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A frustração de Pascal PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 11 February 2017 20:25

Olá fãs do automobilismo,

 

As pessoas em geral tem uma visão de que o alemão de uma maneira geral é uma dura, seca, sem emoção, pragmática e inatingível. Bem, a prática – pelo menos a minha – mostra que não é assim. Fui terapeuta do Michel durante os anos em que ele decidiu voltar à Fórmula 1, tenho o Sebastian como meu paciente há sete anos e o Nico, mesmo depois de “aposentado”, vem ao meu consultório uma vez por mês. Também atendo outro Nico (Hulkemberg) desde 2013 e o Nick desde 2012.

 

Quando voltei das férias, entre as inúmeras chamadas, havia uma do Nico me pedindo para verificar se havia possibilidade de receber um novo paciente, uma indicação dele. Verifiquei junto com a minha secretária e respondi positivamente. No dia seguinte, recebi um telefonema do jovem Pascal Wehrlein, apresentando-se e dizendo ser ele a indicação do Nico, agradecendo minha boa vontade.

 

Depois de fazer a organização inicial da agenda de 2017, informei Pascal sobre quando poderíamos iniciar nossas sessões – a princípio quinzenais – a partir de fevereiro. Ele concordou e no início do mês veio para San Diego para sua primeira consulta.

 

Pascal chegou bem cedo, ficou uns 20 minutos na recepção, esperando eu terminar a sessão com Jimmie Johnson, meu primeiro paciente naquela manhã. Como sempre faço, depois que o paciente que termina a sessão sai pela “porta alternativa”, fui receber Pascal na sala de espera (fiz uma reforma no consultório como o que tinha em Cuiabá, onde os pacientes não se encontram, um saindo e o outro entrando). Confesso que morri de inveja de como ele é magrinho!

 

Muito tímido, ele me cumprimentou, agradeceu mais uma vez e sem muitos rodeios fomos para o consultório. Convidei-o a deitar no divã e falar... apenas falar. Ele perguntou sobre o que deveria falar e apenas respondi: sobre o que você tiver vontade. Que ali era um lugar para ele se sentir à vontade e falar sobre o que ele quisesse... mas que não podia dormir (sempre falo isso na primeira consulta pra “quebrar o gelo”). Ele riu e, sem rodeios, foi direto ao ponto: queria descobrir “onde foi que tinha errado” para não ter sido efetivado como titular da Mercedes para 2017.

 

Acho que tanto eu quanto vocês, queridos leitores, já compreenderam há algum tempo que no mundo do automobilismo em geral e na Fórmula 1 em particular, relações de interesses podem ir além da simples avaliação técnica para a escolha de um ou outro piloto que vai ser contratado. Isso, claro, sem ignorar o “fator dinheiro”, que pode “comprar” lugares dependendo do montante envolvido.

 

Depois de sua trajetória no DTM, Pascal foi anunciado piloto de testes na F1, com direito a boas vindas do Lewis.

 

No caso de Pascal, evidentemente outros fatores pesaram. Ele fez uma trajetória sólida nas categorias de base alemãs, mesmo sem conquistar o título. Conseguiu ir para o europeu de F3 onde foi vicecampeão. Depois disso, ingressou na equipe Mercedes no DTM, onde em seu terceiro ano, com apenas 21 anos de idade, sagrou-se o mais jovem campeão da categoria. Suas performances lhe renderam a vaga como piloto de testes da Mercedes na Fórmula 1.

 

No ano passado, foi colocado pela Mercedes na Equipe Manor, com o evidente objetivo de dar para ele quilometragem em carros de Fórmula 1 e mesmo estando na equipe mais fraca do grid, Pascal foi capaz de performances em treinos e corridas de colocar o carro à frente de outros concorrentes. Chegou inclusive a conquistar um ponto no GP da Áustria.

 

Na segunda metade da temporada de 2016, Pascal passou a ter como companheiro de equipe o francês Esteban Ocon, que depois de conquistar o europeu de Fórmula 3 em 2014, derrotando entre outros Max Verstappen, foi correr no DTM, mas não vinha fazendo um boa temporada. Contudo, na Manos, começou a rivalizar em resultados com Pascal.

 

Na "foto oficial" da equipe, Pascal estava lá... entre os dois titulares.

 

Como ninguém imaginava que Nico sairia de cena como saiu no final da temporada, quando foi aberta a vaga na Force Índia, equipada com motores Mercedes, se a força de opção para colocar um dos pilotos fosse exercida, na cabeça de Pascal o escolhido seria ele... mas o piloto contratado foi Esteban Ocon. Foi evidente o reflexo disso nas duas performances seguintes ao anúncio (GP Brasil e GP Abu Dhabi), com Pascal chegando atrás do companheiro.

 

Quando a vaga de Nico foi aberta, muitos apostaram que a direção da Mercedes talvez já soubesse de algo e que Esteban tinha sido indicado para a Force Índia em virtude da vaga da Mercedes já estar reservada para Pascal. I:nclusive muitos jornalistas davam como lógica a sua promoção a piloto titular... mas isso não aconteceu. Valtteri Bottas foi contratado e restou a Pascal um cockpit na, agora, mais fraca equipe do grid, a Sauber.

 

A expressão de abatimento no rosto de Pascal era evidente. Ele havia sido preterido em mais de uma escolha. Sabe aquele momento no qual há duas pessoas disputando um determinado prêmio e há uma grande expectativa. Inevitavelmente só um é escolhido e comemora vitorioso, sorrindo. O outro pode até sorrir diante das pessoas, mas dentro de seu coração há sempre uma dor.

 

Diante das possibilidades, Pascal era só sorrisos como piloto da Mercedes. Só faltava "a" oportunidade...

 

Em nossa vida seremos preteridos muitas vezes. E isso pode desencadear em nós muitos sentimentos ruins, sentimentos presentes em nossa natureza decaída. Nem sempre aceitamos bem o fato de outro ser escolhido e nós não. A decepção faz parte da vida e que é algo necessário para o desenvolvimento humano. A decepção pode considerar-se sempre que identificamos um erro entre aquilo que desejamos alcançar ou que acontecesse e aquilo que realmente alcançamos ou que aconteceu.

 

É exatamente essa discrepância que nos permite avançarmos, que nos permite questionarmo-nos, que nos permite olhar a realidade de frente e progredirmos. A decepção é uma forma de frustração, e aprender a lidar com a frustração é uma habilidade necessária para conseguirmos lidar com as nossas emoções de forma funcional. Por outras palavras, experimentar decepções toleráveis ​​quando somos jovens, enquanto os nossos pais estão lá para nos ajudar a lidar com elas, ajuda-nos a construir “músculos” psicológicos, força emocional e habilidades para lidar com esses sentimentos.

 

Tirando leite de pedra: Pascal consegue com a pequena Manor conquistar 1 ponto no GP da Áustria em 2016.

 

Quando você está desapontado, a sua fonte de decepção pode estar enraizada no seu apego excessivo a um determinado resultado. Quando um resultado não se manifesta do jeito que você imaginou, você fica decepcionado. Esta é uma resposta perfeitamente natural. No entanto, entenda que as suas expectativas no resultado, ou objetivos, são um reflexo ou projeção externa de um desejo subjacente que você tem. As expectativas podem ou não ser projeções precisas, porque são interpretações meramente subjetivas do que você pensa que é necessário para viver de acordo com o seu desejo subjacente.

 

Meu grande desafio com Pascal será fazer com que ele consiga lidar com esta decepção e lidar com a decepção não é definitivamente uma tarefa fácil, mas se você trabalhar focado nas etapas mencionadas acima, acabará por ajudar a retirá-lo do estado vazio e confuso que provavelmente se encontra. Ainda que alguns dos seus objetivos do passado possam ter culminado em decepção, isso pertence ao passado. Você agora tem a possibilidade de lidar com as frustrações de uma forma mais funcional e vantajosa para si. Mantenha-se focado nos seus desejos e nos seus sonhos de vida.

 

Sem o sorriso, Pascal vai sair da pequena Manos para a pequena Sauber em 2017... decepção e desânimo.

 

Pode haver momentos em que o sentimento de decepção é tão avassalador que parece o fim do mundo.  A tristeza instala-se, com isso você aciona uma ponte para o seu passado, relembrando-se de mais acontecimentos de tristeza que comprovam a sua decepção. O ciclo de negatividade cresce de forma automática, dado que a tristeza alimenta a tristeza. Os seus níveis de energia diminuem podendo levar à resignação e à letargia.

 

Contudo, o desapontamento – em boa parte das vezes – é o impulso necessário para a ação, fornecendo motivação para crescer e ir ao encontro dos nossos objetivos. Por mais que eu trabalhe isso com Pascal, será preciso uma resposta positiva de sua parte para termos sucesso juntos.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares