Após em minha primeira coluna escrever sobre o surgimento do rally, desta vez pretendo explicar um pouco sobre as diversas modalidades de rally existentes no mundo, as quais sempre acabam por gerar grandes confusões aos menos familiarizados com este esporte.

 A frase que mais ouço até hoje quando digo que sou piloto de rally é: "que legal, também gosto muito de jipe, de lama!".  Creio que subi em um jipe (ou Jeep se preferirem), uma vez na vida para fazer um raid com alguns amigos, nada mais.

Inclusive, gostei muito da aventura e, apesar de ter muitos amigos Jipeiros, não tive mais oportunidade de fazer outras trilhas.  Creio que esta é uma das primeiras confusões entre os leigos em off road, confundir raid com rally.

Há também o jeep e gaiola Cross, que via de regra, são competições de velocidade disputadas em pistas fechadas, por veículos que em sua imensa maioria possuem estrutura tubular e às mais variadas motorizações, podendo ir de 70 cv a mais de 750 cv de potência e tração 4x4. Nesta modalidade, muito popular no sul do país, normalmente os competidores largam lado a lado, de dois em dois. O maior evento neste sentido, o qual reúne milhares de pessoas todos os anos, é a Fenajeep, realizada em Brusque, Santa Catarina.

E finalmente, falando de rally propriamente dito, a porta de entrada da modalidade é o rally de regularidade, visto que apresenta baixíssimo risco e praticamente não requer quase nenhum  investimento, já que pode ser disputado por carros sem nenhuma alteração, ou seja, com seu carro do dia-a-dia.

Esta modalidade consiste em manter-se sempre dentro ou muito próximo da média de velocidade estabelecida pela organização para o trecho. Esse limite nunca será superior ao determinado pela legislação para aquela via, visto que é realizado em estradas abertas a circulação normal da população.  Além disso, conforme já destaquei acima, os carros por serem de uso diário dos competidores, normalmente não possuem nenhuma aparato de segurança comum aos carros de competição. Vence a prova a dupla que passar pelos pontos de aferição no tempo mais próximo a média de velocidade estipulada pela organização.

Atualmente, apesar da existência de um campeonato brasileiro de rally de regularidade,  a competição mais tradicional neste sentido é o Mitsubishi Motorsports, promovido pela montadora há mais de 20 anos, a qual conta com centenas de carros inscritos a cada etapa. Mas há outras, também monomarca, realizadas, por exemplo, pela Troller e Suzuki.

Nos últimos anos, infelizmente, ocorreu um enfraquecimento das competições regionais organizadas pelos clubes de rally e abertas a qualquer tipo de veículo. Mas algumas provas continuam fazendo muito sucesso, como o Rally das Praias, realizado a mais de 40 anos no Rio Grande do Sul, e o rali da meia noite, realizado na região de Cascavel- PR, mas este destinado apenas  a veículos 4x4.

Já no rally de velocidade, como o próprio nome diz, destaca-se a dupla que conseguir andar mais rápido. Para isso, os carros são preparados, tanto em termos de desempenho (motor, câmbio, suspensão), quanto em relação a segurança (santântonio, chave geral, extintores de incêndio), e os competidores obrigatoriamente devem estar paramentados  (macacão, capacete, hans, sapatilha, luvas).

Além disso, o trecho é fechado para à circulação do público e moradores mediante um grande esquema de segurança. Os competidores largam com intervalos de 2 em dois minutos, ou de minuto em minuto, em alguns casos, visto que devido ao problema da poeira e a largura das estradas, seria impossível largarem próximos.

Nesta modalidade, os carros mais utilizados no campeonato brasileiro são o VW Gol, Peugeot´s 206 e 207, Fiat Pálio, GM Celta, Mitsubishi´s EVO. Na Argentina e Paraguai, há diversos outros modelos similares aos que disputam o campeonato europeu de rally, o ERC, pois a carga tributária para se importar um carro de competição nesses países é bem inferior à que vemos no Brasil. Com isso, o número de competidores é enorme, gerando empregos e renda. Só para se ter uma idéia, o rally é o segundo esporte mais importante do Paraguai, só perdendo para o futebol, com mais de 100 carros largando por etapa.

Já no mundial de rally , o WRC, destacam-se o VW Polo, Citroen DS3, Hyundai I20 e Ford Fiesta.

Outra modalidade de sucesso é o rally Cross Country, neste âmbito representado pelo brasileiríssimo Rally dos Sertões e o maior do mundo, o Dakar, o qual apesar da referência a capital do Senegal, a partir de 2009 passou a ser disputado na América do Sul, devido a um cancelamento no ano anterior, momentos antes de sua largada, da prova que seria realizada em Portugal, em virtude de ameaças terroristas vindas da África.

Nesta modalidade há várias categorias em disputa , com motos, caminhões, caminhonetes e quadriciclos.  O percurso é desconhecido dos competidores, os quais podem enfrentar as mais variadas situações, como desertos com grandes dunas, longas retas, florestas, montanhas, riachos e outras dificuldades como grandes variações de altitude e clima.

Provas desta modalidade podem ter duração de apenas um dia ou até mesmo semanas, como  casos do Dakar e Sertões, em que os competidores devem andar o mais rápido possível, enfrentando obstáculos desconhecidos, levando ao extremo tanto sua resistência física e mental, quanto seus equipamentos.

Além das modalidades acima descritas, há outras não menos emocionantes como o Rally Cross, em que as dificuldades  e obstáculos  são trazidos para uma pista fechada e os carros largam todos juntos. É uma verdadeira prova de sobrevivência, pois os toques e acidentes espetaculares são inevitáveis, visto que as provas são de curtíssima duração e com variações de piso, além de grandes saltos ou rampas.

Essa modalidade se tornou muito popular após ser disputada nos X-Games, a olimpíada dos esportes radicais, arregimentando para a disputa grandes estrelas, como Travis Pastrana e Colin McRae.

Atualmente nomes, como o americano Ken Block, conhecido pelos vídeos da série Gymkhana e o brasileiro Nelsinho Piquet são algumas de suas estrelas.

Espero ter conseguido esclarecer algumas dúvidas e aumentar o interesse dos amigos leitores em relação a esta categoria que conta com tantos fãs e entusiastas ao redor do mundo.

Até próxima!

Marcos Tokarski