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Fernando, a lenda PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 05 February 2019 18:35

Olá fãs do esporte a motor.

 

Tenho certeza que meus amados leitores sentiram falta da minha coluna, mas eu realmente precisava de umas férias. Meus pacientes foram tão compreensivos que não ligaram muito durante as três semanas que fiquei sem receber pacientes no consultório.

 

O descanso foi relativo. Estou fazendo doutorado aqui nos Estados Unidos e estudar, pesquisar, debater com seu orientador em um idioma que não é o seu tem sido um desafio e tanto para mim. Está sendo uma experiência de vida incrível.

 

Mas as responsabilidades não podem ficar de lado e meu compromisso profissional com meus pacientes precisa não apenas mantido, mas muito bem cuidado. Lidar com pessoas é algo desafiante, fascinante, que obriga o profissional a estar sempre aberto e disponível para que aquele que deposita nele a confiança e a esperança de encontrar respostas e caminhos para seu crescimento pessoal e profissional.

 

A melhor prova disso foi a quantidade de flores e chocolates (para jogar por terra todo o meu esforço para perder peso) que recebi desde que voltei a receber meus pacientes, vindos de praticamente todos os continentes. Assim, retomo minha rotina de ser uma boa ouvinte, de estimulá-los a encontrar as respostas que estão buscando, ou mesmo aquele que apenas vem aqui a San Diego para um “bate papo” com uma amiga.

 

Ao longo dos últimos dois ou três anos acho que, talvez, esta última forma exposta seja a forma como tenho visto as sessões com Fernando Alonso e ele comigo. Das sessões angustiadas em seus anos como piloto na Ferrari e no primeiro ano em seu retorno à McLaren até ele começar a passar por uma mudança – um tanto quanto inesperada – de postura, ao menos na maior parte do tempo, até chegar ao atual nível de estado de espírito foi algo formidável.

 

 

 

Nos falamos algumas vezes ao longo do mês de janeiro onde ele vinha se mostrando cada vez mais empolgado com a participação nas 24 Horas de Daytona. Ele inclusive perguntou se eu iria para a corrida e ficou um tanto decepcionado quando disse-lhe que não teria como cruzar o país de costa a costa para estar na corrida. Ele chegou a oferecer as passagens, mas era uma questão de compromissos aqui em San Diego e eu o lembrei que na terça-feira, após a corrida, ele tinha sessão comigo.

 

Amados leitores, vocês não fazem ideia de como é bom ver um paciente seu com um sorrido no rosto como o que estava Fernando quando chegou aqui depois da corrida. Não era apenas pelo fato de ter vencido, mesmo que daquela forma, com a corrida interrompida devido à chuva, mas por estar explícito no rosto daquele homem que ele estava feliz com tudo e com ele mesmo.

 

Fernando lembrou que na corrida do ano anterior, que foi a sua primeira participação, na prova de Daytona, ele e seus companheiros de carro terminaram apenas na 38ª colocação, após muitos problemas mecânicos no carro, então da United Autosports. E se tem uma coisa que piloto nenhum gosta é quando seu carro não apresenta um rendimento satisfatório. No caso de Fernando, isso fica bastante evidente.

 

 

 

Neste ano as coisas foram diferentes, embora algumas preocupações durante os treinos conseguissem apagar um pouquinho do sorriso de Fernando nos momentos em que ele deixava o carro e era cercado por fotógrafos, jornalista e fãs (e como ele tem fãs nos Estados Unidos) e, bem diferente de como são – ou eram – as coisas na Fórmula 1, Fernando disse sentir-se à vontade com toda aquela atmosfera em torno dele.  

 

Apesar da apreensão com o equilíbrio do carro durante os treinos e com o fato de só terem conseguido o sexto lugar no grid para a largada, Fernando estava confiante em conseguirem uma performance mais competitiva durante a corrida. Afinal, são 24 horas e não menos de duas como em um GP de Fórmula 1 e nestas corridas como Daytona, Le Mans ou outras de 24 horas, tudo pode acontecer e neste caso, aconteceu.

 

 

 

Fernando mostrou porque é um dos melhores pilotos de todos os tempos no automobilismo mundial. A forma como ele adaptou-se aos carros protótipos desde que foi correr no campeonato mundial de endurance (WEC) foi a de quem troca um par de sapatos. Nada parecia ter mudado e ele andou tão rápido quanto os companheiros de equipe, sem comprometer a performance do carro.

 

E quando veio a chuva? Não consegui segurar o riso quando Fernando falou que esta é uma das melhores coisas de se correr em um protótipo: além de ter um para brisa com limpador, o macacão continuava seco! Senso de humor espanhol à parte, Fernando foi um dos mais rápidos na condição de pista molhada, fazendo a diferença em relação aos adversários. No final, prevaleceu sua tranquilidade sob chuva pesada e o efeito positivo da pressão sobre o líder, Felipe Nasr, que acabou errando pouco antes da bandeira vermelha interromper a prova e entregou a liderança para o Cadilac número 10.

 

 

 

Fernando tem consciência de que a imprensa mundial, de forma geral, e a espanhola, em particular, está colocando-o em um platamar de “lenda” do automobilismo e, caso ele consiga vencer as 500 Milhas de Indianápolis, ele será o único piloto do mundo na história a vencer, além desta, o GP de Mônaco na Fórmula 1, as 24 Horas de Le Mans no WEC, além da agora, vitória em Daytona, mas sabe que irá sempre carregar o peso da cobrança sobre seus atos na Fórmula 1 que acabaram por comprometer aquilo que ele desejou por anos: ser maior do que Michael Schumacher.

 

Este costuma ser um ponto ao qual voltamos, eventualmente, nas nossas sessões e um dos poucos momentos que o sorriso – quase uma constante nos últimos anos – desaparecer por alguns momentos. Fernando tem hoje, aos 37 anos de idade, um grau de maturidade que se tivesse vindo 10 anos antes, faria dele um colecionador de títulos na Fórmula 1.

 

 

 

Como o relógio da vida não anda para trás e hoje as portas das principais equipes da Fórmula 1 estão fechadas para ele, Fernando está podendo – para nosso prazer – mostrar o que faz um piloto ser um piloto na sua essência: ele é capaz de correr, ser um dos mais rápidos e vencer em qualquer coisa que tenha quatro rodas. Isso sim faz um piloto ser diferente dos demais.

 

Fernando sabe que o desafio de vencer as 500 Milhas de Indianápolis é enorme. Como ele mesmo diz, é uma corrida com variáveis demais para se prever um resultado ou se fazer um planejamento antes da largada, segui-lo ao pé da letra e receber a bandeira quadriculada em primeiro lugar. Ele viu como as coisas mudam, especialmente nas últimas 40 ou 50 voltas.

 

 

 

Independente do que vai acontecer em maio próximo, a foto que fizeram após a vitória de Fernando em Daytona diz bem como o piloto espanhol já é visto nos Estados Unidos. Se Indianápolis é o objetivo, o céu é o limite.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares 
Last Updated ( Tuesday, 05 February 2019 18:42 )