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O inferno de Daniil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 25 October 2017 23:13

Olá fãs do automobilismo,

 

Este período que a Fórmula 1 está passando aqui pela América do Norte está tendo mais emoções no campo negativo do que se poderia prever. O ambiente anda tenso no paddock e nas salas de reunião, deixando a pista – em alguns casos – relegada a um segundo plano.

 

Não é segredo para ninguém o que eu penso do senhor Helmut Marko. Para mim ele está mais perto de um personagem de filme de terror classe B, misturado com oficial nazista do que para gestor de pessoas, tamanha a sua falta de bom senso e declarações à imprensa onde os pilotos sob seu controle não parecem passar de bonecos de pano, sem alma ou sentimentos.

 

Entre as duas corridas realizadas aqui neste final de outubro, o GP dos Estados Unidos e o GP do México, desloquei meu consultório para Austin e, posteriormente, para a capital mexicana a fim de atender melhor meus pacientes. Desta feita, preferi ficar fora dos autódromos. Do contrário, se eu cruzasse com o senhor Marko no paddock poderia, acidentalmente, acabar acertando sua canela com uma passada mal calculada.

 

O GP dos EUA foi uma "despedida protocolar" de Daniil da equipe. 

 

Na terça-feira após o GP dos Estados Unidos estava agendada a consulta do Daniil Kvyat para as 15:00 horas, mas logo pela manhã recebi um telefonema do piloto sobre o mais novo “fato” relacionado ao seu sofrimento na Fórmula 1 que teve início após o GP da Russia do ano passado, quando ele foi “trocado” de equipe, perdendo a vaga no time principal, a Red Bull, e sendo “rebaixado” para a a equipe Toro Rosso.

 

Para quem não lembra, Daniil vinha fazendo uma início de temporada bem consistente em 2016, conquistando um pódio na China e teve uma disputa dura contra Sebastian Vettel, que terminou em 2º. A corrida em seu país natal foi complicada, com os dois batendo logo após a largada e o russo sendo apontado – com razão – como responsável pela confusão. Teria sido tal motivo o suficiente para a “troca”? Não acredito. Outros fatores fizeram parte desta decisão.

 

Daniil e Max. A troca que tanto bem fez ao holandês fez um mal enorme ao russo.

 

Daniil nunca mais teve tranquilidade e apoio na sua trajetória como piloto com potencial vencedor que demonstrou em sua trajetória nas categorias de base, na conquista com grande supremacia sobre os adversários na GP3 que o levaram diretamente à Fórmula 1 sem passar pela então GP2. Seu início na Toro Rosso o levou para a Red Bull.

 

As consequências da decisão e a forma de tratamento já bem conhecida do senhor Marko com os pilotos do programa de talentos da Red Bull afetaram e muito o rendimento de Danill não apenas para a temporada de 2016 mas também se fez refletir na temporada de 2017, onde Daniil teve uma performance apagada diante de seu companheiro de equipe, que acabou “negociado” para a Renault antes mesmo do final da temporada. Apesar de todo o meu esforço, o poder de recuperação psicológico de um paciente está muito mais nele do que no terapeuta que desenvolve um trabalho com ele. Nada funciona sozinho.

 

Helmut Marko: um homem que não pensa duas vezes antes de tomar uma decisão para o time austríaco.

 

A volta para o GP dos EUA após ter ficado fora das corridas da Malásia e do Japão não foi uma “última chance”, mas apenas uma necessidade da equipe e uma imposição contratual ao piloto pelo que foi possível ver na nota oficial da Red Bull informando que os pilotos da Toro Rosso para o GP do México seriam Pierre Gasly, que disputou as duas corridas na Ásia, mas que ficou fora da corrida nos Estados Unidos para disputar a prova final da Super Fórmula japonesa, onde correu a temporada deste ano, e Brendon Hartley, que disputa o mundial de endurance pela Porsche e foi piloto do programa da equipe antes de seguir para o WEC.

 

Daniil chegou no consultório muito abatido. Ele buscou – e sou testemunha disso – meios para se reencontrar e não conseguiu. Agora temos um novo desafio que é fazer Daniil se reinventar e não perder o foco profissional. Afinal, o automobilismo não se resume à Fórmula 1. Porque a flexibilidade é uma das características mais importantes nos dias de hoje. Em plena era da informação, com o mundo em movimentação frenética e constante, é essencial que a pessoa tenha uma atitude aberta para a vida: de aprendizado, conhecimento e mudança, se for preciso. Claro, sem abrir mão de valores (integridade, generosidade, respeito por si mesmo e pelo outro).

 

É chegada a hora de Daniil respirar outros ares, virar a página e seguir em frente.

 

Por mais que o cenário profissional possa parecer cinza e sombrio para muita gente, também é um horizonte colorido e cheio de esperança para outras pessoas. São aquelas que querem se reinventar, que não acreditam nas estatísticas e não arquivam seus sonhos só porque ouvem o tempo todo que as coisas vão mal. São essas pessoas que acordam cedo e animadas para mais um novo dia. E que vão contra a maré pensando nos seus próprios projetos e trabalhando duro para que eles possam se realizar.

 

Este é o nosso grande desafio – meu e de Daniil: precisamos abrir nossos horizontes e buscar alternativas para mostrar que aquele piloto que conquistou a GP3 como ele conquistou não morreu, mas que está mais vivo do que nunca e que ainda tem muito para mostrar nas pistas do que vimos nesta temporada. Novos ares, longe desta estrutura que destrói pessoas como a Red Bull do senhor Marko é o melhor que Daniil tem a fazer.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares