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Andar de cavalo para burro PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 26 March 2019 00:08

No domingo do GP da Austrália, em Melbourne, os Williams acabaram nas duas últimas posições da corrida, com o britânico George Russell a ficar na frente de Robert Kubica, que quebrou a sua asa dianteira e perdeu quase uma volta para a substituir. O facto que Russell ter terminado com duas voltas de atraso, uma na frente do regressado piloto polaco, até poderá parecer uma humilhação para quem já têm sete títulos de Construtores, com tempos mais lentos daqueles que fizeram em 2017, mas de uma certa forma, foi o culminar de um inferno que o FW42 passou e irá passar até que os problemas sejam resolvidos.

 

Nesse mesmo fim de semana, Russell disse à imprensa que os problemas foram identificados, e apesar de não ter revelado a origem desse problema, afirmou que é estrutural e não se resolverá na próxima corrida nem com o próximo pacote aerodinâmico. Irá demorar meses e provavelmente a temporada será de sofrimento para ambos os pilotos.

 

Há uma falha fundamental que não quero discutir publicamente”, começou por dizer o piloto britânico ao site motorsport.com. Nós entendemos qual é o problema, mas isso não significa que podemos acordar na manhã de segunda-feira e corrigi-lo. Mudar algo tão fundamental levará meses de desenvolvimento, muito trabalho no simulador e é preciso projetar como fazê-lo. E infelizmente teremos uma série de corridas antes de podermos brigar. Mas acho que, resolvido o problema, haverá um grande salto”, continuou.

 

Nós provavelmente ainda iremos estar na parte de trás do grelha, mas com a chance de lutar no futuro. O fato é que não temos nenhuma esperança neste momento [é] porque estamos muito atrasados”, concluiu.

 

Quanto à qualificação, Russell afirmou ter ficado feliz por ter tirado o máximo do carro, apesar de ter sido 19º e penúltimo na grelha de partida.

 

Em todas as três voltas do Q1, cruzei a linha com um sorriso no rosto e realmente senti que tirei o máximo proveito disso”, começou por dizer. “Mas obviamente queremos mais do que isso, e quero estar no carro por mais tempo do que só os primeiros 18 minutos. Em Barcelona eu provavelmente estava em 99%, mas hoje eu acho que foi meu potencial máximo. Do meu lado e dos meus engenheiros, fizemos o nosso trabalho, que foi tirar o máximo do pacote que temos. Foi muito satisfatório”, continuou.

 

Só que esta é apenas a primeira corrida. O principal trabalho agora é realmente ajudar a equipe a entender as fraquezas e ver como ir adiante, porque não tenho interesse em lutar com o Robert pelo 19º lugar. Queremos trabalhar juntos para levar a equipe para frente”, concluiu.

 

 

 

As suas declarações, bem como a performance de ambos os pilotos no fim de semana australiano foram o mais recente capítulo de um inferno que começou muito tempo antes e que levou a ameaças de motim e a partida do seu projetista, oficialmente “de licença”. E claro, a liderança de Claire Williams está a ser fortemente contestada.

 

OS DIAS DE ATRASO 

 

Em 2018, a Williams conseguiu apenas sete pontos. Se acham que foi um mau ano, sim, é verdade, mas piores foram as temporadas de 2011 e 2013, onde conseguiu cinco pontos em cada uma desses anos. Claro, pelo meio teve dois ótimos anos, 2014 e 2015, onde foi terceiro classificado nos campeonatos de Construtores, com Felipe Massa e Valtteri Bottas. Não venceu, mas conseguiu com o FW36 e o FW37, um conjunto de treze pódios, uma pole-position e duas voltas mais rápidas. Contudo, desde 2016 até aos dias de hoje, conseguiram apenas dois terceiros lugares, um com Bottas ao volante, outro com Lance Stroll, no GP do Azerbeijão de 2017. Esse foi o seu último pódio.

 

Tudo isso foi conseguido graças a mentes brilhantes como Christian ‘Toto’ Wolff, um dos adjuntos de Frank Williams na equipa - e então acionista minoritário - bem como Pat Symmonds, ex-Benetton e que regressara à Formula 1 em 2013, depois de cinco anos de “exílio” devido ao seu envolvimento no “Crashgate”, onde Nelson Piquet Jr. causou um acidente para favorecer Fernando Alonso do GP de Singapura de 2008.

 

 

 

Desde 2014 que a equipa tem motores Mercedes no seu seio - graças a Wolff, que foi para os Flechas de Prata no ano anterior - num acordo onde teve algo mais do que compensação monetária. Quando em 2017, a Mercedes decidiu contratar Valtteri Bottas para compensar a inesperada saída de Nico Rosberg, após a conquista do seu título, a contrapartida foi uma diminuição no preço dos motores que a construtora alemã fornece à equipa de Grove. E quando meses depois, Paddy Lowe decidiu ir para lá, para substituir Pat Symmonds, que se reformara, com um contrato e uma parte da estrutura acionária da equipa – cinco por cento – a Mercedes decidiu libertá-lo antes do habitual período de licença de um ano, o famoso "gardening leave" (licença para jardinagem, numa tradução literal) para poder ajudar na equipa.

 

Contudo, os carros da Williams desenhados por Lowe não tem sido bons. O FW41 foi o que foi, mas esperava-se que o seguinte fosse melhor. Contudo... acabou por ser uma saga, do qual não terá um final feliz. A não ser que desenhem velozmente uma versão B.

 

Tudo começou quando a 17 de fevereiro, véspera dos primeiros testes coletivos da Formula 1, em Barcelona, surgiu o rumor de que o FW42, previsto para ser mostrado no dia seguinte, só iria surgir dois dias depois, na quarta-feira. Aparentemente, havia problemas graves de estrutura, de alinhamento. Tinha de ser redesenhado por causa da instalação do sistema de arrefecimento dos travões, problema detectado na semana anterior, quando montavam o carro.

 

 

 

Um site, o “The Judge13”, citava uma fonte interna da equipa, que dizia o seguinte: “[O carro] foi mal desenhado. Não foi uma questão de construção. As partes não estão a alinhar direito e não se conseque construir um sistema de travagem [no carro] porque simplesmente, não cabe”.

 

No dia em que o carro finalmente rodou na pista catalã, outro artigo, no jornal britânico The Telegraph, arrasava totalmente a reputação dos seus dirigentes - Paddy Lowe e Claire Williams – e chegou a usar a palavra “motim”, algo do qual nunca pensei ouvir de uma equipa sete vezes campeã do mundo de Construtores. O artigo, assinado por Oliver Brown, começava assim:

 

A Williams está à beira de um motim total contra seu diretor técnico, Paddy Lowe, já que os problemas com a construção do seu carro de 2019 ameaçam privar a equipa do crucial período de testes de inverno pelo terceiro dia consecutivo. Mesmo com os padrões recentes – e sombrios – da equipa britânica, os eventos das últimas 48 horas vão além da paródia. Numa altura em que a Williams esperava estar a aperfeiçoar a sua máquina antes do primeiro Grande Prémio da temporada, em Melbourne, no mês que vêm, os engenheiros andam às voltas, furiosos, num hotel perto do Circuito da Catalunha, com o carro ainda preso na sua sede em Oxfordshire”.

 

Com o carro a estar presente em Barcelona apenas na madrugada de quarta-feira, a Williams esta trabalhando horas extra para garantir que ele esteja pronto para a sessão da tarde. Após o cancelamento do "shakedown" do Williams FW42 planeado para o final da semana passada, bem como a perda de dois dias e meio de testes, a paciência [da equipa] com Lowe, o chefe técnico da equipe, está no ponto de ruptura”.

 

 

 

O artigo prosseguia depois, falando nas relações entre ambos e o resto da equipa, que se tinham deteriorado progressivamente. E com as primeiras voltas dadas com o carro, Kubica disse que ele era lento. Mais lento que o carro de 2017, que por sua vez, já era mais lento que o chassis de 2016. Tudo isto numa altura em que os carros da frente, sejam eles Mercedes, Ferrari ou Red Bull, batem todos os recordes das pistas do calendário.

 

Claire Williams chegou a responder de forma irónica, afirmando numa entrevista que Kubica deveria ser o diretor técnico da equipa. Não se pode chegar a esse ponto, mas é ele que se senta no carro e sente como as coisas estão. Se não funcionam, cabe a ele reportar o problema e dizer onde pode ser corrigido.

 

LENTO... E ILEGAL

 

E o pesadelo não abrandou com as – poucas – voltas que Kubica e Russell deram em Barcelona. Entre ambas as sessões de testes coletivos, a FIA chamou a atenção da equipa por causa dos espelhos e as suspensões da frente do FW42, que aparentemente, estavam ilegais. Os espelhos eram radicais, mas a equipa estava a usá-los para a obtenção de ganhos aerodinâmicos, o que não é permitido. A peça era dividida em três, mas só o do meio funcionava na prática. A equipa acabou por modificar na segunda semana de testes, e o problema foi resolvido.

 

 

 

A segunda “chamada de atenção” teve a ver com a suspensão dianteira. As equipas, e a FIA, descobriram que o sistema de suspensão dianteira estaria a ser servindo como um elemento aerodinâmico, direcionando o ar diretamente para as aletas nas laterais do carro, vulgo “bargerboards”. A FIA disse logo à equipa para que retirassem esses elementos aerodinâmicos antes da corrida de Melbourne, para que o carro fique de acordo com os regulamentos.

 

Apesar dos problemas e das queixas – Kubica tem fama de ser meticuloso e incisivo, mas apresenta resultados – Lowe estava no final dos testes esperançado com o carro. Problema é que o polonês não tinha o mesmo otimismo, afirmando que não estava a ver onde poderia retirar tempo em relação à concorrência.

 

 

 

As irregularidades foram resolvidas e claro, cabeças rolaram. Não foi uma demissão, apenas uma escusa: Paddy Lowe decidiu tirar um tempo de férias para repensar. Não foi uma decisão surpreendente, mas as fontes dentro da equipa referem que Lowe não tem autoridade dentro da equipa, especialmente com Claire Williams a perder o controlo dela, e numa altura em que o velho Frank está cada vez mais débil, devido à sua idade e as suas limitações devido ao acidente que sofreu em 1986, quando ficou paralisado do pescoço para baixo. Não vai mais a um Grande Prémio desde 2016, quando sofreu uma pneumonia do qual demorou alguns meses para se curar, e falta alguém como Patrick Head, que conseguiu segurar a equipa no momento dificil do seu fundador, e lidava com egos como os de Nigel Mansell e Nelson Piquet.

 

Provavelmente, a Williams vai a caminho de um ano pior que as de 2011 e 2013, poderá ir a caminho do pior de sempre. O seu chassis ganhou um lugar nesse quadro de infâmia, e é bem capaz de eles terem de reestruturar tudo, para depois voltarem aos dias de gloria. Se calhar, sem um Williams a mandar na Williams.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira