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E agora, Dakar? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 21 January 2019 23:15

O ano de 2019 veio marcar uma estreia. Pela primeira vez em quarenta anos, o Rali Dakar foi realizado num só país. Com partida e chegada a Lima, o Rali Dakar foi curto - onze dias - mas bem duro, onde as dunas de areia foram reis e senhores. E claro, os melhor adaptados foram os vencedores, logo, o triunfo de Nasser al Attiyah é de uma certa forma, natural.

 

Contudo, até cerca de três meses antes, a realização deste Dakar esteve em dúvida. Não havia mais países dispostos a o receber para além do país dos Incas, e o cancelamento esteve a pairar sobre as cabeças dos responsáveis da ASO (Amaury Sports Organization). No final, foi o governo peruano que desembolsou cerca de quatro milhões de dólares, através do seu ministério do Turismo, que assegurou a realização desta edição. 

 

No final, em Lima, Etiénne Lavigne, o diretor da prova, confessava não ter muitas ideias sobre a edição de 2020. Numa conversa com os jornalistas, Lavigne disse que está "super difícil falar sobre o futuro, porque a situação na América do Sul mudou dramaticamente, e negativamente, ao longo de vários anos. Até 2016/17 havia uma série de países para sediar o evento e hoje há condições económicas complicadas na Argentina, Chile ou Peru, que dificultam as intenções dos líderes políticos. O Dakar é um evento desportivo, mas a sua exposição mediática não é suficiente para um líder político quando tem que reduzir despesas."

 

 

Pela primeira vez desde sua primeira edição o Dakar foi disputado em apenas um país. 

 

Quando o Dakar foi cancelado, em Lisboa, há onze anos, devido às situações politicamente complicadas no Norte de África - uma familia francesa tinha sido massacrada na Mauritânia semanas antes e o governo do então presidente Nicolas Sarkozy pressionou as seguradoras para que cancelassem as apólices de seguro da ASO para forçar o seu cancelamento - a América do Sul parecia ser tentadora. Bem mais segura que a África do Norte, a sua recepção iria ser bem mais calorosa e Buenos Aires ou Santiago do Chile eram melhores que Dakar ou alguma cidade do sul da Europa, com as passagens pelas dunas marroquinas ou mauritanas, sempre com os amigos de Osama bin Laden à espreita, para dar espectáculo mediático.

 

O primeiro Dakar sul-americano apareceu em 2009, e apesar de alguns terem saudades de África e outros dizerem que isto vai durar alguns anos até que a organização voltasse ao continente negro, a verdade é que ficaram por ali. Teve partidas de Buenos Aires, Santiago e Lima, entre outros, passou por lugares como o Deserto de Atacama, cruzou os Andes vezes sem conta, subindo até aos quatro mil metros de altitude, no segundo maior planalto do mundo - batido apenas pelo Tibete - e esteve em paisagens como o Salar de Uyuni. 

 

 

 

Contudo, nos últimos dois anos, a América do Sul viveu dificuldades económicas. Brasil, Argentina e Chile viveram - e vivem - ciclos de depressão económica e não há muito dinheiro para realizações desportivas. Mesmo o Peru, que acolheu o Dakar deste ano, teve algumas dificuldades em arranjar o financiamento, como o próprio Lavigne admitiu.

 

"[Está] super difícil falar sobre o futuro, porque a situação na América do Sul mudou dramaticamente, e negativamente, ao longo de vários anos. Até 2016/17 havia uma série de países para sediar o evento e hoje há condições económicas complicadas na Argentina, Chile ou Peru, que dificultam as intenções dos líderes políticos. O Dakar é um evento desportivo, mas a sua exposição mediática não é suficiente para um líder político quando tem que reduzir despesas."

 

 

Após 11 dias de disputas, Nasser Al-Attiyah conquistou seu terceiro título na competição. 

 

E é verdade. Em 2018, o Dakar passou por Bolívia e Argentina, mas desde 2016 que já não passa pelo Chile, um país em melhores condições económicas que o seu vizinho "portenho". Só agora em 2019 é que o Dakar não passa por Argentina, e as paragens bolivianas, que acolheram com alguma relutância, este ano decidiram não acolher a caravana do Dakar.

 

E claro, isso faz com que haja gente a dizer que esta seria a altura ideal para regressar a África. em 2017, uma delegação do governo argelino esteve em Paris a falar com a ASO e com Lavigne para falar sobre a possibilidade do regresso da caravana a um país onde não vão desde 1991. E claro ,seria também o regresso do Dakar a África. Contudo, as intenções não passaram muito disso porque a organização quer ter tudo em aberto.

 

Como por exemplo, a possibilidade de ir ao Equador. A parte norte do Peru foi uma forte hipótese para 2019, mas Lavigne disse que não houve tempo para elaborar um percurso adequado.

 

 

"A parte norte é muito interessante para construir etapas entre Lima e o Equador. Tivemos um projeto muito interessante para este ano, mas tivemos pouco tempo porque há um trabalho de campo muito intenso com os Ministérios do Meio Ambiente e da Cultura do Peru. Precisamos de vários meses para fazer as coisas direito, é uma pena, porque no início im aginávamos construir três ou quatro etapas no norte porque sabemos que há terrenos absolutamente espetaculares para etapas", acrescentou. 

 

O problema têm a ver com os percursos arqueológicos - o norte é fértil em localizações pré-colombianas, sem ser Incas - e já houve problemas no passado por causa das rodas dos carros passarem por locais sensíveis à exploração arqueológica. Uma expansão até ao Equador seria ótimo, e Lavigne espera que isso aconteça com a colaboração dos governos locais.

 

 

Etiénne Lavigne tem, todos os anos, um desafio em suas mãos e o próximo pode ser ainda mais duro. 

 

Mas por outro lado, o regresso a África faria contentes os puristas. Sempre foi uma ligação da Europa até África, o sonho e o desafio lançado pelo seu fundador, Thierry Sabine, morto em 1986. O facto de um governo norte-africano afirmar que pretende a caravana passar pelas suas terras seria um bom pretexto para um regresso, que sempre foi prometido pela ASO, e que a Africa Race é um pálido exemplo de sucessão. Uma nova chegada a Dakar seria excelente, e mesmo os problemas de segurança provavelmente só são relevantes por causa do nome, porque a Africa Race, que segue as rotas do antigo Dakar, não tem tido quaisquer problemas de segurança. 

 

Mas isto só demonstra que o Dakar não é só um problema politico. A economia também tem a ver com o assunto de um rali que é o mais mítico do automobilismo e que não interessa o lugar onde se desenrola, os problemas não deixam de aparecer. 

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira