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Frustrações profissionais PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 17 April 2019 18:44

Caros Amigos, a natureza humana é repleta de peculiaridades e algo que considero maravilhoso neste meio analítico das ciências humanas é a diversidade de pensamento e atitudes. De como as pessoas interpretam, agem e reagem às diversas situações que lhes são impostas.

 

Na coluna desta semana vou pedir uma licença à nossa psicóloga, Catarina Soares, para falar de um aspecto da natureza humana: a frustração. Este é um sentimento, individual ou coletivo, que nos afeta de forma negativa (na maioria das vezes, para algumas pessoas, uma frustração é como uma injeção de ânimo para se buscar superação) quando da não realização de algo que gostaríamos de ter feito, de quando algo que esperamos não acontece ou de quando recebemos a negativa sobre algum tipo de pleito... apenas para citar algumas situações.

 

Depois do último GP de F1, o GP 1000, disputado na China, passei a especular sobre o que estaria se passando na cabeça de um jovem de 21 anos que, sistematicamente, está sendo tolhido de sua liberdade de fazer aquilo para o qual se preparou por mais de uma década, por uma voz via rádio que apunhala seu peito através dos ouvidos ao ordenar que ele ceda sua posição ou não ameace a posição do primeiro piloto da equipe.

 

Charles Leclerc está vivendo esta situação, corrida após corrida, desde o início do campeonato na equipe Ferrari. Neste GP da China, Leclerc passou Vettel na largada e assumiu o terceiro lugar. No entanto, alheias ao que acontecia atrás de si, as Mercedes, que foram mais rápidas nos treinos, iam abrindo vantagem. Vettel argumentou pelo rádio que Leclerc era ligeiramente mais lento que ele e não demorou para vir a ordem para a troca de posições entre os carros vermelhos.

 

Trocadas as posições, coincidência ou não – e eu não costumo acreditar em coincidências – a razão de ganho de vantagem das Mercedes para as Ferrari foi aumentando volta a volta e aí foi a vez do quase novato reclamar, pedindo a devolução da posição. Tomou um “passa moleque” transmitido para o mundo inteiro na divulgação do rádio pela transmissão da TV, onde a equipe o mandou ficar focado e fazer o seu trabalho.

 

Qual será o “trabalho” de Charles Leclerc na equipe Ferrari? Nós vimos nos anos 90 e 2000 Eddie Irvine e Rubens Barrichello relegados à condição de escudeiros de Michael Schumacher, inclusive com o brasileiro tendo que deixar o alemão o ultrapassar para vencer. Em outros tempos, tanto antes como depois de Schumacher, havia uma outra forma da Ferrari lidar com a competitividade entre seus pilotos. Até cerca de 2/3 do campeonato, a disputa era aberta. A partir de então, quem estivesse atrás na pontuação trabalharia para o companheiro. Foi assim entre Scheckter e Villeneuve em 1979 e, mais recentemente, entre Raikkonen e Massa, com os dois trocando de posição em 2007 e 2008.

 

A história de pilotos novatos chegarem a uma equipe e se imporem aos que seriam os primeiros pilotos não é novidade. Na própria Ferrari isso aconteceu com Niki Lauda e Clay Regazzoni nos anos 70. Aconteceu também com Lewis Hamilton e Fernando Alonso na McLaren em 2007. Os chefes de equipe de hoje parecem não saber lidar com a situação que lhes é imposta e tem partido para a “solução mais simples”.

 

De que adiantou a Ferrari trocar Maurizio Arrivabene por Mattia Binotto? A Ferrari cometeu dois erros graves em termos de estratégia em três corridas. Na Austrália, chamou Vettel cedo demais para os boxes e o pódio do alemão foi “salvo” por uma ordem de equipe. Na China a vítima foi Leclerc, porque a estratégia praticamente o obrigou a perder uma posição e neste caso, erraram duas vezes, porque depois do primeiro erro, retardando a parada nos boxes, Leclerc tirou a diferença para Max Verstappen e quando o holandês foi para os boxes, uma troca com uma ou duas voltas de diferença manteria o piloto da Ferrari em condições de atacar a Red Bull e retomar o 4° lugar. Erraram novamente e faltando menos de 10 voltas, a diferença entre eles, ápos Leclerc sair dos boxes, voltava a mais de 10 segundos.

 

Até quando a Ferrari vai continuar punindo a competência de seu jovem piloto? Até agora o jovem monegasco tem mostrado maturidade e equilíbrio ao comentar com tranquilidade. Contudo, assim como Lewis Hamilton “explodiu” após o GP de Mônaco em 2007, havemos de perguntar por quanto tempo mais Charles Leclerc irá continuar simplesmente aceitando as ordens impostas pelo rádio. Ecoa em minha mente aquele sonoro “não” dado por Max Verstappen no GP de Singapura quando a Toro Rosso mandou que ele desse passagem à Carlos Sainz.

 

Resta saber se Charles Leclerc tem coragem de fazer o mesmo diante de uma nova ordem vinda do pit wall e, caso ele se negue a cumprir tal ordem, as consequências deste ato.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva