Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
O Retorno ao Velopark em 2016 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 11 March 2016 22:35

O nosso primeiro contato com o Velopark aconteceu em 2009, quando estávamos a caminho de Santa Cruz do Sul, para fazer a primeira matéria da primeira Série “Raio X dos Autódromos Brasileiros”. Foi uma grata e empolgante surpresa conhecer um projeto tão impressionante como aquele. Na época, o autódromo ainda estava em projeto e nós assumimos um compromisso de retornar lá quando o autódromo estivesse pronto... e voltamos, em 2010.

 

Uma vista aérea do Velopark "em dia de festa", com o autódromo cheio.

 

Cinco anos e meio depois, retornamos ao Velopark para ver como este empreendimento e vimos que algumas coisas mudaram, infelizmente, nem todas para melhor, mas como tudo na vida existem ciclos, precisamos acreditar que é possível se fazer, com muito trabalho e inteligência, com que um empreendimento privado voltado para o automobilismo consiga dar certo e gerar retorno. O exemplo da boa administração do AIC comprova isso.

 

Mas antes de chegarmos ao nosso local de visita, nos chamou atenção como o acesso ficou mais fácil. Foi construída uma nova ponte sobre o rio Guaíba, dando uma alternativa de acesso à BR 386 sem que fosse necesária a passagem por Canoas, cidade vizinha a Porto Alegre e cortada pela BR 116. Isso reduziu a distância e o tempo de deslocamento da capital gaúcha até o Velopark para cerca de 25 minutos, sem querer acelerar mais do que os carros na pista.

 

O acesso que era bom e fácil ficou ainda melhor depois da nova ponte sobre o rio Guaíba.

 

A estrada em boas condições e duplicada em praticamente toda sua extensão nos levou de volta ao ponto (o viaduto sobre a BR 386) onde vimos o enorme outdoor do Velopark. Passados estes quase seis anos, as cores da pintura não estavam mais tão vibrantes como em 2009 e 2010.

 

O Velopark continua lindo, parafraseando a música de Gilberto Gil. É um local ímpar em termos de Brasil e que deveria ser um exemplo, uma referência para qualquer investidor consciente e que seja capaz de enxergar o automobilismo como um negócio viável. Mas chamou nossa atenção a “falta de pessoas” circulando. Não de público ou praticantes, mas de funcionários.

 

Apesar de estar sem atividades no dia em que fomos por lá, o Velopark continua bem cuidado.

 

Como não estava em período de atividades, visto que fomos até lá no final de janeiro, lanchonetes e restaurantes estavam fechados, mas uma coisa que vimos, além do cuidado como as coisas são feitas no Velopark foi uma “lista de valores”, algo que não tínhamos visto da vez passada. Alguma coisa havia mudado... e descobrimos que várias coisas mudaram! A começar pela direção, que agora está nas mãos de uma mulher: Sofia Costa.

 

Encontramos uma novidade que deve ter passado despercebida na visita anterior: o quadro de diretrizes e valores.

 

Responsável pelo Marketing do Velopark quando viemos fazer a matéria em 2010, ela assumiu a administração do complexo depois de uma verdadeira revolução interna que os proprietários promoveram a fim de adequar o empreendimento à realidade e a buscar formas de fazê-lo se tornar rentável, uma tarefa árdua uma vez que sendo uma propriedade privada, os investimentos tem que ser feitos pelos seus donos.

 

Na pista.

Fomos, como sempre, muito bem recebidos e depois de uma longa, esclarecedora e muito produtiva entrevista com Sofia Costa, ela fez questão de nos acompanhar em nossa visita à pista e às instalações do Velopark.

 

As arquibancadas continuam bem cuidadas e só seriam melhores se fossem cobertas.

 

Quando se fala em infraestrutura, o Velopark é uma referência. Suas quatro arquibancadas, dispostas na reta dos boxes (e da arrancada) é, na verdade, praticamente uma estrutura única, sendo separada nos setores A/B e C/D, bem dotadas de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais e as instalações de banheiros embaixo da mesma são muito bem construídas.

 

A infraestrutura, com cuidados para acessibilidade é um dos pontos fortes do Velopark.

 

Antes de percorrer os pouco mais de 2.200 metros do traçado, fomos até a torre de controle para fazer uma montagem panorâmica de 360º e ter uma imagem real e geral do que é o Velopark hoje.

 

Do alto da torre, a nossa tradicional "panorâmica", de 360 graus para ter uma visão geral do circuito.

 

Quando fomos para a reta dos boxes, iniciar a nossa volta, vimos que a parte de sinalização e a tela da mureta entre a pista e a reta de arrancada está em boas condições, mas a tela que separa a pista das arquibancadas, que possui os cabos de aço de meia polegada tensionados conforme exigências da FIA, mostrou-se bem oxidada, inclusive os cabos de aço.

 

Na reta dos boxes, constatamos alguns problemas: buracos no asfalto tapados com cimento e na tela para a arquibancada.

 

O asfalto da reta mostrou um grande sinal de desgaste, não apenas fruto do uso de 5 anos, mas também provocado pelas competições de “Drtifting”, que por vezes tem o pneu furado e o aro da roda entra em contato direto com o asfalto, provocando fendas e mesmo buracos. Muitos tapados com cimento.

 

Uma das coisas que falamos na primeira  visita foi modificada: a curva 1, que era tomada à esquerda, logo no final da reta, dando acesso ao túnel do viaduto, ganhou um trecho inteiro de curvas, sendo a primeira uma chicane em “S”, com a primeira perna para a direita.

 

Na primeira chicane, mais alguns remendos no asfalto e uma solução melhor àquela primeira curva anterior.

 

Isso tirou a sensação visual de “afunilamento abrupto” que o túnel proporcionava logo depois de ser feita uma curva com uma área de escape e ampla visão e tornou a freada no final da reta menos violenta, uma vez que a perna seguinte, à esquerda, tomava o mesmo sentido da reta.

 

Boa parte da área de escape em volta das pernas da chicane são asfaltadas, o que garante a permanência dos carros na corrida, mas também pode “criar atalhos”. Para evitar isso, foram colocadas zebras relativamente altas e obstáculos em concreto (ondulações) para evitar que os carros tivessem ganho de tempo ao não contornar a chicane como deve ser.

 

As barreiras de pneus estão precisando ser rearrumadas. No asfalto da área de escape tem vegetação crescendo nas fendas.

 

As áreas de escape, tanto para a primeira perna, quanto para a segunda, são bem generosas, não exigindo mais do que uma barreira dupla de pneus aparafusados. Contudo, as mesmas estão carecendo de manutenção e não são protegidas por rede ou “borrachão”, o que daria mais firmeza às mesmas.

 

Na curva seguinte, mais remendos em cimento no asfalto, que mostra estar pedindo por um recapeamento.

 

Depois da chicane há uma sequência de duas curvas feitas para a esquerda e que depois delas tem-se, finalmente, a visão da passagem pelo túnel embaixo do viaduto de acesso aos boxes, um trecho em que os carros já vão retomando logo depois da primeira perna e que tem uma zebra para apoiar antes da segunda perna.

 

As áreas de escape neste primeiro trecho do circuito são bem generosas, o que vai faltar do outro lado da pista.

 

A área de escape é também bastante generosa, com boa parte em asfalto, mas chamou atenção neste ponto os remendos na pista feitos em cimento, com o detalhe que ali não há competições de “Drifting”. Apesar de não estar chovendo, foi possível observar o bom sistema de drenagem da pista.

 

A passagem do túnel ficou mais tranquila, com a curva tomada à esquerda depois dele sendo também o ponto de retorno de quem sai dos boxes. As colunas são bem indicadas e os limites da pista bastante visíveis. Por este ponto, percebe-se que o local de passagem tem uma ótima largura e que três carros podem passar ali, lado a lado, disputando posição, sem se tocar.

 

A passagem sob o túnel e a curva seguinte estão bem sinalizadas.

 

Outro ponto que nós chamamos atenção na primeira visita foi também modificado. Sendo a área de escape gramada depois da saída do túnel (agora há uma caixa de brita entre o limite da pista e a barreira de pneus), havia um guard rail com duas lâminas e nós apontamos este ponto como algo perigoso e que deveria haver uma tela de proteção no local.

 

A alteração contemplou a colocação de um muro de concreto, com a altura que seria a de um guard rail de três lâminas, barreira dupla de pneus aparafusados e a tela de proteção no mesmo padrão FIA que a existente na reta dos boxes.

 

Uma modificação que sugerimos foi feita na área de escapa, mas é preciso fazer reparos na proteção de telas e pneus.

 

O que constatamos é que a tela também está requerendo uma revisão. Esta, inclusive, apresentava algumas aberturas que não eram as típicas aberturas feiras para os fotógrafos e um dos cabos de aço tracionados estava solto. Tal fato chamou a atenção da Administradora Sofia Costa, que tirou ela mesma algumas fotos para levar o assunto adiante.

 

 

Depois da curva do túnel, temos uma “curva do “S”, com a primeira perna à direita, que vai levar à entrada da reta oposta (o traçado tem basicamente duas retas). Como é feita em uma velocidade relativamente baixa, as áreas de escape foram mantidas gramadas em torno da primeira perna.

 

 

Para a segunda perna, há uma extensão do asfalto para a saída da curva, com a linha que delimita o que é a pista bem definida e que os comissários podem usar como fator para qualquer ação disciplinar caso desejem. No final, esta faixa extra de asfalto é até maior. Este seria o ponto onde haveria a tomada para uma curva à esquerda onde se entraria na segunda etapa do projeto da pista que não foi feito.

 

A reta oposta tem alguma ondulação, mas menor do que em outros autódromos que visitamos.

 

A reta oposta mostrou alguma ondulação, mas nada grave e bem menos do que autódromos com o asfalto mais novo e recém reformados. No final da mesma fica a entrada dos boxes  (ao menos uma delas: tem duas) e no final os pilotos precisam frear forte para tomar uma chicane bem fechada à esquerda. É o melhor ponto de ultrapassagem do traçado.

 

A chicane depois da reta oposta é dura, mas a pista é larga no local, permitindo que haja disputa limpa por posição mesmo em seu contorno.

 

A chicane no final da reta oposta é complicada. A primeira perna ainda tem uma boa área de escape... 

 

As áreas de escape em torno da mesma são asfaltadas, com obstáculos de concreto colocados da mesma forma que na chicane da reta dos boxes: para desestimular a “tomada de atalhos”.

 

... mas para a segunda perna é quase zero! Os obstáculos de concreto fora do traçado estão de boa altura.

 

A saída da chicane é que não tem escape praticamente nenhum para o muro. São apenas cerca de dois metros e meio da zebra até o muro do lado direito e a outra entrada dos boxes (alternativa para o promotor ou diretor de corrida decidir qual será usada) do lado esquerdo.

 

Depois desta chicane há um pequeno trecho em linha reta, cerca de uns 80 a 100 metros até a tomada da “curva da vitória”, feita para a esquerda. Apesar de não se ganhar muita velocidade até seu contorno, á área de escape é bem grande e tem barreira dupla de pneus aparafusados.

 

A curva da vitória não permite erros. A primeira parte tem área de escape. A segunda só tem o muro!

 

Logo em seguida vem a perna para a direita onde se retoma a reta dos boxes. Ali a área de escape é zero mesmo, com um muro esperando o piloto que “morder” a zebra interna com mais força tentando acelerar demais e acabar com a corrida.

 

Mas voltemos agora para a reta oposta e vejamos os boxes mais longos dentre todos os circuitos brasileiros.

 

O trajeto dos boxes do Velopark é o mais longo dentre todos os circuitos brasileiros.

 

Por suas limitações, o Velopark precisou fazer algo diferente para os boxes que não eram usados como Box de autódromo convencional passarem a ter esta função. Nas corridas das categorias nacionais, a entrada dos boxes acontece ainda na reta oposta, com os carros percorrendo um trecho em leve subida antecedendo a chicane depois do final da reta.

 

A área de trabalho em frente a eles é estreita, mas não compromete.

 

O espetáculo de trabalho dos mecânicos fica um pouco longe da arquibancada, mas as instalações dos boxes são excelentes, com tudo funcionando perfeitamente e sendo o local muito seguro, uma vez que há praticamente apenas um acesso a este, pelo viaduto. O outro é a passarela por sobre a pista.

 

A estrutura dos boxes e a área de trabalho atrás destes é ótima.

 

A faixa de trabalho ficou mais estreita do que a de outros autódromos, com Curitiba e Cascavel, mas o que não há pela frente, sobra por trás. A área de trabalho para as equipes, o pátio de carga e descarga é amplo e feito em desnível, o que ajuda no transporte do material dos caminhões para os boxes.

 

O retorno a pista pode fazer uma grande diferença para se ganhar ou perder posições.

 

A extensão da saída é algo que não tinha como ser evitado, dada a disposição dos boxes no circuito e o traçado do mesmo. Mas se ela é longa, é longa para todos os competidores e acaba por fazer com que, caso seja permitido pela organização, os mais rápidos ganhem tempo depois de deixar a área de trabalho até chegar no ponto de saída, depois do túnel.

 

Uma visão geral da torre de controle e cronometragem.

 

A torre de controle não mudou nada, assim como a sala de imprensa, que neste caso específico é a melhor sala de imprensa dentre as vistas nos atuais autódromos do país (ainda não estamos considerando a sala de imprensa de Interlagos após a reforma).

 

Segue então a nossa entrevista com a administradora do Velopark, Sofia Costa.

 

Sofia Affonso da Costa era da área de Marketing do Velopark quando estivemos lá pela primeira vez. Em alguns anos trabalhando com automobilismo, ela aprendeu rápido como gerir um negócio como aquele e, nas mudanças que ocorreram dentro do Velopark ao longo destes anos, ela veio a se tornar a administradora do complexo. Um enorme desafio que ele tem conseguido trabalhar dia a dia para adequar o funcionamento deste parque de velocidade, um meio bastante complexo e que exige muito investimento.

 

NdG: Desde a nossa visita ao Velopark, em 2010, houve uma grande mudança de gestão. O que mudou e porque mudou?

 

Ao longo destes anos desde a última visita do Nobres do Grid, muitas mudanças ocorreram no Velopark.

 

Sofia Costa: Ao longo destes anos aconteceram várias mudanças. Quando o projeto do Velopark nasceu e foi concretizado, ainda em 2008, havia uma perspectiva de mercado muito positiva no seguimento do automobilismo e isso levou a se fazer uma estrutura grande como esta aqui para atender uma demanda. Tudo foi baseado em pesquisas de mercado que levou em conta o potencial do negócio em termos de Brasil e analisou também o mercado internacional. Contudo, a realidade foi mudando e foi preciso buscar um novo modelo depois dos três primeiros anos. Quando o parque começou não tínhamos o autódromo, eram só o kartódromo e a reta de arrancada.

 

NdG: mesmo com estes estudos, não foi algo um tanto ambicioso para se ter em termos de Brasil?

 

Sofia Costa: Na ideia do Felipe [Johannpeter], não. Ele corria em outros países e via estruturas que não havia aqui no Brasil e modelos de negócio dando certo e a família o acompanhava e com a ótica do piloto que quer ter algo a mais para dar conforto para quem compete ele viu este potencial aqui no Brasil. Por isso o Velopark tem esta estrutura, que de alguma maneira acabou se mostrando maior em termos de negócio do que talvez fosse preciso para se ter um retorno mais imediato. No início, a imagem que o parque passou era a de um produto de alto padrão e com valores altos para seu uso. Quando se entra no mercado com este tipo de imagem fica muito difícil conseguir mudar esta percepção para o cliente.

 

NdG: O investimento desta estrutura inicial certamente não foi pequeno, mas você tem o valor que foi investido para ser feita a parte do autódromo?

 

Sofia Costa: Como uma boa parte da estrutura já existia e foi aproveitada, a pista do autódromo teve um investimento de dez milhões de reais, na época. Havia um projeto de ampliação da pista, que custaria mais seis a sete milhões, mas vendo as condições de mercado, as perspectivas futuras este projeto acabou por ser deixado de lado depois que fizemos um estudo sobre as condições do automobilismo brasileiro, que categorias viriam correr, quais as condições de retorno para o parque com estas competições. O tempo do retorno do autódromo como autódromo acabou se mostrando inviável. Talvez seja este o motivo de outros autódromos estarem partindo para outros modelos. Este projeto não está por inteiro descartado, mas seria preciso termos uma perspectivas de um número tal de novas corridas, com mais locações para valer a pena fazer o investimento.

 

NdG: Se o autódromo é inviável e vocês tinham uma imagem de “coisa cara” para o público, porque ainda existe o Velopark?

 

Sofia Costa: Como um negócio, fomos criando alternativas e com isso agregando novas fontes com a locação do espaço para diversos tipos de evento, não apenas de automobilismo. Apesar do nosso DNA ser do automobilismo, foi necessário expandir os horizontes e buscar outras formas de retorno para o investimento que não apenas as corridas.

 

NdG: Nós aprendemos um pouco nestes anos e vimos que um complexo de automobilismo precisa ter ocupação no maior número possível de dias da semana. Com todos estes eventos, de automobilismo ou não, qual a taxa de ocupação do Velopark atualmente?

 

Sofia Costa: Temos dois tipos de ocupação. Nos finais de semana, onde temos os eventos mais voltados para público, estamos com 95 a 97% de ocupação. Já temos eventos agendados para praticamente todos os finais de semana, o que diante do cenário econômico do país é ótimo. Nos dias de semana, onde temos as locações para eventos de aluguel de kart, de outras atividades como cursos de direção segura, treinamentos privados, etc. ainda temos uma ociosidade muito grande. Nossa ocupação está em torno de 60%. Pelo tamanho que é o parque, a manutenção é algo que não é simples de ser feita e não é barata.

 

NdG: Quantas pessoas trabalham hoje no Velopark?

 

Sofia Costa: Quando o Nobres do Grid esteve aqui, cinco anos atrás, acho que nós chegamos a ter cem funcionários, todos com carteira assinada. Era uma folha com um custo elevadíssimo. Dentro do modelo projetado, que era abrir de segunda a segunda, era algo difícil de fechar a conta e como havia uma ociosidade muito grande, foi preciso readequar. A parte do kartódromo funciona basicamente as quartas-feiras, quintas-feiras, sábados e domingos. Isso concentrou a locação e reduziu a ociosidade. Com isso, no final de 2013, que foi o marco desta mudança de gestão, a gente precisava planejar os próximos anos e foi feito um redirecionamento do modelo de gestão de recursos humanos. Hoje o Velopark tem 10 funcionários contratados e toda a área de serviços como segurança, manutenção, contabilidade, RH e outras que não são a nossa atividade fim nós passamos a terceirizar. Isso reduziu bastante os custos. Ficou aqui uma equipe muito qualificada, capaz de gerir este sistema com mão de obra terceirizada e que tem um padrão de rendimento de excelência.

 

NdG: Uma mudança como esta causou outros impactos, não?

 

As mudanças eram necessárias e foram fundamentais para o Velopark passar a dar resultados financeiros positivos.

 

Sofia Costa: Houve uma otimização, uma melhoria no processo de gestão das unidades de negócio. O Velopark trabalha com dois pilares: o entretenimento competição e a formação, que abrange os cursos que são dados aqui no Velopark. Esta mudança trouxe resultados positivos ao ponto de 2015, um ano tão difícil para a economia em diversos seguimentos acabou sendo nosso melhor ano em termos de resultados. Como estávamos numa crise interna, conseguimos remodelar nosso sistema antes que a crise externa nos atingisse e isso permitiu que conseguíssemos lidar melhor com a situação.

 

NdG: Isso quer dizer o que, financeiramente falando? Vocês terminaram 0 ano passado no “azul”?

 

Sofia Costa: Sim, e muito! 2014 foi um ano de equilíbrio de contas, que envolveu outros fatores. Não é fácil lidar com um público de apaixonados com o é o público do automobilismo e quando nós decidimos dar uma parada na arrancada, reestruturar o kart, houve uma desconfiança do público quanto ao que poderia acontecer ou o que estaria acontecendo. Um dos focos da parada, em especial na arrancada, foi o quesito segurança. Precisávamos atualizar nossos padrões de regulamento, de vistorias, de habilitação. Acreditávamos que  ainda havia um olhar muito amador e caso algo acontecesse aqui, poderia impactar muito negativamente em todo o negócio. Todos os produtos seriam prejudicados. No caso dos karts o problema era a velocidade, que era alta demais e isso estava gerando desequilíbrio entre os karts e um excesso de manutenção. Então decidimos fazer uma equalização com uma rotação mais baixa nos motores e diminuir a velocidade na pista, por questão de segurança e a manutenção do equipamento, que passou a trabalhar com um limite maior. Assumimos um risco grande de impacto no público, mas conseguimos conduzir de uma forma muito positiva. Usamos muitos as redes sociais para deixar o público a par do que estava acontecendo e isso foi fundamental. 2014 foi o primeiro ano que não tivemos prejuízo. Estipulamos uma meta de rendimento para 2015 e conseguimos atingi-la em outubro. Claro que, levando em conta o investimento feito no Velopark, ainda é pouco, mas foi um primeiro ano de lucratividade.

 

NdG: E quais as perspectivas para 2016?

 

Sofia Costa:  O automobilismo precisa crescer para o nosso negócio e o negócio de vocês funcionarem bem e dentro da visão macro do negócio, o mercado automobilístico precisa estar envolvido. Temos analisado os aspectos de regulamentação, de fomento ao esporte, algo que falta muito. Temos grandes dificuldades. Nossas perspectivas estão muito ligadas ao que se pode fazer em relação ao automobilismo e que este mercado não caia, o que certamente irá trazer impactos ao nosso negócio.

 

NdG: Você conversa com outros administradores de autódromos? Vocês trocam ideias?

 

Sofia Costa: Este é um ponto que eu queria falar. Não há uma união, um alinhamento de discurso e um trabalho por interesses comuns. Precisava haver um movimento de mudança em relação a isso. Era preciso termos reuniões em conjunto, com os diretores de autódromos, as federações e confederações e olharmos desde coisas simples, como evitar o conflito de datas de eventos aqui no estado, por exemplo, onde temos quatro autódromos. Se nos falarmos, vamos ter como nos ajudar. Nós conseguimos fazer um trabalho com o kartódromo de Farroupilha, que é perto daqui para não conflitarmos datas e fizemos também com conversas com o pessoal de Curitiba e São Paulo, para não coincidir datas de arrancadas e kart. Um das metas que pensamos é trabalhar neste movimento de união e tentar nos ajudar. Se algo não for feito neste sentido a nível nacional, a crise terá um impacto ainda maior. Não se encontra patrocinadores da mesma forma que se encontrava há três ou quatro anos. A lógica do negócio mudou e precisamos redefinir o modelo de gestão a nível nacional.

 

NdG: O Velopark tem uma excelente estrutura de arquibancada para o público, mas o público gaúcho tem uma particularidade: ele gosta de chegar e ficar o final de semana todo no autódromo, montar sua churrasqueira e assar sua carne. Aqui tem espaço pra isso?

 

Sofia Costa: No início não foi aberto este tipo de espaço, até pelo fato de uma das nossas receitas vir da alimentação no restaurante e nas lanchonetes que temos, além da bebida que nós temos um patrocínio com uma determinada marca. Mas o público tem que estar satisfeito e para isso tinha que haver uma percepção de mudança... e nós mudamos! Abrimos a parte da reta oposta para este público, que paga para entrar com seu carro e se instalar, acampar e aí fazer seu churrasco. Mas a decisão de abrir ou não e uma decisão do promotor. Na arrancada, abrimos as arquibancadas C e D para as pessoas levarem alimentos e o estacionamento para se fazer churrasco, além da área onde estão os eucaliptos. Era preciso entender esta necessidade e se adequar.

 

NdG: Falando de pista, quando viemos aqui a curva no final da reta era diferente. Falamos para ele que aquela curva era complicada por diversos fatores. Daí vimos que foi feita uma mudança. O que levou aquela mudança a acontecer?

 

Sofia Costa: A reta do circuito era a reta de retorno da reta de arrancada. Aproveitaram pra fazer a reta do circuito. A estrutura estava pronta e, em relação a custo, seria mais fácil. Nós temos a cultura de ouvir opiniões e vocês colocaram a questão do risco nesta curva, da visão da entrada do túnel e pilotos e promotores também alertaram este ponto. Daí veio o projeto de mudar a curva, expandindo  a pista depois do final da reta para o que temos hoje. Uma outra coisa que as pessoas falam é sobre o circuito ser curto. Houve um pedido dos promotores na época para que se fizesse um traçado mais curto para que os carros passassem mais vezes na frente do público.

 

NdG: Nós também comentamos a altura das zebras (muito altas) e dos guard rails (baixos), com apenas duas lâminas.  Vocês chegaram a mesma conclusão que a nossa?

 

Uma das coisas que mudamos foi a melhoria da cultura de segurança. Isso afetou o Kart e a Arrancada diretamente.

 

Sofia Costa: Sim, e logo foi feito um estudo e as mudanças aconteceram, com as zebras ficando mais baixas e na curva depois do túnel, colocamos um muro de concreto e uma tela de proteção como a da reta, com a estrutura de cabos de aço tensionados.

 

NdG: Nas primeiras corridas as paradas de Box aconteciam na pista de arrancadas. Agora acontecem em frente aos boxes. Qual o motivo da mudança?

 

Sofia Costa: Um dos fatores que nos fez trabalhar para tirar os pit stops da pista de arrancada é que esta recebe um tratamento muito forte para que os carros corram com o máximo de grip possível. A passagem de outros carros por ali, sem o mesmo tipo de composto de pneu e com a superfície sujeita a um derramamento de óleo, de combustível, até mesmo os mecânicos andando em torno do carro, iria afetar o tratamento com VHT, usado nas pistas de arrancada.  Para o público era mais interessante, pois ficava mais perto. O outro problema era a chuva.  Se chovesse no dia anterior ou na pouco antes ou durante a corrida, o piso ficaria extremamente escorregadio, um verdadeiro “sabão”.

 

NdG: O Velopark começou com Kart e Arrancada e esta veio sendo aprimorada. Ela é a “locomotiva do Velopark”, o “cartão de visitas”? Como vem sendo este trabalho na categoria?

 

Sofia Costa: A arrancada está forte no DNA do Velopark. O Felipe começou como piloto de arrancada e o Velopark teve a sua primeira pista pronta a pista de arrancada. Hoje eu não diria que ela é a locomotiva, o kart tem uma representatividade maior em termos de faturamento, mas eu acredito que a arrancada e em termos de número de participantes é a que mais cresce aqui, mas nós trabalhamos com uma filosofia de muito profissionalismo e eu lutei muito para que ela continuasse. Houve mesmo um pensamento em encerrar esta atividade aqui, mas eu trabalhei muito para que ela continuasse e elevamos os padrões de segurança para mantê-la.

 

NdG: O automobilismo regional gaúcho é muito forte, com várias categorias, e campeonatos fortes. Como o Velopark se insere como praça para estes eventos em que normalmente o público é pequeno, não se cobra ingresso, mas se tem custo?

