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Todo mundo odeia Jimmie! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 28 September 2015 22:59

Olá fãs do automobilismo,

 

Mesmo estando aqui nos Estados Unidos há quase 9 meses, confesso que ainda não estou completamente adaptada ao “american life way” ou, estilo de vida americano. Uma das coisas que não consegui entender, por exemplo, mesmo em se tratando de estar ouvindo profissionais e não apenas “a voz das ruas” é relativo ao automobilismo local.

 

No começo até pensei que era um problema meu, por não entender exatamente tudo o que os narradores e comentaristas falavam nas transmissões, especialmente as da NASCAR, que é algo “muito americano”, que talvez nem tenha tantos fãs fora dos Estados Unidos como tem a Fórmula Indy, com seus pilotos estrangeiros, mas com o tempo fui entendendo melhor certos “aspectos”.

 

Dale Earnhardt Jr. é meu paciente regular, vem aqui no consultório há cada duas semanas desde que eu vim para San Diego e um dia, quando ele foi o último paciente e saímos juntos do consultório, perguntei para ele, no caminho do estacionamento: ‘porque eu tenho a impressão de que as pessoas que seguem a NASCAR e até mesmo alguns comentaristas não gostam do Jimmie Johnson?’ Ele espantou-se com a pergunta e disse, “desencanadamente”, que eu deveria perguntar para ele!

 

Na semana passada, minha secretária recebeu uma ligação perguntando se eu teria horário para um paciente em primeira consulta. Com os meninos da Fórmula 1 no oriente, alguns horários ficaram livres e, se for ter que seguir uma continuidade, nada que o “jeitinho brasileiro” não consiga arrumar... e minha secretária, que não é brasileira, já aprendeu isso!

 

 

Jimmie chegou para sua consulta na semana passada logo após o almoço e depois de uma corrida onde envolveu-se em uma polêmica, depois de um toque com Kevin Harwick, causando um furo de pneu no colega de categoria e ele, Johnson, ficou fora dos 10 primeiros. Jimmie Johnson foi até a garagem de Harwick para falar com ele e recebeu um soco no peito. Por pouco – e também graças à não reação de Jimmie Johnson – a situação não terminou em uma briga.

 

Recebi o multicampeão com um sorriso, como sempre faço e convidei-o para entrar. Acho que era a primeira vez que ele encontrava-se com um(a) terapeuta. Ele estava bem na defensiva e eu procurei deixá-lo tranquilo. Disse que era uma honra ter novamente um multicampeão no meu Divã e falei sobre os anos que trabalhei com Michael Schumacher... ele sorriu, mas acho que talvez ele não soubesse de que eu estava falando.

 

 

Em todo caso, serviu para ele se soltar e começar a falar sobre si mesmo e eu fui observando em seu timbre de voz, como postava as mãos que, ao contrário do que muitos possam pensar ser o motivo dele não ser “querido” pelos fãs da NASCAR fosse sua postura, mas ele mostrou-se uma pessoa muito simpática, tranquila, humilde e bem articulada, além de inteligente.

 

Ele falou sobre sua vida, família (Jimmie é casado, pais de duas filhas) e, ao contrário do que é o caso de alguns dos pilotos de Fórmula 1 de hoje em dia, não veio de família rica nem milionária, mas sim de uma típica família de classe média trabalhadora americana. Foi criado em um bairro de classe operária. Seu pai dirigia um trator, sua mãe um ônibus escolar.

 

Ao lado da esposa e das filhas, Jimmie Johnson é uma dessas chamadas "pessoas do bem".

 

Mas porque então ele não é amado num país que tanto valoriza aqueles que constroem seu caminho de sucesso com trabalho, honestidade e suor?

 

Jimmie Johnson é o retrato do sucesso de um garoto que começou pilotando em corridas de bicicletas e chegou na mais popular categoria do automobilismo norte americano e ele chegou lá mostrando ser um piloto diferenciado, extremamente técnico, capaz de vencer em qualquer tipo de oval (curto, médio ou longo), pouco ou muito inclinado, superando adversidades ao longo da prova e calculando friamente o melhor momento para atacar e vencer... ou chegar em uma posição interessante diante do que estão fazendo seus adversários no campeonato.

 

Foi “correndo com a cabeça” que Jimmie Johnson estabeleceu uma marca muito difícil de ser superada: entre 2006 e 2010 ele conquistou um incrível e inédito penta campeonato consecutivo. Antes dele, apenas Cale Yarborough (eu tive que pesquisar isso) tinha conseguido vencer 3 campeonatos consecutivos. Nem os idolatrados e super campeões, Richard Petty e Dale Earnhardt conseguiram algo assim.

 

Jimmie Johnson, ao longo dos seus anos de NASCAR,mostrou uma grande "estabilidade emocional" nas corridas.

 

Além do penta campeonato, Jimmie venceu também em 2013, deixando-o com seis títulos, um a menos que Richard Petty e Dale Earnhardt, os pilotos mais amados da história da categoria. Combinado com o fato de que ele não é um Earnhardt ou um Petty ou o chamado “piloto estereotipado da NASCAR”, que cresceu correndo em pistas curtas em todo o Sul do país, faz dele simplesmente “odiável”!

 

Jimmie diz que, de certo modo, “entende” que muitos não torçam por ele, ainda mais com Dale Earnhardt Jr. chamado de “filho da lenda” correndo contra ele e tendo polarizado toda a torcida que o pai tinha. Outros, no passado já sofreram com o “ódio” dos fãs da NASCAR. Um exemplo é Jeff Gordon.

 

Os fãs da NASCAR odiavam Gordon, tanto que ele foi vaiado impiedosamente e chamado com todos os tipos de palavrões por fãs que não podiam suportar ver o “California Kid” entrar na categoria e bater as lendas do esporte. Passados 20 anos, Gordon tornou-se um dos favoritos dos fãs. Por quê? Porque ele não é Jimmie Jonhson!

 

Muitas vezes a torcida é explícita em sua aversão à Jimmie Johnson, preferindo Dale Jr. "o filho da lenda".

 

O período de supremacia de Jimmie Johnson junto com a equipe Hendrick pode ter sido impressionante como a da Ferrari nas mãos de Michael Schumacher, mas em termos comerciais para o típico mercado americano não foi muito bom para os negócios. Durante o seu reinado, a audiência da TV diminuiu consideravelmente. Era como se os fãs preferissem assistir outra coisa em vez de assistir Jimmie Johnson levantar mais um troféu.

 

Uma das coisas que as pessoas não gostam em Jimmie Johnson é o que alguns chamam de “personalidade robótica”. Além de fazer quase sempre uma corrida que parece estar meticulosamente planejada, aparentemente, ele nunca se deixa irritar e quando ele ganha, age como se não tivesse feito grande coisa. Nos últimos tempos ele diz que tem tentado ser mais “emotivo”, ao menos nas comemorações, mas não parece estar sendo suficientemente convincente.

 

Este ano Jimmie venceu, até o dia que eu escrevi esta coluna, quatro das 28 corridas disputadas até New Hampshire. Ele está mais uma vez na disputa pelo título que, caso conquiste, igualará os feitos de Richard Petty e Dale Earnhardt, que conquistaram sete campeonatos da NASCAR. Como ele não deve parar de correr tão cedo (acabou de completar 40 anos) e está em excelente forma, há uma possibilidade real de que ele possa vir a superar a ambos, conquistando mais dois campeonatos.

 

Com 40 anos e muita corrida pela frente, Jimmy Johnson pode superar os 7 títulos de Richard Petty e Dale Earnhardt.

 

Quando surgiu e começou a vencer, Jimmie Johnson foi apelidado por Dale Earnhardt de “Boy Wonder” e se hoje ele não é mais um garoto, continua sendo um duro adversário a ser vencido. Independente disso, o que Jimmie quer é apenas fazer aquilo que ele gosta: correr! No fundo, no fundo, talvez as  pessoas que torcem contra ele gostariam, na verdade, de estar em seu lugar.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares


Last Updated ( Monday, 28 September 2015 23:37 )