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Lance Stroll: com o mundo sobre os ombros PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 03 June 2017 01:37

Olá fãs do automobilismo,

 

Ainda estou um pouco anestesiada pela repercussão da cobertura que fiz junto com a Maria nas 500 Milhas de Indianápolis. Meu twitter não parou até agora. De elogios, sugestões e até convites para jantar, convites “se convidando” para jantar onde jantamos e com quem jantamos, teve de tudo... até pedido de casamento! Só que eu já sou casada e muito bem casada... e a Maria também!

 

Cada momento vivido naqueles quatro dias ficarão gravados na minha mente para sempre. A convivência com a Maria foi maravilhosa. Ganhei uma amiga divertidíssima, culta, inteligente, um ser humano maravilhoso, mas que me deixou morrendo de inveja porque na semana seguinte ela já estava de volta nos bastidores da Fórmula Indy com a rodada dupla de Detroit, “do outro lado do túnel” (tem um túnel que liga Detroit com a cidade de Windsor no Canada, onde ela mora).

 

Entrando no clima canadense, onde teremos o primeiro dos 3 GPs de Fórmula 1 do continente e depois de retomar a rotina do meu consultório entre os pacientes que estão requerendo mais da minha concentração Lance Stroll tem requerido mais cuidados. Corrida após corrida a pressão sobre o jovem canadense vem aumentando e não tem sido fácil... em qualquer sentido.

 

Quando o pais dele me procurou, em fevereiro deste ano, disse que não costumava trabalhar com um público tão jovem, mas como ele era piloto, de uma categoria top e o pai veio pedir ajuda para fazer um trabalho de fortalecimento psicológico no atleta e profissional, decidi encarar como um desafio profissional para mim. Deixar a minha “zona de conforto”.

 

Quando foi apresentado como novo piloto da equipe Williams, o plano ainda era ter Valttery Bottas como 1º piloto.

 

Quando de busca um trabalho de fortalecimento psicológico, o paciente precisa estar aberto à abordagens nem sempre confortáveis e por vezes as reações de Lance não são as mais “adequadas”. Uma parte pode ser creditada ao ímpeto adolescente que um jovem de 18 anos ainda tem, mas ao estar onde ele está, certos comportamentos não são os comportamentos esperados por quem com ele trabalha e Lance tem um comportamento bastante arisco em alguns momentos.

 

Ele tem consciência de que chegou à F1 contestado e, apesar de ter sido o último campeão da F3 Europeia, trouxe a nada amigável imagem de piloto pagante por ser bancado pelo dinheiro quase infinito do pai, o bilionário empresário do mundo da moda, Lawrence Stroll. Em “condições normais”, por tudo que demonstrou nas categorias de acesso, daqui há alguns anos ele teria condições de chegar à Fórmula 1 por méritos técnicos.

 

Lance foi um piloto de destaque em todas as categorias de base e foi o melhor da sua turma na Ferrari Academy.

 

Contudo, há anos que a capacidade técnica de um piloto não tem sido o primeiro critério para a ascensão para a categoria top mundial, raras exceções ou conveniências. Via de regra, é o suporte financeiro que entra junto com o piloto e, neste caso, quando os resultados ficam abaixo do esperado, o tom das críticas e as cobranças crescem. A pressão aumenta e é preciso saber lidar com ela.

 

Lance tem um traço característico que costuma ser muito marcante na maioria dos adolescentes: a “terceirização da culpa”. Pilotos, independente da idade, são, por sua própria natureza, muito competitivos, portanto eles são os melhores e os piores em bater a si mesmos se não estão rendendo como deveriam. Isso cria sua própria pressão sobre ele, além de toda a pressão que vem de fora.

 

Ao longo destas primeiras provas da temporada Lance tem se envolvido em acidentes e abandonado corridas.

 

A questão das críticas tem sido, por vezes, levada em uma direção perigosa e este tem sido um problema adicional: Um piloto que vence na F4, na F-Renault, na F3 não faz isso por “coincidência. Isso exige muito esforço e trabalho, mas se você tem mais dinheiro, consegue ter um equipamento melhor, mais sobressalentes e isso, aliado ao talento faz diferença.

 

Acontece que, quando as coisas não correm tão bem quanto se espera, não é o caso de se sair “atirando em todas as direções” e Lance tem feito isso, afirmando que aqueles que não estão na F1 estão tentando encontrar desculpas para não estarem na F1. Mas será que é uma questão de inveja ou Lance precisa reencontrar o piloto que dominou com sobras o campeonato europeu de F3 no ano passado?

 

A equipe tem procurado dar o máximo de suporte para Lance conseguir melhorar sua performance em treinos e corridas.

 

Até esta consulta, que aconteceu na sexta-feira, 2 de junho, um final de semana anterior ao GP do Canadá, a Equipe Williams tinha apenas 20 pontos no campeonato mundial de construtores e todos estes conquistados por Felipe Massa. O “custo” disso pode ser maior do que o dinheiro que Lance trouxe com ele para a equipe. O plano era terminar o campeonato de construtores, pelo menos, na quarta posição, hoje ocupada pela regular e eficiente Force Índia. Contudo, a Williams já foi superada no GP da Espanha pela Toro Rosso e eles abriram vantagem após o GP de Mônaco. Agora a Williams tem Haas e Renault no seu encalço. Caso ao final do ano a equipe inglesa terminar o campeonato em sexto lugar ao invés do quarto, já seria um “prejuízo” para equipe pela aposta.

 

Trabalhar o psicológico de Lance não pode ser um trabalho apenas meu e por isso tenho mantido contato desde os testes pré-temporada com o engenheiro chefe da equipe, Paddy Lowe. Ele sabe da importância do ‘coaching’ nestes casos e confessou ter prazer em ajudar um jovem numa posição desafiadora a que Lance está e Paddy está tentando ajudá-lo com isso. Algo que é importante é que ele consiga viver o momento, aprender e tentar não fazer uma autocobrança exagerada.

 

Felipe Massa, que retornou a equipe com a saída de Bottas, pode ser fundamental para o amadurecimento de Stroll.

 

Felipe Massa também precisa ser uma referência para Lance neste ano. Apesar de, antes do GP barenita, ter dito que o experiente companheiro não era seu “professor” na equipe, antes da ida para a Rússia, ele mudou o discurso e admitiu que ter Felipe como referência para seu desenvolvimento como piloto. Isso é importante que não seja “da boca para fora”.

 

É preciso focar corrida por corrida e focar no que pode ser feito. O resto é meio que fora de seu controle, como o acidente no Bahrain quando foi atingido pelo carro da Toro Rosso. Muito se falou que era preciso deixá-lo correr e depois avaliar algo, sem prejulgamentos. Contudo, foram seis GPs e a cobrança é inevitável, especialmente depois que Max Verstappen saiu da F3 e conquistou de forma indiscutível um espaço na categoria. Isso sempre estará na cabeça de Lance e de qualquer piloto que vier para a Fórmula 1 depois de 2014.

 

Com o peso do mundo sobre os ombros, Lance Stroll precisa reencontrar o piloto vencedor que existe em si.

 

Quando vocês estiverem lendo esta coluna, já terá ocorrido o GP do Canadá. Certamente todos os olhos do país estarão sobre Lance. Ele é um talento que não pode ser perdido.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

p.s. Eu estava naquela "siesta" de domingo a tarde quando o telefone tocou. Era o Lance, agradecendo pela conversa que tivemos antes dele disputar seu GP em casa, que esteve todo o final de semana muito tranquilo e que eu ter conversado com ele na noite do sábado foi fundamental. Foi um domingo feliz para mim também!

Last Updated ( Monday, 12 June 2017 23:49 )