Foi uma festa a passagem da Copa Truck por Buenos Aires, na primeira corrida internacional da categoria criada no ano passado para substituir a tristemente desarticulada Fórmula Truck. Pelo menos para Felipe Giaffone deu tudo certo. A exemplo da última rodada dupla, em Goiânia, Wellington Cirino fez a pole position - a quarta neste ano -, que somada com as da F Truck totalizaria o recorde de 35 vezes largando na posição de honra. No entanto, como também aconteceu em Goiânia, ele não levou nenhuma das duas corridas. Na verdade, só deu Felipe Giaffone, o único piloto a ter cinco títulos de caminhões no Brasil. Cirino tem quatro, todos conquistados na extinta categoria. Com a pista um pouco molhada em alguns pontos, a corrida de abertura demorou muito para começar. Foram mais voltas do que as necessárias para os experientes pilotos se acostumarem aos pontos mais escorregadios. De verdade mesmo, cansou muito, e se eu pudesse até trocaria de canal, ficar quase cinco minutos vendo os caminhões atrás do Safety Car argentino. Giaffone, que largou em segundo lugar, não deu muito tempo para Cirino pensar, logo o ultrapassou e se manteve na frente sem grandes dificuldades. Todas as vezes que eu falava isso nas entrevistas coletivas os pilotos davam risada e diziam que a gente, que está do lado de fora, não sabe o que realmente se passa ali dentro do cockpit. Um dos que mais reclamava e ria dessa minha colocação era Adalberto Jardim, que por ter terminado em oitavo lugar, largou na pole da segunda corrida, na tradicional inversão do grid. O vencedor Giaffone ficou com o oitavo lugar, mas muito cedo foi ultrapassando os adversários, mostrando que está vários pontos acima de boa parte do grid e que ainda tem sangue nos olhos e, apesar de ser muito cerebral, como já disse aqui várias vezes e repito, continua com a faca nos dentes. Por isso, e por ter um caminhão Volkswagen que ele conhece muito bem há bastante tempo e pela boa equipe, tem se mantido na frente e conquistado praticamente todos os títulos disputados na Copa Truck. Felipe levou a segunda prova com o braço para fora do caminhão. Brincadeirinha gente!!!! Isso não quer dizer que ele não tem adversário à altura. Tem sim, como o próprio Cirino, Danilo Dirani, que deu um show em Goiânia e venceu duas vezes na conquista de Giaffone da Copa Centro-Oeste. Tem também Leandro Totti, bicampeão com caminhões, além de Beto Monteiro, outro bicampeão, André Marques, que tem batido na trave várias vezes mas é um bom e regular piloto, Roberval Andrade, outro dono de dois títulos, Régis Boessio, o experiente Adalberto Jardim, sem falar de Renato Martins, que voltou ao cockpit depois de anos afastado. Tem muita gente boa, mas ele tem se mostrado melhor. Simples assim. De verdade, sinto muito a falta no grid da Copa Truck de gente sanguínea (no sentido do temperamento, claro) como Paulo Salustiano e destas duas últimas vezes (Goiânia e Buenos Aires), o bom e velho Djalma Fogaça, o ex-Caipira Voador e agora Monstro, substituído pelo filho Fábio Fogaça. Eles dariam um tempero mais saboroso às disputas. Todas as categorias precisam de gente assim. Só pilotos certinhos, que rezam pelo script, acabam sendo politicamente corretos, mas extremamente cansativos. Quem viu a saborosa entrevista de Kimi Raikkonen neste final de semana sabe do que estou falando. O tradicional mau humor do finlandês, que em alguns momentos lembra os bons tempos de Fogaça, que falava as suas verdades aos quatro ventos, divertiu as pessoas na entrevista coletiva da F1 em Singapura. Salustiano é outro que detesta respostas protocolares e sapeca o que pensa. O mundo não é feito somente de pilotos como André Ribeiro e, mais recentemente, Hélio Castro Neves, que aprendeu muito (e em parte tenho culpa nisso e uma hora contarei) com o mestre André. Os dois saíam do carro irritadíssimos por terem errado ou tirados da corrida pelo adversário, mas assim que as câmeras ligavam colocavam o sorriso de Monalisa no rosto e davam explicações controladas e previstas. Chato pra caramba. Útil para equipes e patrocinadores, mas chato. Próxima corrida da Copa Truck será dia 7 de outubro em Rivera, cidade uruguaia separada por uma rua e por marcos da brasileira Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. Milton Alves |