Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Os Fantasmas de Lorenzo! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 01 May 2016 13:12

Olá Fãs do automobilismo (e do motociclismo também),

 

Desde que comecei a ter como pacientes alguns dos mais famosos pilotos de automobilismo do mundo, com um tempo, alguns pilotos do motociclismo também começaram a me procurar. É um reconhecimento a um trabalho bem feito e, claro, a resultados claramente perceptíveis na melhora de desempenho dos meu pacientes.

 

Logicamente que, sendo todos eles participantes de meios altamente competitivos e disputando corridas e títulos uns contra os outros, em alguns casos dentro da mesma equipe. Evidentemente que, por ser uma competição, só pode haver um vencedor, mas o importante no trabalho de terapia não é fazer o paciente conquistar a vitória, o título, mas sim ele sentir-se um vencedor. O difícil é o paciente assimilar isso, especialmente quando ele tem em sua mente, “fantasmas” que o assombram.

 

Neste aspecto, o paciente que tem sido meu maior desafio nos últimos anos é o piloto da Yamaha na Moto GP, Jorge Lorenzo. Na semana passada ele chegou para sua consulta visivelmente transtornado, apesar de ser o atual campeão do mundo da categoria e ter nas mãos uma moto extremamente competitiva, que pode levá-lo a mais um título no final da temporada.

 

 Desde suas primeiras consultas, Jorge Lorenzo sempre se mostrou um paciente angustiado... e difícil de se abrir.

 

Pouco tempo antes do GP de Jerez de la Frontera, um dos quatro que ocorre na Espanha, Jorge Lorenzo confirmou que será piloto da Ducati nas próximas duas temporadas da MotoGP. Provocando o encerramento desta parceria de oito anos entre o espanhol e a fabricante japonesa, que rendeu três títulos, muitas vitórias e também muita polêmica.

 

Lógico que eu perguntei a ele o porque de fazer esta mudança e ele disse que precisava de um novo desafio na carreira, de estabelecer novas metas e manter a sua ambição ao mais alto nível. Que uma mudança para uma grande equipe como a Ducati, que vem mostrando uma grande ascensão nos últimos anos poderia ser uma forma de se auto desafiar e levar a equipe para um platamar que ela almeja e que não está conseguindo alcançar.

 

 As conversas entre a Ducati e Jorge Lorenzo foram rápidas. Porque um campeão do mundo decide deixar a equipe vencedora?

 

Mas não pude deixar de perguntar se fazer o anúncio desta decisão agora, ainda no início do campeonato, não seria um fator complicador para a defesa do título e a conquista de mais um campeonato pela Yamaha. De uma forma aparentemente tranquila, Jorge disse ter chegado mais longe do que sonhara quando começou a competir, que o futuro é imprevisível e que vai aproveitar as corridas restantes da temporada com a Yamaha para tentar ganhar o título. Que este é o objetivo.

 

Evidente que alguma coisa não estava encaixando entre o discurso e a prática. Algumas peças do quebra-cabeças na cabeça de Jorge Lorenzo não estavam à mostra e uma delas é a renovação de contrato do seu “fantasma” até 2018 com a Yamaha. Sim, Valentino Rossi é um nome, uma imagem, um homem e um mito que atormenta Jorge Lorenzo há quase uma década!

 

 Comunicar uma mudança de equipe ainda no início da temporada foi algo inusitado... e que pode trazer perdas em 2016.

 

Em seus dois primeiros anos na Yamaha, tendo o italiano como primeiro piloto e “dono” da equipe, procurou por todos os meios rivalizar-se e derrotá-lo, o que só conseguiu fazer em 2010. Em 2011 o seu “algoz” foi justamente para a Ducati, buscando um novo desafio, reunir tudo – piloto e moto da Itália – o que seria uma grande jogada de marketing caso deste certo... mas não deu. E Rossi voltou para a Yamaha, como segundo piloto, com um salário menor que o de Jorge Lorenzo... mas o “fantasma” continuava enorme!

 

Por mais que lutasse, que vencesse e ainda conquistando o título do ano passado de uma forma bizarramente não usual, a imagem, o carisma e as vitórias de Valentino Rossi – algo que ele considerava “morto” – estava muito vivo. Este foi um fator em sua vida que Jorge Lorenzo não esperava ter mais com que lidar. Mesmo sendo ele o campeão, mesmo sendo ele o primeiro piloto, o “fantasma” ainda ocupava espaço.

 

 Por mais que Jorge Lorenzo negue, o "fantasma" de Valentino Rossi sempre o atormentou.

 

Procurei abordar Jorge de mais de uma forma para ouvir dele o que eu já havia concluído quando li a notícia da sua transferência para a Ducati em 2017, mas em nenhum momento ele foi capaz de assumir o que está por trás desta decisão. Ele é muito “duro” e não assume suas fraquezas nem nos momentos de maior angústia.

 

Diante de toda obra que seu “fantasma” fez e continua fazendo, só resta a Jorge Lorenzo fazer algo que Valentino Rossi tentou e não conseguiu: levar a Ducati novamente ao topo da categoria máxima, algo que a marca italiana conseguiu em 2007, nas mãos de Casey Stoner e não reeditou... nem com Valentino Rossi.

 

 Se vai ser um "adeus" ou um "até breve", o futuro dirá, mas a decisão de sair já está tomada.

 

Conseguir este feito seria a completa afirmação de Jorge Lorenzo como piloto (ao menos na sua cabeça) diante não do público, que ele tentou cativar com aquele fincar de bandeira ao conquistar suas vitórias, mas diante dele mesmo, por conseguir conquistar algo que seu “fantasma” não conseguiu.

 

Angustiadamente, Jorge precisa desta afirmação para ter paz de espírito. Quem sabe se isso vier a acontecer, ele poderá – enfim – ter a serenidade necessária para buscar os títulos e as vitórias que faltam para conseguir superar aquele que, no fundo, não é um “fantasma”, mas sim um desafio e uma motivação para que ele se dedique cada vez mais.

 

 Esta vai ser a imagem que veremos em 2017, uma mudança que Jorge Lorenzo acredita precisar fazer.

 

Talvez quando Jorge deixar este lado aflorar não precise ficar tentando exorcizar fantasmas e conseguirá atingir seus objetivos.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares