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Fernando é um ser humano como nós PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 31 August 2018 23:49

Olá fãs do esporte a motor,

 

Muitos emails que eu recebo questionam se ao escrever minhas colunas quinzenais eu não estaria quebrando o compromisso de confidencialidade entre terapeuta e paciente.

 

A resposta é não! Primeiro porque em não exponho detalhes do que falamos nas sessões. Segundo porque os assuntos que coloco nas colunas que escrevo já são – de certa forma – de conhecimento público pelo trabalho da mídia especializada que mantém o noticiário ativo (bem como as centrais de boataria) e terceiro (o mais importante), tenho a autorização de todos os meus pacientes para falar sobre as nossas sessões.

 

Agosto é o mês de “férias” da Fórmula 1, aquele período em que o trabalho deles diminui e eu quase me vejo louca com a organização da agenda junto com a minha secretária para conseguir atender os pacientes regulares e as consultas avulsas. Não é raro o dia de sairmos as duas do consultório depois das 21 horas, com o compromisso de estarmos de volta no dia seguinte antes das 7 horas da manhã para a primeira consulta.

 

Em meio a todos os atendidos, as duas sessões com Fernando foram particularmente concludentes. Há alguns anos o trabalho com ele para mantê-lo focado, motivado e principalmente contemporizador foi um enorme desafio profissional. O seu temperamento explosivo (não confundir com impetuoso, algo que por vezes, especialmente para um piloto de corridas, pode ser muito positivo) criou grandes problemas para ele ao longo da carreira.

 

Nisso precisamos voltar para um tempo em que eu ainda era aluna do curso de psicologia em Maringá e sonhava poder um dia assistir uma corrida de Fórmula 1 de dentro dos boxes como já fiz algumas vezes nos Estados Unidos e no México. Foi quando Fernando incendiou a McLaren na sua disputa interna com Lewis e o título daquele ano acabou no colo de Kimi Raikkonen, com os dois pilotos de Ron Dennis empatados em segundo lugar com um pontinho de desvantagem.

 

 

 

Ao longo do final de julho e início de agosto tivemos a situação de vermos em aberto duas vagas em algumas das melhores equipes com o contrato de Kimi Rakkonen terminando no fim do ano e ainda não renovado e com a transferência de Daniel Ricciardo para a Renault. Equipes com a capacidade de trabalho e o potencial de vitórias que tem seriam um lugar à altura para um bicampeão do mundo, ainda mais sendo este considerado por muitos o melhor piloto da categoria.

 

Apesar disso – na verdade justamente por isso – o nome de Fernando não foi considerado por nenhuma destas equipes como uma opção. A Ferrari renovou com Kimi e a Red Bull anunciou a promoção de Charles Leclerc para ocupar a posição de Ricciardo na equipe austríaca. O piloto veloz, constante, técnico, arrojado, com histórico de tirar do carro mais que este pode dar não era uma opção. A geniosidade do asturiano ultrapassou a sua genialidade sem auxílio de kers ou asa móvel, como de a primeira fosse empurrada por um motor de Fórmula 1 e a segunda um motor de GP2!

 

 

 

Existe um termo em inglês – troublemaker – que cai como uma luva para definir Fernando ao longo de sua carreira. Ele esteve no centro da denúncia de espionagem que a McLaren fez junto a Ferrari, através de um funcionário da equipe italiana que passava os detalhes técnicos e planos dos carros italianos para a equipe de Ron Dennis. A McLaren foi punida técnica e financeiramente. Depois, na volta para a Renault, foi o beneficiário do esquema para provocar uma bandeira amarela e a entrada do safety car em uma estratégia que deu-lhe a vitória, enterrou a carreira de Nelsinho Piquet e – pra alguns – fez Felipe Massa perder o título de 2008.

 

Na Ferrari, foram tantas brigas que até as “versões oficiais” (dependendo de quem publicou) de que Fernando teria sido “convidado a se retirar” da equipe, mesmo um ano antes do fim de seu contrato devido ao péssimo ambiente entre ele e o staff técnico de Maranello ou de que ele teria comunicado ao então presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, que estava de saída para a McLaren por não acreditar na capacidade da equipe italiana de fazer um carro competitivo – independente da versão – fechou-lhe a porta e colocou um cadeado enorme, inviabilizando um retorno futuro.

 

 

 

De volta na McLaren, a relação – inicialmente esperançosa – com a Honda foi ainda mais frustrante ao longo de três anos onde o ápice foi o rádio “GP2 engine” na transmissão do GP do Japão, a casa da Honda, e sensíveis como são os japoneses, aquelas palavras feriram como o golpe da espada de um Samurai, deixando a equipe inglesa e a fábrica japonesa em uma relação bastante delicada.

 

 

 

Fernando tem um temperamento difícil e ele tem consciência disso. No início de sua carreira, seu mentor, empresário e ponto de referência era Flavio Briatore, de quem me abstenho de fazer uma análise de caráter. Nos últimos anos Fernando parece ter encontrado na figura de Zak Brown uma nova referência, um novo mentor. Foi com ele que foi traçado o plano da ida para as 500 Milhas de Indianápolis no ano passado e foi com ele que foi traçado o plano envolvendo a família Andretti para a ida de Fernando para a Fórmula Indy em 2018.

 

O ano de 2019 vai ser muito interessante. Vamos ver o quanto a Fórmula 1 sentirá falta de Fernando e ele da categoria. Em 2019, no meio da temporada, termina a “super season” do mundial de endurance e, caso não haja nenhuma adversidade, Fernando irá se sagrar campeão mundial nesta categoria. Caso conquiste o título na Fórmula Indy e vença também – em algum momento – as 500 Milhas de Indianápolis, Fernando entrará para história como o maior vencedor do automobilismo mundial... e com uma possibilidade de retorno à Fórmula 1 pela própria McLaren, caso ela “acerte a mão” e volte a ter um carro competitivo, mesmo que equipada com um motor Renault.

 

 

 

Independente de sua controvertida personalidade, os anos de convivência com ele tem me mostrado um Fernando que nem todas – apenas as mais próximas – pessoas conhecem, Fernando é uma pessoa com particularidades como qualquer pessoa e, sendo como qualquer pessoa, tem o direito de cometer erros e também deveria ser menos cobrado por isso.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares