Olá leitores! Sempre é um prazer acompanhar uma corrida no Circuit Gilles Villeneuve, uma pista que apesar de ser feita em um espaço acanhado oferece grandes desafios aos pilotos e carros. Não é fácil: se você acerta o carro para os esses de baixa velocidade e para o hairpin, vai ser passado impiedosamente nas longas retas. Se acerta apenas para as retas, vai sofrer para manter o carro na pista na parte de baixa velocidade. De quebra, como a pista é muito pouco usada durante o ano, a aderência do asfalto é baixa, tanto que apesar das altas velocidades alcançadas nas retas a escolha de pneus é a mesma de Mônaco, a pista mais lenta da temporada. É uma pista onde a estratégia e a capacidade de pilotagem realmente podem fazer a diferença. Assim sendo, não foi uma surpresa para mim a vitória do Lewis Hamilton. A equipe é muito boa de estratégia, e quando ele se concentra para acelerar sem fatores externos atrapalhando, é sempre um sério candidato à vitória. Fez a pole, não largou exatamente muito bem, mas aproveitou-se da Ferrari ter inventado uma estratégia Mandrake que só na cabeça da italianada iria funcionar (não custa lembrar que os últimos grandes estrategistas a saírem da bota foram Júlio César e Marco Antônio, de lá para cá foi só ladeira abaixo...) e voltou a assumira a liderança para não mais a perder. Seu companheiro Rosberg (5º) poderia ter feito a dobradinha no pódio, mas passou reto na primeira curva depois de uma disputa de posição dura (mas não desleal) com Hamilton, perdeu posições, desgastou muito os pneus e o resultado ficou de bom tamanho. Em 2º chegou Sebastian Vettel, muito político (poderia ter ‘corneteado’ a equipe que inventou na hora da estratégia, mas não o fez, apenas admitiu o erro), dizendo que gostou da corrida, mas nas entrelinhas do discurso mostrando que não estava tudo tão róseo assim... mas não há muito o que lamentar, a largada dele foi fenomenal, se conseguir largar assim em outras provas esse ano (e se a equipe não inventar...) pode pensar em vitória. Seu companheiro Räikkönen (6º) reclamou um bocado de tudo: comportamento do carro, temperatura do combustível, pneus... vamos ver se na próxima corrida ele está de melhor humor. Em 3º lugar chegou um feliz (dentro daquilo que finlandês consegue demonstrar) Bottas, aproveitando que em trechos de longas retas o projeto da Williams geralmente se dá bem, tanto que a maior velocidade máxima de reta na corrida foi dele. Acelerou muito, a equipe não o sacaneou nos boxes, e ele pôde demonstrar todo o seu potencial, arrancando um belíssimo desempenho do carro, saindo de 7º lugar na largada para um pódio ao final. Merecido esse pódio. Seu companheiro Massa abandonou com problemas no motor Mercedes. Em 4º lugar veio Max Verstappen, confesso que para mim de maneira surpreendente. Aproveitou de maneira exemplar o bom desempenho do carro da Red Bull em trechos sinuosos e compensou a falta de velocidade máxima nas retas (de 22 carros foi o 19º mais veloz) para conseguir tempos de volta bem rápidos durante a prova. Confesso admirar muito o estilo de pilotagem dele. Seu companheiro Ricciardo (7º) poderia ter ido melhor, mas ele exigiu muito dos pneus durante a corrida e pagou por isso em termos de desempenho final. Não foi uma má corrida, apenas não foi boa o suficiente para chegar mais à frente. Em 8º lugar estava Nico Hülkemberg, com um resultado bastante convincente para sua Force India, certamente se aproveitando da excelente velocidade de reta do projeto do carro. Ele reclamou da estratégia, mas analisando friamente fez o que era possível fazer com o carro, haja vista que os carros que chegaram à frente dele são de equipes com orçamento e desenvolvimento muito maior. Achei que fez uma grande corrida. Seu companheiro Pérez (10º) também aproveitou bem as características da pista e fez uma boa corrida dentro das limitações do carro, mesmo tendo perdido tempo razoável atrás das lentas McLaren. Aliás, a ordem dos carros da equipe obedeceu à lógica: em pistas mais “old school” o Nico vai melhor, em Tilkódromos o Pérez mostra o que sabe. Em 9º lugar veio Carlos Sainz Jr., muito feliz em ter voltado a pontuar após algumas etapas mais complicadas. Acertou o momento do pit-stop e soube ganhar posições enquanto os outros pilotos paravam nos boxes. Seu companheiro Kvyat (12º), em compensação, reclamou de tudo e de todos. Poderia ser melhor se não tivesse pisado tanto na bola no começo da temporada e consequentemente rebaixado da Red Bull para a Toro Rosso, né? Agora, o grande ponto negativo da corrida foi a cobertura. O SporTV fez bem a parte dele, embora eu não goste do narrador. Se não é o Reginaldo Leme para salvar as coisas ali no estúdio, vou lhes contar, seria bem difícil... agora, isso não é desculpa para as emissoras de rádio terem olimpicamente ignorado a corrida. Aqueles grupos de comunicação que possuem apenas uma emissora ainda têm desculpa, agora o papelão do Grupo Bandeirantes só é comparável ao da FIA, que escolheu as tiras de Havaianas, ops, o Halo, como proteção de cabeça para o ano que vem. A Bandeirantes tinha a Bandeirantes AM, a “AM no FM” (aquela 90,9MHz de tão difícil sintonia em SP), a Bradesco Esportes e a BandNewsFM transmitindo O MESMO JOGO DE FUTEBOL. Não deixaram a transmissão da corrida nem mesmo em uma da emissoras, passando o jogo nas outras 3. Coisa de uma emissora em tese grande, gerida como se fosse uma emissora de cidade pequena do interior. Medonho o papelão a que se prestou o Grupo Bandeirantes. Já semana passada não transmitiram na TV Bandeirantes a F-Truck para passar tênis, um esporte que depois que o Guga Kuerten abandonou as quadras se der 1 ponto de audiência é muito, desrespeitando o fã do esporte ao motor, e agora esse lixo na parte de rádio. Não me espantarei se for vendida para alguma igreja evangélica, a decadência bateu forte no pedaço. Semana que vem temos F-1 de novo, lá no Findomundistão, ops, Azerbaijão. Uma pista que tem tudo para entrar pelos anais da história, em uma data estrategicamente planejada pela FIA para tentar desviar a atenção da verdadeira estrela do próximo final de semana, as 24 Horas de Le Mans, que evidentemente terão comentários nessa coluna. Até a próxima! Alexandre Bianchini |