Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Um divã para Max Verstappen? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 02 November 2016 20:27

Olá fãs do automobilismo,

 

Quando vocês estiverem lendo esta coluna já terá terminado o GP Brasil de Fórmula 1 e até mesmo o campeonato já poderá estar decidido. Durante os dias que se seguiram ao GP do México, o meu consultório foi de um movimento intenso, especialmente porque estamos na reta final da NASCAR e eu tinha reorganizado a agenda por conta das viagens para Austin e Cidade do México.

 

Apesar de tudo o que aconteceu no consultório, escolhi partilhar com vocês, queridos leitores, o que aconteceu no final da tarde e na noite do domingo na Cidade do México, onde fui testemunha de acabei envolvida em uma discussão sem tamanho por conta de toda a confusão que foram as voltas finais da corrida, com as decisões dos comissários desportivos mudando o terceiro colocado duas vezes após a bandeirada ter encerrado a corrida.

 

O pivô de toda a discussão é o Max Verstappen, que anda colocando o ambiente da Fórmula 1 a ponto de explodir e as coisas nas quais ele se envolveu foi o suficiente para – confesso ainda estar muito surpresa – eu ter sido chamada pelo Helmut Marko (esse eu quero colocar um dia no meu divã por umas duas horas, pelo menos) para conversar e o homem forte da Red Bull e Toro Rosso veio me perguntar se eu aceitaria, se eu teria horário para fazer um trabalho psicológico com o Max Verstappen.

 

Helmut Marko procurou Niki Lauda para ter informações ao meu respeito e então sondar-me sobre Max.

 

Eu disse a ele que poderia ser arranjado horário para isso, mas que no caso, o paciente tem que estar interessado e neste momento retornei a pergunta: estaria Max Verstappen em fazer um acompanhamento psicológico? Até o ano passado, sendo ele menor de idade, se os pais o levassem para consultas seria uma situação. Agora que ele já tem mais de 18 anos, a decisão de fazer ou não uma ou uma série de sessões comigo teria que partir dele. Nesta hora o Sr. Marko interrompeu e disse que na Red Bull se ele determinar que o piloto tem que fazer alguma coisa, ele vai fazer! Esse homem assusta...

 

Ele disse também que naquela tarde andou conversando com seu amigo (não consigo vê-lo com “amigos”) Niki Lauda sobre como fazer alguma coisa e que me procurar foi a sugestão dele. Ele, que já esteve no meu consultório, conversou comigo depois do GP dos Estados Unidos pra falar sobre o [Maurizio] Arrivabene, que anda buscando uma forma de trazer Sebastian Vettel de volta ao foco, o que venho tentando fazer também desde o início da fase europeia do campeonato, quando o assunto foi tratado pela primeira vez em sessão.

 

Niki Lauda tem sido um bom aliado na busca de fazer um ambiente melhor na F1, conversando com as pessoas.

 

Na conversa, depois do assunto Sebastian, o assunto também foi Max Verstappen. Arrivabene mostrou-se preocupado com a postura do piloto e com o ambiente negativo que ele está plantando e perguntou se ele era meu paciente. Quando disse que não era ele perguntou “porque não?”. Voltando para o domingo pós-GP do México, passei a pensar que boa parte dos meus queridos leitores devem perguntar a mesma coisa.

 

O acompanhamento psicológico não é um “medicamento genérico”. Na verdade, é algo bem específico e direcionado. Adultos, idosos, casais, crianças, adolescentes... cada tipo de paciente precisa ter um acompanhamento específico. Eu cuido de atletas, na maior parte, do esporte a motor. Em todos os casos, são adultos e quando eu vejo o Max Verstappen, não sei se posso incluí-lo no universo dos adultos, mesmo ele sendo um piloto de Fórmula 1.

 

Uma das coisas que todos os pilotos da Red Bull tem que seguir são as determinações de Helmut Marko.

 

Durante esta semana, depois de voltar para casa, comecei a ler sobre como seria enfrentar este desafio caso ele vier a buscar um acompanhamento por ordem do Sr. Marko. A questão é: ele entraria no meu consultório com a mente aberta, buscando um crescimento pessoal ou vai vir como um típico adolescente, recusando todo tipo de abordagem por esta estar sendo imposta?

 

A adolescência é um fenômeno moderno, em que várias modificações são esperadas e a criança é convidada a deixar o mundo infantil para ter início ao mundo adulto, trazendo a possibilidade de mudança de sua condição existencial. Enquanto seu corpo infantil muda, enquanto a idealização dos pais vai cedendo lugar à idealização do grupo, os adolescentes, frequentemente e em diversas formas, apresentam comportamentos destrutivos que preocupam os adultos.

 

Além disso, como é uma etapa em que a autoconsciência se intensifica, é natural que se sintam expostos, como se qualquer um pudesse ver seus aspectos mais íntimos, podendo dificultar algumas relações interpessoais. No caso da “idealização dos pais”, sendo filho de pilotos, o caminho da idealização foi tomado – aparentemente – de forma natural. Em todo caso, algo precisaria ser trabalhado em Max Verstappen... para o bem dele.

 

A natureza arredia de Max Verstappen indica um desfio e tanto para qualquer terapeuta que ele tiver que ir.

 

A negação é uma defesa psicológica, e defesas psicológicas têm sempre uma razão de ser valida do ponto de vista do psiquismo do paciente. Quem se defende o faz porque se supõe atacado, e se lança mão exatamente da negação é porque não encontrou defesa melhor. Trabalhar com defesas, neuróticas ou não, implica em ajudar o paciente a transcendê-las, e não rompê-las de maneira forçada, expondo o paciente a angústias com que ele não tem como lidar naquele momento. Faz melhor o psicólogo que aborda a questão pela via do fortalecimento psíquico do que o que decide ser melhor para o paciente encarar logo a sua doença. Quem disse?

 

Mas se além de negar a existência da doença o paciente também recusar o tratamento, e isso colocar em risco a sua condição clínica, cabe então dizer a ele que existe, sim, um problema de saúde a ser tratado, e cabe escutar sua resposta sem entrar em disputa; afinal, essa afirmação é mais uma provocação para fazê-lo falar do que uma instrução a ser cumprida. Simultaneamente a essa afirmação, o psicólogo deve se interessar pelos motivos do paciente para recusar o tratamento. O psicólogo não deve observar apenas o errado da situação; deve observar também o acerto do paciente. O objetivo da psicologia hospitalar não é convencer o paciente de que ele é um doente, nem forçá-lo a concordar com o diagnóstico médico; tudo o que o psicólogo deseja é que o paciente fale, fale de si, da doença, do que quiser. Quando o paciente pode falar livremente, a negação não raro se desvanece.

 

Se a negação atinge não apenas a noção da doença, mas se estende a fatos concretos evidentes, como sangramento, deformações, tosse, etc., convém investigar mais detidamente a condição mental do paciente, buscando sinais psicopatológicos indicativos de psicose, ou então solicitar uma avaliação psiquiátrica.

 

O sentido de negação em um paciente irá sempre comprometer o progresso do tratamento.

 

Com o paciente na posição de negação, o trabalho de atendimento psicológico abordará outros temas que não a doença. É importante permitir que o próprio paciente escolha os temas das conversas, mas se ele não fizer, o psicólogo pode encaminhar estrategicamente a entrevista para assuntos mais superficiais, até que outras questões possam se abordadas.

 

Ter Max no meu consultório como um paciente regular seria um desafio e tanto!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

 


Last Updated ( Friday, 18 November 2016 08:39 )