabia fazer que era construir e preparar  carros de corrida. Enzo Ferrari venceu no circuito de Savio, com Nivola chegando em segundo e competindo ferozmente contra a Alfa Romeo. Na semana seguinte Ferrari venceu novamente no circuito de Polesini, com Nuvolari em segundo outra vez. Enzo então quis conhecer o Mantovano, já que ele  ainda não tinha reconhecimento no meio das corridas de automóvel. Uma das histórias que viraram lenda no esporte a motor é a respeito de Nuvolari e Ferrari. Certa vez, treinando para uma corrida, o futuro Comendador pensou ter feito um tempo excelente. Mas Nuvolari o superou em uma volta fantástica. O combativo Enzo continuou treinando e abaixando o tempo, mas a cada volta melhor, Nuvolari achava algo e era mais rápido. Observando o Tazio treinar, Ferrari percebeu a já conhecida derrapagem controlada, com o carro de lado em curvas cruciais para melhorar o tempo da volta. Não perdendo a oportunidade, Enzo começou a tentar levar o seu carro mais para a trajetória de Nuvolari. A Alfa Romeo saia de lado e o tempo não vinha. Em um momento de alta adrenalina, Ferrari jogou o carro em uma curva e saiu da pista, quase sofrendo grave acidente. Aquilo que para Nuvolari era natural, para Ferrari era produto de um grande esforço, nem sempre com sucesso. Dizem que após este episódio, Enzo Ferrari começou a pensar em para de correr e se dedicar a preparação de carros de corrida, o que faria definitivamente a partir de 1931, quando encerrou sua carreira de piloto.  

 

 

 

Começando a priorizar as 4 rodas.

 

 

 

Nuvolari começou o ano de 1925 com uma forte intenção de correr de carro em alto nível, com dedicação e treino. Mas as motos ainda tinham forte apelo na vida do Mantovano. Disputou 15 corridas em moto, vencendo 8 com 4 recordes de velocidade.No dia 1 de setembro de 1925, Nuvolari guiou um carro de corrida que era o melhor de sua época: O P2,modelo consagrado da Alfa Romeo. Ao lado do amigo Giuseppe Campari, um dos maiores pilotos da história, teve a oportunidade de testar a Alfa no circuito de Monza. Logo bateu o recorde da pista, mas na sexta volta sofreu um acidente. A previsão era de 30 dias em tratamento, e ainda ouviu a fúria dos dirigentes da Alfa Romeo: "ele é um estúpido, nunca será um piloto..." disseram. Não podiam imaginar que, uma década depois, Nuvolari venceria com a Alfa aquela que é considerada a maior corrida de automóvel de todos os tempos: O GP da Alemanha de 1935. Nuvolari voltou a pilotar em 12 dias, e em 13 de setembro, "enfaixado como uma múmia" como disseram os jornais da época, venceu com a moto Bianchi 350 o GP das Nações. Um verdadeiro feito de super herói. Começava a nascer a popularidade imbatível de uma lenda Iitaliana. 

 

 

  

Em 1926, Nuvolari correu muito em duas rodas. Foram 27 corridas com a Bianchi 350,e 19 vitórias.O título de campeão italiano foi apenas consequência. Em 1927, mais passos em direção a carreira de piloto de automóvel. Um deles foi a primeira Mille Míglia, prova que se tornaria um marco na história do esporte a motor. Nuvolari correu com um Bianchi tipo 20 de 3000 cc, foi décimo na classificação geral e quinto na categoria. Foi então que inesperadamente,no dia 12 de junho de 1927, Nuvolari alinhou no GP Real de Roma com uma Bugatti 35C e venceu. A corrida teve 420 km, e Nivola marcou a média de 110 km/h. A pericia demonstrada pelo Mantovano surpreendeu a todos.Mesmo favorecido com a quebra do piloto Ajmo Maggi, Tazio venceu e convenceu de vez. Pouco depois Nuvolari venceu o GP de Garda. Tazio ficou particularmente interessado nos carros de Etore Bugatti. Comprou 4 carros Bugatti usados para competir no ano de 1928. Dois deles Nivola comprou para usar as peças como reposição, e outros dois para corridas. Criou então a Scuderia Nuvolari, onde era o único piloto, com a parte técnica a cargo de um dos melhores da época, o preparador Decimo Compagnoni. Estreou com vitória (vejam que não foi só a Wolf em 77 e a Brawn em 2009...) no GP de Trípoli na Tunísia, disputado no circuito de Shedeida em 11 de março. Com a Scuderia Nuvolari, Tazio disputou 12 corridas e venceu 3, com um honroso terceiro lugar no GP da Itália com um carro nitidamente inferior. O GP da Itália aliás que foi a única e trágica corrida de fórmula disputada na Europa em 1928. Emilio Materassi liderava em Monza com o seu carro francês Talbot, quando a direção falhou. O carro ziguezagueou na pista e bateu na barreira de proteção. Materassi morreu instantaneamente. Os destroços do Talbot mataram 22 espectadores e feriram muitos mais. A vitória marcada pela tragédia foi do piloto de Mônaco, e grande campeão, Louis Chiron.  

 

 

A despedida das motos.

 

  

 

Os últimos passos de Nuvolari no motociclismo foram repletos de satisfação. Em 1929, com dificuldades em arrumar um bom carro para correr de automóvel, Tazio começa a se despedir das motos em grande estilo. São 11 corridas disputadas com a Bianchi 350, com 9 vitórias, sendo 7 absolutas e 2 na classe da moto. No jornal italiano "Domenica Sportiva", a manchete após a vitória de Tazio no difícil circuito de Lario (aliás com grande desempenho dos pneus da Pirelli) dizia: "Tazio, o homem que conhece todas as audácias". Nos carros, Nuvolari corre com a Alfa Romeo 6C 1750 SS,carro inferior a Alfa P2 com a qual Achile Varzi seu rival, vence a Copa Ciano, com Nivola chegando em segundo.Mas o ano de 1929 seria um ano importante para o automobilismo, e  teria reflexos na vida de Tazio Nuvolari. Em 16 de novembro, em meio a uma das maiores crises econômicas da história com a quebra da bolsa de Nova York, Enzo Ferrari registrava na Itália a sua empresa: Societá Anonima Scuderia Ferrari. A lenda começava a ser escrita. Com o grande projetista Vitorio Jano, que Ferrari tirou da Fiat, fazendo o projeto e a preparação dos carros da Alfa Romeo, agora só faltavam os pilotos. Tazio Nuvolari era um dos nomes que Ferrari contratou em 1930, para formar uma das melhores equipes de competição automobilística de todos os tempos. Além de Nivola, Baconin Borzachini e Giuseppe Campari faziam parte do time. A Alfa Romeo não esperava que a Ferrari ganhasse ou obtivesse sucesso total. Para a Alfa, o que importava é que Enzo era um parceiro de informações e desenvolvimento dos carros que ela fornecia para a Scuderia Ferrari. Mas este não era o pensamento do futuro Comendador. Tazio em 16 corridas disputadas venceu 11. Entre as vitórias,a prestigiosa Targa Florio. A primeira vitória da Scuderia aconteceu em 15 de junho,quando Nivola venceu com a Alfa Romeo P2, a corrida Trieste-Opicina. No caminhão que levava o carro já estava pintado o logotipo da Shell. Mais uma visão futurista de Enzo Ferrari: O patrocínio como peça importante em uma equipe. Quinze dias após a primeira vitória da Scuderia, Nuvolari vence mais uma, a corrida Cuneo-Colle della Maddalena. Ferrari considerava Tazio um ponto de referência, o piloto por excelência, aquele que nunca será igualado. O contrato definitivo do Mantovano com a Ferrari só foi firmado em 5 de outubro de 1930, e previa 2 anos de duração, podendo Nivola guiar para a equipe oficial da Alfa Romeo além de participar das principais  competições de motociclismo,em seu último ano correndo ainda em duas rodas. Competindo pela Alfa Romeo, Tazio conquistou uma de suas grandes vitórias na Targa Florio de 1931, com o modelo 8C 2300. Nuvolari foi aconselhado pelo engenheiro Vitorio Jano a correr com os para-lamas montados no carro. Seu rival Achile Varzi entretanto, correu sem eles. Com a chuva prevista que acabou caindo, as estradas encharcadas se encheram de lama . Varzi mesmo liderando, não podia mais pilotar com sua cabine totalmente molhada e levantando rios de barro a cada acelerada. Cedeu então a liderança para Nuvolari, que  venceu demonstrando que a sua escolha foi correta. Mas a grande vitória de Nuvolari em 1931 ainda estava por vir. Uma nova regra para a temporada estabeleceu  que os grande prêmios teriam que durar um mínimo de (pasmem!) 10 horas, com dois pilotos por carro. A primeira maratona  teve lugar em Monza, onde 3 carros deveriam duelar: os Bugatti type 54, com Achile Varzi e Louis Chiron, os Alfa Romeo Monza, com Borzachini e Campari, e os Alfa tipo A de Nuvolari e Arcangeli. Como Arcangeli tragicamente morreu nos treinos, Vitorio Jano retirou o tipo A da prova. Na corrida Varzi liderou até quebrar o motor do Bugatti. Nuvolari e Campari venceram após 10 horas de prova. Campari já era uma lenda, e agora era a hora de Nuvolari, o piloto do povo, aquele que estava no imaginário popular como um ídolo, um símbolo da Itália dos anos 30. 

 

Continua...

 

Last Updated ( Sunday, 17 January 2010 18:08 )