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O Prefeito das fantasias PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 13 April 2017 10:05

O “Bom Velhinho” vai comprar Interlagos! Se a notícia tivesse sido publicada no sábado, 1º de abril, teria feito mais sentido do que foi aquela cena toda, vastamente divulgada, fotografada e comentado onde o prefeito João ‘Ralph Lauren’ Doria (ele deve ser primo por alguma via indireta do Johnatan Palmer e de seu filho engomadinho e braço duro, Jolyon) recebeu o deposto rei da F1 para anunciar em mais um show pirotécnico referente à venda do Autódromo Internacional de Interlagos (o anterior foi aquele de Abu Dhabi).

 

O sem noção da prefeitura paulistana diz que o “modelo a ser seguido” é o mesmo que o de Abu Dhabi, um dos autódromos mais modernos do mundo, que abre 365 dias por ano. Ou ele se faz de louco ou chama todos nós de burros. O autódromo de Abu Dhabi é um empreendimento estatal (sim, é da família real daquele emirado), que custou mais de meio bilhão de dólares e que se der lucro ou não der, os donos não estão muito preocupados.

 

É claro que eles não fizeram aquilo tudo para dar prejuízo, mas a quem ele quer enganar dizendo que o autódromo funciona 365 dias por ano? Se formos ver o “conceito de funcionamento”, é uma meia verdade. O site mostra que se você for lá e pagar pra andar no circuito, tem carro para alugar, de diversos tipos e potências. Tem também track days de motos, de jipe, de patinete, do que tiver rodas. Mas é esse o conceito de “ter um autódromo funcionando 365 dias por ano”? Vai ver que ele quer fazer como lá em Abu Dhabi, só que no caso de Interlagos, os track days serão para seus amigos q tem carrões como aqueles lá do circuito do deserto.

 

Em mais uma das suas aparições cenográficas, João Doria colocou Bernie Ecclestone numa roubada.

 

De acordo com o ilustríssimo prefeito, que assumiu em 1º de janeiro de 2017, a privatização do autódromo é só uma parte do seu projeto de “vender a cidade”. Tem também a venda do Parque Anhembi, agora o segundo maior espaço de feiras e exposições na cidade, atrás do São Paulo Expo. É estimado que as duas vendas gerem para os cofres da prefeitura 4 bilhões de reais em recursos... e é aí que eu vou mais fundo.

 

Sou corretor de imóveis e tenho meus contatos na capital paulista. Se fizerem a venda pelo valor do metro quadrado para a região de Interlagos, considerando apenas a metragem, como se fosse um terreno sem estruturas construídas, o valor da área chegaria perto de 1,8 bilhão de reais. Ou seja, o investidor vai colocar essa fortuna numa área que ele – até agora é o que está dito – terá que manter como autódromo e assim recuperar seu investimento fazendo track days, corrida de Fusca, Gol ‘Bolinha’ e Lada, encontros de carros antigos, além dos cursos das escolas próximas.

 

Vai ter, claro, uma meia dúzia de corridas que o aluguel do espaço seja maior, corridas que os promotores paguem caro pra fazer, mas vai ter também o dinheiro que precisa ser investido para manter o grau FIA 1 e atender as exigências do organizador do GP Brasil para que este continue acontecendo lá. Além disso, todos os anos vai ter que pagar todos os impostos municipais. Já imaginaram o tamanho do IPTU?

 

Uma área de 1 milhão de metros quadrados, Interlagos é há muito ambicionado no mercado imobiliário.

 

Caso alguém compre o Autódromo Internacional de Interlagos, vai estar comprando 77 anos de história. Junto com esta história, uma montanha de trabalho para cuidar de tudo que ali dentro existe. Atualizações recentes para o complexo de boxes e paddock permanecem inacabadas, enquanto planos para atualizar as instalações e tribunas estão agora paradas. Se e quando a obra vai ser retomada é uma pergunta sem resposta. O governo federal repassou 160 milhões de reais para esta oba, mas como tudo em termos públicos é caro, lento e mal acabado, a obra que deveria estar pronta desde o ano passado ainda está pela metade.

 

Em entrevista ao globoesporte.com no ano passado, o então “chefão” da F1 disse que poderia participar da privatização, dependendo de por quanto a prefeitura queira vender. O ‘Bom Velhinho’ não é homem de “rasgar dinheiro” e certamente vai pechinchar tudo o que puder, se ele realmente foi embarcar nessa canoa furada. Em novembro do ano passado, quando mandava mais que urubu no céu de Manaus, ele dizia que caso o autódromo fosse vendido para outra pessoa, poderia ser o caos, sendo mais difícil manter a corrida aqui. Só que agora ele não manda mais e será que ele vai mesmo querer comprar?

 

Na ânsia mercadológica do Sr. Prefeito, a privatização do autódromo é a garantia da continuidade da Fórmula 1. Ele diz entender que a categoria é importante, mas com dinheiro privado, não com dinheiro público. Mas o que o Sr. Prefeito parece desconhecer é que o GP Brasil de Fórmula 1 já é realizado pela iniciativa privada – os promotores da corrida – usando num espaço público.

 

No ano passado, Bernie Ecclestone foi até Brasília "explicar" ao presidente porque os governos devem bancar a F1.

 

A prefeitura aluga o autódromo, através de seu órgão, a SPTuris. Recebe por isso (e não é pouco dinheiro. A tabela, inclusive, subiu mais de 200% com a sua posse), e os promotores gastam uma pequena fortuna para montar arquibancadas provisórias e viabilizar a prova, uma vez que faltam arquibancadas fixas para viabilizar o investimento. Apesar disso tudo, a justificativa de que a corrida traz muito dinheiro para a cidade deveria ser levada em conta. Mesmo porque o promotor, Tamas Rohonyi, tem chorado mais que o Fernando Alonso, dizendo que a corrida tem dado prejuízo de milhões nos últimos anos.

 

Dentre os delírios do Sr. Prefeito estaria propor ao grupo Liberty Media a compra do circuito... só falta ele propor que o Chase ‘Bigodão’ Carey seja Sócio do ‘Bom Velhinho’! Ele deve estar bebendo algum champagne paraguaio, só pode ser, pra pensar tanta bobagem (a censura não permitiu a manutenção do texto original). E pra completar, ele quer fazer um museu com o nome do Ayrton Senna... vão ter que pagar direitos de “name rights” para o instituto presidido pela irmã!

 

É bom lembrar que o ‘Bom Velhinho’ é o dono do circuito de Paul Ricard, na França. Um autódromo que tem uso o ano inteiro por ser numa região que raramente neva e pode ser utilizado por montadoras para testes de veículos, treinos privados de equipes de diversas categorias europeias, onde há diversidade no automobilismo. Contudo, há 11 anos não tem GP da França de F1. Ele até pode comprar Interlagos, desde que seja por um valor ridículo, com um monte de isenções fiscais e de forma onde ele vá poder ganhar muito dinheiro.

 

Nos últimos anos, Tamas Rohonyi, promotor e parceiro de Bernie Ecclestone, vem dizendo que o GP Brasil dá prejuízo.

 

Se formos ver a situação dos autódromos privados que recebem a Fórmula 1, Nurburgring está atolado em dívidas e desistiu da categoria desde 2015. O Circuit Of The Americas, em Austin, nos Estados Unidos, tem passado por restrições financeiras desde 2016, quando a prefeitura local cortou em 20% o “suporte financeiro” que vinha dando nos anos anteriores. Até mesmo o caso do autódromo de Hockenheim, que é uma parceria público privada, tem sofrido com reclamações dos moradores que não querem mais que o administrador da cidade invista dinheiro público para a realização da corrida, o que coloca em risco a etapa alemã de 2018.

 

Em todas as demais corridas da temporada, a visão pública e o reconhecimento de que o retorno em aquecimento da economia local, na arrecadação de impostos e na exposição pela TV, jornais e internet da cidade que recebe o grande prêmio de Fórmula 1 é suficientemente compensador para cobrir o investimento feito anualmente. Estranheza ou teimosia o empreendedor prefeito não ver isso?

 

O contrato da F1 com São Paulo e o autódromo de Interlagos vai até 2020. Até lá, sem venda, estaria garantido.

 

Em todo caso, o contrato com a Fórmula 1 vai até 2020 e o mandato do prefeito acaba neste ano. Como não teremos mais reeleições, para 2021 pode ser que Interlagos consiga se salvar de mais esta ameaça e das fanfarronices delirantes deste prefeito que gosta de estorinhas como os contos da D. Carochinha.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva


Last Updated ( Friday, 14 April 2017 21:08 )