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A curva cega do doping PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 04 October 2017 21:27

Caros Amigos, neste final de semana, aguardando o GP da Malásia de Fórmula 1 pelo VT do canal por assinatura, assisti um programa muito interessante sobre doping e a duríssima batalha da WADA, a agência mundial anti dopagem, que costuma vir às manchetes do noticiário esportivo sempre que algum atleta olímpico é flagrado com o uso de uma substância proibida (e a lista destas não é apenas enorme, como aumenta cada vez mais), próximo aos grandes campeonatos mundiais (atletismo e esportes aquáticos) e dos jogos olímpicos. O programa tratava sobre o doping genético, uma maneira que os laboratórios do mundo estão buscando para alterar o DNA dos atletas e com isso aumentar o rendimento deles nas competições. A aberração e a ganância parecem mesmo não ter limites.

 

Coincidentemente encontrei no canal de notícias da Bloomberg uma matéria sobre a WADA, onde a Agência Mundial Antidoping informou que retiraria o álcool da lista de substâncias proibidas para 2018. O veto ao consumo de bebidas alcoólicas e/ou medicamentos que contivessem etanol ou outro tipo de álcool era válido para esportes aéreos, de tiro com arco, com automóveis e com barcos. Contudo, para a FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, não haverá nenhuma mudança.

 

O regulamento da entidade que rege o automobilismo mundial segue vetando o consumo de álcool e cannabis, já que ambos alteraram o comportamento dos pilotos e o último segue sendo detectável depois de várias semanas do consumo. Inclusive, o artigo 4.2.1 do Apêndice A do Código Esportivo já apresenta o álcool como substância proibida em sua versão 2018, rotulando-a como doping.

 

No caso da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), a visão foi um pouco diferente, apesar de também proibitiva: a mudança em seu código médico no que diz respeito ao consumo de álcool, retira a substância da lista de agentes dopantes e passa a rotulá-lo como substância proibida por razões de segurança. Os pilotos são testados de forma aleatória a cada evento. Se pilotar um carro sob efeito de álcool é perigoso, no caso das motos o risco é potencialmente maior!

 

Os casos de doping por uso de substâncias dopantes, seja para melhora de performance seja por outros motivos são relativamente raros no automobilismo. Lembro-me bem do caso de um piloto da república Tcheca, Tomas Enge, queera rápido e promissor, sendo o primeiro piloto oriundo dos países sob o julgo da antiga cortina de ferro a projetar-se internacionalmente, antes de Robert Kubica e Vitaly Petrov. O Tcheco participou de três GPs de Fórmula 1 até ser pego no exame anti doping em 2002 com ‘canabis’ detectado em seu organismo.

 

Dez anos depois, tendo enterrado suas chances de se fixar como piloto na Fórmula 1 e tendo passado por anos de obscuridade, Tomas Enge voltou a correr em campeonatos europeus, mas em 2012 voltou a ser pego em um exame realizado na etapa de Navarra do campeonato mundial de GT1. A substância nem chegou a ser divulgada, mas o desfecho foi o mais duro possível, com o piloto sendo banido do esporte.

 

Há casos em que o atleta pode – desavisadamente – ingerir uma substância proibida. Em 1995, gripado, Rubens Barrichello usou um descongestionante nasal. Ao invés de se aconselhar com o médico da equipe Jordan, o brasileiro ligou para a mãe, que sugeriu o Afrin um destes descongestionantes que no Brasil são comprados sem receita médica, apesar da tarja vermelha na caixa. O brasileiro foi pego no exame anti doping. O medicamento contém cloridrato de oximetazolina, uma das substâncias banidas pela WADA. Descoberta a realidade, Eddie Jordan ficou furioso. Como é que um piloto de Fórmula 1 põe a carreira em risco tomando remédios sem consultar um médico? A conta saiu barata para Barrichello, que tomou apenas uma advertência.

 

Aqui no Brasil este processo era uma verdadeira ‘Caixa de Pandora’. Durante anos o assunto era tratado sob as cortinas do silêncio até que o piloto Renato Russo, um dos maiores kartistas do Brasil e que corria na categoria de Pickups da VICAR expôs, em uma bombástica entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, afirmando que havia pilotos que ingeriam bebida alcoólica, usavam ‘canabis’ e cheiravam cocaína. Foi um escândalo!

 

Potencialmente brilhante, Renato Russo – envolvido diretamente no acidente que vitimou Rafael Sperafico – acabou sendo marginalizado no meio e voltou a dedicar-se ao kartismo, onde não depende de nenhum dos meios que envolvem o automobilismo como conhecemos (conhecemos?) e continua a vencer campeonatos nas categorias ‘senior’. Este ano, inclusive, conquistou seu nono título de campeão brasileiro em Santa Catarina.

 

Apesar dos casos detectados e divulgados em categorias nacionais nos últimos anos, este assunto ainda é tratado com muito menos clareza do que deveria ser feito no automobilismo como acontece em outros esportes.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva