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Muito além da linha branca PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 08 May 2019 19:47

Caros Amigos, há algum tempo nossa ilustre colunista e grande jornalista, Fernanda Gonçalves, escreveu em seu espaço aqui no site dos Nobres do Grid uma coluna que tratava das “pautas que caem”.

 

Para quem não está familiarizado com o termo, algo que pode ser pouco afeito aos meus estimados leitores, uma vez que possivelmente a minoria seja composta por jornalistas, o termo se refere a quando um editor decide não publicar alguma coisa por este assunto ter perdido a relevância.

 

Não foi o caso do assunto sobre o qual trataria a minha coluna deste mês, que será abordado brevemente, mas diante do fato ocorrido no dia de hoje e da repercussão do mesmo na mídia, eu não poderia deixar de abordar o assunto.

 

Na manhã desta quarta-feira, dia 8 de maio, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante uma cerimônia alusiva ao final da II Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, assinou juntamente como o Governador, Wilson Witzel e o Prefeito da cidade, Marcelo Crivella, uma carta de intenção endereçada ao Grupo Liberty Media onde manifesta o desejo de que o Rio de Janeiro venha passar a sediar o GP Brasil de Fórmula 1.

 

É sabido e bem sabido por todos que acompanham este meio do esporte a motor profissionalmente que o Grupo Liberty Media tem uma visão “diferente” em diversos aspectos que cercam a Fórmula 1 e que, de uma forma geral, encontra certa resistência por parte de donos de equipes, pilotos, alguns promotores de evento, imprensa e público aficcionado. Dentro desta visão diferenciada do grupo, uma das coisas que eles tem mostrado buscar são novos “territórios” onde haja potencial turístico e de grande visibilidade. Neste caso, o Rio de Janeiro, conhecido por suas belezas naturais, pelo carnaval, e um histórico referencial turístico em se tratando de Brasil seria uma escolha potencialmente lógica.

 

Contudo, acredito que o senhor Sean Bratches, ao que parece, responsável por esta área dentro do Grupo Liberty Media, talvez não esteja bem informado sobre as peculiares condições do Rio de Janeiro como cidade, da área designada para construção do futuro autódromo e do projeto onde seriam alocados apenas investimentos da iniciativa privada para a construção deste autódromo, em uma área que hoje trava um processo jurídico com ambientalistas sobre a conservação de uma reserva da mata atlântica, até recentemente preservada pelo Exercito Brasileiro, que a utilizava como campo para exercícios de tiro.

 

Algo que me chama muito a atenção é o empenho e a visibilidade que o braço impresso do grupo de comunicação que detém os direitos de transmissão do evento, tanto em TV de sinal aberto quanto em canais por assinatura que, nos últimos 18 meses, pelo menos, vem dando um enorme espaço a este assunto e apresentando grandes matérias em seu caderno de esportes, espaço que não abre para outros assuntos do seguimento automobilístico, nem mesmo dos eventos dos quais o grupo de comunicação detém os direitos de transmissão.

 

Recuando um pouco no tempo, os temores quanto à segurança de atletas, torcedores e turistas no último grande evento realizado na cidade – os jogos olímpicos de 2016 – de que haveriam ataques em massa, hordas de bandidos pelas ruas da cidade e que um iminente banho de sangue lavaria as praias cariocas. Isso não aconteceu. Os índices de criminalidade ficaram até mesmo abaixo da média e o único episódio a tomar espaço nos noticiários foi o golpe que alguns nadadores da equipe dos Estados Unidos tentaram aplicar, simulando um assalto e logo desmascarado.

 

Por outro lado, a geografia e as vias de acesso que levarão ao novo autódromo – caso este venha mesmo a ser construído – mostram que a região é totalmente cercada pelo que os moradores locais e a mídia dos veículos de comunicação estabelecidos no estado convencionou chamar de “comunidades”, expurgando o termo “favela” e negligenciando os altos índices de violência da vizinhança. Tal problema poderia ser controlado por uma semana ou 10 dias, no caso de uma corrida de Fórmula 1, mas a pergunta que fica é: o autódromo viverá apenas da Fórmula 1? Como serão os esquemas de segurança para receber a Stock Car, a Copa Truck, a Porsche Cup, o Brasileiro de Endurance e – caso venha – a Moto GP?

 

A questão mais importante, contudo, vá além de uma carta de intenções com três assinaturas. Inicialmente orçado em 850 milhões de reais (em um país onde orçamentos costumam estourar com “largura”), a garantia dada pelo prório presidente, referendada pelo governador e pelo prefeito, é que a obra seria realizada sem dinheiro público. Contudo, não foi o que vimos em relação aos estádios da copa do mundo de 2014 e nem aos ginásios e aparelhos do parque olímpico nas olimpíadas de 2016. Lembrando que o estado fluminense encontra-se em estado de caos financeiro, que o governo federal tem anunciado cortes nas verbas de setores vitais como a educação e que o prefeito da cidade é alvo de um processo de impeachment, alguém com o mínimo de senso de responsabilidade deveria informar os diretores do Grupo Liberty Media sobre estas questões, sob o risco de acontecer com a Fórmula 1, em 2021 (ninguém informou ao presidente que a categoria tem contrato válido até 2020 com São Paulo e Interlagos) o mesmo que aconteceu com a Fórmula Indy, que iria correr em Brasília.

 

Assuntos referentes ao automobilismo, neste caso, e em se tratando de Brasil, vão muito além da linha branca que marca o limite da pista.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva