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Dale Jr. e o adeus PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 29 August 2017 21:51

Olá fãs do automobilismo,

 

Há algum tempo tenho cuidado com um carinho especial um paciente que é dos mais queridos pelo público, dos mais amados e que, direta e indiretamente, acaba sendo muito cobrado e, pior, acaba se cobrando demais. A autocobrança foi tanta que ele não conseguiu mais administrar.

 

Quando Dale Jr. me procurou, quatro anos atrás, foi o primeiro piloto da NASCAR e o primeiro piloto norte americano a me procurar. Nesta época eu ainda morava em Cuiabá e o homem se largou aqui dos Estados Unidos para fazer uma consulta comigo. Na época eu achei que alguém tinha dado um trote na minha secretária, pedi para ela verificar o número e retornar a ligação... e era ele mesmo.

 

Foi uma coisa estranha. Ele queria fazer uma consulta por videoconferência e eu resolvi aceitar este desafio. Por causa da distância e do calendário praticamente semanal da NASCAR, até eu me mudar para San Diego foi assim que nos tornamos “terapeuta e paciente on line”. Já residindo aqui, ficou mais fácil e Dale Jr. é uma pessoa adorável de se ouvir e conviver.

 

Na metade da temporada de 2016 conversamos muito sobre a longevidade dos pilotos da categoria e ele disse que isso era algo que estava mudando. Que os pilotos mais novos estavam vindo cada vez mais preparados e que NASCAR não tinha mais lugar para “coroas”, que um calendário de 36 corridas, mais duas extra-campeonato exigiam demais fisicamente e a queda de performance física era natural.

 

Ele lembrou que começou a correr na NASCAR com seu pai ainda em atividade e que não pretendia correr até quase os 50 anos como aconteceu com seu pai, que certamente continuaria em atividade por mais alguns anos se não fosse a morte trágica em 2001, quando tinha 49 anos. Dale Jr. pensava e pensa diferente e como ele trouxe o assunto à tona mais de uma vez, algo devia estar se passando em sua cabeça. Procurei caminhos para ver até onde aquele tema iria chegar, mas ele desviava do assunto.

 

A explicação veio depois das férias do final do ano, antes das 500 Milhas de Daytona, em uma de nossas sessões, Dale Jr. abriu o jogo e revelou que esta seria sua última temporada na categoria. A notícia para a imprensa só viria a ser dada algumas meses depois, antes da etapa de Richmond, no final de abril. Uma decisão tomada, bem pensada e muito conversada.

 

Quando Dale Jr. me falou que iria parar, a pergunta mais lógica seria apenas perguntar o motivo, mas o importante era o amadurecimento da ideia. Como ele havia chegado àquela decisão. Foi um pouco de tudo: saúde, família (Dale casou no ano passado com Amy Reimann, com quem tinha um relacionamento desde 2009), cansaço, realizações e não realizações profissionais e pessoais. Um coquetel onde de tudo um pouco foi pesado e pensado.

 

Ele perdeu a segunda metade da temporada do ano passado depois de um acidente sofrido em junho e do processo de recuperação dos sintomas de concussão. A associação como o que aconteceu com seu pai foi praticamente um reflexo imediato. Dale Jr. está com 42 anos (completa 43 em outubro) e apesar de ser um vitorioso na categoria (26 vitórias) e – de longe – o mais querido e emblemático piloto do grid há mais de uma década, a decisão tomada e posteriormente comunicada é um caminho sem retorno após 18 temporadas (incluindo 2017)

 

Ao longo desta temporada Dale Jr. não vem conseguindo bons resultados. Teve apenas um Top 5 e ocupa um discreto 22º lugar no campeonato, dependendo de uma vitória para estar no “playoffs”, a parte final do campeonato que decide o título. Algo que ele mesmo acha difícil de ser obtido, uma vez que os pilotos da sua equipe estão tendo dificuldades para andar entre os primeiros. Apenas Jimmie Johnson venceu entre os quatro pilotos da equipe. Não é um bom ano.

 

Apesar de tudo, Dale Jr. está bastante tranquilo com ambiente, com as corridas que restam pelo campeonato. E um fator que jamais pesou para a decisão de parar foi o desempenho. Ele atravessou algumas batalhas pessoais ao longo dos anos e ter conseguido se manter entre os melhores, em uma grande equipe como a Hendrick e o futuro.

 

Sim, futuro! Dale Jr. pode deixar as corridas como piloto, mas outras possibilidades podem se abrir Ele será insubstituível, independentemente do plano de marketing que a NASCAR tenha em mente. Um esporte que tem lutado pela relevância atual agora perderá três estrelas cruzadas em tantos anos: Jeff Gordon em 2015, Tony Stewart em 2016 e Earnhardt em 2017.

 

Dale Earnhardt Jr. diz que não se vê “se desvinculando da NASCAR”, comprometendo-se fazer duas corridas da Xfinity Series para sua equipe, a Junior Motorsports em 2018. Mas isso não é como competir na maratona de 36 corridas da temporada na categoria principal. É algo realmente emocional, e Dale Jr. em um coração enorme e sabe de como o nome Earnhardt é importante para a categoria e para o automobilismo do país. Não dá pra simplesmente dar “tchau, a gente se vê por aí”.  

 

Ainda bem... de alguma forma, Dale Jr. e o nome Earnhardt vai continuar presente.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

P.S. Estarei em Monza no final de semana do GP da Itália a convite da direção da Force India... escreverei sobre isso na próxima quinzena.