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As incertezas de Pastor PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 18 February 2016 18:09

Olá Fãs no automobilismo,

 

Na semana passada eu tive aqui no consultório uma das sessões mais difíceis destes quase oito anos da minha vida como psicóloga. Logicamente que já passei por momentos onde encontrei meu paciente completamente desiludido, destruído emocionalmente, mas antes de ser uma profissional, eu também sou um ser humano e mesmo sem poder deixar transparecer meus sentimentos, determinadas situações tocam a minha alma como tocaria a de qualquer pessoa.

 

Pastor é meu paciente desde os tempos em que corria na GP2. Depois de algumas temporadas de poucos resultados, algumas corridas reconhecidamente brilhantes, mas com um currículo muito mais lembrado pelos acidentes nos quais se envolveu do que pelas vezes que chegou ao pódio, Pastor me procurou dizendo que “precisava encontrar paz e equilíbrio”. Que tinha certeza que era capaz de vencer o campeonato e dar o passo que faltava para chegar à Fórmula 1.

 

Trabalhamos muito. Pastor tem uma natureza impetuosa, algo em contraponto com sua gentileza e suavidade no tratar com as pessoas. Ele é doce, gentil, educado... encantador! Este seu ímpeto se aflorava a cada vez que ele vestia – sim, ele sempre usava este termo – o carro como um cavaleiro que se preparava para uma batalha.

 

Com o tempo, Pastor fez progressos no sentido de aumentar sua eficiência, diminuir os acidentes nos quais se envolvia e melhorar assim seus resultados. Essa combinação levou-o a conquista do campeonato da GP2 e – em sua mente – a credencial que faltava, junto ao seu país, para investirem mais em sua carreira, financiando sua ida para a Fórmula 1.

 

Atormentado, Pastor, nos últimos meses a perspectiva de ficar fora da F1 foi se tornando cada vez mais concreta. 

 

Este investimento foi a convivência com a PDVSA, a empresa petrolífera estatal da Venezuela. O então presidente, Hugo Chavez, acreditava em mostrar um país grande e forte para o mundo, onde o esporte sempre acaba se mostrando uma grande vitrine e, no caso da Fórmula 1, uma vitrine de grande visibilidade. Por isso a aposta em Pastor e em outros pilotos de outras categorias.

 

Foi graças a este investimento – uma fortuna nunca revelada, mas cogitada em algo na casa de 25 milhões de Libras por temporada – que Pastor conquistou um lugar na equipe Williams. Uma troca conveniente para uma equipe que precisava desesperadamente de dinheiro e que ainda hoje não é um sinônimo de solidez financeira.

 

Se olharmos para a história recente da Fórmula1, a lista de pilotos pagantes é incrivelmente grande, mas dentre todos, havia um sentimento discriminatório contra Pastor... ele percebia isso. Disfarçava, comentava sobre tudo e nunca levava a sério as insinuações sobre seu nome e de como ele havia chagado e conquistado a vaga na Williams. Contudo, era aqui, nas sessões em meu consultório que Pastor mostrava sua indignação com este tratamento que lhe era dado.

 

Dedicado, Pastor trabalhou muito em seus anos de GP2 para convencer seus compatriotas que poderia estar na F1. 

 

Isso explica o tamanho da explosão de felicidade, desabafo (ele contou o que gritou naquele pódio em Barcelona em 2012), e glória pessoal. Ele venceu um GP de Fórmula 1 com uma equipe que há anos não vencia e que desde então não mais venceu. Ao seu lado, no pódio, dois campeões do mundo (Fernando Alonso e Kimi Raikkonen), que o levantaram nos ombros. Um reconhecimento? Deveria ser!

 

É importante salientar que a Williams encontrou para aquela corrida um excelente equilíbrio, mas ela não alinhou apenas um carro. Havia outro piloto com o mesmo equipamento (Bruno Senna) e que foi superado por ele nos treinos, na corrida e ao longo da temporada se olharmos os resultados.

 

Apesar desta vitória e de, em seguida, conseguir um lugar numa equipe – naquela altura – melhor estruturada, a Lotus, sempre com o valoroso suporte do seu patrocinador. Mesmo com aquela temporada de 2012, mesmo com aquela vitória em Barcelona, os olhos sobre Pastor continuavam sendo aqueles que que o viam e julgavam como um piloto que só estava onde estava graças aos seus 25 milhões de Libras anuais.

 

Exaltado, Pastor obrigou o mundo inteiro a aplaudi-lo após a brilhante vitória no GP da Espanha de 2012. 

 

Os anos na Lotus não foram fáceis. A equipe perdeu o rumo, perdeu alguns dos seus melhores profissionais para a concorrência e a falta de resultados fez aflorar aquela conhecida instabilidade. Foram muitos acidentes. Tentei de tudo, todas as técnicas de abordagem, mentalização... havia um outro fator perturbando Pastor.

 

O desmantelamento da economia de seu país era um risco enorme à continuidade do patrocínio que vinha garantindo sua permanência na categoria e isso era uma pressão extrapista que Pastor não precisava ter sobre os ombros para tentar continuar na luta pelo seu sonho. E não tardou para que o sonho se tornasse pesadelo... ou pior, uma dura verdade.

 

O compromisso de patrocínio era de cinco anos na Fórmula 1 e a longa aliança entre Pastor e a PDVSA chegou ao fim. Companheira de longa data, responsável por patrocinar sua carreira por dez anos, desde as categorias de base, passando por World Series, GP2 e pelos anos do piloto na F1 (três temporadas pela Williams e duas pela Lotus).

 

 

Criticado, Pastor, apesar da vitória com a Williams sempre foi mais lembrado pelos acidentes nos quais se envolveu 

 

Antes mesmo de Pastor comunicar oficialmente o fim da parceria local, a Renault, que comprou a Lotus, oficializou a dispensa de Maldonado e a contratação de Kevin Magnussen, que poucos meses antes havia sido dispensado pela McLaren e contra quem ele correu na GP2, para seu lugar. “O que ele pode fazer a mais do que eu?”, perguntou Pastor. A bordo de um carro ruim, não há muito o que fazer, argumentou.

 

Foi duro declarar à imprensa informar que estava fora do grid da Fórmula 1 em 2016. Ter que agradecer a todos, mesmo àqueles que tripudiavam dele, e relembrar os “bons momentos” de sua trajetória na categoria máxima do automobilismo mundial, como o triunfo conquistado na Espanha em 2012.

 

Agora Pastor encontra-se em uma encruzilhada. Amante da velocidade, quer buscar outro caminho para continuar fazendo o que nasceu para fazer. Já estando em fevereiro, a grande maioria das equipes nas principais categorias do mundo estão com seus times fechados.

 

Angustiado, Pastor tem uma enorme encruzilhada diante de si... e um futuro totalmente incerto em sua vida como piloto. 

 

Reconstruir o homem Pastor Maldonado vai ser o maior desafio da minha vida. Ao contrário de muitos, não o abandonarei. Espero que ele encontre forças dentro de si para continuar buscando seus sonhos. É isso que nos mantém vivo!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares


Last Updated ( Monday, 29 February 2016 14:35 )