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A prefeitura de SP avança na privatização de Interlagos (2ª Parte: Promotores e Chefes de Equipe) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 03 April 2018 12:11

O grande assunto extrapista desde o final do ano passado está sendo o projeto de lei 705 da prefeitura de São Paulo que coloca à venda o Autódromo Internacional de Interlagos e, ao contrário do que inicialmente o prefeito da cidade havia falado, sem nenhuma garantia da continuidade das atividades do autódromo (onde há a menção de haver uma “pista para corridas”, mas sem garantir que seja o traçado atual) e com a condenação ao desaparecimento do kartódromo, que está sendo combatida por uma comissão de dirigentes, promotores e ex-pilotos.

 

No mundo existem diversos complexos autódromo-kartódromo que são privados ou que foram privatizados e mantidos funcionando sem prejuízo da prática do esporte e com o uso do espaço para diversas atividades além do automobilismo que são rentáveis para os proprietários, mas o projeto da administração paulistana passa pela instalação de um novo bairro dentro do autódromo e um duvidoso projeto de um centro comercial no interior no traçado.

 

Conversamos com diversos profissionais envolvidos com o automobilismo sobre o assunto para saber o que eles pensam sobre o assunto: privatizar Interlagos de ser bom? É ruim? Interlagos está condenado? Com a palavra, pilotos de diversas categorias nacionais.

 

Betão Fonseca – Proprietário da Equipe Sambaíba no Mercedes Challenge.

O ideal é que o autódromo, do jeito que ele é, seja preservado. Uma solução para o kartódromo poderia ser fazer o kartódromo em uma área no interior do autódromo. Existem áreas grandes o bastante para comportar um ótimo kartódromo. Tem muito espaço que pode ser aproveitado dentro de Interlagos.

 

Eu entendo que a região, o bairro, necessita de investimentos como todo o país precisa de investimentos. Eu acho que o prefeito Doria pensa com a cabeça de empresário e é preciso acabar com esse modelo de gestão pública que se tem no Brasil. Aquilo que realmente tem que ser feito pelo estado é o máximo que ele tem que fazer, como saúde, educação, saneamento, segurança, o restante tem que ser da iniciativa privada e o prefeito está mostrando isso e ele quer mudar isso.

 

Eu sou empresário e penso com cabeça de empresário. O servidor público é um trabalhador e tem que ser respeitado, mas tem que acabar com o cabide de emprego, tem que acabar com essa gordura. A prefeitura tem que se focar em administrar outros problemas e não administrar autódromo. Tem muita coisa pra se administrar em São Paulo.

 

Camillo Christófaro – Chefe da Equipe IVECO na Copa Truck.

Se tem uma coisa que eu não gosto, não entendo e não faço a menos questão de entender é a tal da política. O que estes caras estão querendo fazer é mexer num patrimônio histórico, no mais importante autódromo do país e um verdadeiro templo do automobilismo não só brasileiro como mundial.

 

Será que esses caras não tem a noção do que significa o Autódromo de Interlagos para o automobilismo brasileiro e para o mundo? Esses caras que estudaram tanto, que se metem a entendedores de tudo não sabem o que aconteceu em Interlagos? Que Interlagos foi o maior campo de provas da indústria automotiva do país, que formou centenas de profissionais, muito mais do que pilotos e os pilotos que saíram de lá e levaram o nome do Brasil pra fora?

 

Em um país com cultura, com história, um autódromo com a história de Interlagos jamais estaria sofrendo a ameaça de ser destruído como o que está acontecendo nessa prefeitura. Ele estaria tombado, mas como aqui esse pessoal só pensa em dinheiro, vão acabar destruindo tudo.

 

Carlos Col – Promotor da Copa Truck.

Evidentemente, sendo eu e todos que trabalham nesta área pessoas do automobilismo, consideramos que o autódromo de Interlagos é um patrimônio histórico e como patrimônio ele deveria ser tombado e preservado não apenas para a sua atividade fim, que são as competições, mas também para manter viva as décadas de história que aqui foram escritas.

 

Interlagos tem uma importância no cenário automobilístico maior do que qualquer outro autódromo do país. Foi a partir de Interlagos que outros autódromos vieram a ser construídos, mas o autódromo é um bem do município de São Paulo e cabe a ele gerir e decidir como vai administrar as demandas que estão relacionadas com o autódromo.

 

Caso a prefeitura leve adiante seu projeto de privatização, eles como gestores do autódromo tem a sua visão de como o autódromo deve ser gerido da forma que acham ser melhor para a cidade. Em caso de uma privatização, eu creio que a disponibilização do autódromo de Interlagos para o automobilismo paulista e mesmo nacional será muito dificultada, com a destinação da pista sendo restrita a eventos pontuais ou anuais como é o caso do GP Brasil de Fórmula 1.

 

Luiz Alberto Trisci (Dragão) – Proprietário da equipe Dragão Motorsport na Super Fórmula Brasil.

O autódromo de Interlagos não pode acabar, independente do prefeito que foi ou vier a ser eleito. Eu acredito que uma privatização poderia ser boa se fosse para uma pessoa ou empresa ligada ao automobilismo. As pessoas só veem Interlagos nos dias de corrida, nos finais de semana que tem corrida, mas e nos outros?

 

O autódromo é um lugar para a prática do automobilismo, é um lugar para se treinar, se testar equipamentos e componentes, para o piloto se aperfeiçoar e não se pode treinar em Interlagos. Quem anda em torno do autódromo de Interlagos vê diversas equipes, escolas, oficinas e são milhares de empregos envolvidos. Se o autódromo for vendido, vão desempregar muita gente.

 

Se aparecer alguém que seja do automobilismo e o autódromo passar a ser administrado por ele, seja privado, mas seja do automobilismo, eu sou a favor. Só que não é isso que eles estão querendo. Querem destruir o kartódromo. Quantos pilotos já saíram dali para o mundo. O próprio Ayrton Senna foi um deles. Isso é um absurdo. Destruir o kartódromo pra fazer um condomínio? Não podemos permitir isso.

 

Renato Martins – Proprietário da equipe VW-MAN na Copa Truck.

Eu não sou político... e adoro o esporte. Frequento o autódromo de Interlagos desde os meus 18 anos, ficava naquela arquibancada de cimento, antiga. E hoje eu estou com 60 anos. Neste tempo já gastaram um bilhão em Interlagos. Talvez mais. Nessas horas eu penso o seguinte: “o Doria tá certo!”

 

Não pensem que eu não quero Interlagos. O autódromo de Interlagos não pode acabar nunca. Só que essa coisa que eu vejo em Interlagos de monta desmonta, constrói e desmancha, que curta uma fortuna todos os anos e a gente, equipes, pilotos, categorias não podemos treinar, não temos datas para correr. A quem serve Interlagos?

 

A gente tem autódromo privados no Brasil, como Curitiba , o Velopark e o Velocittà onde a gente tem muito mais condições de andar do que em Interlagos. Lá a gente aluga, paga e treina. Em Interlagos tudo é difícil. Minha equipe é aqui em São Paulo e eu sou obrigado a ir para outro estado, até mesmo em Londrina, que também é público, mas é mais fácil de se locar para treinar do que é Interlagos. Aqui não tem data e quando tem data é absurdamente caro.

 

Eu quero Interlagos, é o melhor autódromo do país, mas é muito difícil fazer automobilismo em Interlagos. É caro, tem muitos obstáculos e isso é para todas as categorias, não apenas para a Copa Truck. Eu sou a favor de uma privatização, pra desonerar os cofres públicos, mas que seja um negócio sério. Primeiro, que o autódromo seja preservado como autódromo, que o kartódromo não seja destruído, que quem comprar vai ter inteligência para ganhar dinheiro com Interlagos e preservá-lo.

 

Rodrigo Mathias – Diretor Executivo da VICAR.

Interlagos é uma referência histórica como autódromo, nacional e internacionalmente. Um palco de 47 GPs de Fórmula 1, uma história de mais de sete décadas de automobilismo brasileiro que precisa ser preservada.

 

Um processo de privatização conduzido de forma coerente, que preserve o autódromo como ele é, a prática do automobilismo e a qualidade de infraestrutura para o esporte dentro do autódromo ela pode ser benéfica para todos nós. Não apenas para os promotores de grandes eventos, mas também para as categorias menores, os campeonatos regionais.

 

A privatização para atender nossos interesses, os interesses do automobilismo, precisa ser economicamente sustentável e garanta a estrutura hoje existente. Eu confesso não conhecer os detalhes do processo, apenas tenho procurado saber pelas conversas que tenho com algumas pessoas mais próximas que estão lidando com isso no dia a dia. Se a privatização for feita com seriedade e visando o automobilismo, pode ser boa para todos.

 

Thiago Marques – Promotor da Sprint Race.

Não existe gestão eficiente de autódromo no Brasil. Interlagos, mais do que é o autódromo de Curitiba, está dentro de uma cidade. É preciso se fazer uma gestão inteligente e sustentável, seja para a prefeitura, seja para um gestor privado.

 

Não é que eu esteja defendendo uma privatização, mas é preciso que a prefeitura reavalie a forma como gere o autódromo. Temos que usar como referência o que acontece em diversos autódromos pelo mundo onde o autódromo não é apenas uma pista de corridas, mas um espaço onde ocorrem atividades todos os dias. A pista é apenas mais uma parte integrante do complexo.

 

O que estão planejando fazer em São Paulo é a intenção de desativar, destruir o autódromo. Querem colocar prédios aqui dentro e logo vão criar novos meios de comprometer o funcionamento do autódromo. Da maneira que está sendo conduzido o processo, é preciso se impedir que ele avance.

 

Thiago Meneghel – Proprietário da TMG Racing.

É muito preocupante o que nós estamos vendo com estas decisões sendo tomadas e nestes 20 anos em que estou no automobilismo, desde quando eu mudei para São Paulo, para morar em Interlagos e ficar no centro do automobilismo brasileiro eu é São Paulo e este entorno do autódromo, mesmo sendo a minha hoje uma equipe sediada no interior de São Paulo, eu tenho uma história em Interlagos.

 

Quando começamos a receber as notícias sobre o que está acontecendo e vem muita coisa de muitos lados e esta maneira como estão sendo discutidas as coisas, essas liminares, me deixa muito apreensivo de como as coisas podem terminar.

 

A gente já tem uma carência enorme de autódromos aqui no país e as categorias de automobilismo no Brasil não melhoram, não crescem, não tem outras por termos uma falta de autódromos no país e em muitos dos que tem aí a gente sabe que o público sofre porque não tem arquibancadas, quando tem não é coberta, não tem banheiros, coisas que tem em outros esportes.

 

E aí a gente vai perder o melhor autódromo do país? Não pode! Se destruírem Interlagos vai gerar desemprego para milhares de pessoas que trabalham no entorno do autódromo e as pessoas não veem isso, acham que automobilismo é esporte de rico. Eles não sabem que uma equipe tem 20 pessoas dentro do Box e que ali não tem rico, tem trabalhador.

 

Interlagos é muito grande, tem muitos espaços que podem ser melhor aproveitados e com inteligência ter atividades todos os dias, gerar receita para se sustentar, seja com automobilismo, motociclismo ou outras coisas como shows. Pode se fazer muita coisa, mas o importante, o principal de Interlagos é o automobilismo e é para isso que ele deve continuar existindo.

 

William Lube – Chefe da equipe CIMED Racing.

Está errado do início. Tirar o kartódromo? Destruir o kartódromo, o lugar onde nascem os pilotos que depois vão correr pelo mundo, que hoje estão na Stock Car e outras categorias no Brasil é inaceitável. Isso não pode acontecer. O problema é que o poder público já mostrou que não é capaz de manter o autódromo funcionando a 100%. Arrumam prá Fórmula 1 e depois esquecem do autódromo. Aí no ano seguinte, fazem obras de novo.

 

Talvez nas mãos da iniciativa privada as coisas funcionem melhor, com um cuidado constante, mas precisa que, se Interlagos for privatizado, o autódromo continue sendo um local para realização de corridas. Pode até ter outras coisas, como shows quando não tiver corridas, mas precisa permanecer autódromo. O problema é que ele vai ter que trabalhar muito para colocar muitos eventos e encher o calendário pra conseguir equalizar os custos.

 

Eu prefiro que a administração do automobilismo fique nas mãos da iniciativa privada, mas é preciso que se dê condições e que o empresário crie meios de tornar o autódromo rentável. Sem destruir o lugar onde nasce o piloto, a categoria de base que é o kart, fazendo o autódromo dar dinheiro.

 

Zequinha Giaffone – Diretor Executivo da JL, construtora de carros de competição.

Eu não sou contra a venda de Interlagos para a iniciativa privada, não vejo a privatização como um problema, mas quando é apresentado um projeto que tem a destruição do kartódromo, aí eu mudo de posição, eu sou contra qualquer medida que venha prejudicar o automobilismo.

 

A questão é complicada. O valor do terreno do autódromo é muito alto e como um proprietário que investisse a quantidade de dinheiro que será preciso para quem comprar Interlagos, conseguir fazer o investimento dar retorno sem, sei lá, destruir meio autódromo, destruir o kartódromo, vai ser um desafio.

 

Interlagos é muito grande, tem muitos espaços que não são utilizados e um projeto inteligente pode dar para um proprietário privado algumas oportunidades de investimento para retorno. Desde que não altere o autódromo e não destrua o kartódromo, está valendo.


Last Updated ( Friday, 15 June 2018 18:46 )