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Interlagos: a evidência do dolo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 22 November 2017 20:38

Caros Amigos, eu estava com o texto da minha coluna praticamente pronto, faltavam apenas a verificação de um ou outro detalhe em termos de datas e a confirmação de alguns fatos. Contudo, diante de recentes fatos me senti obrigado a postergar o texto que estava bem encaminhado, mas que pode ser publicado em outra data sem maiores problemas. Já o assunto que abordarei agora, este não poderia esperar.

 

Na tarde última terça-feira, dia 21 de novembro, deveria ter acontecido uma audiência pública na câmara dos Vereadores da cidade de São Paulo para tratar-se do projeto de privatização do Autódromo Internacional José Carlos Pace. Recebi algumas dezenas de emails e algumas cópias de um vídeo gravado onde nosso parceiro e colunista, Sergio Berti, Diretor de Provas da CBA e Reginaldo Vitullo, que integra o Projeto Nobres do Grid desde seu início, estavam presentes.

 

A audiência pública acabou por não acontecer, mas a certa altura o Presidente da Câmara de Vereadores, o Sr. Milton Leite (Democratas-SP) foi ao encontro dos presentes e tentou explicar qual seria a ideia do digníssimo Sr. Prefeito João Dória, dele, o presidente da Câmara de Vereadores, e de sua base parlamentar que neste mês de novembro tentou aproveitar o período do GP Brasil de Fórmula 1 para acelerar o processo da venda do autódromo... e seu “discurso” foi estarrecedor.

 

Não era segredo de ninguém que o atual prefeito da capital paulista iria levar adiante uma de suas promessas de campanha (além da venda do autódromo ele disse que venderia o Anhembi, o Sambódromo e o estádio do Pacaembu), mas nas suas palavras, “haveria a manutenção da principal atividade fim do local”. Para os menos atentos, haveria a manutenção do autódromo como ele está e todas as atividades ligadas ao automobilismo.

 

Contudo, pelo processo que o prefeito tentou apresentou para ser votado na Câmara dos Vereadores na prática a venda do autódromo estava cheia de questões ocultas. Desde o valor pelo qual o autódromo seria vendido até a definição de que haveria “uma pista” para a prática do automobilismo.

 

Caso seja observado o que é o atual traçado do autódromo de Interlagos e as “áreas disponíveis” para a implantação de um projeto imobiliário – sem afetar o traçado atual – envolveriam o desaparecimento do kartódromo, as áreas das antigas curvas 1, 2, 3, 4, o antigo retão, a área da antiga junção e uma parte da antiga reta que segue em direção ao que foi a curva da ferradura no traçado original. Ainda seria possível usar uma parte da área entre as arquibancadas e a avenida que passa em frente ao autódromo.

 

A utilização destas áreas atingiria apenas – se é que se pode dizer apenas – a Fórmula 1, que não poderia montar as arquibancadas móveis que são utilizadas neste período. Este espaço equivale a algo entre 1/3 e 1/4 da área total. É impossível não questionar qual seria o potencial investidor na aquisição da área onde ele poderia usar um percentual tão pequeno da mesma.

 

O valor do metro quadrado na região do autódromo apontam para um valor acima de dois bilhões de reais para quem pudesse comprar um terreno desocupado com esta metragem no bairro. Como não há uma área deste tamanho e disponível para novos projetos, podemos acrescentar um determinado percentual sobre o valor calculado. Qual sentido teria a omissão do valor desejado pela prefeitura?

 

Enquanto o grupo dos defensores do autódromo presentes na Câmara dos Vereadores de São Paulo tentava se organizar para estabelecer uma linha de ação, os profissionais e empresários ali presentes, onde estavam instrutores de cursos de direção, jornalistas, donos de equipe, promotores de evento, etc. Nosso colunista, Sergio Berti, que também integra um grupo de estudos de otimização de uso do autódromo procurava expor o que estava acontecendo e orientar uma estratégia de ação para que os interesses de todos pudessem ser atendidos.

 

A certa altura, o Vereador Milton Leite veio falar com o grupo e, apesar de algumas interferências com pouco ou nenhum sentido, pessoas com a credibilidade do nosso colunista, do jornalista Wagner Gonzalez e do promotor e historiador Paulo Solariz conseguiram levar o presidente da câmara a revelar parte dos sórdidos (infelizmente não há um outro termo melhor aplicável) planos dos que pretendem vender o autódromo.

 

O político desconhece o que envolve o funcionamento do autódromo, quais as atividades diretas e indiretas, que os usuários do autódromo pagam pelo seu uso e que, segundo a SPTuris, autarquia que faz a gestão do autódromo já declarou por meio de seus últimos três administradores que o autódromo dá lucro, que paga seu custo e que transfere valores para os cofres municipais ao invés de tirar destes cofres algum valor que poderia ser aplicado em outro setor da administração municipal.

 

Em um momento de distração (talvez) o político revelou que ele tem interesse de pessoal em vender o autódromo e que ele fez um novo plano de ocupação urbana (ele é engenheiro, arquiteto, urbanista?) para a área. Ele afirmou também que se o autódromo for vendido “do jeito que está” ele “vale pouco, quase nada” e aí revelou-se o que todos nós já sabemos: que o autódromo deixará de existir. Segundo o político, seriam apenas 130 mil metros quadrados dos 1 milhão de metros existentes e que só seria viável a venda e que a venda acontecerá com uma modificação na pista. Ou seja, a pista seria adequada aos interesses comerciais do projeto de ocupação urbana. Contudo, ele garantiu que haverá audiência pública, mas afirmou que “aquilo vai ser um mega condomínio”!

 

Eu tenho uma opinião pessoal sobre Interlagos. Escrevo em um site e gerencio um projeto de resgate e preservação de história do automobilismo. O Autódromo de Interlagos tem uma história maravilhosa, é um marco para o esporte a motor, para o desenvolvimento da indústria automotiva no Brasil, mas ele hoje é um enclave no meio de uma cidade. Chegar em Interlagos é difícil. O trânsito caótico da metrópole não ajuda, a segurança pública é um problema, mas é o único autódromo do estado sem restrições para sua utilização. Durante décadas, desde que São Paulo perdeu o GP Brasil de F1 para o Rio de Janeiro, uma outra solução, um outro autódromo, fora da aglomeração urbana, dentro de um projeto onde a especulação imobiliária não o atinja.

 

Troquei emails com nosso colunista sobre o assunto e ele informou-me de que haverá uma reunião onde uma comissão de 5 representantes dos interesses do automobilismo. Tenho certeza de que será formado um grupo de alto nível e muito bem preparado para que haja uma defesa bem feita sobre a realidade e a viabilidade de Interlagos. Contudo, alertei-o para que esta comissão, este grupo de defensores, esteja preparado para entrar com ações judiciais a fim de brecar o avanço deste projeto. O mandato do prefeito acaba em 2020 e Interlagos precisa sobreviver pelo menos até lá porque está mais do que evidente a ação dolosa, a má fé, a maquinação em curso deste ato que, conscientemente, confirma a vontade dirigida à obtenção de um resultado criminoso ou o risco de produzi-lo contra os interesses do esporte a motor.

 

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva