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Sem peso nem medida! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 07 September 2016 22:13

Caros amigos, neste último domingo tivemos a oportunidade de ver com nossos próprios olhos, ao vivo e em cores, duas das maiores, talvez a maior das reações opostas em termos de avaliação de comportamento e punição (ou não) em competições de automobilismo que já se tenha notícia.

 

As largadas em Monza sempre são complicadas. São mais de 700 metros do ponto onde os carros partem quando apagam as luzes vermelhas até a primeira chicane, com uma perna para a direita e a seguinte para a esquerda, com as áreas ao lado destas repletas de obstáculos. Com muita dificuldade dois carros conseguem fazer o contorno desta chicane lado a lado. É preciso uma enorme dose de respeito entre os pilotos para que isso aconteça.

 

Na primeira passagem, contudo, os 22 carros chegam praticamente ao mesmo tempo neste ponto, o que torna a missão de sair ileso desta chicane uma tarefa das mais complicadas. Toques entre carros e outros passando por fora do traçado acontecem todos os anos, mas o preciosismo dos comissários de prova da Fórmula 1 e o coercitivo regulamento de competição da FIA extrapolou o limite do bom senso na largada da corrida italiana.

 

Pior que isso, não apenas extrapolou o limite do bom senso como também o limite da cegueira quando puniu o piloto brasileiro Felipe Nasr, visivelmente atingido na sua roda traseira pela roda dianteira do seu desafeto, o piloto da Renault Jolyon Palmer, com quem tem estado em conflito desde quando foram companheiros de equipe na Carlin, em seus primeiros anos de GP2.

 

As imagens são claríssimas. Felipe Nasr contornou a segunda perna da chicane à frente de Jolyon Palmer, “espalhou normalmente”, como sempre se fez na história da Fórmula 1, não como fez Nico Rosberg em suas desastradas manobras na Áustria e na Alemanha. Além disso, nos casos de Nico Rosberg o oponente (Lewis Hamilton e Max Verstappen) estavam lado a lado com o alemão.

 

A decisão foi rápida e pesada. Uma punição de 10 segundos na parada de boxe para o piloto que foi tocado por trás, teve o pneu furado e a estratégia de corrida arruinada foi contestada pelos membros da equipe Sauber, mas isso não foi suficiente para reverter – e nunca o é – a punição. Felipe, que teve o assoalho danificado ao levar o carro de volta aos boxes, tinha abandonado a prova e a equipe recolocou o carro na pista para que a punição fosse cumprida na Itália e não em Singapura... e isso causou protestos por parte da Renault e do seu piloto!

 

E então eu assisto na corrida que passou à tarde, uma excelente corrida da Truck Series em um circuito misto que já recebeu a Fórmula 1 e que é bem mais interessante que muitos dos circuitos atuais da categoria para nas últimas curvas ser testemunha ocular de um dos episódios mais dantescos que talvez tenha acontecido na história do esporte a motor mundial.

 

Depois de ser bloqueado nas duas últimas curvas antes da bandeirada de chegada, o piloto da caminhonete #8, John Menecheck, valeu-se de um “expediente normal” nas categorias da NASCAR norte americana que é o “totó” no carro que está mais lento à sua frente para “abrir caminho” e ultrapassá-lo, mas Nemecheck foi muito mais além disso contra seu oponente, Cole Custer, quando mesmo com mais velocidade e ação para o contorno da curva, faltando poucos metros para a chegada, virou o volante para a esquerda e “espremeu contra o muro”, saindo da pista e indo para a área de escape, a caminhonete #00 até ambos cruzarem a linha de chegada.

 

O ar de espanto dos comissários de pista que estavam sobre a linha de chegada e que deram a bandeirada foi de incredulidade e incerteza de quem teria vencido a corrida e foi pelas imagens da transmissão que viu-se o resultado final da disputa, com John Nemecheck cruzando o prolongamento da linha de chegada (uma vez que ambos estavam fora da pista) alguns centímetros à frente de Cole Custer.

 

O mais impressionante de todo o episódio foi a direção de prova confirmar a vitória para John Nemecheck, mesmo tendo ele agido de forma absurdamente antidesportiva com seu adversário, que para coroar o inominável final de prova, partiu para a briga corporal contra o declarado vencedor, e que só não teve maiores consequências por intervenção dos comissários de pista que separaram os pilotos, que já rolavam no chão.

 

O ponto em questão é a disparidade de atos e as atitudes decorrentes por parte das autoridades de prova. É como se, por um lado alguém quisesse “tirar da equação” riscos de toques e acidentes (logicamente atitudes antidesportivas devem ser punidas, desde que ocorram) e por outro lado, o “vale tudo” estar liberado nas competições, não importa as consequências. Pelos critérios atuais, Gilles Villeneuve e René Arnoux seriam severamente punidos pelo espetáculo das últimas voltas na corrida de Dijon em 1979!

 

Vale lembrar que a Fórmula 1 está em vias de ser vendida para um norte americano, mas que, independente disso, duvido que atitudes sem peso nem medida venham a ser toleradas. E isso se aplica aos fatos das duas corridas do domingo.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva