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Lance Stroll: Não é uma questão de dinheiro PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 13 March 2017 20:09

Olá fãs do automobilismo,

 

Acredito que muitos dos meus queridos leitores tenham algum amigo médico e assim, já ouviram falar de plantões. Plantão é aquele compromisso que um médico assume de ficar durante um determinado período – os mais conhecidos são os noturnos – onde eles passam a noite inteira no hospital, de prontidão para atender os pacientes que lá chegarem.

 

Terapeutas também tem seus plantões. Não na forma de um médico, de ficar em algum lugar, mas de ter o seu telefone ligado 24 horas por dia e estar sempre à disposição de seus pacientes e com pacientes morando em diferentes cidades e países, lidar com o fuso horário é um dos motivos do telefone poder tocar em horas nada convencionais, além dos sábados e domingos.

 

Foi o que aconteceu na sexta-feira, depois do carnaval, enquanto eu estava fora de San Diego. Meu telefone tocou pouco depois das cinco horas da manhã e com um número que eu não reconheci... especialmente por não dormir de óculos! Já que havia acordado, atendi assim mesmo e do outro lado – da linha e do Oceano Atlântico – a pessoa se identificou como Lawrence Stroll.

 

Sonolenta, não identifiquei o nome e pedi para ele repetir. Ele repetiu e pediu desculpas, talvez achando que a brasileira morasse em Miami. Acordada, associei o sobrenome ao piloto da Williams e o Sr. Stroll disse ser o pai do piloto e queria saber se eu poderia receber seu filho após a segunda semana de testes em Barcelona.

 

Eu precisava checar minha agenda e, enquanto Lance – o filho – voltava para pista tentando não bater na segunda semana de testes. Estornei a ligação na terça-feira e agendamos a vinda de Lance ao meu consultório em San Diego para a segunda-feira, dia 13. Contudo, não pude deixar de perguntar se a procura pelos meus serviços tinha partido dele – o filho – ou se era uma iniciativa do pai, buscando “resolver” o que ele julga ser um problema do seu filho. Ele disse que ele e o filho são uma equipe!

 

Lawrence Stroll desde quando seu filho era criança para que ele chegasse onde chegou. Foi um grande investimento.

 

Passei a semana pensando se Lance precisaria mesmo de acompanhamento psicológico ou se aquilo era mais uma ansiedade do pai, procurando propiciar tudo o que pode para o filho. O diagnóstico deste tipo de caso exige habilidade bastante particular por parte do profissional e o tratamento requer paciência. É bem diferente de identificar um sintoma, levar ao médico, fazer o exame no laboratório, tomar o remédio e aguardar a cura. O tempo do tratamento varia conforme o caso e o método.

 

Lance chegou pouco antes das 9 horas da manhã, hora de sua consulta e, para minha surpresa e felicidade, sem o pai! Aquilo foi um ponto – inicialmente – positivo, com a possibilidade dele ter vindo por indicação de algum dos outros pilotos que já são meus pacientes. Contudo, achei que Lance estava um pouco na defensiva, talvez por ter sido um pedido do pai que o bom filho não quis contrariar.

 

Desde seus tempos de kart, Lance mostrou  ter a mesma paixão e sonho que todos os meninos tem: a Fórmula 1.

 

Procurei deixá-lo bem à vontade e ele, como qualquer adolescente, “deu uma geral” no meu consultório. Viu os presentes que ganhei de alguns de méis pacientes e perguntou porque eu gostava tanto de automobilismo. Daí falei do meu pai, que foi piloto de velocidade na terra.

 

Aproveitei a pergunta para puxar o assunto sobre como ele passou a gostar tanto de automobilismo. Ele confessou que a paixão também vinha pelo pai, que tem uma coleção de Ferraris e que sempre gostou de corridas. Foi pelas mãos do pai que ele começou no kart e logo se destacou. A relação com a Ferrari que o pai tinha e sua performance nas pistas o levou para a academia de pilotos da equipe italiana.

 

Correndo pela Prema, Lance foi o 5º colocado em 2015 e sagrouse campeão em 2016 na Fórmula 3 europeia.

 

Lance fez uma carreira avassaladora. Dominou o kart em seu país, destacou-se em mundiais, foi campeão da Fórmula 4 na Itália em 2014, venceu o Toyota Racing Series em 2015 e terminou o europeu de Fórmula 3 em 5º lugar, campeonato que conquistou em 2016. Além de um talento natural, que chamou a atenção dos “olheiros” da Ferrari, não se pode negar que o “combustível financeiro” fornecido por seu pai, ajudou – e muito – na sua carreira.

 

Inicialmente, os planos da família Stroll passavam por integrar Lance na Prema GP2 - equipa de que Lawrence é proprietário -, permitindo a Lance dar mais um passo competitivo antes de chegar à Fórmula 1. Porém, a janela de oportunidade na Williams pode antecipar o salto. Contudo, ele pensa que os dois anos de Fórmula 3 e as atuais características do carro são preparação suficiente para ele estar aonde está e citou Max Verstappen. “Se ele pode e se saiu bem, eu também posso”!

 

Levado no ano passado para ser o piloto de testes da equipe, Lance Stroll foi o escolhido como titular em 2017.

 

Apesar dos profissionais que acompanham a Fórmula 1 de perto afirmarem que ‘Lance não é um Max’, meu paciente não se mostrou muito interessado sobre o que as pessoas pensam e falam. Ele está focado em seu trabalho e no tanto que treinou no carro comprado por seu pai e nas dezenas de horas no simulador da equipe, mas confessa que na pista, além de mais divertido, “é diferente”.

 

Durante o intervalo entre a primeira e a segunda semana de testes em Barcelona, Lance foi muito cobrado pelos acidentes sofridos e por foi apontado como o responsável pelo encurtamento do período de testes. A cobrança foi grande, mas ninguém se cobrou mais do que ele mesmo. Apesar dos 18 anos, Lance mostrou ter muita consciência do que tem que fazer e do quanto será cobrado e julgado.

 

Na primeira semana de treinos, Lance sofreu dois acidentes e não faltaram críticos ao seu desempenho.

 

Na segunda semana, todo o trabalho correu bem, sem acidentes e agora Lance tem muito mais trabalho de simulador pela frente, para conhecer o melhor possível o circuito de Albert Park na Austrália. Um outro desafio vai ser que, desta vez, ele vai largar com um carro novo, com um sistema complicado de largada e provavelmente no meio do pelotão... mas para quem vem do que são as disputas da Fórmula 3, este será o menor dos problemas. O grande desafio de Lance é mostrar que ele não é um fruto do tanto de dinheiro investido por seu pais, mas que ele tem talento e luz própria para brilhar na Fórmula 1.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares