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GP de Bari 1948 - 70 anos de um feito PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 02 June 2018 23:19

O último dia 30 de maio foi um dia de festa na cidade de Maranello. Setenta anos se passaram desde a primeira vitória de um monoposto ostentando o cavalinho rampante teve como palco a cidade italiana de Bari, em um tempo Pré-Fórmula 1, que iria ter seu primeiro Grand Prix em Silverstone, no dia 13 de maio de 1950.

 

Enquanto os italianos celebraram este dia como um dia de vitória e história, aqui no Brasil, o país do futebol e que – para grande parte da “mídia especializada” – parece que tivemos apenas um piloto na história do automobilismo mundial, nem uma linha foi escrita, falada ou se fez alguma entrada televisiva, nenhuma palavra sobre quem era o piloto ao volante daquela Ferrari 166 Spyder Corsa. O primeiro grande herói do automobilismo brasileiro: Francisco Sacco Landi!

 

Será que os “estudiosos” (e como tem “estudioso”) não consideram esta a primeira vitória da mítica fabricante italiana? Talvez, quem sabe, apesar de ser pouco provável o conhecimento de que a primeira vitória da Ferrari (em uma corrida para carros esporte) aconteceu um ano antes. Em 20 de maio de 1947, Franco Cortese levou a Ferrari 125 S à vitória no Grande Prêmio de Roma. Ele completou 40 voltas do circuito de Terme di Caracalla dispostas nos bulevares arborizados ao redor dos antigos banhos romanos, num total de 137,6 quilômetros, a uma velocidade média de 88,5 km/h. Esta foi a primeira das seis vitórias que o carro fez em 1947, sendo que uma das mais notáveis foi em Parma, com Tazio Nuvolari ao volante.

 

Depois da segunda guerra mundial, a Europa estava em ruínas e o automobilismo que antes do conflito tinha corridas maravilhosas por todo o continente – e mesmo fora dele, como o GP Brasil, disputado no Rio de Janeiro no famoso circuito da Gávea, o trampolim do diabo – mas a partir de 1947 as competições começaram a reaparecer e em 1948 o “Circuito Grand Prix” – o precursor do Mundial de Fórmula 1 – já tinha diversas de suas corridas de volta e, entre elas, aconteceu o segundo GP de Bari.

 

 

Um ano antes ‘seo’ Chico, como era conhecido aqui no Brasil, foi convidado a participar da 1ª prova em Bari em 1947. Sem conhecer o circuito e o carro – uma Maserati 4CL – naquele domingo 13 de julho ele impressionou os italianos e chegou a andar na terceira posição até o momento em que foi forçado a abandonar devido a perda de pressão de óleo. O desempenho do brasileiro, o melhor dos três estrangeiros que disputaram a corrida, rendeu a ‘seo’ Chico um convite para retornar no ano seguinte e participar da 2ª edição da competição. A prova daquele ano foi vencida por Achille Varzi, ao volante de uma Alfa Romeo 158.

 

Convite feito, convite aceito!  Em 1948 ‘seo’ Chico seguiu de navio para a Itália na companhia do Barão Wilson Fittipaldi, que estava escalado para narrar a corrida para o Brasil. Chegando a Bari tiveram uma péssima notícia: o piloto brasileiro tinha alugado uma Alfa Romeo 158, o carro que vencera a prova no ano anterior, mas os organizadores decidiram que a corrida deveria ser disputada por carros com motores até 2 litros sem compressor ou 0,5 litros com compressor, especificações do que era chamada na época “Fórmula 2”.

 

 

Essa mudança gerou uma tremenda dor de cabeça para Chico Landi: se ele queria disputar a corrida, teria que conseguir outro carro. Foi aí que teve a ajuda providencial de um amigo e fã de Automobilismo, o Comendador Pedro Santalúcia, que negociou e conseguiu alugar uma Ferrari 166 Spyder Corsa, com Chico Landi competindo por um time privado, a equipe dos irmãos Besana, que alinharia o outro carro com Soave Besana.

 

Como foi tudo feito em cima da hora, Chico Landi só treinou com o carro  no dia da corrida, tendo este sido seu primeiro contato com um carro da Ferrari. A outra ajuda foi divina: Chico Landi foi até a catedral de Bari para rezar e pedir proteção para a disputa. Acabou sendo abençoado pelo Núncio Apostólico Ângelo Giuseppe Roncalli, a quem convidou para ir assistir a corrida (mas essa é uma outra passagem da vida de ‘seo’ Chico pra gente contar na seção “Estórias do Arco da Velha”).

 

 

A corrida não ia ser fácil. O grid tinha alguns dos maiores nomes dos últimos 10/15 anos da Itália. Achille Varzi, vencedor do ano anterior, Piero Taruffi (de quem também falaremos a seu tempo) e Felice Bonetto estavam na competição com Cisitálias de fábrica. Luigi Villoresi e Alberto Ascari, que viria a vencer o mundial de Fórmula 1 em 1952 e 1953 alinhariam com Masseratis A6GCS de fábrica. Pelo time oficial da Ferrari, o mito Tazio Nuvolari (que dividiu o carro com Franco Cortese) e Giuseppe Farina, que viria a ser o primeiro campeão mundial de Fórmula 1 em 1950, junto Fernando Righetti. Nicola Cherubini, Giovanni Rocco e Berardo Tarachi correram com carros da FIAT privados, assim como Chico Landi e Soave Besana correram com Ferraris privadas.

 

 

Era uma corrida de 60 voltas no circuito de 5.510 metros pelas ruas e avenidas da cidade, com a previsão de 60 voltas, perfazendo 330,6 Km. Com uma previsão de quase três horas de corrida em um traçado que tinha, em sua maior parte, um calçamento de paralelepípedos. Agora imaginem os queridos leitores como era pilotar aqueles carros com pneus mais estreitos do que os de uma moto de competição dos dias de hoje.

 

A pole position foi marcada por Giuseppe Farina e na primeira fila, ao seu lado, estavam Felice Bonetto, Piero Taruffi e Luigi Villoresi. Na segunda fila uma imagem mostrava o incomparável Tazio Nuvolari (que já estava em final de carreira, tanto que passou o volante no meio da prova para Franco Cortese) observando os adversários e, em segundo plano, o piloto brasileiro olhando para aquela lenda dos anos antes da guerra.

 

 

Dada a largada Felice Bonetto tomou a liderança , seguido por Giuseppe Farina e Piero Taruffi. Luigi Villoresi largou mal e perdeu muitas posições. Na 2ª volta Tazio Nuvolari, mostrou que “panela velha faz comida boa” – e corrida boa também – vindo de quarto para segundo lugar, ultrapassando Giuseppe Farina e Piero Taruffi, mas com pouco mais de uma hora de corrida o grande campeão fez uma parada programada e cedeu o lugar para Franco Cortese.

 

Foi uma das posições que Chico Landi ganhou sem fazer a ultrapassagem, mas foi mostrando sua habilidade para superar com grandes ultrapassagens sobre Achille Varzi, Piero Taruffi, Luigi Villoresi e Giuseppe Farina para assumir a segunda posição, não estando muito distante do líder Felice Bonetto. A Ferrari se mostrava um bom carro e tinha condições de ir buscar mais uma Cisitálias que tomaram metade da primeira fila na largada.

 

 

Faltando dez voltas para o final, Chico Landi alcança o líder, Felipe Bonetto e foi pra cima do italiano, até conseguir, em uma curva para esquerda, colocar sua Ferrari pelo lado de dentro da curva e aí aconteceu um momento em que tudo poderia terminar em tragédia caso fosse uma curva rápida. A curva na Via Giuseppe Verdi para a Via Umberto Giordano era a única esquerda lenta no traçado de 5,5 km. Tentando defender a posição, Felice Bonetto enganchou a sua roda dianteira esquerda na roda traseira direita da Ferrari de Chico Landie Landi e a Cisitália foi catapultada para o lado de fora da curva, capotando, mas terminando o movimento com as rodas no chão. O piloto, Felice Bonetto, foi arremessado para fora do carro (na época não existia cinto de segurança).

 

Com ajuda dos torcedores que assistiam a corrida nas calçadas, árvores, janelas e varandas, o italiano foi socorrido e voltou ao carro. Foi um momento em que os dois competidores poderiam ter seus carros danificados a ponto de terem que abandonar a corrida. A Ferrari de Chico Landi perdeu rendimento, ao ponto de Felice Bonetto, mesmo com sua Cisitália também avariada, conseguir andar mais rápido e vir tirando diferença, perigosamente, na última volta.

 

 

Apesar do risco, Chico Landi conseguiu cruzar a linha de chegada em primeiro lugar depois de 2 horas, 57 minutos e 17,6 segundos, com pouco mais de 3 minutos de vantagem sobre Felice Bonetto, o segundo colocado. Completando o que seria o pódio nos dias de hoje, chegou Achille Varzi, dom duas volta de desvantagem. Em um carro que ele não conhecia e teve contato apenas no dia da corrida, sem ter o apoio da fábrica, Francisco Sacco Landi levou o nome da Ferrari a sua primeira conquista em carros de competição.

 

 

A conquista do brasileiro pegou os organizadores de surpresa: eles não tinham o hino nacional brasileiro para tocar na cerimônia de premiação e – no improviso – tocaram o clássico “O Guarani”, de Carlos Gomes. O feito de Chico Landi foi manchete em todos os meios de mídia da época, estampando páginas de jornais e divulgação pelas rádios do país. Na Itália, Chico Landi foi chamado de “O Nuvolari da América”.

 

O Comendador Enzo Ferrari passou a ter um carinho muito especial por Chico Landi e convidou-o para ser piloto oficial da Scuderia, mas um impasse foi criado pelo próprio piloto brasileiro, que exigia poder correr com um carro pintado nas cores da bandeira brasileira, em verde e amarelo. Alguns anos depois Enzo Ferrari concordou em vender uma Ferrari para Chico Landi, que competiu com ela por alguns anos, como piloto privado, com a equipe Bandeirantes, e o cerro pintado em verde e amarelo. Uma verdadeira exceção.

 

 

Para ilustrar o tamanho da grandeza de Chico Landi (e a falta de respeito à memória, de conhecimento do público em geral e da “mídia especializada” em particular, além do desinteresse dos profissionais em divulgar seus feitos), trago para encerrar este Setor G uma narrativa do grande jornalista, Luis Fernando Ramos, que em sua narrativa do GP Brasil de 1947, no trampolim do diabo, ressaltou a atitude e as palavras de Luigi Villoresi, que apelidou Chico Landi de “O Nuvolari Brasileiro”.

 

Fontes: 8W Forix; Ferrari History Archieves; Fastlane UK; Pintrest; Wiki; CDO.


Last Updated ( Saturday, 02 June 2018 23:35 )