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O Retorno a Guaporé em 2016 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 18 September 2016 12:47

Poder retornar a Guaporé, no Rio Grande do Sul, traz a todo apaixonado por velocidade uma sensação de saudosismo e prazer. É como viajar no tempo até os anos 70, quando o automobilismo não só brasileiro como mundial era menos meticuloso com relação as questões de segurança que tanto são discutidas nos dias de hoje.

 

Esta pequena cidade gaúcha, que não chega a ter 25 mil habitantes segundo o último censo brasileiro, possui um dos autódromos mais icônicos do país – ao lado de Cascavel e Tarumã.

 

 

Por essas exigências da modernidade e devido a falta de espaço para a ampliação das áreas de escape e suas curvas, o autódromo de Guaporé acabou deixando de fazer parte da maioria das corridas do calendário nacional, onde apenas a Fórmula Truck mantém sua corrida anual.

 

A presidência da Associação Guaporense de Automobilismo – AGA – também mudou de mãos, sendo neste mandato exercida pelo Sr. Charles Pilotti, que sucedeu o Sr. Dilvo Salvi, como responsável não apenas pelo autódromo, mas também pelo clube que fica ao seu lado, com piscinas e churrasqueiras para seus sócios. A verdade é que o Autódromo de Guaporé é o grande parque de lazer dos cidadãos guaporenses e, independente de viabilidade comercial, é impensável ver a cidade sem sua existência.

 

 

O caminho para chegar ao autódromo em nada mudou. É passar pelo pórtico da cidade e seguir em frente pela Avenida Silvio Sansom até chegar na entrada do autódromo, sempre bem cuidado. Afinal, ‘Dona’ Tata continua cuidando do autódromo da cidade como sua casa e nos recebeu com um grande sorriso, falando logo sobre as melhorias feitas no autódromo e que continuam em andamento.

 

 

Boa parte da estrutura de suporte como as salas para a imprensa e administração dos eventos com um novo piso, instalações elétricas, mobiliário e que, deve ser feito também na torre de controle de prova, para onde subimos e fizemos aquela foto panorâmica.

 

 

As instalações – modestas, é verdade – continuam muito bem cuidadas, com os banheiros e restaurantes prontos para funcionar a qualquer momento.

 

 

Os boxes ainda mantém o design dos anos 70, com uma medida impensável para os dias de hoje. O que ele tem de bom é a laje que o cobre, plana, para a montagem dos HCs, além de ser dotada de uma churrasqueira. Contudo, a Fórmula Truck precisa trabalhar muito para montar sua estrutura na etapa que realiza por lá.

 

 

Em termos de pista, o traçado de Guaporé é simplesmente fantástico. O asfalto, que estava precisando de reformas, foi totalmente recapeado em 2010 e sofreu uma nova intervenção em 2014, onde o circuito passou também mudanças em diversos pontos.

 

 

Saindo da posição de largada na reta dos boxes, ainda tem algo em torno  de 600 metros de reta até a chegada na curva 1, o que faz com que os carros cheguem no ponto de frenagem com uma velocidade muito alta para a tomada de uma curva quase sem área de escape.

 

Na reta em si, as áreas de escape laterais são gramadas, sendo bem razoável no lado direito e bastante ampla no lado esquerdo, com uma barreira de pneus escorada em um barranco, protegendo o contorno da curva 1. Os postos de fiscalização foram reformados em 2013 e ainda estão bem conservados.

 

 

A curva 1 tem mais de 180 graus de contorno e uma inclinação alucinante, permitindo que os carros a contornem de forma rápida e bem “grudados” no asfalto. Como todas as curvas de Guaporé, ela não permite erros. Afinal, com 2 metros de área de escape entre o asfalto e a barreira de pneus.

 

 

Dentro do que foi colocado como exigência quando o autódromo foi interditado em 2014, tendo aspectos de segurança citados no relatório da interdição, a barreira de pneus da curva 1 agora é toda aparafusada, e em boa parte da curva, possui o “borrachão” pra ajudar a absorção das pancada que ali venha a ocorrer.

 

 

 

Depis da curva 1, a curva seguinte, tomada para a direita, leva o nome do piloto Caetano Antinolfi não tem nenhuma proteção na sua primeira parte, com a barreira de pneus – percintada – junto ao guard rail da metade da curva em diante.

 

 

Como a curva também tem uma inclinação e na sua saída os pilotos já saem acelerando, junto ao muro de concreto, revestido com o “borrachão” até o final da zebra de apoio na saída da curva.

 

Com os carros acelerando, vimos que no seguimento de “reta” que antecede a curva do túnel, ainda há no trecho do túnel em si um “dente” de concreto, estreitando a área de escape lateral. Mudar isso demandaria um custo considerável.

 

 

A curva seguinte leva o nome do túnel e também tem um raio de giro de mais de 180 graus, exigindo uma freada forte, que seria ainda mais dura não fosse a grande inclinação da mesma.

 

 

Assim como a curva 1, a curva do túnel tem uma área de escape muito pequena. A barreira de pneus não é dupla, como na curva 1, é simples, mas ao menos os pneus foram percintados e ao contrário das curvas anteriores, não há “borrachão” revestindo os pneus.

 

 

Saindo da curva do túnel, uma reta leva para a rápida e perigosa curva do radiador, que também precisaria ter uma área de escape generosa, mas ao invés disso, tem um muro de concreto, que depois de 2013 recebeu uma barreira de pneus dupla, percintados e em quase toda a sua extensão é revestida com o “borrachão”.

 

 

A curva ainda tem uma particularidade, que é uma barreira posterior, que fica na saída da curva, mais recuada. Contudo, a área gramada até se chegar nesta segunda barreira tem um risco adicional se a corrida for sob chuva. Além disso, é uma barreira simples de pneus, ainda que percintados.

 

 

Na saída da curva do radiador, antes se se chegar nos “esses”, há uma pequena zebra, num formato e desenho que remonta a construção do autódromo nos anos 70 e que, no caso dos caminhões, não faz muita diferença.

 

 

Os “esses” são suaves, e só não são contornados de forma mais rápida por conta da curva da vitória, que tem 180 graus de contorno. Os “esses” possui uma barreira de pneus simples, escorada em um guard rail de uma única lâmina, mas é uma barreira simples com pneus percintados com uma área de escape gramada barreiras de pneus específicas.

 

A segunda perna do “esse” não possui barreira de pneus específica e ainda tem um grupo de árvores alinhado com a tangente da curva, sendo estas protegidas por uma pequena barreira de pneus escorada no barranco. Como é um dos pontos de velocidade mais baixa do circuito, não há registros de acidentes neste ponto.

 

 

A curva seguinte é a curva da vitória, que mesmo com seus 180 graus de contorno, possui uma inclinação considerável e do meio para o fim os pilotos já aceleram para entrar na reta principal.

 

 

Esta curva continua com o problema que diagnosticamos no final de 2009, quando visitamos Guaporé pela primeira vez. A barreira de pneus é baixa e o guard rail tem uma lâmina única, baixa e mal fixadas. Na Fórmula Truck, dois pilotos já “desceram o barranco” que fica depois da curva.

 

A área de escape é pequena, só aumentando na parte final da curva, quando já temos a entrada da reta dos boxes, com a barreira de pneus, percintados, escorados, e com pneus maiores, de caminhão.

 

 

A entrada da reta dos boxes também possui uma zebra mais larga do que as demais zebras do traçado de 3.080 metros, mas a área de escape entre a zebra e a barreira de pneus é totalmente gramada. No circuito inteiro não há uma só caixa de brita.

 

A entrada dos boxes e o acesso ao pitlane é feito logo depois da curva da vitória, mas apesar do autódromo ser antigo, não há quina muro paralelo à reta na entrada dos boxes, que tem um “esse” suave, bem protegida por pneus dos dois lados.

 

 

Naturalmente, tratando-se de um autódromo antigo, não temos um pitlane largo, o que acaba sendo um aperto para os caminhões da Fórmula Truck, mas a falta de tela no muro dos boxes é um aspecto que deveria ser introduzido o quanto antes, para a segurança dos integrantes das equipes.

 

 

É preciso entender que o Autódromo de Guaporé é um ícone ao esforço de uma associação de uma cidade pequena, que contra tudo que se fala sobre o que é fazer um autódromo, como mantê-lo faz deste espaço o parque da cidade, a melhor área de lazer, o clube e o centro de encontro da população local.

 

 

O zelo, o cuidado e a dedicação dos diretores da Associação Guaporense de automobilismo, seus sócios e da população da cidade é um grande exemplo de que é possível se fazer e se manter um autódromo vivo.

