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Túnel de vento: Custo x Desenvolvimento PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 03 November 2015 21:14

No início do ano escrevi sobre a possibilidade dos túneis de vento estarem com os dias contados e podendo vir a ser substituídos, integralmente pelos programas CFD (Computational Fluid Dynamics). Ao longo do ano, acompanhei algumas discussões sobre o assunto inclusive na indústria aeronáutica, uma vez que em todos os seguimentos da indústria que depende deste instrumento, os dois maiores motivos de estudo são a redução de custos operacionais e a otimização de materiais.

 

Voltando o assunto para o mundo do automobilismo, a evolução do uso de materiais mais leves e ao mesmo tempo resistentes como metais e ligas nobres, fibra de carbono e cerâmicas andam em paralelo com a busca de uma maior eficiência aerodinâmica. Tudo isso, na indústria ainda passa por tuneis de vento, mas em alguns setores, tem havido uma cobrança e uma discordância que eu chamaria de intrigante.

 

 

Todos que acompanham a Fórmula 1 há algum tempo, tem visto como a fragilidade da economia mundial tem afetado as equipes menores e com uma categoria tão dependente de tecnologias avançadas e onde 1 mísero décimo de segundo faz a diferença sucesso ou fracasso, vitória ou derrota, os investimentos para se ganhar tempo extrapolam a casa das centenas de milhões de euros para as equipes mais abastadas.

 

Foi da equipe que mais vem se destacando nas últimas temporadas – a Red Bull – que surgiu uma das posições mais controversas e instigantes com relação aos caríssimos tuneis de vento e as crescentes dificuldades financeiras na categoria. Christian Horner falou para os ingleses da Autosport que tirar o túnel de vento seria uma das formas mais eficientes de se reduzir custos na categoria. Mais até do que a imposição de um teto orçamentário.  

 

O chefe da equipe austríaca foi mais além, sugerindo a padronização do mesmo programa de CFD e deixando a criatividade e a capacidade das equipes para encontrar as melhores soluções aerodinâmicas para seus carros... bom, talvez seja fácil falar isso quando se tem Adrian Newey como seu projetista principal, mas não seria esta ideia interessante?

 

Diante do clima de disputas dentro do meio onde as partes que compõem o todo deveriam pensar no bem do todo ao invés de apenas a sua parte, o diretor da Mercedes, Totó Wolff, foi totalmente contra à ideia da abolição do túnel de vento, afirmando que o túnel de vento é algo que faz parte do desenvolvimento dos carros da categoria... mas até onde o CFD não poderia fazer este trabalho?

 

 

Mas entes mesmo de Toto Wolff se manifestar, Claire Williams, herdeira do império de Frank – que tem não apenas um, mas dois tuneis de vento – logicamente se opôs à ideia, apesar de reconhecer que haveria uma economia no processo, mas que isso também implicaria em demissões, concluindo que a categoria precisa melhorar os motores, reduzir custos e mesmo tornar os carros visualmente mais bonitos.

 

Enquanto a posição de Horner foi apoiada pelo vice presidente da Force India, Bob Fernley, que rerferiu-se à tecnologia dos tuneis de vento como uma tecnologia da era dos dinossauros, o que evidentemente é um exagero, tendo em vista a alta tecnologia que é empregada nestes equipamentos hoje em dia, e defendeu o uso do CFD, que ele considera como um meio de avanços maiores do que os possíveis avanços a se obter com os tuneis de vento. O diretor técnico da Willians, Pat Symonds não apenas desdenhou das afirmações de Fernley como chamou a sua comparação dos tuneis de vento com o período jurássico como ridícula!

 

 

Tecnicamente, Symonds tem razão. Os tuneis de vento da Williams são avançadíssimos, construídos com tecnologia de ponta, materiais nobres e certamente custaram dezenas, talvez mais de uma centena, de milhões de Libras... e assim voltamos a questão do custo de investimentos em tuneis de vento e o custo consideravelmente mais baixo de um programa de computação como o CFD.

 

A voz de Pat Symonds não é solitária. James Allison, foi bastante cético quando afirmou que o abandono dos tuneis de vento não seria a melhor direção para ser tomada no automobilismo. Ele justifica que todo o investimento  vale a pena uma vez que a resposta na pista por conta da aerodinâmica é um retorno que está sendo entregue para os investidores do time.

 

 

O inglês da Ferrari foi além e afirmou que no momento, não é possível se encontrar muitos engenheiros que trabalham na parte aerodinâmica de qualquer matriz que recomende o desenvolvimento de aerodinâmica usando apenas CFD. Segundo ele, o sistema ainda é muito propenso a erros e é preciso usar, paralelamente, o túnel de vento para corrigir os eventuais erros dentro da realidade.

 

O argumento financeiro é de que haveria o risco de se correr um risco muito elevado de gastar o dinheiro dos investidores e não entregar um carro com o desempenho que foi pensado. Isso realmente não seria poupar dinheiro ou fazer qualquer um no esporte se sentir satisfeito com os resultados obtidos e essa não seria a direção certa.

 

 

Mesmo dentro da Red Bull não há consenso. Paul Morgan, que trabalha no túnel de vento da equipe austríaca admitiu que no atual formato de trabalho da equipe, ainda não há como se desvencilhar do uso do túnel de vento como ferramenta de desenvolvimento, no que foi apoiado pelo seu colega da Toro Rosso, James Key, que mesmo considerando os avanços do CFD, ficar na dependência dos atuais programas seria dar um passo atrás.

 

Atualmente o CFD e os tuneis de vento são tecnologias complementares e que, juntas, funcionam muito bem. Contudo, há dois anos a Manor (ex-Marussia) vem desenvolvendo seus carros com o uso apenas do CFD. É evidente que há uma perda, mas certamente, numa equipe com mais recursos, esta perda seria menor.

 

 

É evidente que há um risco muito elevado de gastar o dinheiro dos seus investidores e não se obter um carro com o desempenho que foi pensado. Isso acontecendo, realmente não haveria economia de recursos, mas a questão não está limitada a se poupar dinheiro a curto prazo, mas em se fazer com que se tenha uma forma de se fazer uma categoria competitiva, tecnológica e que as equipes consigam não apenas sobreviver, mas também crescer na direção certa.

 

Um abraço,

 

Luiz Mariano