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Entrevista: Bia Figueiredo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 23 August 2015 21:50

O automobilismo é um esporte onde as mulheres são exceção e mulheres vencedoras, com destaque em grandes categorias são ainda mais raras.

 

Uma destas exceções, raridades, super atletas é a brasileira Ana Beatriz Figueiredo. A piloto paulistana completou em março último 30 anos e a menininha que encarava a molecada no Kartódromo de Interlagos galgou todos os degraus de uma carreira de sucesso, chegando até uma das principais categorias do automobilismo mundial: a Fórmula Indy.

 

De volta ao Brasil desde 2014 para correr na Stock Car, continua desafiando os pilotos de uma grande categoria, buscando seu espaço e mostrando que uma mulher pode perfeitamente disputar uma competição de igual para igual com os homens.

 

Na última etapa da Stock Car em Curitiba, Bia, como ela ficou conhecida desde criança, conversou com exclusividade com o site dos Nobres do Grid.

 

NdG: Quando você era criança, certamente tinha várias coisas para chamar tua atenção, teu interesse. Porque o Kart?

 

Eu comecei assistindo corridas com minha família e disse para eles que era aquilo que eu queria fazer: correr.

 

Bia Figueiredo: Foi vendo as corridas de fórmula 1 com a minha família. Quando eu era criança peguei aquela época áurea do [Ayrton] Senna ganhando corridas e mais corridas com a McLaren e a família se reunia para assistir e aquilo despertou uma grande paixão. Depois eu fiquei sabendo que o [Ayrton] andava de Kart e mostrava matéria na TV com ele andando de Kart e aí eu convenci meu pai a me deixar andar de Kart.

 

NdG: Neste processo de “convencimento” familiar não rolou um “mas minha filha” da sua mãe, da avó, de uma tia...

 

Bia Figueiredo: (risos) E, teve um pouco por parte da minha mãe, que logicamente ficava preocupada que acontecesse alguma coisa, que eu sofresse algum acidente e me machucasse. Meu pai foi mais fácil de convencer. Tinha uma outra coisa que era a questão dos valores envolvidos, mas eles confiara, apostaram em mim e eu não desisti do meu sonho de ser piloto um dia e este sonho tornou-se realidade.

 

NdG: Na sua família tinha alguém que tivesse algum envolvimento com automobilismo de alguma forma?

 

Bia Figueiredo: Na verdade, no meu avô mexeu com motos e o Danilo Dirani é meu primo de segundo grau e ele começou primeiro. Isso de alguma forma ajudou. Já tinha um parente correndo e nós corremos juntos por muitos anos, estávamos sempre juntos nos kartódromos de São Paulo e do Brasil todo.

 

NdG: Você, o Danilo e uma leva de mais de 10 kartistas que eu me lembre foi, talvez a melhor geração de kartistas que nós tivemos. Alguns chegaram a categorias Top como foi seu caso, mas o que foi que vocês em geral e você em particular encontraram de dificuldades pra se manter?

 

O ambiente no automobilismo americano é mais "light" e eles aceitam melhor que os europeus uma mulher pilotando.

 

Bia Figueiredo: Se a gente for considerar uma geração como algo com dois anos antes e dois anos depois de mim, muitos desta geração conseguiram construir grandes carreiras. O Nelsinho [Piquet] e o [Lucas] Di Grassi chegaram na Fórmula 1, o Rafa Matos correu na Fórmula Indy assim como eu e todos sabemos como é difícil chegar e mais ainda se manter nestas categorias, não apenas pelo nível daqueles que lá e dos que querem entrar como tem outros fatores que pesam no caminho que você vai seguir. A equipe que você entrar, o suporte financeiro... a competição vai além da pista.

 

NdG: Você foi um dos melhores kartistas daquela geração e depois consolidou-se nos monopostos aqui no Brasil. Na hora de buscar o exterior, o que pesou para sua ida para os EUA?

 

Bia Figueiredo: Em 2007 eu fui para a Inglaterra treinar com carros da Fórmula Renault e também fui conhecer a Indy Lights no Estados Unidos. Acabou que tudo me levou para lá. Apoio financeiro, moral, psicológico... o norte americano tem uma maneira mais “light” fora da pista. O ambiente de cobrança existe, claro, mas é uma atmosfera mais leve. Na Europa é tudo muito frio. Você tem que responder ao cronômetro, o tratamento chega a ser arrogante por lá. A nível de competitividade é basicamente a mesma coisa e lá nos Estados Unidos há uma maior receptividade à presença de uma mulher no cockpit. Na Europa te recebem de uma forma mais “duvidosa”.

 

NdG: Você correu numa categoria de base de Fórmula nos EUA, a Indy Lights, e deve ter visto algumas outras provas de outras categorias. O que eles fazem lá diferente do que se fazia aqui no seu tempo e hoje em dia?

 

Bia Figueiredo: Uma grande diferença é que eles tem uma categoria top por lá que é a Fórmula Indy e os americanos que entram nas categorias de base de fórmula já vão com um pensamento de subir os degraus até chegar nela. E são três categorias de monoposto do seu início até chegar na Fórmula Indy. Aqui, quando o piloto sai do kart ele tem apenas a Fórmula 3 para tentar fazer um aprendizado aqui no Brasil antes de ir para fora ou vai para fora direto (Nota do NdG: A entrevista foi feita antes do lançamento da F-Inter).

 

NdG: Você fez uma temporada completa na F. Indy, mas não conseguiu permanecer na categoria. Alguns pilotos chegam na F1 com uma “mala de dinheiro” e nem sempre, mesmo com isso, conseguem ficar lá. Há como se fazer um paralelo?

 

O automobilismo americano tem todo um caminho nas categorias de fórmula e uma categoria top. Eles não precisam sair de lá.

 

Bia Figueiredo: Eu tenho visto esta questão do dinheiro mais evidente na Europa. É preciso entender que não tem como se fazer automobilismo de alto nível sem suporte financeiro. É preciso ter condições de pelo menos mostrar do que você é capaz para que alguém te veja e aposte no seu talento. Lá nos Estados Unidos as chances são um pouquinho maiores do que são na Europa, mas tem que ter o aporte financeiro. Daí tem que andar muito bem e mesmo assim não há garantia de que você vai conseguir. A Fórmula Indy tem três grandes equipes e um bom grid, mas os pilotos lá correm por muito tempo. Temos vários pilotos com mais de 40 anos correndo e os caras correm até os 45. Isso acaba diminuindo as possibilidades dos pilotos mais jovens de entrar na categoria.

 

NdG: Você ainda considera a possibilidade de retomar uma carreira internacional?

 

Bia Figueiredo: Eu penso em conquistar meu espaço. Eu quero ser competitiva, disputar vitórias e se isso vai ser aqui ou no exterior, para mim não é o mais importante. O importante é conseguir ser competitiva.

 

NdG: Algum tempo atrás o Bernie Ecclestone andou falando em fazer uma categoria feminina. Uma F1 feminina. O que você acha disso?

 

Bia Figueiredo: Existem no mundo algumas categorias femininas, agora uma Fórmula 1 Feminina eu acho que não conseguiria reunir um grid. O bacana do automobilismo, um diferencial que o esporte tem é que ele não exige uma força física e isso dá possibilidade de se competir de igual para igual. Eu ganhei provas desde o kart até a Indy Lights derrotando grids formados por homens. A questão é que a quantidade de mulheres interessadas em competir, em vir para o automobilismo é muito pequena e muito menor do que a quantidade de homens. Se é cultural, genético, social a gente pode pensar várias razões, tanto que o número de pilotas que chegaram em condições de pilotar um carro de Fórmula 1 foram muito poucas. Seria muito mais interessante o Bernie [Eccestone] usar o dinheiro que ele tem para apoiar pilotas que tenham potencial de chegar na Fórmula 1 do que criar uma categoria feminina.

 

NdG: Olhando para nossa realidade, a gente viu nos últimos anos várias categorias acabarem, enquanto na Argentina, que tem uma economia bem mais fraca que a nossa, o automobilismo é forte. Você vê perspectiva das coisas melhorarem por aqui?

 

A quantidade de mulhres interessadas em pilotar é muito pequena, mas é um esporte que podemos disputar com os homens.

 

Bia Figueiredo: Antes da gente pensar em quantidade, é preciso a gente pensar em qualidade. Ter uma categoria com o nível dos pilotos que temos aqui na Stock Car não é algo que se encontra pelo mundo. Temos também categorias para ‘gentleman drivers’ muito boas como a Porsche , a Mitsubishi e a Mercedes. O importante é termos categorias fortes e que consigam ter longevidade, que cresçam se renovem, atraiam mais pilotos. Eu não sei quão forte as categorias na argentina estão no momento para fazer um paralelo entre as nossas realidades.

 

NdG: Voce consegue fazer um balanço destas duas décadas (e um pouquinho mais) de vida de piloto?

 

Bia Figueiredo: O automobilismo para mim é uma realização de vida. Eu faço aquilo que amo e pretendo fazer ainda mais. Quero poder voltar a ter meus momentos de conquistas, ser cada dia mais competitiva e poder fazer aquilo que a gente ama é muito bom. Hoje eu estou numa categoria top como é a Stock Car e estou buscando ser cada vez melhor. Os desafios nunca param. Tenho que melhorar meus resultados aqui para voltar a ter os resultados que já tive antes.

 

NdG: Um conselho para os mais jovens... e as mais jovens. O que dizer numa hora dessas?

 

Bia Figueiredo: Tenha muito foco, disciplina, acreditar que é possível, trabalhar muito e não desistir nunca!

 

Last Updated ( Sunday, 23 August 2015 23:17 )