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Entrevista: Laurens Vanthoor PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 20 October 2015 21:07

Neste ano os fãs de automobilismo do Brasil tiveram a chance de ver de perto um dos melhores pilotos de Gran Turismo da Atualidade.

 

O Belga Laurens Vanthoor, traçou uma carreira vitoriosa desde o kar, sagrando-se campeão Belga e Francês antes de seguir para a F3 na Alemanha, onde ficou em 4º lugar com apenas 16 anos, sagrando-se o mais jovem campeão da categoria no ano seguinte. O salto para a F3 europeia não deu muito certo, mas isso o levou para os carros de turismo, onde tornou-se uma das maiores estrelas.

 

A relação com a Volkswagen o levou para um contrato como piloto da Audi nas competições europeias de GT, onde sagrou-se campeão do FIA GT em 2013 e da Blancpain GT Series em 2014 (acabou perdendo o título deste ano por conta de um acidente que o tirou das duas últimas etapas do campeonato).

 

Na etapa de Goiânia, Laurens Vanthoor participou de uma matéria especial que fizemos com os pilotos estrangeiros e na etapa de Curitiba, nos concedeu esta grande entrevista.

 

NdG: Nós gostaríamos de conhecer um pouco do cidadão Laurens Vanthoor e a primeira curiosidade é saber o que moveu você para o automobilismo?

 

Eu sou de uma família de pilotos. meu pai era piloto, meu irmão era piloto, minha mãe fazia cronometragem.

 

Laurens Vanthoor: Nós temos uma história de velocidade na família. Meu pai foi piloto, não profissionalmente, mas ele levava muito a sério e toda a família estava envolvida com isso. A minha mãe ajudava nos boxes, fazia cronometragem e eu estava lá desde criança, cercado por aquela atmosfera. Tanto que não só eu mas meu irmão mais velho acabou entrando no automobilismo. É engraçado que até a minha namorada atual tem isso na família também. Seu pai foi piloto assim como o meu. Não tinha como fazer outra coisa acredito eu. Ná Bélgica se pratica muita vela. Muitas pessoas tem barcos, mas este não seria um caminho natural para mim.

 

NdG: Daqui de longe nós conhecemos um pouco de Spa-Francorchamps, de Zolder, mas como o esporte funciona não sabemos nada. como está a estrutura do automobilismo na Bélgica?

 

Laurens Vanthoor: Bem, a Bélgica é um país pequeno e por conta disso não temos muitos autódromos por lá. Você mencionou Spa Francorchamps e Zolder. Além destes temos mais um autódromo permanente, recente (Jules Tacheny), que é uma pista onde nunca corri. Tem também o Camso, mas esta é uma pista muito pequena. Em termos de categorias correndo por lá, temos um campeonato de Gran Turismo e um de Turismo que são bem disputados. Temos um campeonato monomarca, a Copa Clio, mas nenhum destes tem a estrutura de uma Stock Car como há aqui no Brasil. Nós temos algumas equipes belgas disputando campeonatos europeus, com pilotos locais. A geografia ajuda neste caso, pois estamos perto da França, da Alemanha e de alguns dos principais circuitos europeus. O kartismo também tem se mantido bem, revelando alguns bons pilotos nos últimos anos. Há também as competições de subida de montanha e os rallyes, mas eu não acompanho muito.

 

NdG: A grande maioria dos pilotos que começam no kartismo sonham com a Fórmula 1. Voce, depois do kart, foi para as categorias de fórmula. Você é um piloto muito rápido, mas analisando hoje aquele período, você acha que faltou alguma coisa pra chegar lá?

 

Laurens Vanthoor: Para um piloto chegar na Fórmula 1 nos dias de hoje é preciso um conjunto de elementos que vão muito além de se ser rápido. Logicamente, que ser rápido faz com que todos olhem para você com mais atenção, mas é preciso também não errar, ou errar o menos possível. É preciso estar no lugar certo na hora certa. Ter alguém gerenciando sua carreira que consiga fazer os contatos certos para direcionar você no caminho certo. Do contrário, você vai correr, correr e correr e vai acabar num beco sem saída. Muitos que passaram por isso perderam o estímulo e desistiram do automobilismo. É importante lembrar que o automobilismo não é só Fórmula 1, que você pode fazer uma carreira de sucesso, ser um profissional bem pago e reconhecido correndo em outras categorias. Eu fiz uma boa temporada na Fórmula 3 alemã e fui segundo colocado no GP de Macau. No ano seguinte, no campeonato europeu eu não fui muito bem e isso dificultou tudo em termos de Fórmula 1, mas eu encontrei um meio de continuar correndo e ser um profissional do automobilismo. Isso é o que importa. Hoje eu sou piloto da Audi, tenho um contrato para correr por uma das melhores equipes, talvez a melhor, da categoria onde corro.

 

NdG: Você teve o exemplo e a inspiração dentro de casa para o automobilismo. E fora de casa, pilotos que correram e eram famosos internacionalmente... a Bélgica tem alguns pilotos vencedores na Fórmula 1 e em Gran Turismo, como Jacky Ickx e Thierry Boutsen. Alguém fora da casa o inspirou?

 

Para um piloto chegar na Fórmula 1 ele precisa estar no lugar certo na hora certa. Do contrário, pode acabar num beco sem saída.

 

Laurens Vanthoor: Eu era muito novo quando eles correram, inclusive o Therry Boutsen. Eu lembro de ainda ter visto quando eu era criança que ele tinha um gibi com suas aventuras, coisa assim, mas eles foram bem antes do meu tempo, especialmente Jacky Ickx, mas ele é um nome muito respeitado na Bélgica por suas conquistas, suas vitórias em Le Mans. Já estive com ambos algumas vezes em alguns eventos. Quem sabe Jacky Ickx tenha sido uma inspiração para o Therry. Eu vi muitos grandes pilotos correndo, mas não tive nenhum assim que fosse uma grande inspiração.

 

NdG: Entrando no mundo do Gran Turismo, o piloto ali depara-se com dois cenários distintos: as corridas de, digamos, velocidade pura e as de endurance. Como você lida com isso? Onde você acha que se sai melhor?

 

Laurens Vanthoor: Eu tenho muita sorte de poder disputar corridas tanto de velocidade como as de endurance como piloto da Audi. Eles tem um programa muito interessante e treinamos muito para as duas situações. Eu gosto mais das corridas de velocidade, onde me sagrei campeão do FIA GT em 2013 e da Blancpain Sprint Series no ano passado. É uma corrida onde a estratégia é ser o mais rápido que for possível e onde todos que estão na pista estão pilotando à 100%, tirando o máximo dos seus carros. Nas corridas de Endurance é preciso se pensar muito em poupar o equipamento, os pneus para toda a corrida, combustível então corre-se o mais rápido que se pode sem ser o máximo possível por boa parte do tempo, evitando acidentes e danos no carro, que em corridas de turismo costumam acontecer e no início, quando passei dos carros de Fórmula para os de turismo demorei um pouco para aprender estes detalhes das corridas longas. No começo eu dive minhas dificuldades, mas fui aprendendo e hoje corro bem tanto em corridas rápidas com nas de endurance. Tanto que também conquistei o título da Blancpain Endurance Series.

 

NdG: Bem, para que corre tão bem em corridas de endurance, vencer Le Mans certamente está como vencer a corrida mais importante do mundo. E aí voltamos ao Jacky Ickx, que venceu lá 6 vezes. Dá pra pensar nisso? Nas vezes que encontrou com ele já falou sobre Le Mans?

 

Eu corro provas de endurance e velocidade. Aprendi a correr as provas de endurance, mas gosto mais das de velocidade.

 

Laurens Vanthoor: Vencer Le Mans uma vez já é difícil... pensar em vencer seis vezes é algo que é muito difícil de realizar. Nas vezes em que estive com ele falamos pouco sobre as corridas que ele disputou, mas alguém que conquista tantas vitórias como ele conquistou, com o Tom Kristensen conseguiu em Le Mans merecem ser respeitados por todos que vierem depois.

 

NdG: Nas corridas de Gran Turismo tem um outro detalhe que é dividir o carro com outro piloto que além de poder ter um estilo de pilotagem diferente do seu pode ter um tamanho diferente, sendo mais alto ou baixo, mais forte ou magro. Como fazer esta “interface” com seu parceiro funcionar?

 

Laurens Vanthoor: Esta “interface” como você falou tem que ser a melhor possível. Nós precisamos nos ajudar mutuamente, passando todas as informações possível que consigamos na pista e trabalhar em perfeita sintonia para que tenhamos sucesso. Nem sempre temos estilos de pilotagem iguais e isso precisa ser bem equilibrado quando fazemos o ajuste do carro para que, na média, os dois virem bem. Também é importante aquilo que conversamos com os engenheiros para que consigamos achar este ponto de equilíbrio.

 

NdG: Este ano você tem como companheiro o Robert Frinjs. Como está sendo correr com ele?

 

 

Nos carros de GT nós dividimos o carro com outro piloto e é preciso que nos entendamos perfeitamente e com o engenheiro.

 

Laurens Vanthoor: O Robert é um grande piloto. Ele é muito rápido, muito observador e muito preciso em suas informações. Ele chegou bem mais perto do que eu no que você chamou de “o sonho da Fórmula 1” e não conseguiu ficar lá por aqueles fatores que já mencionei. Eu vejo o Robert como um dos melhores pilotos do mundo e é muito bom tê-lo no mesmo carro. Prefiro tê-lo como companheiro de carro do que como adversário (risos).

 

NdG: Nos últimos 20 anos nós tivemos mais acidentes fatais com pilotos nas categorias de Gran Turismo do que na Fórmula 1 suas categorias de acesso. O que você vê em termos de segurança para que tenhamos estes números nas corridas de Gran Turismo?

 

Laurens Vanthoor: É muito difícil fazer uma avaliação em termos de segurança. Eu acho os carros de Gran Turismo que pilotei até hoje muito seguros. Talvez tenhamos que levar em conta que existem muito mais competições de carros de Gran Turismo do que de Fórmulas pelo mundo e se em termos de percentual temos mais acidentes fatais ou não. Independente do que possamos contabilizar, acidentes fatais são muito ruins para nós, que fazemos o esporte. É um colega que perde a vida e nós sabemos que todos os construtores de carros de corrida, sejam eles de Fórmula, Gran Turismo, Rally... todos trabalham buscando o máximo de segurança. Os carros são submetidos a duros testes de impacto e quando uma fatalidade acontece, muitas vezes conceitos tem que ser revistos, mas tenho certeza de que todos trabalham buscando o máximo de segurança.

 

NdG: O automobilismo já há um bom tempo tem exigido dos pilotos uma forma física de atleta. Como vice cuida da sua preparação? Tem algum acompanhamento de preparador físico, uma dieta controlada?

 

Apesar das mortes nas competições de GT, os carros da categoria são muito seguros, passam por testes muito rigorosos.

 

Laurens Vanthoor:Realmente, as corridas exigem muito de nós, especialmente as de endurance. Eu faço uma série de esportes que exigem um bom condicionamento aeróbico. Além de correr, pratico montain bike e kickbox. Não tenho um treinador particular me  acompanhando, tenho apenas o treinador do kickbox que é um professor e lutador da modalidade. Eu sempre fui muito disciplinado com minha preparação e eu posso dizer que tenho sorte, pois tenho um metabolismo muito bom, que me ajuda a não acumular gordura. Logicamente que cuido da minha alimentação, não como muito e não abuso de coisas que normalmente engordam durante a temporada. Entre uma temporada e outra, claro, dou uma relaxada, dou-me ao direito de comer uma ou outra coisa que gosto mais, mas sem exageros.

 

NdG: Este ano você está correndo pela segunda vez no Brasil. Em março, participou da corrida em Goiânia. Agora, está em Curitiba. Como você viu estes dois autódromos e seria possível você um parâmetro entre eles e destes com os que você correu que são FIA 3?

 

Laurens Vanthoor: São circuitos bem parecidos em termos de traçado, mas aqui tem esta chicane no final da reta que exige mais cuidado depois de uma reta tão longa. O autódromo de Goiânia é muito bonito, mas eles erraram alguma coisa no asfalto. Tem muitas ondulações e remendos. Soube que ele foi reformado há pouco tempo, mas algo não ficou bem. O autódromo de Curitiba também tem ondulações no final da reta, antes da entrada no miolo e da entrada do curvão, mas são menores. Os boxes são bons. Acho que ele é um pouco melhor do que o de Goiânia. Os dois são bons autódromos para corridas de categorias como o BTCC ou GT3, WTCC. A Stock Car e as outras categorias tem dois bons autódromos para correr aqui pelo que vi.


Last Updated ( Tuesday, 20 October 2015 23:19 )