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Diário de Indianápolis, Domingo 28/05 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 28 May 2017 12:45

Olá fãs do automobilismo,

 

Como disse ontem, o domingo começou cedo. Despertador tocando às três da madrugada e saímos do hotel pouco depois das quatro (mulher demora pra se arrumar, né?). Mesmo saindo com tudo escuro, havia trânsito e demoramos quase uma hora para chegar no portão de acesso do estacionamento onde nosso carro estava autorizado para parar. A credencial de imprensa nos deu acesso para por um carro.

 

Nós – literalmente – abrimos o Media Centre. Encontramos como o Arni e o Joey e mostramos o nosso “Diário” para eles, traduzindo, claro, o que escrevemos. Eles adoraram e já cobraram uma nova edição do Diário para o ano que vem (Chefinho Fernando, pode providenciar o ofício que nós somos um sucesso!).

 

Enquanto começaram a chegar colegas jornalistas no Média Centre, o assunto que tomou conta da sala foi a possibilidade de chuva durante a corrida. O sol saiu entre muitas nuvens pela manhã, mas a possibilidade de termos chuva depois da largada estava alta em todos os canais de previsão de tempo por aqui e será uma pena se chover e estragar a corrida que está cercada de tanta expectativa. IMS está lotado, as arquibancada estarão cheias. O Camping não cabe mais ninguém.

 

O dia está sendo de festa por aqui. Diversos eventos de pista acontecendo e precisávamos nos dividir. Enquanto Maria foi cuidar de circular nas garagens e ir sentindo o clima antes da prova, eu fui conversar com os meus pacientes com quem não conversei ontem. Como os pilotos tem ainda compromissos antes de seguir para os carros e para o grid, que é montado no pit lane.

 

Os telões do IMS mostraram a conversa de Fernando Alonso com Jenson Button antes da largada do GP de Mônaco.

 

Fernando foi um dos primeiros a chegar e logo fez um telefonema bem especial: numa ação dos envolvidos de mídia de Indianápolis e da F1, ele falou com Jenson Button, minutos antes da largada, com o inglês no carro. Esta cena foi transmitida nos telões aqui do IMS para que todos vissem. Acredito que poucos entenderam o que estava acontecendo, mas depois o locutor do autódromo informou o que tinha sido aquilo.

 

Fui para uma sala reservada com o Fernando e conversamos um pouco. Ele estava extremamente tranquilo, muito confiante com relação ao que pode fazer durante a corrida e muito feliz por estar fazendo todo aquele período nos EUA. Antes mesmo que eu perguntasse, ele adiantou-se e falou ter ficado muito feliz com o que Stofel e Jenson fizeram na classificação, que o 7º tempo do seu companheiro de equipe mostrou que o carro vinha evoluindo, apesar das deficiências do motor, mas disse que seria difícil conseguir uma posição melhor que esta.

 

Logo em seguida conversei com o Marco. Mais uma vez vi nele uma autocobrança muito grande. Ele tem consciência que está com um bom carro e que pode fazer uma boa corrida e lutar pela vitória. Mas o fato do seu pai nunca ter ganho as 500 Milhas e de seu avô ter ganho apenas uma vez, praticamente a 50 anos atrás, está sempre se colocando como uma sombra, ainda mais este ano, meio século depois da vitória do avô.

 

Foto da arquibancada às 11 horas da manhã, hora local. o IMS está completamente tomado. Mais de 300 mil espectadores.

 

Por fim, fui até a garagem da Ganassi, conversar com Tony. Ele estava “sendo Tony”. Bem humorado, relaxado e só quando nos fechamos na dala ele deu uma respirada pra falar sério. Tony estava muito confiante. Disse que dormiu muito bem nesta noite e nas anteriores e que acordou com uma sensação boa. Também falou que estava preocupado com a previsão de chuva para o terço final da corrida e que isso pode mudar a estratégia para a corrida.

 

Enquanto isso, Maria encontrava Emerson Fittipaldi circulando entre os Vips presentes e que iria desfilar na “Parada dos Vencedores”, uma das inúmeras paradas que acontecerão na manhã deste domingo. Ele disse que estava torcendo, claro, por uma vitória brasileira, mas confessou que “seria fantástico ver uma vitória do Alonso. Isso aproximaria a F1 dos EUA”.

 

Maria voltou para o Media Centre e conversou com o experiente jornalista Paul Page, que 52 anos atrás entrevistou o “desconhecido” Jim Clark, em 1965 quando era um iniciante e trabalhava para a rede ABC. E, naquele ano, o escocês tímido e reservado vencia pela primeira vez com um carro com motor traseiro, uma revolução trazida alguns anos antes por outro piloto de F1, Jack Brabham, em 1961 e que foi ridicularizado pelos americanos, mas que depois do resultado em corrida, eles viram que o motor traseiro era o futuro.

 

Em 1965, Jim Clark chegou para vencer as 500 Milhas de Indianápolis com Colin Chapman e a equipe Lotus.

 

Ele lembrou que Brabham não foi o primeiro piloto da F1 que veio correr em Indianápolis. Em 1952, Alberto Ascari, que vencerua o campeonato naquele ano, veio com uma Ferrari de fábrica para disputar as 500 Milhas, mas não teve uma boa performance, terminado com a 31ª colocação. Mesmo sendo “parte do campeonato mundial da F1”, as 500 Milhas nunca foram realmente parte. Apenas nos anos 60 que alguns vieram e tivemos as vitórias de Jim Clark em 1965 e Graham Hill em 1966.

 

Depois, bem depois, Emerson Fittipaldi e Nigel Mansell vieram da F1 para a Indy, contudo, esta presença de Fernando Alonso está sendo emocionante e estimulante para todos nós aqui em Indianápolis e, quem sabe, pode vir a criar uma proximidade maior entre as categorias para o futuro, com mais pilotos europeus em atividade participando da corrida aqui.

 

Reencontrei a Maria no Média Centre e fomos para a pista, onde os carros ainda estão parados. As arquibancadas estão completamente tomadas! Vamos publicar esta primeira parte do dia de hoje e terminaremos o nosso dia depois da corrida. A boa notícia é que a possibilidade de chuva está diminuindo a cada hora. Temos sol entre nuvens e estas não são cinza. Ela não tinha e não tem o direito de estragar esta festa da velocidade.

 

Até daqui há pouco!

 

Beijos e muito axé de Indianápolis,

 

Catarina Soares e Maria da Graça

 

Fôlego recuperado. Pulsação normalizada. Meu Deus, que corrida! Depois de todos o cerimonial que antecede a corrida, decidimos nos dividir novamente. Eu iria para o Media Centre e tribunas, circular onde notícias pudessem surgir enquanto a Maria, que é maior e mais forte, ficaria circulando atrás do pit wall, entre as equipes, acompanhando as conversas e a estratégia das equipes. Pouco antes da largada fomos surpreendidas quando nos foi oferecido um rádio para acompanhar as conversas entre chefes de equipe e carros. Que responsabilidade! A Maria ficou com ele e nos falamos pelos celulares.

 

Fui até o camarote onde estava o Sebastién Bourdais. Ele estava bem, disse estar tranquilo, mas um pouco chateado em não poder estar no grid. A corrida já tinha começado e eu não queria tirar sua atenção, mas ele, muito gentil, puxou conversa e disse esperava ver uma grande corrida, que estava impressionado com o desempenho do Fernando Alonso, mas disse que a corrida era longa. Saí de lá antes do acidente do Scott Dixon.

 

Confesso que eu quase morri... duas vezes! Com as imagens do acidente e com o grito que a Maria deu pelo Messenger. Ver o Scott sair ileso, andando, sem um arranhão depois daquele voo posso dizer que agora acredito mais ainda em milagres. Tudo podia dar errado. Ele “aterrissou” em cima do soft wall, de lado, diminuindo o impacto e não sendo com o carro de rodas para o alto, o que poderia lesionar sua cabeça e coluna.

 

O apavorante acidente de Scott Dixon acabou com um final feliz, dentro do possivel: fora da prova mas vivos e inteiros.

 

Como é procedimento nas corridas da Indy, mesmo saindo bem e andando, Scott Dixon e o piloto que recebeu a violenta batida por trás – Jay Howard – seguiram para o hospital de emergências para os pilotos perto das garagens para um check up. Felizmente nada de grave foi constatado e os dois foram liberados. Não conseguimos falar com o Scott após o acidente, mas recebemos o “ok” do Arni que estava em contato com a equipe.

 

Revendo com calma o acidente durante a paralisação da corrida, vi que Helio Castroneves teve muita sorte. Ele precisou desviar e até passar numa parte de grama com o carro de Scott Dixon voando sobre sua cabeça. O salto que o carro deu acabou soltando um apêndice aerodinâmico do carro, que aparentemente pode ser compensado, pelo menos foi o que um dos ‘segundos’ da equipe Penske disse para a Maria.

 

Não vou comentar a corrida. Esta noite o nosso colega, Alexandre Bianchini, vai fazer sua coluna e certamente falará sobre a corrida com muito mais competência do que eu. Contudo, alguns momentos eu não posso deixar de dividir com nossos leitores. Especialmente no final da corrida quando eu estava de pé no Media Centre e a Maria estava estática ao lado da cadeira de Roger Penske, que orientava Helinho.

 

Depois, na área das garagens, Scott Dixon contou para o reporter da ESPN "o que foi aquilo", que assustou a todos.

 

Juro que eu sonhava – a Maria também disse que queria muito ver o Helio escalar a grade diante daquela multidão – e gritamos juntas quando na última relargada ele conseguiu tomar a ponta faltando 5 voltas (acho) para o final. Mas os carros da equipe Andretti estavam bons demais e Takuma Sato retomou a ponta e seguiu para a vitória. Ele andou bem a corrida inteira, mereceu vencer.

 

Mas a hora que meu peito apertou foi quando quebrou o motor do carro do Fernando. Foram duas quebras anteriores à dele e eu só pedia: “o dele, não”... mas infelizmente, numa ironia do destino, a chance de um resultado histórico neste domingo acabou em fumaça. Confesso que chorei. Avisei a Maria pelo telefone. Ela estava no nível da pista e demorou para perceber o que estava acontecendo. “Vive, mainha! É o quê?” “Ai meu pai!” Eu no Media Centre e ela na pista, de olho no telão.

 

Fernando simplesmente “mitou”. Recusou a carona e voltou a pé para os pits. Foi ovacionado pela multidão ali presente que viu nele um potencial vencedor da corrida, mas também viu um Fernando agradecido com toda a hospitalidade que recebeu. Evidentemente, ele estava desapontado e a Maria fez uma foto “no susto”. Ali não era hora para falar. Depois ele falaria comigo.

 

Ainda lá no Victory Lane ele falou rapidamente com a Maria e disse que realizou um sonho ao vencer as 500 Milhas e que isso levaria o automobilismo japonês a outro nível, que sua vitória foi vista pelo mundo inteiro e que “a ficha ainda não tinha caído totalmente”. Ele repetia e repetia que com três voltas para o fim, não sabia como, mas sabia que tinha que acelerar tudo... e acelerou.

 

Takuma Sato, depois de 200 voltas, cruzou o brickyard e foi beber o leite dos vencedores na Victory Lane.

 

Com calma, na sala de conferência do Media Centre, seco, mas ainda “cheirando a leite”, Takuma resaltou novamente que além de ser a vitória de um piloto japonês, tinha sido a vitória de um piloto japonês com um carro equipado por um motor japonês. Algo que a Honda começou a perseguir desde os anos 80 na F1, quando Satoru Nakajima foi ser companheiro de equipe de Ayrton Senna na Lotus e que ali em Indianápolis, 30 anos depois aquele desejo se concretizou. Foi de arrepiar ouvir isso!

 

Conversamos também com Helio Castroneves, que apesar da frustração pelo segundo lugar e ver escapar tão de perto a quarta vitória nas 500 Milhas, tinha também o “lado bom”, que foi sair do IMS como líder do campeonato, mesmo sem vencer nenhuma das etapas deste ano.

 

Helio lamentou a perda de rendimento na parte final da corrida e disse que a perda da peça foi compensada, mas que “faltou algo a mais. Disse que tentou nas duas últimas voltas por foram as que o grau de desgaste dos pneus estava deixando o carro instável e que por ali não iria dar certo, que o carro já estava começando a sair de frente. A chance seria tentar um mergulho por dentro, mas não conseguiu chegar perto para isso.

 

Helio Castroneves tentou... tentou tudo o que podia, mas não conseguiu, desta vez, a sonhada quarta vitória.

 

Ele confessou que até dar uma “secadinha” ele deu. Afinal, com três quebras de motores Honda, porque não um quarto? Ele lembrou do susto que tomou com o acidente do Scott Dixon, que voou por cima do seu carro e espatifou-se no muro e na pista. Ficou aliviado em saber que ele escapou ileso e que aquilo tinha sido um sinal de sorte, que aquele era o dia... não foi. Não do jeito que Helinho queria!

 

 

Logicamente Fernando Alonso seria chamado para uma última entrevista. Ele não decepcionou. Andou sempre entre os dez primeiros, levantou o público em cada uma das vezes que tomou a ponta, fez ultrapassagens por fora (poucas, verdade, mas fez). Apesar da tristeza pelo resultado final, Fernando disse estar feliz pelos momentos vividos nestas duas semanas em Indianápolis.

 

Fernando Alonso agradeceu a todos pelas duas semanas em Indianápolis e por tudo que viveu naqueles dias.

 

Ele falou sobre o momento da quebra do motor e disse que, mesmo que não vencesse, achava que merecia terminar a corrida. Disse que foi um dia histórico para o automobilismo, com as corridas de Mônaco pela manhã (horário local) e a tarde em Indianápolis foi um domingo histórico para o automobilismo mundial e que ele estava muito feliz em ter sido personagem deste dia e que espera que outros domingos com Mônaco e Indianápolis possam ser assim no futuro.

 

Sobre futuro, Fernando disse que foi importante ter ido a ali e conseguido ser competitivo. Que o futuro é uma incógnita, mas que será um prazer voltar a Indianápolis e correr atrás de uma vitória nas 500 Milhas, de continuar lutando para conquistar mais um título mundial de F!, ajudar a McLaren a melhorar e pensar na minha carreira como piloto. Um piloto quer sempre vencer, mas que aquela experiência ficará para sempre. que ele será um homem melhor e um piloto melhor.

 

A certa altura, Zak Brown, dirigente da McLaren e que fez parte de todo este projeto promocional e esportivo de trazer Fernando para o EUA reiterou a ideia de que a McLaren pode vir a ter num futuro próximo – em talvez quatro ou cinco anos – uma equipe na Indycar Series. Ele agradeceu também o tratamento dispensado por todos ao Fernando e a ele e “deixou a porta aberta” para 2018. E se as corridas não coincidirem...

 

Zak Brown se juntou a Fernando Alonso na coletiva e disse que a McLaren pode ir para a F. Indy no futuro.

 

Antes de levantar, Fernando “mitou” mais uma vez ao dizer que sabia que todos ali estavam esperando vê-lo beber leite na Victory Lane, mas como aquilo não foi possível, ele os brindaria com leite ali na sala de conferências. Arrancou aplausos e risos de todos. Dei-lhe um abraço na saída e ele olhou para mim com aquela “cara de sempre” e falou: “terça-feira da semana que vem, mesmo horário, antes de eu ir para o Canadá”!

 

Nos despedimos de todos, e entre amigos, marcamos nosso próximo compromisso: Quinta-feira, 23 de maio de 2018, 102ª edição das 500 Milhas de Indianápolis.

 

Beijos do aeroporto porque é hora de ir pra casa,


Catarina Soares e Maria da Graça

 


Last Updated ( Saturday, 15 July 2017 15:08 )