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GP da Itália de Fórmula 1 - 1972 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 03 September 2009 01:32

 

Na saída da veloz e desafiante curva Parabólica, última do mítico traçado de 5.775 metros de Monza, antes da reta de chegada. Dia 10 de setembro de 1972. Dentro do cockpit da Lotus negra 72D número 6, um jovem piloto de apenas 25 anos acelera fundo e dá uma “balançada” para completar a 55º volta e vencer o GP da Itália. Do lado de cá do Oceano Atlântico, milhões de brasileiros, acostumados  por ele a acompanhar seus feitos nas pistas européias pelas transmissões das corridas de Fórmula 1 no rádio e na TV, seguram a respiração. “Mesmo que o motor quebre ou apague, agora eu ganho... chego nem que seja no embalo. Vou ser campeão, meu Deus! Eu nunca imaginei isso. Sempre sonhei apenas largar num GP”. Não deu tempo para Emerson Fittipaldi pensar em mais nada: “Chorei muito no carro, estava realmente emocionado".

 

 


Naquele ensolarado domingo de setembro, o Brasil conquistou seu primeiro título mundial na Fórmula 1, menos de seis meses depois da realização da primeira corrida de Fórmula 1 no país, no autódromo de Interlagos. E até hoje esse esporte de sucesso no País desperta o interesse de porção significativa da população, mesmo que não mais existam ídolos como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna.

 

 Vista aérea de Monza. Naquele domingo mais de 150 mil pessoas assistiram a derrota das Ferraris e um campeão Brasileiro.

 


Emerson conta que lembra de todos os detalhes que envolveram aquela conquista como se tivesse acontecido no final de semana passado e é com suas palavras que contaremos a história do 43º Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1. “Na quinta-feira, um dia antes de começar os treinos para o GP da Itália, o Peter Warr (diretor-esportivo da Lotus) me telefonou, lá pelas 22h30, e me contou que estávamos com problemas”, lembra o Campeão. “Ele me disse que eu deveria deixar o hotel e acompanhá-lo até certo ponto de uma estrada porque o caminhão da equipe, com os carros dentro, havia capotado. Como eu falava um pouco de italiano, minha presença facilitaria a liberação do que sobrara do acidente. Fiquei chocado quando vi os chassis virados na pista e peças para todos os lados”. A polícia não estava autorizando ninguém a tocar em nada até que a perícia técnica concluísse o trabalho.

 


“O Colin Chapman (fundador e proprietário da Lotus) previa já dificuldades na Itália e por isso ordenou que nosso time mantivesse um caminhão, com outro carro pronto, na fronteira com a Suíça”. Chapman havia sido condenado por homicídio culposo pela morte de Jochen Rindt, também em Monza, dois anos antes. A quebra do eixo dianteiro direito fez o carro ficar descontrolado e Rindt colidiu com violência na entrada da Parabólica (versão esta nunca assumida pela Lotus mas constando da biografia do piloto). “O chassi reserva, no caminhão, era o número 5, aquele que eu quase sempre usava". Depois de muito trabalho, a Lotus estava pronta para correr mas não apresentava o balanço desejado. “O carro tinha uma tendência perigosa de sair de traseira. Ainda assim, obtive o sexto tempo no grid". Jacky Ickx, com Ferrari 312B, estabeleceu a pole position.

 

Pouco antes da largada, um problema de última hora: Um vazamento de combustível comprometia a prova.  


Um pouco antes da largada, Emerson teve outro susto. Tudo parecia conspirar para ele não ser campeão, ao menos naquela etapa, a 10.ª do campeonato.



Faltavam ainda o GP do Canadá e dos Estados Unidos. “Eu estava no motorhome da John Player Special, nosso patrocinador, a cerca de uma hora e meia do início da prova, quando o Chapmam chegou correndo. Ele havia detectado um vazamento de gasolina no meu carro”. A sua participação no GP da Itália estava em risco. “Fui o último a alinhar. Comecei a corrida sem saber ao certo se o problema estava resolvido. Colin chegou para mim e falou duas coisas: ‘Não temos certeza se resolvemos o problema do vazamento, mas colocamos o máximo de combustível possível’. Antes que eu falasse algo, ele continuou: ‘Aqui na Lotus nós costumamos ganhar campeonatos com vitórias’! Respondi: vou tentar”. Contudo na corrida tudo virou a seu favor. “Apesar de todos os problemas, eu tinha confiança de que poderia ficar no primeiro pelotão de carros" (Emerson precisava apenas de mais 3 pontos – um 4º lugar – para conquistar o título).

 

 

 

"Quando o diretor de prova baixou a bandeira italiana, pisei firme no acelerador. O primeiro que vi ter ultrapassado foi o Danny Hulme, que estava ao meu lado no grid. Depois vi o Tyrrell do Jackie Stewart crescer na minha frente (o escocês ficou na largada com a embreagem quebrada), saí dele e procurei colar no Regazzoni. O Chris Amon patinou na largada e também ficou para trás e eu consegui chegar na grande curva colado na Ferrari. Fiquei perto até a variante Ascari. Só aí fui cuidar do retrovisor e pude ver o Chris Amon e o Mario Andretti, que largou muito bem. Completei a primeira volta em terceiro, com duas Ferraris na minha frente e uma atrás".  

 

"Esta situação continuou até o Regazzoni ultrapassar o Ickx. Eu não conseguia acompanhar as Ferraris tão de perto, mas estava abrindo em relação ao 4º colocado (Chris Amon e depois Mike Hailwood conseguiram superar a Ferrari de Mario Andretti). Durante as primeiras voltas apenas o Chris Amon aparecia no meu retrovisor. Eu sentia o carro estável, desenvolvia bem e apesar de eu perder terreno nas retas para as Ferraris com seus motores 12 cilíndros, procurei manter a regularidade, baseando-me nas informações das placas do Box".  

 

 

Pace indica o caminho para Regazzoni, o líder, colocar uma volta sobre ele... mas o Suiço de atrapalha, bate e abandona. 

 

"Numa das voltas, na saída da Ascari, vi uma Ferrari em chamas. Achei que era a do Regazzoni. Se fosse, eu estava em segundo (Regazzoni liderava e aproximou-se de José Carlos Pace para colocar uma volta sobre o brasileiro da March. Pace sinalizou o caminho para a passagem, mas Regazzoni atabalhoadamente, acabou colidindo com ele e os dois abandonaram a prova). O Box confirmou isso quando passei pala reta. A partir deste instante passei a me preocupar apenas com o Jack Ickx, que não estava muito distante. A distância para o Chris Amon era confortável e quando ele abandonou na 38º volta, a distância para o novo 3º colocado, Mike Hailwood, era muito grande". 

 

"Sentia o carro bem, estava me sentindo bem e resolvi apertar o Ickx. Ele parecia nervoso com minha aproximação. Sentia que ele dava tudo e mais um pouco nas retas e nas curvas, enquanto eu as contornava bem e ganhava terreno, ele se atirava nelas de qualquer jeito. Achei que poderia induzi-lo ao erro ou a provocar uma quebra da Ferrari... só não achei que isso poderia acontecer tão rápido" (na 45º volta Ickx foi para os boxes e abandonou na volta seguinte com um problema elétrico).  

 

Emerson presegue Ickx. A Ferrari abria nas retas mas o brasileiro compensava nas curvas e pressionava o líder. 

 

 

"O segundo lugar era mais que o suficiente e muito mais do que eu poderia imaginar depois de todos os problemas que tivemos desde quinta-feira. Com o caminho livre à frente, só então, foi que senti que a vitória poderia realmente acontecer. Ali comecei a me preocupar em conseguir terminar a prova. Lembrei do vazamento de combustível, lembrei de um monte de coisas... foram as voltas mais longas da minha vida". 

 

"Na última volta meu maior temor era ficar sem combustível e na parabólica, última curva antes da reta de chegada, dei uma balançada e pensei: Mesmo que o motor quebre ou apague, agora eu ganho... chego nem que seja no embalo. Vou ser campeão, meu Deus! Eu nunca imaginei isso. Sempre sonhei apenas largar num GP". 

 

 

Nas voltas finais, a preocupação em não errar e o medo de ficar sem combustível misturavam-se com a emoção do título próximo. 

 

"Mal vi a bandeirada, mal vi o Colin Chapman cumprir seu ritual de jogar o boné para cima. Na volta de desaceleração, mal via a pista... estava com os olhos cheios de lágrimas. Só pensava na alegria dos meus pais, na minha esposa, no meu irmão e minha cunhada, no Colin, nos mecânicos e nos torcedores brasileiros e tudo o que eles estavam sentindo".  

 

Mike Hailwood terminou a prova em 2º lugar, 14,5s atrás e Danny Hulme foi o 3º, com 23,8s de desvantagem. 

 

 

No Pódio, ao lado da esposa - Maria Helena - Emerson celebrava o que seria o início de uma saga vitoriosa do Brasil nas pistas.

 

Wilson Fittipaldi, o Barão, certamente viveu uma das maiores emoções de sua vida: Ele transmitiu a prova – ao vivo – pela rádio Panamericana (a Jovem Pan) e deve ter sido o único pai de piloto ou parente que seja que tenha realizado este feito.

A torcida deu trabalho para o policiamento... como sempre acontece em Monza. 

 

 

Emerson Fittipaldi foi manchete em todos os jornais e revistas no Brasil e em diversas no mundo. Ele conquistou o título com apenas 25 GPs disputados, duas temporadas, e com apenas 25 anos de idade. Uma marca que só foi superada por Fernando Alonso, em 2005, mas em uma época em que já era comum se chegar à categoria máxima do automobilismo em tenra idade. 

 

A página do dia 10 de setembro de 1972 está escrita para sempre com letras douradas... em fundo verde! 

 

 

Fontes: Jornal do Brasil, Revista Manchete, Revista Veja, Revista Quatro Rodas, CDO.

 

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Last Updated ( Sunday, 10 October 2010 09:52 )