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Uma fortaleza chamada Lewis! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 31 October 2015 21:09

Olá fãs do automobilismo,

 

Como falei na semana passada, transferi meu consultório, temporariamente, para Austin e depois seguiria para o México para atender melhor os meus pacientes da Fórmula 1, uma vez que seriam duas corridas decisivas para o campeonato, além dos pilotos que estão tentando se manter na categoria ou trocando de equipe.

 

Como estou tendo que escrever esta coluna antes da corrida no México, logicamente sabia que haveria uma possibilidade do campeonato já está decidido. O que eu não esperava é que esta última semana de outubro seria tão conturbada por conta do que aconteceu na Moto GP, do outro lado do mundo, na Austrália.

 

Ainda na segunda-feira, falei com meu chefinho querido, o Fernando, para saber se ele preferia que eu escrevesse sobre comportamento ou se eu deveria seguir o formato das colunas anteriores, onde uso como base uma das consultas com meus pacientes. Meu prazo foi estendido para a quinta-feira, para haver tempo de eu atender alguns deles e escolher uma das consultas. Ele disse que escreveria pessoalmente sobre comportamento, tão surpreso que ficou com o que viu.

 

Fiquei com uma certa dúvida sobre qual consulta escolher para falar na coluna desta quinzena tendo em vista as consultas que tive na segunda-feira e terça-feira. Nada menos do que dez pilotos passaram pelo meu divã, quase todos em horário dobrado (uma hora e 50 minutos).

 

Lewis anda eufórico com a atual situação. Além do título, inverteu uma situação de pressão psicológica na equipe.

 

Procurei organizar pessoalmente a agenda e assim evitar algum possível “acidente de conflito” com encontros constrangedores uma vez que no hotel onde estou não havia como fazer com que os pacientes não se encontrassem na sala de espera ou na recepção ou mesmo num corredor. Com isso coloquei Lewis no final da tarde e Nico logo pela manhã. Entre todos, estes seriam os pacientes com os quais eu deveria ter mais cuidado por todas as circunstâncias que envolveram o GP dos Estados Unidos. Desde os conturbados e molhados treinos até o que vimos depois da bandeirada, não apenas para as televisões, mas também nos telões do autódromo.

 

Sim, todos os presentes no autódromo viram, ao vivo, quando Lewis atirou o boné da Pirelli no colo de Nico e este atirou-o de volta, com violência e indignação. Não tive como ouvir o que eles falavam pelas imagens no autódromo, mas sei que viu aquilo pela televisão tinha o áudio aberto. Confesso que temi por coisa pior depois da entrevista coletiva, mas nada – ao menos físico – aconteceu.

 

Soube que Lewis chegou cedo no saguão do hotel. Distribuiu sorrisos, deu alguns autógrafos e mesmo sem a Fórmula 1 ser muito conhecida nos Estados Unidos, o clima em Austin deu uma visibilidade para quem estava aqui e passou o final de semana na cidade para assistir a corrida. Pelo menos por algum tempo, um piloto de Fórmula 1 teve uma certa celebridade por estas terras.

 

No ano passado, Lewis desestabilizou-se psicologicamente com Nico em Mônaco e zerou na corrida da Bélgica.

 

Quando Lewis entrou no consultório o sorriso quase não passou na porta, de tão grande e o “hi Doc!” foi simplesmente estridente. Não há nada na vida de um terapeuta mais gratificante do que ver o resultado de um trabalho ser tão positivo e o paciente atingir aquilo que ele estava buscando de uma forma tão plena quanto foi e está sendo o atual momento psicológico de Lewis.

 

Se voltarmos no tempo por cerca de 18 meses, estaremos em Mônaco, 2014, aquela corrida em que Lewis sentiu-se prejudicado pela “escapada de pista” dada por Nico no final do treino classificatório que lhe garantiu a pole position na corrida e, depois, tudo o que aconteceu durante a prova.

 

Apesar dos revezes sofridos, Lewis conseguiu se recuperar e chegar ao final da temporada passada na frente no campeonato.

 

Aquilo mexeu de tal forma com Lewis que a sua superioridade imposta nas corridas anteriores desapareceu e Nico pareceu ter entendido que o melhor caminho para derrotar Lewis era pressioná-lo psicologicamente e foi fazendo isso até atingir um novo ápice, quando tocou o carro de Lewis na primeira volta do GP da Bélgica, cortando-lhe o pneu.

 

Foi o período mais difícil para tentar trazer Lewis ao encontro de sua estabilidade emocional para que ele conseguisse colocar em prática toda a sua capacidade técnica e extrair o máximo do carro durante treinos e corridas sem cometer erros como os que estava cometendo.

 

No final do campeonato, além da competência ainda teve a sorte na etapa final para conquistar o título com tranquilidade.

 

O trabalho de reconstrução psicológica de um paciente se dá em várias etapas e a velocidade de estabelecimento destas etapas se dá muito mais na velocidade de absorção e fortalecimento do paciente do que no trabalho do profissional em si. De nada adianta de o paciente não trabalhar o “seu eu”.

 

No final do ano passado, apesar de um crescimento evidente em sua condição psicológica e de estar liderando o campeonato na pontuação, Lewis chegou em Abu Dhabi com alguns olhares de desconfiança sobre ele e a sua capacidade de manter-se emocionalmente estável para decidir o título contra Nico. O que se viu, independente do problema mecânico que tirou de Nico qualquer chance na disputa, um Lewis muito seguro de si, bem diferente do “instável Lewis” na fase europeia do campeonato.

 

A brincadeira dos pilotos acabou, sem querer, mostrando o que seria a tona do ano de 2015, com Lewis controlando tudo.

 

No período entre as temporadas de 2014 e 2015 Lewis esteve no meu consultório quinzenalmente e trabalhamos muito este aspecto da estabilidade psicológica para a temporada deste ano. Focamos no ponto de como lidar com quebras eventuais, ser superado na pista e principalmente com relação a possíveis “ações psicológicas” por parte de seus adversários diretos.

 

O que vimos ao longo da temporada foi um Lewis constante, estável, forte e rápido, sempre forte diante de seus adversários, independentemente dos revezes mais inesperados, como as duas vitórias da Ferrari na temporada, mas talvez nem o maior de seus torcedores acreditariam no que ele fez com os concorrentes em geral e com Nico em particular ao longo desta temporada.

 

O baque imposto aos adversários em geral e a Nico em particular foi o reflexo de uma forte preparação psicológica.

 

Foi muito difícil ser terapeuta de ambos ao longo deste ano, tanto que Niki Lauda foi até San Diego para conversar comigo sobre o trabalho que eu vinha fazendo. Eu sou profissional, sou imparcial, trabalhei com todos os aspectos para que o emocional dos meus pacientes estivessem mentalmente preparados para enfrentar todos os desafios que lhes fossem impostos.

 

O que as pessoas precisam levar em consideração é que a psicologia não é uma ciência exata como a física ou a matemática e que as pessoas não são robôs. Contudo, com a precisão de uma máquina Lewis “desconstruiu” Nico psicologicamente e eu diria que “com requintes de maldade”. Não apenas pelas “espalhadas” nas curvas nas disputas ou nas piadinhas tipicamente inglesas nas entrevistas. Jogar o boné no colo do seu companheiro derrotado em Austin foi como enfiar um punhal em seu peito.

 

O requinte de crueldade: jogar o boné no colo de Nico foi como gritar no seu ouvido: BI... CAMPEÃO!

 

Lewis vai para o final da temporada com a cabeça leve e pensando agora em estabelecer um recorde de vitórias em uma temporada... mas já disse que pretende seguir o mesmo programa de consultas até a o início da temporada. Afinal, time que ganha não se mexe, pelo menos é o que dizem.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

p.s. Ainda voltarei a falar sobre Nico este ano.