 

 

Como é nossa prática, depois de fazer a volta no autódromo, conversamos com o Diretor da AGA, Senhor Pedro Belizza – Presidente do Conselho Deliberativo da AGA.

 

NdG: O Autódromo de Guaporé tem peculiaridades únicas em relação aos demais autódromos do país. Ele é um autódromo privado, mas tem todo um envolvimento da sociedade local e mesmo do poder público com ele. Como é possível, se é possível, descrever isso?

 

Pedro Belizza: O Autódromo de Guaporé é bem mesmo isso que você falou. Para o guaporense o autódromo é parte de sua casa, é o cartão postal da cidade e não há uma pessoa na cidade que não seja apaixonada por ele. Se formos considerar o tempo em que o autódromo ainda não era asfaltado, estamos bem perto de completar 50 anos de autódromo e para nós da AGA, que vivemos o seu dia a dia ele é realmente parte das nossas vidas. Guaporé é uma cidade pequena em um estado muito importante como é o Rio Grande do Sul e mesmo pequena ela é conhecida no Brasil inteiro e mesmo fora do país por causa do autódromo.

 

NdG: Quando nós estivemos aqui era um outro Presidente, o Sr. Dilvo Salvi. Esta diretoria está à frente do autódromo desde quando?

 

Pedro Belizza: Nos assumimos no início do ano e temos trabalhado para a melhoria do nosso autódromo, dentro da medida do possível para deixá-lo cada vez melhor. Passamos por uns apertos, não conseguimos fazer tudo que queremos de pronto, mas devagarzinho estamos fazendo, dando continuidade ao trabalho que vinha sendo feito porque todos os que passaram pela AGA fizeram tudo o que podiam pelo autódromo.

 

NdG: Sendo uma cidade tão pequena e os custos de manutenção de um autódromo não serem pequenos, como vocês conseguem fazer as coisas por aqui?

 

Pedro Belizza: É uma luta dura e sem trégua. É o problema que sempre nos acompanhou. A gente busca todas as formas de fazer o autódromo dar retorno e se viabilizar, fazendo os eventos, alugando para treinos e corridas e buscando fazer o que é possível dentro das nossas limitações. Mas ainda assim temos conseguido fazer umas melhorias por aqui, manter tudo bem cuidado como vocês viram. Além disso, temos as mensalidades dos sócios da AGA que é um rendimento a mais que cuidamos da sede social e também investimos aqui no autódromo.

 

NdG: Que eventos o autódromo recebe ao longo do ano?

 

 

Pedro Belizza: A ocupação do autódromo é muito boa praticamente todos os finais de semana tem alguma coisa acontecendo aqui, seja corrida, seja treino, seja track day, arrancadões. A agenda tem sido bem usada e temos conseguido um bom retorno com isso, o que tem permitido fazermos ao menos reformas de manutenção. Claro que temos coisas que gostaríamos de mexer, como os boxes, mas isso ainda não é possível.

 

NdG: O autódromo então está no azul...

 

Pedro Belizza: Sim, estamos no azul, felizmente. Mas temos que cuidar das coisas. Em um autódromo com quase 50 anos, as coisas estão envelhecendo e precisamos cuidar, reformar, melhorar, modernizar. Além do que arrecadamos, temos buscado patrocinadores para investir nas melhorias mais dispendiosas do autódromo.

 

NdG: Vocês tem um grande evento nacional aqui todos anos que é a Fórmula Truck. Como é que a cidade absorve um evento que costuma ter públicos maiores que a população inteira da cidade?

 

Pedro Belizza: A população quase triplica quando a Fórmula Truck vem para cá e é um desafio muito grande para todos nós e é uma coisa positiva para a economia da cidade, pois todo mundo ganha. Os hotéis, restaurantes, bares, o comércio como um todo. Ter um grande evento como este é muito bom para nós. É uma pena que a Stock Car não venha mais. Já tivemos muitas etapas aqui, mas hoje eles não conseguem vir mais.

 

NdG: Desde a nossa vinda passada, percebemos melhoras em diversos aspectos de segurança na pista, como foi este trabalho?

 

 

Pedro Belizza: Tivemos uma ajuda fundamental da Fórmula Truck, que investiu junto com a gente para melhorar as barreiras de pneus, cuidar dos muros de concreto e tem coisas que queremos fazer. Temos um projeto para melhorar a área de escape da curva 1, fazendo um aterro de mais uns 10 a 15 metros e afastar o muro pra ter uma área de escape mais segura, sem mexer na pista. Estamos conversando com os sócios da AGA, também com a prefeitura para participar conosco nessa obra.

 

NdG: Se a curva 1 já existe esta preocupação por parte da diretoria da AGA, o que dizer da curva da vitória, que está com o guard rail praticamente nas mesmas condições que vimos em 2010?

 

Pedro Belizza: É um problema que temos que resolver também e que precisamos considerar porque segurança é o principal de tudo num autódromo. Mas é preciso ver que as coisas não são simples, fáceis nem baratas. Em 2014 foi feito o recapeamento da pista e isso custou caro. Nos pontos de velocidade mais alta os muros e barreiras de pneus foram melhorados. Ali na curva da vitória precisamos trocar os postes de sustentação do guard rail e vamos fazer isso assim que nos for possível.

 

NdG: O senhor mencionou os boxes. Há planos para mudar os boxes?

 

Pedro Belizza: Projeto para isso a gente em, mas o problema hoje é como fazer. O autódromo está no azul, mas não ao ponto de fazer uma obra grande e se entrarmos no vermelho, pra sair fica difícil. Temos os planos, já foi até apresentado isso na câmara dos deputados para ver se conseguimos esta verba federal para fazer esta reforma, mas com a situação do país como está fica complicado conseguir dinheiro pra isso. Temos também um projeto para modernizar o ambulatório e terminar a reforma aqui da parte administrativa. A AGA hoje funciona aqui, não alugamos mais aquela sala lá no centro, o que é uma despesa a menos.

 

NdG: Como é a política dentro da AGA? Tem mais de uma corrente, tem discussão ou todos meio que se entendem?

 

 

Pedro Belizza: Divergências de idéias sempre tem e sempre haverá em qualquer lugar, mas procuramos nos entender e conversar para chegar ao melhor entendimento sempre. Nosso presidente, Charles Pilotti é uma pessoa que escuta muito, é bem flexível e que conseguimos fazer com que as coisas caminhem bem. Nosso mandato é de dois anos e vamos procurar fazer o máximo neste período.

 

NdG: Além dos eventos de esporte, o autódromo é locado para outro tipo de atividade?

 

Pedro Belizza: Tem a “Moda Guaporé”, que é um evento com montagem de stands onde se coloca a mostra a parte de moda de roupas íntimas e também de semijóias, que faz muito sucesso aqui. No ano passado teve mais 150 expositores e tem desfile, shows de música... é uma coisa que também movimenta bastante a cidade e que ajuda a gente na arrecadação de recursos.

 

Programa para melhorias.

 

Ao longo destes mais de sete anos de atividade do Projeto Nobres do Grid, aprendemos alguma coisa sobre autódromos, conversando com administradores, projetistas, pilotos e ex-pilotos. Assim, decidimos nesta nova série de artigos sobre os autódromo brasileiros, apresentar uma lista se sugestões, para seus proprietários e administradores, no intuito de melhorar aspectos de segurança e condições de trabalho para aqueles que lá irão em eventos de treinos e competições. No caso do Autódromo de Guaporé, é preciso considerar o fato de ser um circuito municipal, de uma cidade muito pequena.

 

Na Pista:

01) Colocar uma barreira dupla de pneus na curva do túnel e revesti-la com “borrachão”.

02) Colocação de uma caixa de brita entre a primeira perna do “esse” e a barreira de pneus.  

03) Colocação de uma caixa de brita entre a segunda perna do “esse” e a barreira de pneus das árvores.

04) Recuperação das barreiras de e guard rail da curva da vitória, passando a ter lâmina tripla e substituindo as estacas de fixação.

05) Afastar a mureta de concreto do túnel antes da curva.

 

Infraestrutura:

01) Substituição dos boxes por um número relativo com mais espaço e altura de pé direito para caminhões.

02) Instalação de telas na mureta que separa os boxes da pista.

03) Instalação de uma torre de prova mais alta e melhor posicionada (mais para o meio da reta).

04) Ampliação da área de estacionamento das carretas das equipes.

 


Last Updated ( Sunday, 18 September 2016 13:36 )