 

Sofia Costa: Eu tenho que voltar a falar sobre quem promove, coordena, patrocina estes eventos. Nos campeonatos regionais temos um cenário diferente do que se vê nos eventos nacionais. Temos os pilotos, temos a federação e temos o autódromo. Não existe aquela figura do promotor, que organiza e faz daquilo um negócio, que expõe o produto, que trabalha mídia, que gera recursos. Cada autódromo se organiza e recebe estas categorias e o Velopark recebia quando tínhamos uma equipe grande aqui. Com a redução de pessoal que tivemos, ficou difícil receber estes eventos. No ano passado, a FGA organizou, mas eles tem uma posição de que não são eles que tem que organizar eventos, mas os regionais são o evento que serve como início para que os pilotos cresçam e cheguem nas categorias nacionais. Este ano nós pretendemos abrir o Velopark e receber estes eventos, mesmo com nossa visão empresarial, não vamos excluí-los por eles não darem um retorno financeiro porque acreditamos, institucionalmente, que estes eventos são importantes.

 

NdG: Se não há cobrança de locação, como custear as despesas?

 

É preciso que haja mais diálogo entre os administradores de autódromos, e entre nós e as federações.

 

Sofia Costa: Toda etapa de automobilismo implica em custos. Temos uma taxa a ser paga para a FGA, o custo com resgate, ambulância, médico, bombeiros, equipes de limpeza e segurança. Como receita, temos a venda de ingressos, o consumo de alimentação e a taxa de inscrição dos pilotos, que é determinada pela FGA. Não esperamos ter resultados nestes eventos. Se conseguirmos não ter prejuízo, já nos satisfaz.

 

NdG: O AIC foi negociado e deixará de existir. Há o risco do Velopark tomar o mesmo caminho?

 

Sofia Costa: Não sei o quanto já se falou sobre isso, mas nós já fomos muito questionados sobre isso vir a acontecer ou não e o que há é uma má interpretação de projetos alternativos que estamos trabalhando, que seria a venda de áreas que são do empreendimento q que por não haver mais projetos de ampliação elas podem ser negociadas e também do aproveitamento desta área junto à rodovia para a instalação de outros empreendimentos. Não há intenção de se vender o Velopark e encerrar atividades.

 

NdG: O Velopark instalou-se aqui em Nova Santa Rita e de certa forma, deve ter afetado o município. Como é esta relação entre o Velopark e a prefeitura?

 

Sofia Costa: Nós temos uma proximidade muito grande com a prefeitura e o plano diretor nos protege contra a especulação imobiliária uma vez que o Velopark trouxe uma visibilidade muito grande para o município e Nova Santa Rita é um município em plena ascensão, com muitas indústrias vindo se instalar aqui porque a sua área é três vezes maior do que Canoas e há muita área sem uso a ser explorada e a instalação de indústrias e negócios nas proximidades pode criar um novo mercado para nós, com a circulação de pessoas em torno do Velopark e que podem buscar aqui uma alternativa de entretenimento próxima de seu local de trabalho.

 

Programa para melhorias.

Ao longo destes mais de seis anos de atividade do Projeto Nobres do Grid, aprendemos alguma coisa sobre autódromos, conversando com administradores, projetistas, pilotos e ex-pilotos. Assim, decidimos nesta nova série de artigos sobre os autódromo brasileiros, apresentar uma lista se sugestões, para seus proprietários e administradores, no intuito de melhorar aspectos de segurança e condições de trabalho para aqueles que lá irão em eventos de treinos e competições. No caso do Velopark, as reformas não são tantas, mas urgem diante do estado que encontramos.

 

Na Pista:

01) Recapeamento da pista como um todo e especial atenção aos pontos de maior desgaste, hoje com remendos em cimento.

 

 

02) Recuperação das telas entre a pista e a arquibancada na reta dos boxes. Exame de condição e possível substituição dos cabos de 0,5 polegadas tensionados.

03) Recuperação das telas entre a pista e a arquibancada na reta dos boxes. Exame de condição e possível substituição dos cabos de 0,5 polegadas tensionados.

04) Recuperação das barreiras de pneus nas curvas antes do túnel. Colocação de tela/”borrachão” para aumentar a resistência da barreira. ondulações, até a entrada da curva zero.

05) Recuperação das telas entre a pista e a arquibancada na curva após o túnel. Exame de condição e possível substituição dos cabos de 0,5 polegadas tensionados.

 

 

 

Last Updated ( Thursday, 31 March 2016 06:12 )