Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
E agora, João? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 05 October 2016 21:23

Caros Amigos, Alguns dos estimados leitores com mais quilometragem hão de lembrar dos versos que citarei a seguir como trecho de uma música. Outros – não tantos – como versos do poema que originou a musica, escrito por Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José? / e agora, você?...” 

 

A pergunta que não quer calar tem outro endereçado: o prefeito eleito em primeiro turno na cidade de São Paulo, João dória Jr. O homem que disse que venderia o Autódromo Internacional de Interlagos caso fosse eleito e agora, como o foi, o futuro mandatário da maior cidade de América do Sul não fugiu da sua ideia, mas ao invés de “vender”, tem falado agora em “privatizar” a maior praça de esporte a motor do país.

 

O não-político prefeito tem afirmado a todos – desde o negativo impacto da palavra “venda” até as entrevistas pós-vitória consagradora – que a sua proposta é ‘privatizar Interlagos’, com a garantia de que continuará a ser utilizado como autódromo, kartódromo e parque com acesso público. Além disso, fazer com que Interlagos torne-se também um grande centro de eventos musicais e culturais ao ar livre na cidade...

 

Mas não é isso que já ocorre em Interlagos há mais de duas décadas, desde o seu ‘mutilamento’ em 1990? Sim, Interlagos já deixou até de realizar corridas em um passado recente para abrigar um festival de música (de gosto duvidoso, que fique bem claro)?

 

Segundo os dois mais recentes administradores do Autódromo Internacional de Interlagos, o empreendimento (vou usar este termo para falarmos de forma o mais comercial possível) tem dado lucro ao órgão que é responsável por sua gestão: a SPTuris. Sendo assim, não faz sentido – ao menos em teoria – entregar para outrem um bem que gera riqueza, que dá retorno ao invés de prejuízo.

 

O outro aspecto interessante da idéia do recém eleito prefeito paulistano é que uma privatização (ele não fala mais em venda, mas privatizar seria o que então, Excelência?) deixaria o novo proprietário com o dever de manter o seu novo bem como praça automobilística, sem comprometer as competições e mesmo a utilização do espaço como parque de lazer, conforme a Lei Ordinária 12.362, de 1997.

 

Andei fazendo uma pesquisa nestes dias, levando também em conta a retração no mercado imobiliário de todo o país nos últimos anos e descobri que o valor do metro quadrado para a construção na região de Interlagos é de R$ 1.118,90 (Hum mil, cento e dezoito reais e noventa centavos por metro quadrado). Tendo a área do Autódromo Internacional de Interlagos um milhão de metros quadrados, a venda (mil perdões... privatização) do espaço, sem contar as construções lá edificadas exigiria do futuro proprietário o desembolso de (vou arredondar para ficar mais fácil) um bilhão e duzentos milhões de reais!

 

Pelo sim, pelo não, se por conta ou não das eleições municipais ou de discussões internas, o calendário divulgado no fim da semana passada para a Fórmula 1 em 2017 apareceu com 21 provas, como neste ano... e com “três asteriscos” (Canadá, Alemanha... e Brasil), corroborando com as notícias publicadas na imprensa européia que veio questionando ao longo do ano sobre a permanência ou não da etapa brasileira.

 

No caso canadense, foram impostas pela FOM a necessidade de melhores e maiores instalações para a acomodação das equipes e dos convidados VIP que comparecem à corrida. No caso dos alemães, com o rodízio levando a corrida de 2017 para Nurburgring, que passa por sérias dificuldades financeiras e já deixou de sediar a corrida em 2015.

 

Aqui no Brasil, o promotor local, Tamas Rohonyi, segue afirmando a prova está garantida no calendário da F1 em 2017. A FIA divulgou a lista de corridas e datas após reunião do Conselho Mundial de Automobilismo, na tarde da última quinta-feira, colocando a etapa brasileira como sujeita a confirmação. Segundo ele, “Houve um equívoco na publicação que inclusive nem o nome da cidade eles escreveram certo”. Teriam escrito “San Pablo”? “San Paolo”? “Saopaulo”? o asterisco certamente pesa mais que isso, a ponto dele ter respondido de forma “atravessada” um comentário de Felipe Massa sobre este risco ser real.

 

Os argumentos contra o fato de Interlagos ser uma bem público levam em conta os investimentos que o circuito precisa receber frequentemente para receber a Fórmula 1. Esta última reforma custou 160 milhões de reais. Este é um número que todos que vão contra Interlagos não deixam de alardear. O que eles deixam de falar é que aumento de arrecadação de ISS foi estimado em mais de 300 milhões de reais atualmente. E este dinheiro a prefeitura vai continuar recebendo se quem tomar à frente neste processo de privatização.

 

Voltemos ao valor de um bilhão e duzentos milhões de reais de alguns parágrafos atrás e digamos que o novo empreendedor seja o mais competente administrador de autódromo de toda a história da humanidade e consiga amealhar, livre de todas as despesas, 50 milhões de reais por ano com seu novo empreendimento. Ele levaria 24 anos para recuperar o investimento feito na incorporação do autódromo ao seu patrimônio. A matemática consegue ser simples, sucinta e dolorosamente cruel, concordam? A menos, é claro, que a privatização se dê nos mesmos moldes de outras realizadas em gestões do PSDB, como a venda da Vale do Rio Doce por “míseros” três bilhões de dólares.

 

E agora, João?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Wednesday, 05 October 2016 21:41 )