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Um Esteban estável para 2019 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 24 October 2018 16:29

Olá fãs do esporte a motor,

 

Com o trabalho que venho fazendo há alguns anos como terapeuta de diversos pilotos, em várias categorias e mesmo alguns que já deixaram as pistas continuam sendo meus pacientes, a quantidade de oportunidades que tive no campo profissional e as redes de contato que formei neste período foi algo que me deixou encantada.

 

É muito importante para um profissional receber o reconhecimento das pessoas em relação ao seu trabalho. Não apenas dos seus pacientes, no meu caso, mas das pessoas que trabalham com ele e para ele por vê-lo crescer como pessoa, com profissional.  

 

Antes da vinda do circo da Fórmula 1 para o continente americano, onde serão disputada três corridas (Estados Unidos, México e Brasil) recebi na semana anterior um telefonema de Toto Wolff, o diretor executivo da equipe Mercedes, perguntando como estava a minha disponibilidade de tempo. Confesso que achei que rolaria um convite para ir até Austin, algo que este ano seria muito complicado devido ao meu doutorado, mas o assunto era outro.

 

Ele veio perguntar sobre a minha agenda e se eu poderia iniciar um trabalho com o Esteban Ocon, seu piloto e uma esperança da Mercedes para os anos seguintes, mas que tem ainda o futuro incerto para 2019, com a compra da Force Índia por parte do Sr. Lawrence Stroll e com a decisão da equipe pelos dólares do patrocínio pesado de Sergio Perez para aliviar o orçamento da equipe, o pupilo da Mercedes acabou sem lugar. Segundo Toto, sua intenção é que eu possa ajudar Esteban a se manter focado e motivado, mesmo que no próximo ano o francesinho fique apenas como piloto de testes na equipe.

 

Eu fiquei muito agradecida – e um pouco envaidecida, confesso – com o telefonema e o convite. Para os meus queridos leitores que tem boa memória, há alguns anos, fui convidada por Toto Wolff para ir à Inglaterra e fazer um trabalho em conjunto com toda a equipe, num dos momentos mais críticos da disputa entre Lewis e Nico. Foi um enorme compromisso e um voto de confiança em meu trabalho de imensa importância. Desde então – acho – conquistei a confiança não apenas de Toto, mas de toda a equipe.

 

 

Mas precisei ser bem direta na nossa conversa por telefone: disse a ele que não receberia Esteban como paciente apenas se ele realmente desejar fazer um trabalho por considerar interessante e positivo, não apenas porque o seu chefe mandou que ele fizesse e ele, seguindo ordens, iria ao meu consultório na periodicidade determinada. Não sei de o Toto gostou muito desta minha colocação, mas não se pode obrigar uma pessoa a fazer um trabalho de terapia se ela não tiver vontade. Mas se ele não gostou, também não contestou.

 

Na segunda-feira após o Grande Prêmio dos Estados Unidos, Esteban foi o meu primeiro paciente na volta do almoço. A primeira impressão foi de que se tratava de um jovem bastante tranquilo e até mesmo um pouco tímido. Ele já tinha falado pouco quando conversamos por telefone na semana anterior, antes da corrida em Austin. Cabia a mim deixá-lo bem à vontade, especialmente na primeira sessão. Levei-o para o consultório, “apresentei-o” ao meu Divã – que é muito confortávelm acreditem – e ele acomodou-se bem.

 

Surpreendentemente, ele mesmo tomou a iniciativa e disse que eu era famosa no grid da Fórmula 1, por ser a terapeuta de tantos pilotos, e acabou fazendo uma piadinha, dizendo que o piloto que mais precisava de terapia não era meu paciente, referindo-se a Max Verstappen com um risinho malandro. Eu disse que só faço terapia com quem chega à conclusão de que precisa fazê-la, que é um processo de aprimoramento e não um tratamento clínico e que é algo que faz as pessoas crescerem.

 

 

Perguntei porque ele fez a piadinha com o Verstappen e ele disse que não era por nada, mas que o seu antigo “colega” de disputas mete-se em confusões demais e que talvez fizesse bem para ele passar por um “processo de crescimento” (ele é muito inteligente, usou minhas palavras). Mas na verdade, ele deu a primeira pista de por onde eu deveria começar o meu trabalho: a relação de disputa entre ele e Max Verstappen.

 

Esteban e Max disputaram como adversários, em equipes diferentes, o campeonato europeu de Fórmula 3 em 2014 e Esteban foi o campeão, vencendo mais corridas inclusive. Contudo, apesar do apoio da Mercedes e tendo Toto Wolff como empresário, Esteban não chegou na Fórmula 1 com o mesmo impacto da chegada de Max, talvez pelo fato do holandês ter rumado via a midiática Red Bull ao invés da sóbria Mercedes.

 

 

Independente disso, conversamos sobre a relação dentro da equipe e este foi um ponto onde senti Esteban ficar um pouco incomodado. Afinal, desde que estreou na Fórmula 1 sua vida com os companheiros de equipe não foi nada fácil. Desde a Manor, onde por si só já não seria fácil andar na equipe mais fraca do grid. Mas ele ainda teve que dividir a equipe com um outro piloto Mercedes... e alemão! Pascal Wherlein.

 

Apesar da circunstância, Esteban mostrou mais equilíbrio, mais desempenho e mais potencial que o seu companheiro de equipe e isso acabou levando-o para a Force Índia, uma equipe mais forte e que também recebia motores Mercedes. Inclusive, a opção por Esteban foi algo que partiu da própria equipe, que hoje tem outro proprietário, o que demonstrou que os outros chefes de equipe viram nele um potencial de crescimento.

 

 

Perguntei a ele como estava sendo este período na Force Índia e a reação foi bem interessante. Uma inspiração e um suspiro forte, seguidos de um olhar do tipo: “você nem faz ideia”. Ele abriu o coração e falou de como tem sido difícil dividir espaço com Sergio Perez, um piloto rápido, inteligente, mas nem sempre muito “companheiro” de equipe. Foram diversas as vezes que os dois carros acabaram tentando ocupar o mesmo espaço na pista e isso acabou por prejudicar a equipe com uma indesejável frequência.

 

Falamos sobre futuro e ele, de forma surpreendente, pareceu estar absorvendo a situação que está vivendo de uma forma mais tranquila do que eu esperava, ao menos pelo grau de preocupação de Toto Wolff. Em todo caso, temos um trabalho, que é manter Esteban com a mente focada no mesmo nível que ele veio mantendo nestas duas temporada de Force Índia.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares