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A obra da discórdia PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 24 August 2017 00:09

Caros Amigos, Esta semana chegou às minhas mãos, na verdade às minhas telas, um grande número de emails sobre um assunto que elevou os ânimos em relação e a defesa do autódromo de Interlagos, onde vários aspectos precisam ser observados com muito cuidado, muita lucidez e muito bom senso.

 

Quando o autódromo de Interlagos foi inaugurado, ele ficava fora da cidade de São Paulo, próximo à então rodovia Washington Luiz, que com o crescimento da cidade virou um a avenida entre as centenas que cortam a cidade, ao passo que o autódromo passou a ser um enclave de um milhão de metros quadrados, cercado pelo conglomerado urbano que se perde no horizonte em todas as direções que se olhe do alto da torre de controle.

 

O autódromo de Interlagos tem um “diferencial” em relação aos demais autódromos do país: ele está apto a receber a mais importante categoria do automobilismo mundial – a Fórmula 1! Algo que é motivo de orgulho e mesmo de disputa em outros países, lá em São Paulo, no meio do automobilismo, este privilégio é visto com um olhar atravessado e protestos por parte dos que usam o autódromo no dia a dia.

 

O grande fruto dos protestos é o fato de que “o autódromo precisa ser fechado por longos períodos” para que sejam feitas obras de adequação do circuito para atender aspectos de segurança, questões técnicas e interesses comerciais dos promotores, equipes e patrocinadores. Quando o autódromo fecham toda uma cadeia de profissionais se vê prejudicado, uma vez que o fechamento do seu “local de trabalho” o atinge financeiramente.

 

Dois aspectos precisam ser analisados, de forma imparcial e concisa:

 

O primeiro aspecto é o técnico. Interlagos é um autódromo dos anos 40, que passou por uma gigantesca reforma no final dos anos 80 para votar a sediar a Fórmula 1 em 1990. Nisso já se passaram mais de 25 anos e ao longo de todo este tempo, antes e depois da reforma que mutilou um dos melhores traçados do mundo, a Fórmula 1 mudou muito. As normas de segurança, idem. Para continuar recebendo a Fórmula 1, Interlagos precisava estar adequado e com o dinamismo das mudanças na categoria e nos regulamentos, obras precisam ser feitas, como são feitas em outros autódromos mais antigos que ainda recebem a categoria.

 

O segundo aspecto é o político: Interlagos é um bem público e como tal, é gerido por uma autarquia, um órgão da prefeitura e como bem sabemos, obras públicas no nosso pobre país são um ralo de dinheiro, um exemplo de ineficiência e onde a qualidade dos serviços costumam ser questionadas e os orçamentos passam longe de ser respeitados, com o costumaz “estouro” dos mesmos, para não falarmos do que é superfaturado, desviado e/ou não executado.

 

A falta de um outro autódromo no estado com o maior número de pilotos filiados é um problema que já foi diversas vezes abordado. Sempre faço questão de não considerar o excelente Velocittà como um autódromo acessível por este ter uma série de limitações de ordem legais e ambientais, sem falar no fato de ser parte de uma propriedade privada. Além disso, não há uma pulverização do automobilismo pelo interior do estado, com os poucos clubes existentes estando concentrados na capital. É pouco provável que a grande maioria dos meus estimados leitores saibam que São Paulo tem 1/3 do número de clubes de automobilismo do estado do Rio Grande do Sul... sim, isso é verdade. Um estado que tem quatro autódromos e um quinto, na divisa, que é o de Rivera, no Uruguai.

 

Apesar dos protestos dos que tem suas vidas ligadas ao autódromo de Interlagos, é algo impossível para que ele continue existindo a não vinda da Fórmula 1, anualmente para São Paulo. Não pela questão financeira, uma vez que um espaço com o seu tamanho e as possibilidades de aproveitamento que ele permite, além das locações para automobilismo, seriam o suficiente para custear sua existência. Mas seria suficiente para mantê-lo no padrão que ele tem hoje? Esta é a questão.

 

Interlagos, por sua topografia, tem um problema para conseguir receber um evento do tamanho de uma Fórmula 1, de um Mundial de Endurance ou mesmo um evento completo da VICAR, com todas as categorias correndo: falta espaço para carros, instalações, sobressalentes e, no caso dos eventos internacionais, espaço para acomodar o “universo paralelo” que orbita a competição em si.

 

Este é um dos pontos que os – vou chamar de “puristas” – frequentadores de Interlagos insistem em não querer enxergar: o que para eles não tem a menor importância, para os promotores de eventos internacionais, tem! E Interlagos é um autódromo que extrapolou há décadas o cenário nacional, ele é algo que os outros autódromos do país não são.

 

No último “pacote de obras” que a FOM, na época sob a tutela de Bernie Ecclestone, uma série de “requisições condicionantes” (para não chamarmos de exigências) fizeram uma grande alteração na estrutura que fica atrás dos atuais boxes, e na construção de um prédio anexo com a demolição da antiga torre. Esta obra foi custeada com verba federal, transferida para a prefeitura via Ministério dos Esportes.

 

Contudo, a celeuma desta semana foi sobre a segunda parte das obras, com a construção de novos boxes. Os boxes de Interlagos são excelentes, grandes, espaçosos o suficiente para as necessidades da Fórmula 1... o problema está em cima! Se formos ver os autódromos que atendem a categoria, acima dos boxes existem dois ou três andares, algo que Interlagos só tem em parte... e com muitos problemas. Na edição de 2014 das 6 Horas de São Paulo uma chuva mais forte e as goteiras inundaram a área da sala de imprensa. Até nosso enviado ao autódromo pegou em rodo para ajudar e tentar acalmar os atônitos europeus com aquela situação.

 

Fazer uma obra nos boxes – ou sobre eles – para instalar uma nova estrutura, com pelo menos dois andares de camarotes Vips, com ar condicionado, envidraçadas, como são vistas em outros autódromos provavelmente implicaria na demolição dos boxes atuais, uma vez que existe a possibilidade de que as colunas e vigas existentes não suportem o peso da estrutura projetada.

 

Apesar da SPTuris e SPObras terem negado a polêmica em torno de uma obra que deixaria os boxes sem condições de uso por um longo período, apesar da gestão da Fórmula 1 não ser mais a mesma, as pessoas que olham para Interlagos como a extensão das suas casas e suas vidas precisam se conscientizar que o autódromo de Interlagos não é mais o autódromo dos anos 60, onde tivemos a maior geração do nosso automobilismo fazendo história e preparando a geração que colocaria o Brasil na história do automobilismo mundial.

 

Interlagos precisa da Fórmula 1 para continuar existindo. Este é, provavelmente, o único motivo pelo qual o autódromo ainda não desapareceu. Não por ele ser autosustentável ou não, mas por seu espaço físico poder propiciar ao município muito mais do que um evento anual pode trazer em retorno.

 

Se e quando as obras serão feitas é algo que, em meio a polêmicas a prefeitura já demasiadamente polemizada de João Doria não vai, no calor de uma polêmica surgida na internet sobre um bem da sociedade que ele pretende privatizar, afirmar algo para criar mais celeuma sobre o assunto em questão. Esta, talvez, seja uma questão para ser discutida e decidida com os novos gestores da categoria e, para descontentamento dos locais, algo que suas opiniões e posições não irão ser consideradas.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva