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Um desafio chamado Romain PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 01 June 2018 02:01

Olá fãs do automobilismo,

 

Uma das coisas mais importantes nas nossas vidas é a confiança. Sem confiança, por mais capacidade que tenhamos para fazer coisas que normalmente fazemos, quando perdemos a confiança somos capazes de desconfiar de nós mesmos, da nossa capacidade em fazer aquilo para o qual estamos preparados para fazer.

 

Varios dos meus pacientes já viveram momentos assim. Nico foi um que, ao longo de 2015 parecia psicologicamente destruído dentro da estrutura da equipe Mercedes e diante da enorme superioridade que Lewis o estava impondo. Até pilotos muito experientes como Fernando tiveram seus tombos e deram sinais desta perda de confiança. Dale Earnhardt Jr. também passou por momentos assim antes de decidir abandonar as pistas.

 

Se você está muito empenhado em algo, ou precisa de fazer acontecer ou obter alguma coisa importante, e percebe sinais que indicam não conseguir alcançar isso, arrisca-se de repente a perder a confiança. Isso pode ser um sinal para se certificar se está devidamente preparado, ou rever um determinado procedimento, ou fazer um pequeno ajuste no seu comportamento.

 

O pior que pode acontecer quando perdemos a autoconfiança é ficar completamente congelado e paralisado. Fazer qualquer coisa que seja produtiva pode ajudar a impedir que isso aconteça, mesmo que seja testar um procedimento ou uma tarefa que você adotou. Há um ponto ótimo onde você pode ser produtivo na medida em que não fica paralisado nas suas ações.

 

Contudo, no que diz respeito aos comportamentos de fuga ou luta (usando atividade produtivas ou não) em resposta à ansiedade sentida perante a situação que enfrenta, esse ponto nem sempre é suficientemente claro. Isso acontece porque os comportamentos de fuga ou luta em resposta à ansiedade sentida podem tornar-se num problema paralelo ao problema original que provocou a perda de confiança.

 

 

Hoje o meu maior desafio neste campo é o que está se passando com Romain. Ele voltou a me procurar depois do GP do Bahrein perguntando se eu teria horários para atendê-lo regularmente. Há cerca de um ano e meio, por opção dele, ele disse que não achava estar mais precisando de terapia, que estava se sentindo forte psicologicamente e que não viria mais a San Diego.

 

Muitos clientes não retornam para o atendimento em saúde mental ou abandonam prematuramente a psicoterapia, sendo que a maioria dos casos de desistência acaba solicitando retorno de atendimento, necessitando reiniciar o processo diagnóstico e encaminhamentos.  As consequências negativas da interrupção precoce do atendimento psicoterápico, não podem ser analisadas uniformemente nas situações associadas ao abandono, que variam desde fatores sociodemográficos a características pessoais. No caso, sabemos bem como os pilotos de competição se consideram autosuficientes...

 

Nos dois anos anteriores, o desempenho de Romain na Haas foi compatível com o nível do equipamento que ele recebeu. Dentro da medida do possível, ele foi obtendo resultados que o credenciavam a permanecer na equipe e a ser o principal piloto da mesma, gozando da confiança de todos e dando o retorno que eles todos, tanto a divisão de projeto na Europa como a mão do dono aqui nos Estados Unidos estava considerando ser boa o suficiente.

 

 

O início deste ano veio com um aparentemente carro bem nascido, que equipado com um bom motor como tem se mostrado os motores da Ferrari poderiam perfeitamente levar a equipe a um platamar mais elevado, subindo degraus na escala entre as equipes chamadas médias e saindo de um oitavo lugar no campeonato mundial de construtores dos dois últimos anos para um sexto ou mesmo um quinto lugar, superando McLaren, Toro Rosso e Renault.

 

O desempenho nos testes pré-temporada e os treinos classificatórios na etapa de abertura, na Austrália mostravam uma Haas surpreendente e nas primeiras voltas da corrida o desempenho arrancava elogios dos comentaristas da Fox, emissora que transmitia a corrida aqui nos Estados Unidos. A decepção por ver ambos os carros abandonando por problema de fixação de pneus no pit stop foi decepcionante para todos, pela TV, nos boxes e principalmente os pilotos. O carinho que Romain teve com o mecânico quando retornou aos boxes foi uma das grandes imagens daquela corrida.

 

 

Contudo, parece que aquelas rodas que não foram fixadas propriamente soltou outras porcas e parafusos na equipe de Gene Haas. Para a corrida seguinte o desempenho surpreendente da abertura do campeonato parecia ter se tornado uma página virada... pelo menos para Romain. Enquanto seu companheiro de equipe andou sempre entre os 10 primeiros, ele sofria lutando entre o final e o meio do pelotão, terminando apenas num apagado 16º lugar.

 

Na china o desempenho em treino foi equilibrado, e dava esperanças de ter os dois carros da equipe na zona de pontos ao final da prova. Contudo, mais uma vez, Romain não conseguiu evitar problemas e apenas Magnussen, seu companheiro de equipe levou pontos para casa no campeonato de construtores. Ali a confiança de Romain já estava dando os primeiros sinais de fragilidade. Foi quando ele telefonou-me e conversamos por quase uma hora, mas ele ainda se mostrava um tanto quanto relutante em retomar o tratamento.

 

A gota d’água foi o que aconteceu no Azerbaijão, quando ele teve que largar em último, sem tempo de qualificação. Na corrida, teve um desempenho excelente, ultrapassando adversários e contando com alguns abandonos até chegar ao sexto lugar depois da colisão das Red Bull. Seria uma pontuação excelente para ele e para a equipe quando, surpreendentemente, ele perde o controle do carro enquanto seguia o safety car e bate sozinho. Ali Romain desmoronou!

 

 

Ele veio até San Diego na sexta-feira da semana seguinte para a primeira das nossas sessões de retomada. É um processo que exige uma abordagem diferente, uma postura, da parte do terapeuta, de consideração com o outro o que permite a possibilidade da abertura de uma disposição para uma relação profunda, de acolhimento, partilha, importância e respeito com o cliente e aquilo que o mobiliza para a terapia.

 

Romain seguiu para a Espanha um pouco mais confiante, mas aquele acidente em que ele se envolveu antes de completar a primeira volta e aquela imagem dele sentado na arquibancada deu para mim a dimensão do tamanho do trabalho que eu teria para buscar a recuperação psicológica do meu paciente diante. Parecia que eu estava vendo aquele Romain que quase perdeu seu lugar na Fórmula 1 pelos acidentes que provocava.

 

Ele retornou para San Diego bastante abalado e com a autoconfiança passada no triturador da sua mente repetidas vezes, vendo e revendo aquele acidente que ele causou, onde ele errou. Não bastasse isso, seu companheiro de equipe fazendo uma excelente corrida e conquistando um ótimo 6º lugar para a equipe no mundial de construtores.

 

 

Trabalhar o básico, reconstruir uma base é sempre o melhor caminho neste tipo de situação, contudo, temos o relógio correndo contra nós e uma temporada muito disputada em andamento. Logicamente alguns passos como não gastar toda a sua energia e seus pensamentos para tentar esconder o sua insegurança, demonstrando confiança em seu trabalho e na equipe, interagindo e delegando, questionando e ouvindo, então, você se fortalecerá para tomar as suas atitudes não com base nas decisões dos outros, mas junto com eles.

 

O problema é que isso pareceu não ter surtido o efeito que eu desejava no final de semana passado, em Mônaco. Se bem que, neste caso o problema foi de uma forma geral, com a equipe indo muito mal durante todo o final de semana e na corrida, andando sempre entre os últimos. Contudo, ter sido ele o último à frente das duas Williams e ter chegado atrás de Kevin Magnussen mais uma vez não ajudou em nada.

 

Estou publicando esta coluna dois dias antes da chegada de Romain aqui em San Diego antes do GP do Canadá. Este parece que será o meu grande desafio de 2018.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares