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Lewis: livre para voar PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 13 November 2017 17:48

Olá fãs do automobilismo,

 

Como terapeuta eu costumo dizer que não há nada mais confortável para um ser humano do que estar em paz com ele mesmo e na semana após o Grande Prêmio do México tive a sessão de terapia mais tranquila destes cinco ano em que Lewis é meu paciente.

 

Ele veio na quarta-feira pela manhã, consegui fazer uma troca de horário (suas sessões são às quintas-feiras) para que ele pudesse fazer uma viagem de descanso pra o Peru, sem antes, claro, ter passado umas 48 horas sem dormir, “comemorando” tudo o que tinha direito, e com todo o direito que um tetracampeão do mundo de Fórmula 1 deve ter.

 

Lewis chegou mais sorridente do que nunca, brincando com minha assistente como raramente fez nestes anos todos e ainda trouxe presentes... perguntei se ele estava antecipando o natal e se iria “sumir” até 2018. Ele disse que não, que apenas estava feliz, leve, solto, que se pudesse, sairia voando pela janela como uma ave em direção ao mar.

 

A situação desta conquista, antecipada como foi dois anos atrás foi circunstancialmente bem distinta. Em 2015 Lewis conquistou o título faltando ainda três corridas para o final da temporada, destruindo técnica e mentalmente seu companheiro e meu paciente até hoje, Nico Rosberg. Este ano, a conquista veio “uma corrida depois”, no Grande Prêmio do México, desta feita vencendo um tetra campeão do mundo e piloto de outra equipe, que liderou mais da metade da temporada a pontuação do campeonato, mas que na reta final, não teve forças – ou equipamento – para segurar sua arrancada.

 

 

Depois de deitado no Divã, Lewis começou a repassar comigo – e por iniciativa dele – algumas das nossas conversas ao longo da primeira metade do campeonato. Para quem não conhece, Lewis tem aquilo que chamamos no Brasil de “gênio forte”. Este excesso de confiança estava comprometendo seu rendimento junto com algo que eu havia detectado como falta de foco.

 

Lewis optou por um tipo de vida (e ninguém, nem eu tenho o direito de interferir em suas escolhas) que não seria exatamente aquela mais adequada a um atleta profissional de alto rendimento e de altíssimo salário, ao ponto de receber algumas ligações do seu chefe, Sr. Wolff, para cobrar de mim alguma coisa que pudesse fazer com que Lewis se concentrasse mais no trabalho.

 

No ano passado, após a conquista do título e daquele boné jogado no colo de Nico, ele “tirou o pé e relaxou”... até demais! Deixou Nico crescer na equipe e assim, no início do ano, seu maior adversário estava cheio de confiança, tendo começado o ano com tudo, vencendo corridas. Mesmo com a reação, ainda em tempo, um problema mecânico – algo que pode acontecer com qualquer carro em qualquer corrida – deixou-o numa situação que ele não conseguiu mais recuperar-se... e perdeu o título.

 

 

Este sempre foi meu maior argumento com relação ao que estava acontecendo na temporada deste ano. Que Sebastian estava controlando, vencendo corridas, conquistando pontos e mantendo-se à frente dele e que ele precisaria dar “algo mais” para não se deixar derrotar novamente. Nossa sessão de terapia logo após o Grande Prêmio da Hungria foi crucial. Mexi com seus brios quando perguntei se ele iria tirar férias da vida fora das pistas e treinar duro para voltar das férias como piloto de Fórmula 1.

 

Ali eu vi o Lewis com “sangue nos olhos”... e todos viram um Lewis diferente a partir do Grande Prêmio da Bélgica. Ele foi com tudo pra cima de Sebastian e saiu da Itália liderando o campeonato, jogando para o outro lado, para a Ferrari e seus pilotos, toda a pressão possível e a obrigação de fazer uma corrida impecável em Singapura para retomar a liderança... e todos viram o que aconteceu.

 

 

As atividades profissionais de um piloto de Fórmula 1 vão muito além dos treinos e das corridas nos fins de semana de GP. Eles vão com regularidade à sede de suas equipes, para reuniões técnicas ou de outra natureza, praticam horas e horas de ensaios nos simuladores antes de cada corrida, por contrato precisam participar de inúmeros compromissos promocionais organizados pelos patrocinadores, ou o da própria equipe, além de precisar dedicar pelo menos 4 horas diárias de treinamento físico. Estes carros desta temporada, mas do que antes, tem exigido dos pilotos um preparo físico de um superatleta para suportar o desgaste provocado ao longo do final de semana das corridas e as quase duas horas que estas duram.

 

Ele não admite, pela maneira que é, jamais admitirá, mas Lewis colocou o pé no freio com as suas “atividades extrapista” em agosto e assim seguiu, “pegando mais leve”, até a conquista do campeonato na cidade do México alguns dias antes desta consulta. Agora, relaxado, tranquilo, está retomando sua vida social de forma mais intensa novamente. Viajando com a família, por vezes com os amigos, fazendo as coisas que gosta de fazer fora das pistas.

 

 

Lewis não esconde de ninguém sua enorme admiração por Ayrton Senna, mas ao contrário do piloto brasileiro, que vivia uma vida devotada apenas para sua carreira profissional e o convívio restrito, num ritmo bastante familiar, com um pequeno círculo de pessoas, ele tem outro ritmo de vida... e ninguém – a princípio – tem nada a ver com isso, desde que sua vida fora das pistas não afete a vida dentro delas.

 

Apesar de todo ar relaxado, não acredito que Lewis vá fazer a mesma coisa no ano de 2018. Esta buscada, esta recuperação de 2017 deve servir como combustível para a próxima temporada, onde ele confidenciou-me que sua maior preocupação não é Sebastian ou a Ferrari, mas sim Max Verstappen, a quem considera um piloto diferenciado, capaz de vir a ser seu mais duro adversário já em 2018. Caso a Red Bull acerte a mão no carro e o motor Renault não o deixe na mão como aconteceu diversas vezes este ano, as coisas podem ser difíceis.

 

 

Gostei do Lewis desta consulta. Ele vai passar por aqui antes de seguir para Abu Dhabi e poderemos conversar mais sobre as suas projeções e o nosso trabalho para o próximo ano.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares